845 — Muralha Maria — Distrito de Shiganshina

— Eren. Está ficando tarde.

Mikasa colocou a mão esquerda sobre o ombro de Eren e o chamou novamente mais duas vezes. Ainda sem resposta chamou mais uma vez com uma voz mais firme, foi então que ele começou a abrir os olhos devagar e ainda estava meio zonzo quando Mikasa disse:

— Vamos para casa agora, já está anoitecendo.

— Mikasa? Ah... Sim... — Eren disse com uma voz muito sonolenta.

Ele se levantou bem devagar com a mão na cabeça, e de repente soltou um pequeno gemido de dor. Mikasa, após pegar sua lenha observou-o atentamente.

— Eren, está tudo bem?

— Apenas um pouco zonzo... Minha cabeça dói um pouco...

Mikasa vai em direção a ele e estende a mão para ajuda-lo a levantar.

— Não precisa. — Eren termina de se levantar, mas ainda está apoiado na árvore.

— Tem certeza?

— Já estou melhor! — Eren rapidamente pega sua lenha e começa a andar, mas ainda com a mão na cabeça. Mikasa vai logo atrás.

Foi uma caminhada silenciosa, a dor de cabeça de Eren pareceu ter sumido pouco depois de começarem a andar. Mikasa foi quem começou a puxar conversa:

— Eren, será que você bateu a cabeça em algum lugar?

— Hã? Do que você está falando? Ainda tá preocupada com aquilo? Já disse que não foi nada e eu já estou bem!

— Ainda acho que seu pai poderia dar uma olhada...

— Nem pense em falar disso com ele! Já disse que já estou melhor.

— Ei Eren, não deixe a Mikasa preocupada... — Uma terceira voz entrou repentinamente no meio da conversa.

Um homem alto, loiro e com um bigode curto que parecia estar tonto aborda os dois, ele usa o uniforme da guarda estacionária.

— Hanness-san, você está fedendo a álcool... — Diz Eren para ele enquanto tapa o nariz e abana com a mão o ar ao redor do seu rosto.

— Precisamos de um pouco de sossego antes do serviço, sabe como é... — Hannes aponta para alguns soldados bebendo em volta de uma caixa no chão.

— V-vocês... Vocês já estão de saída...

— Sim! Mas enquanto isso não quer se juntar a nós Eren??

— Hã?? Vocês não deveriam estar indo vigiar a muralha?

— A gente deveria é ficar aqui o dia todo, assim não perderíamos tempo caso ficássemos com fome, e com sede... O álcool passa a ser parte das nossas bebidas, mas...

— CALA A BOCA!!! SE VOCÊS NÃO FOREM ENTÃO VAI ACONTECER TUDO DE NOVO!— Eren gritou com uma intensidade que assustou Hannes e Mikasa.

— Eren... — Disse Mikasa, que até então tinha ficado calada durante a conversa.

Hanness faz um olhar sério para o garoto.

— Ei Eren, olha como você fala comigo... Além do mais os titãs nunca atravessaram a muralha antes, como eles poderiam fazer isso “de novo”?

Eren parece ficar em estado de choque... E ele se fazia a mesma pergunta em sua mente. Por que ele disse essas palavras assim? Ele não sentiu como se elas tivessem saído de sua boca por mera casualidade. Desde que ele havia acordado, estava se sentido estranho. Eren coloca a mão em sua cabeça novamente: a dor havia voltado mais uma vez.

— Eren? — Pergunta Mikasa preocupada.

— Não podemos abaixar nossa guarda para o perigo — Diz Eren com uma voz como se estivesse sentindo muita dor, ele ainda está com a mão na cabeça e não liga pra Mikasa que está preocupada ao seu lado. — Meu pai me disse isso! E os titãs... Eles vão...

— Ei garoto, pare de dizer bobagens! — Diz um dos oficiais que estava sentado bebendo. Hannes observa Eren sem entender o que se passava com ele.

— Ei Hanness-san... — Eren diz com uma voz mais firme e ainda com a mão na cabeça — Eu não sei como é o mundo lá fora... Mas humanos não nasceram para viver aprisionados como pássaros em gaiolas nessas muralhas. Hannes faz uma cara de surpresa para Eren.

— Vamos Mikasa! — Eren segura a mão de Mikasa e sai dali à passos largos.

...

No meio do caminho, Mikasa é a primeira a cortar o longo silêncio... Eren já havia soltado sua mão, mas ainda parecia estar sentindo dores.

— Eren, você ainda pensa sobre entrar para a tropa de exploração não é?

— E se for assim, qual seria o problema?

— A escolha é sua... Mas eu acho que...

Eren colocou as mãos na cabeça e se agachou um pouco, Mikasa parou o que iria falar e se aproximou de Eren, este ainda abaixado diz:

— Não Mikasa... Nós provavelmente somos a única esperança da humanidade...

Mikasa olhava para Eren, cada vez mais confusa... Naquele momento ela não pôde ver o rosto de Eren quando ele se levantou um pouco e ajeitou sua postura, mas a impressão que ela teve foi que naquele momento havia uma lágrima caindo do rosto dele.

— Vamos, a tropa de exploração acabou de voltar...

— Antes que Mikasa pudesse falar qualquer coisa o sino da vila de Shiganshina tocou, indicando que os portões da muralha seriam abertos...