—Stiles? É você? - A garota perguntou com a voz tremula, ela estava sozinha no corredor da escola mesmo sabendo que era uma péssima ideia.

Todos haviam dito isso a ela, mas a menina preferia se arriscar e ao menos tentar, do que se sentir culpada caso Stiles desaparece para sempre, se perdesse dentro de sua própria mente.

— Stiles já se foi.- A voz do garoto fez Lydia estremecer, o tom era de seu amigo, mas ela sabia que não era ele quem falava.- Somos só nós dois.

O Nogitsune deu um passo a frente ficando a vista da garota.
Lydia cambaleou alguns passos para trás ao encarar a expressão cruel e sínica nas feições do rosto que passou amar, mas os olhos castanhos dourados não tinham o mesmo brilho, eram vazios e sádicos, tão diferente do olhar de Stiles e a trapaça e o humor negro transbordavam do seu sorriso irônico. 

— Stiles eu sei que você está ai! - A voz da garota soou firme apesar das lágrimas ameaçarem a transbordar.

— Desculpa, você chegou tarde demais, o garoto está muito longe daqui.- O monstro se aproximou vagarosamente, dando um passo de cada vez com o olhar fixo na menina que estremecia.

Lydia negou com a cabeça desesperadamente, sem querer acreditar nas palavras do espírito. "Ele está vivo, precisa estar" era o que repetia incansavelmente em sua mente, pois sabia que jamais seria capaz de suportar a dor se o perdesse para sempre, ela era forte o suficiente para lidar com muitas perdas, mas Stiles tinha que viver para que tivesse essa força. 

— Eu não acredito nisso.- Ela se forçou a dizer, querendo que suas palavras alterassem a realidade.- Stiles eu sei que pode me ouvir.

— Impressionante! Você disse a primeira coisa certa desde que chegou aqui! -O Nogitsune falou rindo com desdém.- Stiles realmente está ouvindo tudo, na verdade está gritando na minha mente nesse exato momento.

Eu permiti que ele tivesse uma pequena parte de sua consciência para que pudesse assistir enquanto eu mato todas as pessoas que ele ama, um por um, sem poder fazer nada para impedir que eu use o seu corpo.

— Por que? Por que você escolheu o corpo dele? Ele é apenas um humano, ele não...- A garota se engasgou no choro antes de continuar a falar- Ele é tão puro.

— Exatamente por isso, todos esperam que o espírito maligno vá buscar um corpo forte e sobrenatural.- A cada silaba que o monstro falava ele se aproximava um passo da menina.- Ninguém podia esperar que o inocente e desajeitado Stiles seria dominado e isso permitiu que eu torturasse a mente do garoto por muito tempo sem que ninguém percebesse. Afinal quem se importa com Stiles? O garoto frágil, órfão de mãe, que sempre faz tudo dar errado? Eu sabia que ninguém notaria o seu sofrimento, ninguém nunca percebeu na sua vida toda.

As palavras açoitavam a menina, a fazendo recuar até encostar na parede e se encolher, envolvendo os braços a sua volta, sentindo a culpa a corroer e se arrependendo amargamente de ter ido lá. Seu esforço seria inútil, ela tinha que ter lutado pelo garoto quando ainda havia tempo.

— Sabe, uma das vantagens de dominar um corpo é ter acesso completo a sua mente, posso ver todos os seus pensamentos e lembranças. Tenho que admitir que o garoto é especialista em esconder a sua dor, sabia que assim que perdeu a mãe, ele não chorou nenhuma vez? O garoto começou a ter vários ataques de pânico e pegava uma doença atrás da outra, a imunidade dele despencou, mas mesmo assim ele se recusava a chorar para não fazer o pai se sentir mal. Quando Stiles finalmente cedeu ao choro, passou uma madrugada e uma manhã inteira soluçando, trancado no quarto, sem comer nem beber nada, não deixou que o pai e nem ninguém tentasse o ajudar e fez tudo isso sendo apenas uma criança! - O Nogitsune falava da tristeza do garoto com um sorriso satisfeito, sem esconder a alegria ao poder ver os piores momentos do humano.- O garoto é repleto de lembranças de dor e morte. Eu me alimento constantemente com os seus pensamentos, cada sofrimento que ele passou me deixa mais forte e faz com que ele morra mais rápido, logo vou ter o domínio total sobre esse corpo. Ele foi a pessoa perfeita para eu invadir, um humano repleto de traumas e fragilidades para explorar.

— Se você tem acesso a mente dele deve ter visto o quanto é forte. - A menina disse essa verdade com as pernas trêmulas vendo o ser maligno cada vez mais perto.- Ele não vai ceder, não vai desistir de lutar.

— Será mesmo Martin? - Um arrepio percorreu a sua espinha quando o espírito pronunciou o seu sobrenome. - Você acha que ele não vai desistir quando ver todos a sua volta mortos? E quando eu começar a torturar a estúpida garota que ele sempre amou? Como você acha que ele vai reagir? - O Nogitsune chegou na frente da garota e pôs suas mãos espalmadas na parede ao seu lado, o rosto a centímetros de distância.- Ele vai implorar pela morte e eu vou conceder isso de bom grado. 

O monstro roçou os lábios no pescoço da menina, sua respiração quente banhava sua pele arrepiada enquanto ele esfregava os lábios em pontos sensíveis, os dentes ameaçando a romper sua pele a qualquer momento.

— Seu cheiro é irresistível sabia?- Sussurrou rouco em sua orelha. - É uma mistura perfeita de medo, dor e desespero. 

— O que você quer comigo? - A voz da Banshee soou sufocada, ela se exprimia contra a parede, tentando afastar o corpo do monstro.

—Você que veio até mim Lydia.- Seus lábios saíram de seu pescoço e ele levantou o rosto, o olhar âmbar cruel encarando a garota.- É só que eu estou tão faminto, que não posso resistir a tentação de me alimentar de sua agonia.

Lydia prendeu a respiração, ele estava tão perto do seu rosto, perto demais, a impedindo de raciocinar ao encarar o olhar diabólico preso em um rosto lindo e inocente que não combinava com aquelas expressões cruéis, o rosto de Stiles, suas feições harmoniosas e gentis estavam destruídas pela maldade que não pertencia a ele.

— Stiles, por favor.- A menina implorou, as lágrimas rolavam pelo seu rosto. - Volte para mim.

O Nogitsune sorriu cínico e espremeu seus lábios contra os da garota. Lydia não conseguiu reagir, pois estava paralisada pelo medo.

O gosto amargo do monstro se espalhando por sua boca, os lábios se movendo de maneira sádica e dolorida, enquanto sua boca permanecia paralisada até ser invadida abruptamente pela língua do monstro, tudo isso a mantinha completamente indefesa.

A boca da menina foi invadida e explorada, o espírito usava a sua força para conter os protestos de Lydia, ela começou a se debater e balançar a cabeça, mas mãos frias e calejadas a mantiveram imóvel por longos instantes, até que com uma espécie de rosnado o Nogitsune se afastou, rindo de maneira desconcertante, os olhos encarando o nada com uma fúria excessiva.

— Não gostou que eu a beijasse? Eu apenas fiz o que você nunca teve coragem de fazer! - Ele falou consigo mesmo, rindo, e logo em seguida fazendo uma careta de dor.- Pare de gritar! Você sabe que não adianta lutar! - O monstro repreendeu e encarou Lydia. - Eu vou matá-la e você vai ter prazer nisso, vai sentir a força e a satisfação nos invadir da mesma forma que foi quando matamos os outros, eu sei que você pode sentir o poder e o controle correndo em suas veias.
O monstro fez uma careta parecendo ouvir algo dentro de sua cabeça e depois deslizou os olhos cruéis pelo corpo da Banshee, a analisando maliciosamente. Um sorriso torto brotou em seu rosto e ele agarrou o braço da menina com força a puxando com grosseira.

— Não! Não! Por favor! - Lydia gritou tentando se soltar do aperto em seu braço enquanto era arrastada. - O que você vai fazer? - Ela perguntou aflita e o Nogitsune a encarou por um instante antes de atingir o seu rosto com um soco que a fez desabar no chão, inconsciente.
**

A menina abriu os olhos confusa, sua cabeça explodia de dor e seu corpo estava inteiramente flácido. Lydia tentou se mexer, sentindo o sabor amargo do Nogitsune em sua língua, mas percebeu com desespero que seus pulsos e tornozelos estavam presos.

Tentou gritar, mas uma mordaça impediu que qualquer som saísse de sua boca, a garota mordeu com fúria o pano que a impedia de berrar e contorceu o corpo, arqueando as costas e lutando contra as amarras, mas nada funcionava. Lydia estava completamente imobilizada. – Ainda não percebeu que é inútil lutar? - A voz do Nogitsune surgiu mais perto do que a garota imaginava e ela lutou ainda mais contra as amarras, os olhos verdes procurando desesperadamente reconhecer que lugar era aquele, sem conseguir enxergar onde o monstro estava. 

Lydia forçou um grito que soou abafado pela mordaça ao sentir uma mão gelada em seu tornozelo. A menina se contorceu agoniada, sem conseguir encarar o monstro, ela estava completamente vulnerável, exposta ao demônio que sorria prazerosamente ao observa-la.

A garota se contorceu desesperada, chorando convulsivamente ao sentir as mãos de Nogitsune subindo lentamente por sua perna. O garoto tinha um brilho sombrio nos olhos dourados enquanto seus dedos brincavam na pele exposta da menina, ele roçava a mão com delicadeza pela panturrilha, subindo até seu joelho e finalmente alcançando sua coxa grossa. Lydia não desistia de lutar, ela sentiu uma ânsia de vômito quando os dedos longos do monstro escorregaram para o interior de sua coxa, fazendo desenhos de pequenos círculos que provocavam um arrepio involuntário na menina.

— Isso realmente enlouquece Stiles.- Nogitsune falou com deboche.- Queria que você pudesse o ouvir gritando, é tão patético, ele está implorando para eu não encostar em você.- O monstro encarou fixamente os olhos verdes que transbordavam de pavor. - Mas é quase impossível resistir aos seus encantos, tão linda e tão frágil...- O demônio inclinou o corpo em direção a garota até encostar os lábios em sua orelha, com uma das mãos afagando sua perna.- Eu quero ouvir os seus gritos enquanto a mato lentamente.

Com a mão livre, o monstro arrancou a mordaça da garota com fúria e a outra mão apertou sua coxa com força exagerada, fazendo com ela ofegasse. Lydia encarou os olhos de mel com pavor, toda a coragem que a fazia lutar simplesmente desapareceu ao perceber que era exatamente o que o Nogitsune queria.

— Eu sempre quis ver uma Banshee prever a própria morte.- Os olhos do garoto brilhavam com uma curiosidade mórbida.- Quero estar perto quando as vozes começarem a invadir a sua mente.

— Stiles, por favor, não deixa ele me machucar! - A voz da menina soou extremamente frágil e medrosa.

O monstro riu satisfeito e se afastou de Lydia, finalmente libertando a sua perna e indo a direção a uma mesa de metal. A Banshee finalmente reconheceu que estava na clínica veterinária. – Não! Não, Stiles por favor, você precisa voltar ao controle! - A garota gritou com desespero ao entender o que o Nogitsune estava prestes a fazer. 

O sorriso do demônio aumentou ainda mais ao colocar luvas cirúrgicas em suas mãos e pegar um bisturi.

— Não! Não! Socorro! - Os gritos da Banshee ecoavam por todo lugar, o desespero estampado em seu rosto. 

— Ninguém vai escutar Martin, a alcateia está toda reunida seguindo pistas falsas que eu deixei. Eles acham que estão perto de me encontrar. - Nogitsune levantou um pouco a blusa da Banshee e desceu a sua saia de cintura alta, somente o suficiente para deixar sua barriga a mostra.- E se você gritar alto o suficiente para algum humano que passe aqui por perto escutar, vai ser muito simples para mim, eu matarei qualquer um que quiser entrar na clínica.

— Pare! Por favor! O que você vai fazer comigo? - A menina perguntou em um lamento quando o monstro encostou a lâmina do bisturi em seu abdômen.- Não! Por favor não...- Lydia não terminou a sua fala, pois um grito torturante escapou de seus lábios quando a lâmina perfurou sua pele, o sangue quente e vivo brotou da ferida, inundando sua barriga.

A lâmina deslizou com facilidade pelo abdômen da menina, cortando sua pele de cetim enquanto a garota agoniava na maca. Os dedos longos do Nogitsune tocaram a ferida da menina, apertando o seu interior, provocando um grito ainda mais torturado da Banshee.

— Stiles, por favor, não faça isso! - A menina delirava de dor e apesar de saber que aquele não era Stiles, ela simplesmente não conseguia raciocinar.

Ao encarar aquelas feições tão conhecidas, seu coração se despedaçava e a destruía por dentro, pois a única coisa que pensava era que seu Stiles, o garoto bobo e apaixonado, estava a torturando. Quando a menina havia finalmente percebido a atração que o humano causava nela, Stiles foi possuído e começou a destruir tudo a sua volta, ela podia ver o garoto morrer aos poucos quando o seu corpo praticava cada maldade do Nogitsune e Lydia sabia que o garoto não aguentaria por muito tempo, ele morreria caso ela não fizesse nada. 

Então a menina teve a inocente esperança que seria capaz de trazer Stiles de volta, que se se aproximasse o suficiente do monstro, estando sozinha com ele, o humano iria conseguir voltar a ter o controle da própria mente.

— Shhh, calma Lydia.- A voz do garoto sussurrou rouca, colocando o dedo indicador sobre os lábios grossos da Banshee.- Logo você vai morrer e não vai ter nenhuma preocupação. Devia ficar grata porque vou te poupar dessa vida, as vozes na sua cabeça finalmente vão se calar e não terá que conviver com a morte de todos os seus amigos.

Nogitsune deslizou o indicador pela boca da menina, limpando o sangue em seus lábios, fazendo com que a boca de Lydia fosse invadida por um sabor metálico que a fez estremecer. Os olhos dourados e doentios estavam fixos no seu rosto, apreciando a expressão de dor da garota que sangrava pela ferida aberta.

— Isso, fica quietinha.- O garoto falou com aprovação e tirou as luvas das mãos, as jogando no chão e se afastando por um segundo de Lydia. Quando ele se aproximou novamente estava segurando uma seringa.- Vou te fazer ficar mais calma.- A garota arregalou os olhos e se debateu ao perceber que estava prestes a ser dopada.
— Eu vou ficar em silêncio! Não precisa fazer isso! Por favor! - Ela gritou enquanto se debatia, desesperada com a ideia de ficar desacordada, sem saber o que o demônio faria com ela.

Lydia se surpreendeu quando de fato o garoto largou a seringa na mesa ao seu lado, mas o brilho em seu olhar fez a garota ficar apavorada, o medo a estrangulando quando ele começou a desfazer as amarras que prendiam suas mãos. 

A menina teve as mãos libertas, mas não ousou se mexer, o medo a mantinha paralisada e a dor em sua barriga era insuportável.
Logo em seguida o menino libertou os seus tornozelos e analisou a garota por poucos instantes antes de a puxar pelos braços com força, a fazendo sentar com um grito de dor. Lydia arfou assustada e as mãos do Nogitsune foram para os joelhos da garota, ele a puxou para mais perto de modo que suas pernas abertas penderam para fora da maca, ela estava a centímetros de distância do monstro.

O demônio segurou o maxilar de Lydia e ergueu seu rosto para o alto, deixando seu pescoço exposto. A garota engoliu em seco ao sentir a boca macia roçar na sua garganta, descendo e subindo por toda extensão de seu pescoço pálido, deixando os dentes arranharem sua pele. 
O corpo de Lydia correspondia involuntariamente ao toque do monstro, o cheiro que emanava do garoto não era do Nogitsune, mas sim de Stiles, aquela fragrância inebriante que somente ele tinha e fazia a garota estremecer da cabeça aos pés.

Porém, junto com arrepios involuntários, o estômago de Lydia se revirava com nojo por saber que era o demônio que deslizava a boca pelo seu pescoço e escorregava até seu ombro, enquanto suas mãos prendiam as de Lydia, a impedindo de se mover. Os lábios de Stiles, controlados pelo monstro, exploravam a clavícula da garota quando ela sentiu uma gota quente em sua pele, seguida por muitas outras.
Lydia demorou para entender que as gotas se tratavam de lágrimas. Seus olhos se arregalaram e seu choro se tornou compulsivo ao perceber que Stiles chorava, ainda sem controle sobre o corpo.

— Stiles, olha para mim.- A menina pediu com a voz sufocada.- Por favor Stiles, eu confio em você e sei que não vai deixar que ele me machuque.

— Lydia...- A garota reconheceu a voz imediatamente, o som era sofrido, torturado. O menino ergueu a cabeça em sua direção e os olhos dourados estavam derretidos, repletos de pavor, inocência e culpa. Aquele era o verdadeiro Stiles, a Banshee não tinha dúvidas.- Eu não consigo...

A expressão do garoto se contorceu de dor, um grito agoniado rompeu de seus lábios enquanto cambaleava para trás, se afastando de Lydia com as mãos trêmulas na cabeça.

— Me deixa em paz! - Stiles gritou para o vazio, o choro rompendo em soluços, fazendo seu corpo convulsionar.- Sai da minha cabeça!- Ele gritou ainda mais alto e desesperado.
A Banshee não sabia o que fazer, a dor em seu abdômen a impedia de raciocinar. A garota simplesmente se levantou trêmula, obrigando as pernas flácidas a se moverem, andando com receio na direção do humano que chorava alto, o olhar completamente enlouquecido com as mãos apertando tão forte os cabelos revoltos que quase os arrancava pela raiz. 

— Stiles..- A menina não conseguia falar mais do que o nome do garoto, sua garganta estava seca, o medo a sufocando.
— Eu vou matá-la Stiles.- O olhar do humano era apavorado e aterrorizado quando aquelas palavras saíram de sua boca.

O corpo de Stiles ficou ainda mais trêmulo, suas pernas falharam e ele desabou de joelhos, mordendo o lábio inferior com força, lutando para que o monstro não conseguisse falar através de sua boca. O sabor do sangue invadia a sua língua e estranhos ruídos escapavam de sua boca quando Lydia finalmente conseguiu se aproximar dele e, pressionando as mãos contra o abdômen ferido, se abaixou com dificuldade, soltando um gemido de dor ao se ajoelhar ao lado de Stiles.

— Vai embora.- O menino falou com dificuldade, soltando o ar pela boca ensanguentada, lutando para ser capaz de falar com a garota.- E-eu não tenho controle.

— Eu sei.- A menina falou em meio ao choro, passando uma das mãos, melada de sangue, pelo rosto torturado do garoto.- Mas eu não vou deixa-lo , você não vai ficar sozinho com esse monstro.

— Ele vai matá-la Lydia.- Stiles arfou ao sentir uma pressão em sua cabeça, o demônio lutava por controle.- Eu não vou suportar se fizer algo a você, eu não posso...- O menino se engasgou, se sufocando por alguns segundos, até finalmente expelir um sangue negro pela boca.

— Stiles!- Lydia falou horrorizada enquanto as mãos trêmulas do menino tentavam limpar o sangue negro de seu rosto, mas Stiles ignorou a própria dor e voltou a encarar Lydia.

— Ele sabe que não vou suportar vê-la morrer e fará qualquer coisa só para se alimentar do meu desespero.- O menino respirou com dificuldade antes de continuar a falar.- Eu sinto o que ele sente Lydia, eu senti o desejo de matá-la com minhas próprias mãos.- Com o olhar completamente enlouquecido, Stiles levou suas mãos até o pescoço de Lydia, os dedos envolvendo lentamente sua pele macia.- Mas ele quer a violentar primeiro, pois sabe o desejo que eu tenho por você e quer distorcer isso, fazer com que o meu corpo tenha o seu sem que eu tenha controle sobre mim e fazendo você sofrer, a machucando e a obrigando a fazer aquilo que não quer.

Lydia balançou a cabeça com força, ela não tinha sanidade para ouvir o que Stiles dizia, as lágrimas banhavam o seu rosto enquanto uma mão pressionava o abdômen e a outra permanecia no rosto do menino desesperado.

— Você precisa fugir. Agora.- O humano falou com a voz rouca e urgente. – Eu vou morrer de qualquer forma.- A menina falou em um lamento encarando a ferida aberta no abdômen, ela não tinha qualquer chance de tentar fugir com aquela ferida, ela morria antes de alcançar o hospital.

— Não! Não Lydia, ele está quase...- O menino arfou e fechou os olhos com força, ele podia sentir as barreiras de sua mente serem invadidas pelo demônio, ele estava prestes a perder o controle novamente.

— Stiles, eu te amo! - A Banshee disse com desespero, com medo de aquela fosse a única vez que pudesse dizer aquilo ao humano.- Me perdoe por não ter percebido isso antes Stiles, mas eu te amo e não quero te perder!-A menina soluçou alto e tirou a mão do abdômen para envolver Stiles em um abraço ansioso e desajeitado, a sua ferida aberta se chocou contra o tronco do garoto.

— Lydia...- O menino sussurrou fraco, sua voz era arrastada e rouca.

O humano lutou para abrir os olhos e encarar os olhos verdes que amava, mas suas pálpebras cansadas e pesadas se recusavam a abrir. Ele não conseguia raciocinar o que Lydia falou, pois sentia um torpor invadir seu corpo, não conseguia controlar os próprios membros, sua consciência estava partindo aos poucos enquanto o demônio se apossava de sua mente.

Em pleno desespero, Lydia chocou seus lábios contra os de Stiles, seus braços envolveram suas costas, o impedindo de desabar no chão, mas apesar de seu corpo flácido, o garoto entreabriu a boca e despejou o hálito quente nos lábios da Banshee, a fazendo estremecer silenciosamente. 

Lydia mordeu o lábio inferior de Stiles com delicadeza e sugou para sua boca, ela precisava sentir o gosto do garoto em sua língua, para se livrar do sabor do Nogitsune. Ela chupou o lábio do garoto, o degustando entre seus dentes e deixou que sua língua percorresse seu lábio rosado e delicioso, o atrito de suas bocas macias causava um arrepio incontrolável na Banshee, a fazendo esquecer por alguns instantes da própria dor.
As mãos inertes de Stiles criaram vida repentinamente, indo em direção a cintura da garota, deslizando até seu quadril e indo até seu abdômen aberto, os dedos longos penetraram em sua ferida e se moveram lentamente ao escutar o gemido dolorido e surpreso de Lydia. Aquele não era o Stiles.

A Banshee afastou a sua boca da do garoto assim que percebeu que Stiles já tinha ido. Os olhos verdes arregalados, encararam incrédulos o sorriso cínico nos lábios lindos e rosados do menino que escorregou os dedos mais profundamente em uma sua ferida.

— Stiles...- A menina falou arfando pela dor e o Nogitsune aumentou o seu sorriso, negando lentamente com a cabeça.

— Você devia ter fugido.- Foi a única coisa que o demônio sussurrou.

A mão suja de sangue foi até o pescoço da menina e seus dedos se enroscaram ali e então, Lydia finalmente previu sua morte.

Os olhos verdes se arregalaram e com o fôlego que lhe restava, ela despejou um grito atordoado por sua boca escancarada, sentindo a morte se aproximar a cada segundo. Seus sentidos ficaram turvos enquanto o oxigênio escapava de seus pulmões e o aperto em seu pescoço aumentava.

— Posso ver a morte refletida em seus olhos.- Nogitsune falou a centímetros do rosto que perdia a tonalidade.

A menina encarou os olhos dourados por uma última vez e não teve tempo de sequer se lamentar. Seu corpo estava anestesiado pelo sentimento de morte, que subia com uma navalha por dentro de seu corpo, congelando suas células, sufocando seu coração que desistia de lutar.
O corpo de Lydia se tornou flácido e sem vida, desabando contra o chão frio.

A mão de Stiles continuava em seu pescoço e logo veias negras começaram a subir pelo seu braço enquanto se alimentava da morte da Banshee.

— Stiles! O que você fez? - A voz de Scott surgiu alarmada assim que o Alfa finalmente descobriu onde o Nogitsune estava e invadiu a clínica veterinária se deparando com aquela cena tenebrosa diante dos seus olhos.

O humano finalmente tomou consciência do que havia acontecido, sua mente saiu do transe da manipulação do Nogitsune e seus olhos dourados voltaram a se derreter em emoção ao encarar o corpo caído a sua frente.

Segundos torturantes de silêncio se passaram até o menino compreender que havia a matado.

Lydia Martin, a garota que sempre amou, estava morta, ele havia tirado a sua vida.

— Não! Não! Eu não posso...- O garoto engasgou nas próprias palavras e um grito entrecortado saiu de seus lábios.

— Stiles! O que aconteceu? - O Alfa falou horrorizado, sem saber se devia atacar o Nogitsune ou se aquele ainda era seu amigo.- O que você fez?

O amigo começou chorar junto com o humano que segurou o corpo inerte em seus braços magros.

— Lydia, minha Lydia.- O menino soluçava e gritava ao mesmo tempo.- Me perdoa!

Um grito ainda mais alto surgiu de sua garganta ao sentir a conhecida pressão contra sua mente, o Nogitsune batalhava novamente por espaço, lutando para ter controle sobre o seu corpo.

— Não! Não! Deixe minha mente! - Os olhos dourados estavam enlouquecidos quando os braços do amigo o envolveram por trás, tentando o puxar para cima.- Não toque em mim Scott!
O humano lutou debilmente contra os braços restritivos do Alfa, ele estava apavorado com a ideia de que poderia matar seu amigo a qualquer momento e sua mente estava completamente perturbada, repleta de desespero.

— Não! Não! - Ele gritou mais uma vez quando o corpo de Lydia despencou de seus braços e ele ficou de pé contra a sua vontade.- Eu a matei Scott, eu matei! - Ele falou trêmulo encarando os olhos castanhos horrorizados.- Me mata! Por favor me mata! Ele quer me possuir novamente! Por favor!

— Eu não posso fazer isso com você Stiles.- O lobisomem murmurou fragilizado, tentando conter o próprio choro.- Você é meu melhor amigo.- O alfa fechou os olhos com força antes de atingir um golpe certeiro na cabeça de Stiles.- Me perdoa por isso, mas é a única solução.

***

O humano abriu os olhos brutalmente, arfante e trêmulo, sentindo suas narinas arderem com o cheiro de uma forte substância.

O menino olhou para os lados, atordoado e encarou paredes completamente brancas, sem nenhuma mancha de outra cor. Com desespero ele forçou os braços para cima, percebendo que estava preso, tentou mover os pés até concluir que seus tornozelos também haviam sido imobilizados.

— Me tirem daqui! - O garoto gritou se debatendo.- Me soltem! - Sua voz era desesperada e falha.

As imagens de Lydia morta o atingiram como um tsunami e cada momento que teve com ela enquanto estava possuído invadiu a sua mente. "Stiles, eu te amo!" a voz da garota pareceu replicar em sua cabeça, relembrando de quando o beijo que sempre sonhou havia se concretizado daquele jeito distorcido e doentio. A menina finalmente havia correspondido ao seu amor e ele a matou.

— Me soltem! Por favor! - Os gritos se tornaram uma súplica rouca.- Ele vai voltar, por favor, não deixem que ele me possua novamente! Por favor!

" Você a matou Stiles, você devorou a sua alma." a voz sádica e conhecida do Nogitsune sussurrou na mente do garoto atordoado.

— Não! Não! Por favor, alguém me ajude! Alguém me tira daqui! - O menino continuava a se debater com força, seus pulsos e tornozelos começavam a sangrar ao serem forçados contra o metal gélido.- Não deixem ele entrar! Por favor! - O garoto implorou ao sentir o demônio forçar em sua cabeça, abrindo espaço para invadir a sua mente.

O garoto começou a sentir falta de oxigênio, por mais que forçasse o ar não invadia seus pulmões. O suor se acumulava em seu pele fria e pode sentir com clareza seu coração disparar desenfreado em seu peito, as paredes brancas pareciam se encolher ao seu redor, o sufocando, enquanto sentia as lágrimas quentes despencarem de seus olhos.

"Ataque de pânico", foi o grito silencioso que ele deu em sua mente.
A pequena porta foi aberta com fúria e um homem de jaleco branco entrou com passos pesados no pequeno quarto onde o humano estava preso em uma cama.

Os olhos avelãs se arregalaram ao reconhecer as feições duras do homem a sua frente, que tinha um olhar selvagem e uma seringa nas mãos.

— Bem-vindo de volta a Eichen House! - A voz grave sussurrou com crueldade antes de espetar a agulha da seringa contra o pescoço pálido do menino.