Batom Vermelho e Sete Oitavos escrita por Ghost Writer


Capítulo 2
Uma noite de porre


Notas iniciais do capítulo

Depois de um looooooongo hiato das fics eu venho a vcs com um novo capítulo! Espero que gostem



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Fui direto para o bar e pedi uma água. O show foi incrível, aquela garota tinha uma voz... A mais encantadora de todos os tempos; que não parava de ecoar em minha cabeça. Estava sorrindo feito um idiota, desacreditado do início de minha carreira como músico, pensei até em como seria a música que tocara a pouco nas rádios, mas não conseguia imaginar esta saindo de minha garganta.

Não pude parar de pensar em Valentina naquele vestido longo e hipnotizante. Deixo-me viajar no pensamento até ser interrompido pelo cantarolar doce e suave da mesma. Ela se aproximava do bar desta vez com um vestido branco, leve e rodado, levando com sua saia dúzias de assobios dos homens ao redor.

–Ainda está aqui?- perguntou Valentina sorrindo já puxando a banqueta ao meu lado- Queria mesmo falar com você sobre o próximo show.

–Próximo?- falei meio sem jeito- Mas nós mal acabamos o primeiro..

–Pois bem, não está preparado? Podemos arranjar outro para o serviço...

–Não!Não! Eu estou disposto a organizar o próximo show sim dona Valentina!- disse nervoso.

–"Dona" era minha avó, me chame só pelo nome.

–C...Certo- gaguejei.

–Então, estava pensando em uma melodia mais noturna, mais... sensual, digamos. Acha que consegue fazer algo do tipo?- sugeriu com olhar entusiasmado e mordendo os lábios inferiores.

–Claro- engoli em seco, um pouco encabulado- Podemos por um saxofone no fundo...

–Era disso que eu estava falando! Um toque gringo, genial!- cerrou a mão em um punho e a bateu no balcão com entusiasmo, fazendo o velho barman dar um pulo- Zé, me vê um gim! Precisamos comemorar!

Zé lhe sorriu e serviu a dose, qual Valentina bebeu de uma só vez; torceu os lábios e levou o copo ao balcão novamente. Ao tentar imitá-la, passei vexame ao engasgar feio, não tenho costume de beber. Valentina me lançou um sorriso confuso.

–Preciso te ensinar a beber- me disse, rindo. Assenti com a cabeça,rindo e um tanto sem jeito- Me diga, quantos anos você tem?

–Dezenove...- gaguejei.

–Pois eu também- disse fazendo um sinal com a mão para o barman lhe servir mais uma rodada.

Não pude disfarçar minha surpresa. Valentina tinha um ar tão maduro e profissional, como se tivesse feito aquele tipo de show várias vezes. Essa ideia se reforçou em minha mente também pelo fato do show ter sido feito em um bordel.

–Pensei que tinha vinte e seis...- pensei alto sem notar.

Valentina cuspiu toda a bebida das bochechas e virou-se para mim, incrédula. Quando percebi meu erro já era tarde de mais. A marca ardente da palma se sua mão já estava pintada de vermelho em minha cara.

–Seu babaca! Já ouviu falar em educação?- disse já se levantando da banqueta toda vermelha.

–Senhorita, espere!- berrei começando a correr.

O barman puxou-me pelo casaco e cobrou as bebidas que Valentina tomara. Joguei o dinheiro no balcão e voltei a correr atrás da mesma. Todos os bêbados e as dançarinas burlescas do bordel riam da minha cara de acordo com que eu corria para a porta.

No meio da rua, vi o brilho dourado dos cabelos de Valentina sendo refletido pela luz da lua. Eu estava com medo de levar mais um tapa e piorar minha situação, mas também não poderia deixá-la ir com raiva de mim.

–Valentina, espera!- berrei ofegante de tanto correr- Me desculpe- apoiei as mãos nos joelhos e suspirei- É que sua voz parece mais madura quando canta, eu acho isso realmente fantástico...

–Certo- gaguejou encabulada- Me desculpe... - levou a mão a testa e começou a rir-... esqueci seu nome!

–É Miguel- respondi rindo- Não é boa com nomes?

–Pra falar a verdade sou, é que estou de porre desde antes do show... Minha cabeça está me matando.

–Está na hora da senhorita beber algo que não cheire à álcool- disse oferecendo meu braço de guia.

Eu a levei até o armazém do pai de Mari para tomar um soco ou algo do tipo. Mari estava fechando as portas quando eu e Valentina estávamos chegando, eu a chamei com um grito, o que a fez derrubar algumas caixas.

–Miguel! Quer me matar de susto ou o que?!

Fui até ela ajudar a catar o que havia derrubado. Mari ficou de bochechas coradas enquanto recolhíamos as balas e caramelos caídos no chão. Ao acabarmos, ela levou as pequenas caixas para trás do balcão. Só depois de um tempo ela percebeu a presença de Valentina, e quando aconteceu, senti que ficou menos à vontade mas logo depois me sorriu.

–Então, como posso ajudá-los? Eu estava indo para casa então já fechei o caixa, nada de trocos.

–Tem algum suco ou refrigerante gelado ai?

–Acho que tem duas garrafas de Coca-Cola, esperem aqui- disse já indo para os fundos.

Olhei para Valentina e tive vontade de rir. Estava tentando retocar seu batom vermelho com um espelho de bolso mas parecia uma palhaça. Estava mesmo de porre.

–Deixe-me ajudá-la- disse aproximando minha mão à sua boca para concertar o batom.

–Estou péssima, não posso me embebedar toda vez que acontece algo de ruim- disse rindo de si mesma.

Peguei um guardanapo e me aproximei um pouco mais para tirar a vermelhidão do redor de sua boca, até que Mari chega dos fundos. Ela arregalou os olhos e engoliu em seco, ainda corada. Deixou as garrafas no balcão e me puxou pelo braço no canto.

–Miguel, você está com... ela?!- disse analisando Valentina dos pés à cabeça, enojada- Olhe essas meias, isso é coisa de cabaré!

–Mas ela veio de lá ué- disse sorrindo.

–Não me diga que você pagou por sua companhia...- sussurrou ficando mais vermelha ainda.

–O que?! Não! Não, ela cantou no bordel hoje, cantou uma de minhas músicas, e eu toquei junto.

–Áh! Hahahaha...- riu completamente sem graça- Mil desculpas Miguel, ai meu deus, eu tinha esquecido de seu "novo emprego"- gesticulou aspas com os dedos.

–Mari, entenda, todos os grandes nomes começam por baixo, é questão de paciência e de melhor aproveitamento das oportunidades ao redor- ri de jeito sarcástico, logo depois me despedi de Mari.

Cheguei para Valentina que estava debruçada no balcão me esperando. A levei para fora do armazém e logo depois Mari o fechou. Por mais que fossemos grandes amigos de infância, essa ceninha de ciúmes e discriminação foi ridícula. Levei Valentina até a fonte que ficava na praça principal. Ela sentou na beirada da mesma e abriu a garrafa de refrigerante. O barulho do gás que foi solto com a remoção da tampa me acordou do transe em que estava da bela visão dos cabelos levemente ondulados e aloirados daquela garota tão bonita sob a luz da lua.

–Psiu- me chamou à atenção- Meus olhos são aqui em cima rapaz- disse em tom sarcástico e brincalhão, apontando para os próprios olhos.

–O... oque?! Mas eu não estava!...- gaguejei todo envergonhado- Não para os seus... Ai meu deus...- minhas mãos tremiam, meu rosto estava tão vermelho quanto a logo da embalagem do refrigerante.

–Força do hábito, sinto- disse rindo e olhando para cima- Queria poder ter uma conversa de assunto bom e construtivo mas estou em "estado pós-porre"- fez aspas com os dedos e deu um gole no refrigerante.

–Eu entendo- respondi (mesmo considerando que não bebo)- Ok, não entendo, mas está tudo bem senhorita.

–Você é tão educado, chega a ser fofo!- disse Valentina, me sorrindo.

–Eu também não estou em melhor hora para desenvolver uma boa conversa, admito estar meio nervoso agora.

–Pois não fique, seu bobo! Vamos fazer o seguinte, amanhã as dez horas, EM PONTO, nos encontraremos neste mesmo lugar para nos conhecermos de verdade, feito?

–Feito!- respondi sem hesitar.

Selamos o trato com um brinde feito com as garrafas. Tomamos nossos refrigerantes trocando algumas histórias bobas e piadas sujas que renderam-nos boas risadas.

No final da noite, fomos cada um para um lado. Valentina voltou para o bordel e eu para casa. Ela me parecia algo completamente diferente do que se sabe meio boatos sobre mulheres que trabalham em bordéis, boatos quais correm milhas. Acho que ela é muito mais do que só uma... Bom, ainda não sei ao certo sua função naquele lugar mas não importa, sua função não define seu caráter, qual presumo ser muito bom, porém isso só o tempo dirá.


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