Roses and Demons EX: Crimson Blast escrita por Boneco de Neve


Capítulo 15
O Diário Sinistro


Notas iniciais do capítulo

Mudei o título que anunciara antes pois esse combina melhor com o capítulo. Esse felizmente fluiu melhor. Enfim, boa leitura!



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Diante de uma mesa, em cima da qual havia pilhas de livros diversos pelos cantos, estava Mileena com um livro bem a sua frente, o qual tinha capa muito semelhante a do diário de Valeria, com a mesma marca de chama negra que havia nele, enquanto a pequena Marjorie a observava atentamente. A moça explosiva impôs a mão revestida sobre o livro e realizou o mesmo encantamento que fizera diante de Purkeed há quase dois dias. Terminado o feito, deu o livro para a manipuladora de fungos.

 

Mileena: Olha aí.

 

Marjorie pegou o livro e o abriu numa página previamente marcada pela moça de manopla. A pequena bruxa ficou surpresa ao constatar que a página estava totalmente diferente de quando a viu antes do feitiço.

 

Marjorie: Puuuxa! Que legal! Mudou tudo!

Mileena: Esta foi a magia Chave Mestra, capaz de desfazer qualquer Cadeado Mágico. Só assim, eu posso abrir os diários. Do contrário, somente a pessoa que fez o Cadeado pode desfazê-la.

Marjorie: Pôxa, você tem que me ensinar essa!

Mileena: Não, já basta eu ter te ensinado o Cadeado Mágico. A Chave Mestra, além de muito difícil, exige muita responsabilidade; normalmente é magia hereditária, exclusiva pra madames. Eu só sei dela porque... Bem, você deve entender...

Marjorie: Sim... Eu acho...

Mileena: Bom. Posso vê-lo agora?

Marjorie: Espera...

 

Marjorie estava lendo aquela página com tamanha atenção que Mileena começou a ficar ansiosa. A advertência final de Void martelava a cabeça da moça de manopla, por isso qualquer informação poderia ser útil.

 

Mileena: Achou algo suspeito?

Marjorie: Hm... Só uma coisa estranha...

Mileena: O quê? Por favor, diga.

Marjorie: As Darphai costumavam pedir ajuda pra fazer uma cama ranger?

Mileena: É o quê?!

Marjorie: Eu consigo fazer isso sozinha; basta pular em cima...

Mileena: Deixa eu ver.

 

Marjorie entregou o diário para Mileena, que se pôs a lê-lo. Não demorou muito e o rosto da moça de manopla ficou quase tão vermelho quanto a sua camiseta.

 

Mileena: (Silvana, sua cadela! Andou se engraçando com um cara dentro da Casa de Prata, debaixo das ventas do clã inteiro!)

Marjorie: Irmã Mili, você tá vermelha! Não me diga que o veneno ainda...

Mileena: Não, não é por causa do veneno; eu tô bem...

Marjorie: Então o que você tem?

Mileena: Nada, Marjorie. Deixa quieto...

 

Marjorie não entendeu direito o que houve, mas acreditou em sua irmã. Esta, depois de dar uma folheada no diário, viu que não havia mais nada de suspeito e, em seguida, o deixou de lado. Ela repetiu o processo com mais dois diários, vindo, porém, ao mesmo resultado. Faltando ainda mais de trinta diários pela frente, a moça explosiva já dava sinais de frustração. Ela passou a considerar suas opções: Ou ela continuava a ler os diários até onde dava ou ela voltava para a vila, onde ela poderia lê-los com mais calma. Se ela continuasse lendo, Marjorie certamente não desgrudaria dela, o que não seria um incômodo para a moça, mas imaginava os problemas que teria se dessem pela falta da pequena no orfanato. Por outro lado, se ela voltasse pra vila, além de deixar Marjorie chateada, a moça de manopla eventualmente toparia com a pequena e rancorosa Carly. Isso certamente não seria algo agradável.

 

Mileena: Nnngh... (Se ao menos tivesse uma pista...)

Marjorie: Tá sentindo alguma coisa, Irmã Mili?

Mileena: Sim, frustração...

Marjorie: Hã, prostração?

Mileena: Aff... Marjorie, deixa sua irmã colocar as ideias em ordem, sim?

Marjorie: Tá... Vou aproveitar pra beber água.

 

Assim, Marjorie saiu da sala, deixando a moça explosiva com seus pensamentos. Enquanto ponderava nas coisas, uma lembrança surgiu na mente de Mileena. Era uma lembrança antiga, datada de 7 anos atrás, e dolorosa, como todas as outras daquele tempo lamurioso, porém, esta em particular foi a que chamou sua atenção naquele momento.

 

== 7 anos atrás ==

 

Em um alojamento improvisado na Taverna da Lagosta Escaldada, jazia em uma cama uma mulher, de 43 anos, que estava em um estado deplorável. Midea Darphai, outrora líder do poderoso clã de bruxas guerreiras, agora não passava de uma mera mulher fragilizada; estava magérrima e letárgica. Passava o tempo inteiro deitada e divagando sobre as coisas, especialmente sobre o que aconteceu com seu clã. Mas ela não ficava o tempo inteiro sozinha. Mileena, na época com 20 anos, estava sempre que possível ao lado de sua mãe. Naquele dia, não foi diferente. Depois de derrubar mais um bandido e pegar a recompensa, ela voltou pra taverna e logo foi ver sua mãe, sentando-se ao lado dela.

 

Mileena: E aí, mamãe? Pensando no quê dessa vez?

Midea: No de sempre, Mileena... No de sempre...

Mileena: Você precisa reagir, mamãe. Já faz um ano. Eu sei que é difícil, mas...

Midea: Minha displicência guiou o clã Darphai ao seu fim... Eu serei motivo de chacota entre todos os clãs de bruxas para sempre... Não há mais jeito pra mim...

Mileena: Eu me recuso a aceitar que você diga uma coisa dessas, mamãe! Você fez o melhor que podia! Você não tem culpa do que o nosso clã fez!

Midea: Se eu tivesse sido um pouco mais próxima, ficado mais no encalço das minhas pupilas... Eu saberia o que estavam aprontando.

Mileena: Mamãe, por favor...

Midea: Vai saber o que mais estavam fazendo pelas minhas costas... Já teve vezes em que desconfiei que tinha bruxa mexendo com magia de Pravus. E eu simplesmente achei que era devaneio meu...

Mileena: Olha o que a senhora está dizendo, mamãe! Nossas irmãs nunca seriam tão loucas para...

Midea: Elas foram loucas o suficiente para organizar uma rebelião. Então, não é tão absurdo assim, não acha?

 

Mileena havia se calado. Não queria mais continuar com a conversa, porque sua mãe continuaria se condenando, além do fato de ela mesma ainda sofrer muito com esse assunto, mesmo que evitasse transparecer. Vendo que Mileena não iria continuar a conversa, Midea também se calou. Então, Mileena se levantou.

 

Mileena: Eu vou preparar sua sopa. Já volto.

 

Assim, a jovem saiu do quarto, agoniada com o estado de sua mãe, que com o tempo só piorava, e cada vez menos demonstrava alguma esperança de recuperação.

 

==//==

 

Naquele tempo, Mileena não quis aceitar o que Madame Midea disse, não exatamente por ingenuidade, mas para evitar um sofrimento maior do que sua mãe e ela já estavam passando. Porém, agora que chegou àquele ponto, fugir disso não era mais uma opção. Além disso, sua mãe estava certa. Nada garantia que não havia mesmo uma Darphai a serviço de Pravus. Não era absurdo algum pensar nessa possibilidade. Isso não significava que esse detalhe tinha ligação com o fato de ainda haver alguma Darphai viva, mas de qualquer forma, era uma pista.

Resoluta, Mileena pegou todos os diários das Darphai que pôde encontrar e juntou todos diante de si. Naquele instante, enquanto Mileena arrumava a mesa, Marjorie apareceu na sala e, ao ver a cena, correu até a moça para ver o que esta pretendia fazer.

 

Marjorie: O que está fazendo, irmã Mili? Vai usar a Chave Mestra em todos os diários?

Mileena: Não, isso é impossível. Abrir um diário já requer muita concentração...

Marjorie: Então o que vai fazer?

Mileena: Tentar algo diferente. Fica quietinha e deixa sua irmã se concentrar, tá bem?

Marjorie: Tá bem.

 

Mileena então segurou o punho direito, o que estava revestido, com a mão esquerda e fechou os olhos. Ela se lembrou das palavras de Void a respeito da sua luva.

 

Basta desejar sabiamente e de todo o coração. Assim, você ficará bem.

 

A moça tinha receio do que poderia acontecer se desse um voto de completa confiança à sua luva, mas decidiu ir em frente. Se até então, a luva não demonstrou nenhuma manifestação perigosa para si, provavelmente não faria agora.

 

Mileena: (Vê se não me passa a perna...)

 

A moça impôs a mão direita sobre os diários, respirou fundo e deu a ordem.

 

Mileena: Desejo que me indique qual desses livros possui magia de Pravus impregnada em si.

 

A mão de Mileena passou a se mover sozinha, ficando em cima de um diário que estava um pouco à esquerda.

 

Mileena: Consegui.

Marjorie: O quê?

Mileena: A luva me obedeceu. Foi ela que conduziu minha mão, não eu.

Marjorie: É? Quer dizer que...

Mileena: Ela funciona mediante meus desejos. E eu achando que ela só servia pra anular poderes elementais...

Marjorie: Tá, mas você pediu pra achar um diário impugnado com magia de Pravus... Então... Esse diário aí...

Mileena: É a prova que pelo menos uma irmã minha era adoradora de demônios...

 

Marjorie ficou bastante assustada com a revelação de Mileena. Esta tirou todos os outros livros de cima da mesa, mantendo apenas o diário maldito nela. A moça de manopla executou a Chave Mestra novamente e então abriu o diário. Não havia nada demais nele. As páginas estavam quase em branco; cada página tinha poucas linhas escritas, não tendo nada de relevante, senão o fato de Mileena não reconhecer a letra.

 

Marjorie: Er... É só isso? Pensei que fosse acontecer algo de ruim...

Mileena: A dona desse diário não é idiota. É claro que ela não ia esconder algo nesse diário só com o Cadeado Mágico. Do contrário, mamãe certamente descobriria.

Marjorie: Então o que falta?

 

Mileena imaginava que havia ainda algum tipo de proteção extra no diário, criada com artes pravusianas. A própria Mileena estudou um pouco dessas artes há tempos atrás pra saber como lidar com sua luva, mas nunca as colocou em prática, pois Madame Midea expressamente a proibiu, por ser muito perigosa. Então, ao olhar novamente para sua luva, achou que ela poderia ser mais uma vez de utilidade. Assim, ela impôs a mão sobre o diário.

 

Mileena: (Bom, dos males o menor...) Desejo que me revele o poder oculto neste diário.

 

Subitamente, o diário soltou uma espécie de bramido distorcido e uma aura avermelhada. A capa do diário mudou de forma, tornando-se negra com um losango e, no centro deste, um símbolo peculiar, parecia vagamente a cabeça de um demônio com três faces, uma voltada para frente com expressão neutra e uma em cada lado do rosto central, sendo a da direita sorridente e o da esquerda sofrida. Marjorie se afastava com medo, assim como seus cogumelos. Então, o diário emitiu uma névoa, que subiu e se condensou em um ponto no ar, começando a tomar forma. Surgiu da névoa uma criatura bem pequena, de cerca de um palmo de tamanho. Tinha forma humanóide com feições de criança, vestes curtas e vermelhas, pele alaranjada, asas parecidas com as de um morcego e chifres que apontavam para frente. A criatura deu uma espreguiçada, sem se dar conta de quem estava diante dela.

 

?????: Nnnnnngh... Cara, parece até que dormi por um século... Por que demorou tanto, mest... Hã?

 

Ao abrir os olhos, a criaturinha percebeu que a pessoa que estava diante dela não era quem ela esperava. Antes que pudesse se perguntar, Mileena rapidamente a agarrou com força.

 

?????: GUHAGH!

Mileena: Vou perguntar apenas uma vez. Quem é você e a quem você serve?

?????: Gh... Sou uma... Ímpia. Sou o espírito que guarda este livro... A mando da minha mestra... E se quer mesmo saber quem é ela... Vai ficar querendo... Hehe... GAH!

Mileena: Talvez você queira reformular sua resposta, seu verme de asa.

Ímpia: Guh... Talvez você venha... A quebrar a cara... Sua mula... Hihihi... Urgh...

 

Naquele momento, a ímpia começou a pegar fogo, levando uma surpreendida Mileena a largá-la imediatamente. Logo depois, a ímpia começou a se desfazer, virando cinzas.

 

Mileena: O que está fazendo?!

Ímpia: Minha existência está ligada ao livro da minha mestra e vice versa. Portanto, se eu morrer, o livro também some.

Mileena: O quê?!

Marjorie: Irmã Mili, o diário!

 

O livro maldito também começou a arder em chamas e passou ainda a soltar uma fumaça densa e clara. Mileena ficou nauseada com o cheiro, o que a levou a concluir que a fumaça era venenosa e, temendo pela vida de Marjorie, correu até ela.

 

Mileena: Quinta Bênção!

 

A barreira luminosa formada ao redor das duas bruxas impediu a fumaça de avançar até elas. A ímpia olhava para as duas bruxas de forma desdenhosa, enquanto continuava a se desintegrar juntamente com o livro. Em seus últimos momentos, a criatura tenebrosa, ao olhar para a luva de Mileena, dirigiu-lhe um sorriso maléfico.

 

Ímpia: Nada mal, você é esperta... Você é a Mileena, não é? A famosa irmãzinha postiça das Darphai... Minha mestra me falou de você. Parece que você dominou a sua luva... Minha mestra vai ficar feliz em saber disso...

Mileena: Quer dizer então que ela está viva...

Ímpia: Sim, está. E ela certamente já sabe que o livro dela foi aberto. Você vai se arrepender de ter se intrometido nos assuntos dela. Você deu seu... Primeiro passo... Para a sua... Condenação... Haha... Hahahahahaha...


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Notas finais do capítulo

Mileena se despede de Marjorie, mas não antes de dar um enterro digno à sua adversária escorpiônica. E nisso, elas questionam o motivo de seu ataque.

Próximo Capítulo: A Missão de Jasmine

Em breve...



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