Morgana Stewart era uma mulher quase completamente feliz naquele momento. Iria deixar aquele hospício logo, por autorização médica e depois teria uma vida que ela jamais teve, com o homem da sua vida. Ela recomeçaria do zero lá fora e tudo seria normal como se nunca estivesse estado em um centro de tratamento psiquiátrico. Estava tudo perfeito. Bem, estaria se não fosse por Gregory, que caminhava em sua direção naquele exato momento.

Ele era um homem jovem e quase bonito de vinte e quatro anos. Estava ali desde os dezoito, mas já deveria ter entrado antes pois sua saúde mental não era nada boa. Morgana sabia que fora a mãe que o colocara ali, mas nunca a viu visitá-lo, simplesmente abandonou-o, jogado à  própria sorte. E ela simpatizou com ele quando era ela a novata.

— E...eu só vim me desculpar co...com você pelo que falei no refeitório - ele gaguejou sem jeito.

— Ah, tudo bem, relaxa - Morgana respondeu sem tom nenhum na voz e mal olhando para o rosto do amigo.

Nos últimos tempos, ela não conseguia encará-lo como fazia antes. Toda vez que ela tentava, uma sensação esquisita percorria-lhe a espinha como se ele não fosse uma pessoa normal, mas de um outro mundo. Não conseguia ficar confortável conversando com ele. Na verdade, ela se sentia assim em relação a todos daquele lugar, menos com Peter e os outros médicos e responsáveis. Talvez fosse sua ótima recuperação que trazia esse sentimento ruim, pois ela já não pertencia a esse lugar mais. O centro de tratamento era um lugar sombrio e esquecido, era horripilante como nos filmes de horror. Em todos os cantos ela via pessoas com problemas mentais incapacitados de ter uma conversa normal, ou até mesmo de ter uma conversa e isso a fazia se sentir quase só, salva por Peterson.

— Eu não me importo com o que você faz no seu quarto ou em outro lugar. Foi uma pergunta imprópria, me desculpe novamente - Gregory continuou falando sem perceber que não era necessário.

Ele olhou para frente na direção da enfermeira que rodeava a fonte e observava-os e fez cara feia.

— Por que essa mulher continua te vigiando? Você é a paciente mais normal e saudável daqui, vai ganhar alta mês que vem. Não têm motivos para isso - Greg tentou mudar de assunto.

Morgana olhou para a enfermeira robusta e de rosto severo como aquelas enfermeiras maléficas dos filmes de terror que aplicam injeções de agulhas gigantescas. Ela não gostava de ser vigiada assim e também não sabia por quê estava sendo. A verdade é que ela só notou agora que não precisava mais ser tão acompanhada como antigamente.

— Talvez ela queira me matar - Morgana deu de ombros tentando fazer uma brincadeira.

— O quê?! Não! Ninguém vai tocar em você, eu nunca vou deixar! Terão que passar por cima do meu cadáver! - ele quase gritou. Greg realmente havia levado a sério o que ela falara e parecia extremamente perturbado. Era nesses momentos que Stewart mais sentia-se mal, ela não podia falar coisas assim perto dos pacientes, pois eles não sabiam distinguir uma brincadeira como essa.

— Gregory, é uma brincadeira. Ninguém quer me matar. Ninguém, entendeu? - ela falou séria tentando acalmá-lo.

Morgana tocou o pulso trêmulo do amigo e ficou com medo dele. Ela o puxou para que ele se sentasse e começou a fazer massagem em suas mãos como sempre fazia para controlar os nervos dele. Greg estava com a respiração pesada e encarava os pés.

— Ei, calma, calma. Não é verdade o que eu falei, foi só uma brincadeira.

Ele levantou a cabeça e encontrou os olhos dela. Ele parecia mais calmo ao fazer isso, como se os olhos dela fossem um poço de águas calmas e o simples fato de vê-los encantava-o. Morgana, no entanto, não conseguiu segurar esse olhar por mais de cinco segundos e focou sua atenção na massagem que fazia nas mãos do amigo. Ela o considerava um amigo, mas tinha um pouco de medo desse amigo às vezes, como aconteceu a pouco.

— Mas é verdade, Morgana. Ela parece que quer te matar - ele falou encarando a enfermeira que não prestara atenção neles pois observava uma paciente brincando de boneca no jardim.

— Não parece, não, Greg. Tente entender que o que falei era mentira. Ela é uma pessoa boa que só quer o nosso bem, ela nos ajuda, cuida de nós - Morgana continuava colocar isto na cabeça dele.

— Tudo bem, então. Ela não quer te matar - ele disse por fim, mas ainda encarando a pobre enfermeira alvo, o que fez com que Morgana não acreditasse que seu amigo entendeu.

— Isso - ela resolveu falar parando com a massagem na mão de Greg e retirando-se dali em direção a biblioteca.