A neblina nesta manhã estava mais intensa do que qualquer outro dia. Algo está por vir, eu sei. Enquanto tomava coragem para levantar-me da cama, esfregava os olhos agressivamente para acordar.
“Outro dia de neblina” – Penso. Quinott é uma cidade estranha, cheia de mitos e superstições de seus moradores. O mito Quinoettense que mais me atrai é o mito dos “guardiões”, ele fala que na dimensão das sombras existem humanos com habilidades especiais de deter as sombras, eles se chamam guardiões e protegem a dimensão dos humanos, há uma profecia em cima do mito em que dois guardiões, já pais saíram da dimensão das sombras e vieram para Quinott para proteger seu filho, pois este seria o único descendente de Catarina Orion, a melhor guardiã de todos os tempos.
A minha vizinha, a senhora Wlest diz já ter visto Catarina Orion quando era criança, mas por causa disso meus pais a julgam louca, eu não a acho louca. Cada humano tem o direito de escolher em que acreditar. Então se ela acredita ter visto Catarina, ela viu Catarina, mas mentir é outra coisa totalmente diferente. A mentira é algo que uma pessoa inventa para chamar atenção e senhora Wlest falou algo em cima do mito, algo que ela acredita. Odeio pessoas que julgam pessoas só por acreditarem no que o resto não acredita.
Quando tomo coragem e decido levantar da cama, me troco correndo e desço as escadas para ir na casa da senhora Wlest, mas minha mãe me para.
- Kay, aonde você vai? – Ela para na minha frente de braços cruzados, com uma das sobrancelhas erguidas.
- Eu... – Penso em uma desculpa, minha mãe não pode saber que eu vou na casa da senhora Wlest, ela odeia que eu vou-lá.
- A meu Deus! – Minha mãe coloca as mãos na cabeça. – Kay não acredito! Você não vai lá, vai? – Minha mãe parece saber tudo, só com um gesto meu.
- Mãe, eu me identifico com as histórias dela! – Falo tentando convencer minha mãe, mas parece impossível. – Mãe preciso ir lá! Preciso saber quem eu sou!
- VOCÊ É UMA PESSOA NORMAL KAY! – Ela grita. – Não acredito que ainda continua com essas palhaçadas!
- Palhaçadas? – Meus olhos se enchem de lágrimas. Não. Não acredito que minha mãe falou isso. Não. Desvio de seu olhar e corro para porta que me dá acesso a rua e caminho em direção a casa da senhora Wlest .
Da minha casa até a casa da senhora Wlest dá dois quilômetros de uma floresta sombria e assustadora, os mitos dizem que esse tipo de floresta é o lugar favorito das sombras. Mas nada me assusta.
O crepúsculo se aproxima, tenho que apertar o passo se quero chegar lá antes que escureça, mas então, de repente ouço um barulho, mas não um barulho qualquer. Um barulho de uma hiena misturado com um cavalo. Viro para o lado, vejo uma coisa passar diante dos meus olhos.
“Não é real” – Penso para mim mesma. – “Não é real” – Suspiro. De repente me lembro da conversa que tive com a minha mãe alguns dias atrás e o meu coração aperta. Foi a primeira vez que descobri que sou diferente e ela negou... Sou diferente, não tem como negar, é muito notável.
Sou diferente pois sinto necessidades muito maiores do que pessoas comuns, tipo necessidade de correr se movimentar, de ajudar o outro e não consigo ter raiva de uma pessoa por muito tempo.
Minha mãe não gosta que eu me ache diferente, ela fala que as histórias malucas da senhora Wlest subiram minha cabeça. Mas esta não é a verdade, sei que não é.