–O que aconteceu? -perguntou Sebastian podendo sentir que acabara de passa os dias mais cansativos de sua vida.

–É complicado... -Respondeu Alice, a única pessoa que o menino conseguiu ver. -Você quase morreu...

–Por quanto tempo eu apaguei? -perguntou o garoto ainda muito cansado.

–Quatro dias.

–Quatro dias! Por que! Mas que caralga! -respondeu o menino ressaltando a sua arrogância em sua fala.

–Caralga? -perguntou a loira sem entender muito bem. Será que era uma gíria do mundo de fora da qual não conhecia?

–Não sei... Veio na cabeça.

–Sebastian! -gritou a menina novamente chorando nos ombros de seu amigo. -Você quase morreu... Aquelas coisas... Você foi "picado". -continuou entre soluços.

–Como me salvaram? -respondeu o garoto empurrando a loira pelos ombros para poder olhar diretamente nos olhos dela.

–A Carly! Enfiou algumas agulhas em seu braço! Ela disse que foi por instinto... Está cuidando agora do ferimento na perna de Natalie. -respondeu a menina um pouco mais calma.

–Explica tudo! -ordenou Sebastian. Afinal, como o garoto iria saber o que havia acontecido com a perna de Natalie?

–Ela foi correr no labirinto! Descobrimos que as portas se fecham apenas a noite. Já que Natalie é muito rápida resolvemos envia-la para correr de... Verdugos... -respondeu a menina agora muito calma e usando mais o seu lado racional.

–Algum sinal de uma saída? -perguntou o menino de cabelos negros.

–Nenhum. Eu iria começar a correr com Natalie... Se não fosse por você. Nunca conseguiria te deixar aqui! Sabe? Sinto que é o único em quem posso confiar... -explicou a menina com os olhos brilhando esboçando sinais de uma primeira lagrima.

Sebastian, sentindo uma estranha pontada no coração, puxou Alice para um longo abraço. Aquilo era bom. Muito bom para quem não se lembrava de nada.

–Obrigado... -sussurrou o menino no ouvido de Alice. -Muito obrigado.

Um longo tempo se passou. Sebastian estava gostando daquilo. Era algo estranho. Talvez, diferente, seria uma palavra mais adequada para a sensação.

–Gente! Deu certo! -gritou um menino alto com cabelos loiros ao entrar no quarto improvisado sem ao menos perceber a "volta" de Sebastian. -Julian conseguiu! Os milhos estão crescendo!

–Nossa... -resmungou Sebastian surpreso. -Em quatro dias vocês evoluíram muito!

–Nem tanto... -falou Alice. -William e Esther se revoltaram por algumas regras que eu criei. A coisa lá está feia Sebastian.

Sebastian não respondeu. Apenas caminhou para o lado de fora para observar o quarto de madeira que seus amigos haviam construído para ele.

–Recebemos animais de vez em quando... Mas ninguém tem coragem de mata-los para comer. -comentou Jasper.

"Comer?". Pensou Sebastian. Como aquele garoto poderia saber que animais são comestíveis? Não poderia. Afinal, toda a sua memória havia sido apagada. Mas algo lhe dizia que sim, animais são comestíveis. Pelo menos alguns deles.

–Posso ver os dois novatos? -perguntou Sebastian.

–Novatos? -estranhou Alice. -Ah! Sim! William e Julian!

–É... Que seja...

Depois de uma longa caminhada Sebastian e Alice avistaram Julian.

–Olá Julian! Olha quem acordou! -falou a menina entusiasmada.

–O seu namorado! -respondeu o menino. Podendo ver a pele branca de Alice se tornar vermelha.

–Olá. Sou Sebastian. -falou O garoto de cabelos negros para o alivio de Alice, que não sabia o que responder. -O que faz aqui?

Alice se perdeu nos pensamentos. Será que ela sentia, mesmo, algo por Sebastian? Aquele garoto irritante que a ajudou com os suprimentos da "Caixa". Será que isso existia mesmo? Sentir algo... Soava até engraçado. Sim. Definitivamente isso existe. A garota nunca havia conversado com Sebastian direito. "Não! Isso é impossível" pensou a menina se desfazendo de seus pensamentos...

–Alice! -gritou Sebastian. -Vai responder ou prefere ficar sonhando?

–O que? -respondeu a menina retomando ao seu tom avermelhado.

–Eu. Posso matar os animais?

–É claro! Seria ótimo.

–-----

Depois de reencontrar todos os seus companheiros, Sebastian foi falar com Esther e William.

Ao entrar neste estranho aposento feito de madeira colorida Sebastian tomou um susto. Esther não era mais a mesma menina doce e meiga... Ela estava parecendo um zumbi para dizer a verdade.

–Sebastian! -gritou a menina o abraçando.

Isso havia destruindo todos os pensamentos loucos de que Esther estava tão doente a ponto de ficar louca. Como... Como um "Crank"! Se é que essa palavra existe.

Sebastian apenas a abraçou de volta.

"Carly!" -Pensou. Ele havia esquecido completamente. Perdeu tanto tempo conhecendo as coisas e falando com quem ali vivia que havia se esquecido. Carly havia salvo sua vida!

–Onde ela arranjou aquelas seringas!! -gritou Sebastian sem perceber.

–Ela quem? Carly? Ah... Veio nas caixas. -respondeu William. O menino estava acabado. Se Esther parecia um morto vivo ele estava só morto. -Mas dane-se isso.

Sebastian olhou para Esther com uma expressão da qual ela não tinha como não entender.

Empurrou o garoto dos cabelos negros para fora do quarto.

–Ele está louco Sebastian! -gritou a menina. -Eu não podia deixa-lo sozinho... -começou a chorar.

–Venha conosco! -pediu o menino.

–Mas... E o Will?

–Se ele não decidir se unir a nós é por que está mesmo louco. -respondeu o menino.

–Sebastian... Desculpe mesmo pela facada... -falou a menina puxando o garoto para um longo abraço.

–Ei! Esse não é o maior dos meus problemas. -respondeu Sebastian intensificando a força do abraço.

O que ele não notou foi que Alice estava passando com os milhos recolhidos exatamente nessa hora.

O que a loirinha sentiu foi inexplicável. Pontadas no peito e uma magoa extrema.

Apenas andou fingindo não ter visto.

–Obrigada. -falou Esther ainda envolvida nos braços do menino dos cabelos negros.

–-----

Enquanto todos comiam seus milhos ao ar livre os portões faziam um terrível barulho enquanto se fechavam.

–Nossa... -falou Sebastian. -Eu já tinha esquecido de como esse barulho é horrível.

–Eu quero que todos me ouçam. -gritou Alice ignorando o amigo enquanto pulava sobre uma mesa feita de madeira inesperadamente. -Precisamos de um líder! Eu exijo uma votação! Claro que os novatos... -uma breve pausa para enviar uma piscadela a Sebastian. -também votam. -terminou abrindo uma sequência de burburinhos intermináveis.

–Onde vocês querem chegar? -perguntou Sebastian. Está claro que eu sou o novo líder. -falou o menino subindo na mesma mesa onde Alice estava.

–Está bem. Para facilitar as coisas: é ele ou sou eu? -gritou a menina sentindo o mesmo ódio de quando o viu com Esther. Se é que é este o real nome daquele sentimento. -Não vão querer esse idiota como líder. Vão?

Depois de algum tempo de discussão decidiu-se que Alice lideraria daqui para frente. O estranho foi: ninguém mais argumentou contra este fato.

Enquanto todos festejavam e comiam com a nova líder Sebastian estava sentindo-se oprimido. Pensando em um sentimento novo que havia nomeado de "ciúme". Será que ele estava com ciúme de Alice? Será que realmente ele queria ser líder?

Todos comiam muito e parabenizavam a nova líder.

–Um brinde a nossa n... -Julian começou mas foi interrompido por um terrível grito de agonia e aparentemente de muita dor.

A tensão se espalhou pelo ar. Sebastian partiu em disparada para ver o que ocorrera.

–Minha cabeça! -os gritos vinham do quarto colorido.

Era William