Meu nome é Lia Granger, eu tenho dezesseis anos e moro em Nova York.

Na verdade, acho que isso é a coisa mais normal que eu posso ter, afinal sou um pouco mais diferente do que a maioria dos adolescentes. Você deve estar pensando no que é? Bem, eu acho que devo me apresentar melhor, explicar como ando levando a minha vida.

Não sei quem são meus pais, fui adotada quando era apenas um bebê e meus pais adotivos não são nem um pouquinho maleáveis quanto a isso. Eles são poderosos e bem velhos, talvez mais velhos do que qualquer pai, mas acho que gosto disso neles, é uma das poucas coisas.

Sim, meus pais são Zeus e Hera, e você acha que eu sou uma deusa? Não, querido amigo leitor, sou apenas uma meio-sangue que foi deixada na porta do Olimpo e por um grande (e bota grande nisso) milagre divino, os deuses me acolheram. Para ser mais exata, o rei e a rainha do Olimpo me aceitaram e agora você pode me chamar de princesa (só que não!Não faça isso! Ou eu mato você).

Minha vida foi um pouco mais turbulenta do que a de um semideus normal, afinal, crescer cercada de deuses com mais de oito mil anos é algo que faz qualquer um enlouquecer. Eles são invencíveis e tal, posso até ser incinerada por pensar nisso, mas eles são pirados! Sério, querido amigo, aceite que sua vida como um simples humano é algo muito bom! Ser um meio-sangue pode até parecer algo legal, mas não é.

Contudo, acho que já enrolei demais.

Como já sabem, cresci no Olimpo, só estive no mundo normal algumas vezes sozinha, quando conseguia fugir dos olhares dos deuses. E ter Hermes como sua babá tem suas vantagens, George e Martha não conseguem correr, acho que tenho uma chance contra eles. Meus pais me prenderam no Olimpo, minha mãe é cismada com algo sobre uma profecia que eu não posso saber, mas acho melhor não saber.

Atena me ensinou tudo, e quando eu digo tudo, é tudo. Acho que sei tudo o que devo saber sobre monstros, deuses e maldições, mais do que um adolescente mentalmente estável deveria saber. Tem vezes que eu não sei se estou alucinando, mas não me ache estranha, posso ser normal! Poseidon era meu segundo pai, me deu um colar que me dá os poderes de um de seus filhos, posso passar como filha dele sem levantar suspeitas, tirando o fato de que meus olhos são tão negros quanto a escuridão e não verdes como os dele. Por um tempo achei que poderia ser filha dele, mas essa ideia sumiu, ele não se parece comigo, não tenho nada de Poseidon. Mas ele me ensinou a surfar e tenho certeza que acabo com você antes que você possa pronunciar: L-i-a-a-f-i-l-h-a-d-o-O-l-i-m-p-o-m-a-n-d-a-m-u-i-t-o-b-e-m.

Ares me ensinou a lutar, posso ganhar de qualquer ser vivo nesta Terra, não estou blefando, sou tão boa quanto ele e creio que meu irmão me ensinou certinho como esfolar meu adversário usando somente o dedo mindinho. Ártemis me ensinou a caçar e a atirar, passeis longos verões com ela e suas Caçadoras, a ideia de me juntar a ela passou-me pela cabeça, mas a descartei, por mais que eu queira ser livre dos deuses, eu não conseguiria seguir suas regras. Sou uma garota bem fora da lei, fico de castigo quase toda a semana, é impensável viver tendo que seguir uma deusa.

Apolo ganhou um espaço especial em meu coração, afinal, o deus do sol pode ser péssimo em canções, mas tenho certeza que ele é minha alma gêmea. Ele me ensinou a dirigir, se bem que aprender a pilotar uma carruagem do sol pode não ser considerado o modo mais tradicional, mas nem todos tem um pai com um carro e estacionamentos de mercados a meia noite. Hermes me fez aprender a como roubar, do jeito mais difícil, ele era o único que Zeus me deixava sair para ver o mundo, viajei para mais lugares do que posso me lembrar, mas nunca parei em nenhum deles.

Démeter não gostava muito de mim, acho que ela nunca gostou da ideia de Zeus e Hera adotarem uma menina recém-nascida cujos pais eram desconhecidos e eu poderia ser a destruição do ocidente. Ela é meio esquizofrênica. Nunca falei muito com Dionísio, ele é meio antissocial, só sei que cuida do Acampamento Meio-Sangue, meu sonho de consumo, eu sempre quis ir para lá. Encontrar outros como eu e finalmente ter uma vida longe dos deuses.

Hefesto me fez criar minha própria espada, Píton, sim a cobra, mas ele disse que essa arma tinha sido banhada em seu sangue e eu gostava dela, ele virava uma presilha que eu levava no cabelo. Rápido, fácil e ágil. Afrodite foi a única que se preocupou em me tornar uma garota, sempre cuidou de meus cabelos loiros escuros e minha pele branca, ela gastou muito tempo para dar um jeito neles.

Quando algo no Olimpo era importante demais para que eu pudesse ficar, eles me colocavam na Ilha da Calípso, mais conhecida como Ogígia, ela é uma ótima pessoa, mas meus pais não ligam muito para ela.

Eu sei de um garoto que salvou o mundo faz algum tempo, o nome dele foi assunto no Olimpo por meses, acho que nome dele era Percy Jackson, filho de Poseidon. Eu queria poder encontrá-lo e finalmente conhecer um herói, mas tenho a breve impressão que ele não quer ser conhecido.

Eu estou na carruagem de Hermes, indo para o Acampamento Meio-Sangue, os deuses estão calados e o clima no Olimpo está um pouquinho tendo, então eu aproveitei a brecha e fugi. Não acho que meus pais vão ligar para isso, Zeus sumiu e Hera está enlouquecendo sobre o seu plano e algo a ver com Gaia. Hermes não sabe que Zeus não me deixou ir, eu não quis dizer a ele, quero poder viver a minha vida como uma semideusa normal, combatendo monstros e os matando.

Outro motivo é descobrir quem é meu pai ou minha mãe divina, ninguém nunca me deu uma pista e isso é excruciante, não sei de meus poderes ou meus dotes porque ninguém nunca me disse! Puxa vida, moro com deuses que não sabem guardar um segredo, mas o meu eles nunca deixaram escapar, acho que mereço um voto de confiança.

Zeus me deu poderes como sua filha, acho que isso vai vir a calhar, já que quando entrar no Acampamento, serei a filha de Zeus e ninguém poderá saber que fui criada no Olimpo, não seria algo muito legal. Como eu poderia dizer? Eu passei minha vida toda com seu pai ou sua mãe e você não! Eles me adoram e nem sabe que vocês existem, podem chorar, eu sou demais!

Não sou tão má assim.

Então lá estou eu, entrando na floresta com deus dos viajantes sem saber muito bem porque quero tanto sair da proteção dos deuses e entrar nesse mundo onde posso ser morta a qualquer minuto. Meu estomago está se revirando, eu nunca estive com seres que não fossem divinos ou algo do tipo, aquele passo mudaria a minha vida. Eu seria Lia, a filha de Zeus e uma semideusa como qualquer outra.

- Tudo certo ai, loirinha? – perguntou o deus na entrada do Acampamento.

- Acho que sim, só um pouco nervosa – engoli a seco quando vi o enorme dragão protegendo o legendário Velocino de Ouro. – Esse dragão não está ajudando.

- É o Peleu, ele não vai matar com tanto que não chegue perto do Velocino.

- Bom saber. – respirei fundo, aquele era o momento, meus pés precisavam se mover, eu precisava entrar lá. –Tem certeza que não pode ir comigo?

- Os deuses estão calados e eles não entram no Acampamento. – ele levantou a sobrancelha – Tenho que ir, o tempo ruge e eu sou o deus dos viajantes, boa sorte Lia!

- Vou precisar.

- Tem minha benção. – e sumiu, tão rápido quanto o vento, me deixando sozinha no meio da floreta com apenas a minha mochila, sem saber se era o certo seguir o caminho.

Então, depois de muito olhar para o dragão, eu entrei no Acampamento Meio-Sangue