Morta rendada escrita por AD Gomes


Capítulo 1
MORTA RENDADA




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Era uma noite negra, e o velho caboclo soprava a fumaça de seu charuto sobre o túmulo de Zefira, a maléfica bruxa que cem anos atrás havia atormentado um vilarejo e sofrido a punição de seu povo. O céu se fechava, coberto de densas nuvens cinzas que já começavam a faiscar e a dar estampidos elétricos. O caboclo repetia copiosamente a frase:

— De pé, ó dama das sombras! De pé, ó dama das sombras!

Naquele terreno afastado da civilização onde apenas um corpo jazia enterrado, sob a grama, movia-se a terra que parecendo revoltosa, se inflava e se expandia. Depois se abria, dando espaço para que algo embaixo dela viesse à tona. E veio um caixão envolvido em correntes que, sob o poder das palavras do caboclo e de seus amuletos tribais, tremia e fazia romper as amarras.

Corrente rompida, a tampa do caixão foi lançada para longe, revelando o corpo que havia dentro dele: uma bela mulher em trajes antigos. Uma cintura fina dentro de um espartilho, uns quadris largos cingidos de uma saia feita de longas tiras transparentes. E usava luvas longas e meias-calças com as bordas rendadas. Despertando de seu sono secular, a dama tétrica liberou sua voz:

— Finalmente estou viva de novo! A sociedade dos homens irá pagar por sua desfeita para com migo! Irei bradar cem palavras mágicas e atear fogo em tudo o que eles amam!

Ela erguia as mãos para o céu, esperando que raios de energia fossem lançados de seus dedos em demonstração de sua fúria, mas as nuvens cinzentas se desfizeram e de suas mãos não saíram uma só faísca.

— Necromante! — ela gritou para o caboclo que a invocara. — Me diga o que houve com meus poderes!

— Ah, dona! Isso aí é assim mesmo. Todo bruxo quando é invocado do mundo dos mortos, vem de lá sem poder nenhum.

— Então me diga como reaver a minha magia!

— Ah! Aí é complicado. A senhora tem que fornicar com um homem virgem que tenha a idade que a senhora tinha quando foi morta. E tem que fazer isso dentro de uma hora. Se não, a senhora volta pro mundo dos mortos sem poder e sem vingança.

— Mas eu tinha 35 anos quando fui enterrada viva por esse povo imundo. Como eu vou encontrar um homem virgem de 35 anos?

— Espera um pouco que eu vou perguntar pros espíritos.

O caboclo fez uma série de mesuras com seus amuletos e o seu charuto e pronunciou umas palavras estranhas. Depois se dirigiu à feiticeira e disse:

— Olha dona bruxa, pra sua sorte, tem um virgem de 35 anos que mora na cidade aqui perto. É um baixinho barrigudo e pouca-telha que dá aula pros alunos do convênio. O nome dele é Prof. Testoni.

— Você me dá uma corona até lá?

— Ah! Mas é claro, dona. Vamos embora, que o meu fusca tá logo ali.

Testoni era um homem introvertido. Não conseguia dizer coisas românticas olhando nos olhos de uma mulher, mas conseguira marcar um encontro flertando pela internet e, no momento do ataque da bruxa, Testoni estava no meio de um jantar romântico com sua amiguinha internauta.

Dirigindo pela cidade, o caboclo ia consultando seus amigos espíritos, a fim de saber o paradeiro do Prof. Testoni. E, assim, ele e a sedutora bruxa foram acabar em um restaurante 5 estrelas.

Na mesa 14, as coisas iam bem. Testoni achava que havia encontrado a mulher perfeita para se casar. E a sua acompanhante pensava igual. Quando a internauta decidiu ir ao banheiro para retocar a maquilagem, a morta rendada apareceu para seduzir o professor. Sentou-se a sua mesa, cruzando as pernas e fazendo charme com o beicinho.

— Escuta gordinho — ela disse. — Porque você não esquece essa moça sem graça e vem comigo curtir a noite?

— Como assim? Quem é você? Que roupas estranhas são essas?

— Eu sou a mulher que vai te fazer o homem mais feliz do mundo.

— Eu não estou entendendo. Acho melhor você ir embora. A minha acompanhante já deve estar vindo. Se ela me vir com você...

A morta sentou-se no colo do Professor, passou um braço por trás de seu pescoço e alisou o seu rosto, olhando bem de perto os seus olhos.

— Deixe de ser bobo. Você não vê que eu sou muito mais bonita do que ela?

Testoni procurava fazer uma escolha. Por um lado, sua amiga internauta era gentil, confiável, tinha bastante afinidade com ele e não se podia dizer que era feia. Por outro lado, havia um mulherão sentado em seu colo, disposto a entregar-se por inteiro a ele. Para um cara como o Prof. Testoni, que, até então, nunca havia tido nenhuma das duas, coisas era compreensível que tentasse agarrar as duas oportunidades.

Deixou que a morta o beijasse e ainda apertou sua cocha carnuda. Foi pego no flagra por sua amiga internauta que, tomada de ira, despejou vinho branco sobre o casal. Testone se deu conta da merda que fizera e seguiu a internauta que já saía pela porta. Foi detido por um garçom que esperava que alguém pagasse a conta. Depois de pagá-la, saiu à rua, mas perdeu de vista a sua pretendente perfeita. Caiu de joelhos, deprimido na sarjeta e um cão de passajem urinou em sua perna. Alguém acertou sua cabeça com um porrete e ele caiu desmaiado no chão. Acordou em um lugar escuro, preso pelas pernas e os pulsos sobre um altar dourado. A visão de um teto diante de seus olhos indicava que estava deitado. Olhou para baixo para ver à sua frente e viu uma mulher seminua, completamente voluptuosa. Caminhava rebolando em sua direção. A mulher passou pelo lado do altar, percorrendo com um dedo a perna de Testoni, do joelho até a área proibida.

— Como vai, meu querido amante apaixonado? — dizia a assombrosa mulher.

— Você é louca! — berrou o professor. — Por que me prendeu desse jeito? Eu vou denunciar você, sua tarada!

— psssssil. Quieto, querido. Eu não vou lhe fazer mal.

Zefira abaixou as calças do Professor até os joelhos e pôs a boca em sua banana, só para deixar o negócio mais vigoroso. E então se sentou em cima e começou a friccionar. Sua grande bunda redonda ficava para trás e para frente em cima do professor gorducho.

Sem ter do que reclamar, Testoni passou a curtir o momento. O suor pingava em abundância e o movimento continuava sem parar, até que a defunta libidinosa começou a ter espasmos de gozo e encerrou com um grito de satisfação. Saiu de cima do gordo e retirou suas amarras, dizendo que ele podia ir embora.

— Agora sim eu irei ter a minha vingança! — Ela berrou, tentando novamente conjurar seus poderes, mas de novo a tentativa falhou.

— Necromante! — ela gritou para o caboclo que se masturbava no escuro, vendo a transa da feiticeira. — O que há comigo agora? Onde estão os meus poderes?

— Óóóh! Me desculpe, dona Zefira. Eu tinha esquecido desse detalhe, ó?. É que depois de fofar com ele, a senhora tem que enfiar um punhal de prata no coração do cabra.

Sobressaltado com a notícia, o gorducho correu para a porta mais próxima e saltou fora. A bruxa sem poderes e o seu ajudante lesado saíram no seu encalço com o punhal em mãos.

Testoni correu pela mata até encontrar uma estrada onde parou para pedir carona. Cinco carros passaram em alta velocidade e o ignoraram. Um sexto carro surgiu em menor velocidade e Testoni teve a esperança de que este finalmente parasse. Era um fusca que trazia atrás do volante um negro fumando charuto e ao lado dele uma mulher bastante irritada.

Testoni reconheceu que eram a bruxa e o caboclo que estavam no carro e saiu correndo pela pista para escapar dos perseguidores. No momento em que o carro já estava perigosamente perto, Testoni se atirou em uma ribanceira e rolou e se esfolou até atingir um rio. A maré o levou para longe ainda consciente e, mais tarde, ele conseguiu se salvar.

— Não tem outro jeito de eu reaver os meus poderes? — indagou a feiticeira.

— Ééé! Ter tem sim, mas não é recomendável não, olha. — revelou o caboclo.

— E qual é esse jeito? Me diga logo!

— Bom. — começou o caboclo a explicar de maneira compassada, enquanto saía do carro. — Primeiro você tem que vir e ficar paradinha aqui — desenhou um pentagrama no asfalto. — Você fica bem no meio desse desenho e não se move pra nada até que eu diga que pode, entendeu? — Zefira obedeceu. — Agora espere enquanto eu pego meus amuletos no carro que já-já eu te digo como é que se faz — e foi até o fusca. Sentou-se atrás do volante, fechou a porta, pisou no acelerador, contornou a bruxa e gritou enquanto seguia rota:

— Você tem que matar com o punhal aquele que te trouxe dos mortos!

Como a bruxa não tinha relógio, não soube que já havia passado uma hora desde que fora ressuscitada. O seu corpo tão maravilhoso, rapidamente foi envelhecendo e murchando até se tornar uma caveira e em seguida apenas pó. E então seus restos foram soprados pelo vento.

FIM

O que? Quer saber por que o caboclo trouxe a bruxa dos mortos? Porque ela era gata ora!


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