Take My Breath Away (one-shot Faberry) escrita por RubyRuby


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560477/chapter/1

“Kitty?” Rachel atendia o telefone.

“Rach!” Kitty dava gritinhos do outro lado da linha. “Você não vai acreditar no que eu consegui! Yay!”

“O que?”

“Eu consegui tickets VIP para o lançamento da biografia da Quinn! Você tem noção de quanto isso é importante, Rachel? Isso é a coisa mais importante que você ouviu nesse ano!”

Berry suspirou. Ela não tinha ligado somente para contar a novidade; obviamente, o que viria depois daquela fala era um convite para que a morena fosse com ela. E ela teria que aceitar.

Kitty estava na fase de se interessar por tudo que não fosse clichê. Se era tendência ouvir pop, ela passava a noite gravando letras de músicas de rock; se era moda ler Nicholas Sparks, ela aparecia com essa tal de Quinn Fabray, que pouquíssimos amigos conheciam_ ela só despertava o interesse dos adultos mais velhos, que já não tem mais aquela ilusão para ler romance. Mas Kitty era um caso à parte.

“Pois é... realmente muito importante...”

“Escuta, você não quer ir comigo? Eu peguei um convite especial só pra você, e você não vai poder faltar. Eu sei que você não tem nada pra fazer hoje de noite. Estou errada?”

“Não, não está. Mas você sabe que eu não ligo pra esses escritores de hoje em dia...”

“Mas você nunca tentou gostar! Se a Clarice Lispector viesse para a nossa cidade lançar um livro, pode ter certeza de que eu iria contigo.” Kitty havia tocado no ponto fraco de Rachel.

Rachel não conseguiria escapar, pelo menos não daquela vez. Ela tinha consciência de que era importante para sua amiga, e que, mesmo não gostando da “zona literária”_ bem como chamava os escritores contemporâneos_, não faria mal nenhum ir ao lançamento de mais um livro de baixo nível somente para reforçar seu desprezo à obras novas.

“Tá certo, você me convenceu. Mas você vai ter que ir comigo no Sardi’s amanhã. Feito?”

“Feito! Você me busca às sete?”

“Às sete.”

–x-

Eram 19h47min. Kitty e Rachel já haviam chegado há quarenta minutos, mas não que Quinn estivesse atrasada: o lançamento estava marcado para oito horas, mas quando Berry soube disso, elas já estavam ali, no salão, sentadas numas das primeiras cadeiras. Kitty pensava que quanto antes melhor, para que elas conseguissem um bom lugar na plateia, só havia esquecido de avisar isso à Rachel.

O salão era enorme e ainda sobrava espaço para rodinhas de conversa entre as pessoas. Havia uma mesa de frios e outra de doces, e as paredes eram decoradas com pôsteres de vários outros livros de Quinn. O ambiente lhe parecia intelectual, e aquilo já agradava. O ar condicionado gelava suas bochechas, e o cheiro dos livros, empilhados logo ao lado do palco, lhe dava uma sensação de que estava em casa. Se a escritora fosse realmente tão ruim quanto ela acreditava, pelo menos a aparência era respeitável.

“Tem certeza de que ela vem?” Berry bufava.

“Ei! É claro que ela vem. Ela sabe que eu estou aqui, esperando por ela.” Kitty brincou, tentando evitar o que Rachel estaria a dizer.

“Se ela não aparecer em vinte minutos, eu vou embora.”

“Rachel!” Kitty berrou. As demais pessoas começavam a chegar e a ocupar os lugares vazios do salão, o que dava a impressão de que Quinn estava prestes a entrar, mesmo que ainda faltassem alguns minutos. “Fica calma, tá? Ela já está chegando.”

A morena deu de ombros e saiu da cadeira. Foi até a mesa de doces, onde tinha uma razoável quantidade de donuts, espalhados por toda a mesa, em caixas cheias. Pegou o suporte para guardanapos que ficava bem na beirada da mesa, mas acabou deixando-o cair. Olhou para um lado e para o outro_ ninguém tinha visto. Abaixou rapidamente e voltou com ele para o lugar, se chamando de idiota dentro de sua cabeça. Retirou um guardanapo e embrulhou três donuts com cobertura de chocolate. Voltou ao seu lugar, de onde podia se ver algumas outras pessoas sentando-se atrás delas. Pareciam, sem dúvida, pessoas mais cultas que elas; talvez esse fosse o problema.

“Não é que eu esteja com má vontade de sair contigo, Kitty, mas você sabe o quanto eu odeio esses escritores que inventam qualquer romance barato pra se tornarem famosos.”

“Mas ela sequer escreve romance! Quinn Fabray escreve críticas sobre julgamentos não terminados e assuntos investigativos com o intuito de esclarecer conceitos importantes sobre a matéria e mostrar opiniões de pessoas envolvidas.”

“O.K., Mrs. Wikipédia, ela pode não ser tão ruim quanto eu pensava, mas isso não significa que eu vou gostar dela quando ela entrar por aquela porta.”

Foi nesse momento em que Quinn apareceu, acompanhada por um segurança. No mesmo instante, o palco virara o centro das atenções e uma chuva de flashes de celular invadiu o ambiente. Além, é claro, de cochichos e dos gritinhos quase contidos de fãs como Kitty, que eram fanáticos por ela.

“Alguém me segura, eu acho que vou pular no palco!” Kitty surtava discretamente, fingindo ser indiferente, enquanto tudo o que ela queria era que Quinn olhasse para ela. “Imagine se eu conseguisse um autógrafo dela?”

Rachel não sabia qual era a graça de conseguir um autógrafo, mas estava tentando limpar sua mente de todos os preconceitos até então anunciados, para tentar ao menos aproveitar o tempo que estava passando. Ao finalmente prestar atenção na escritora, via um sorriso tão angelical quanto poucas vezes já havia visto. Fabray estava acomodada bem no meio do palco, de frente para o público, com um microfone e uns exemplares de sua biografia na mão. Aquilo lhe parecia tão comum que nem mesmo se sentia desconfortável: sorria, acenava, mexia no cabelo, enquanto as pessoas se ajeitavam em seus lugares.

“Quem será que vai fazer a primeira pergunta?” Kitty perguntava, sem tirar os olhos de Quinn.

Berry tentou não dar importância. O.K., a mulher tinha um sorriso lindo, mas isso não a fazia uma escritora profissional. Talvez apenas uma escritora bonita...

Ela pegou o microfone:

“Boa noite, pessoal... Eu poderia começar falando sobre meu novo livro, mas isso responderia a muitas perguntas que vocês querem fazer.” Ela sorria de lado, continuando: “Por isso, quero saber quem será que vai fazer a primeira pergunta.”

Kitty quase gritou. A mulher tinha falado exatamente a mesma coisa que ela há segundos atrás.

“Ouviu, Rachel? Nós temos algum tipo de conexão!”

A morena revirava os olhos, distraindo-se novamente de Quinn. Olhou para baixo e viu os donuts embrulhados no guardanapo. Pegou um, e fechou o pequeno embrulho novamente, agora dedicando sua total atenção à crítica sobre Quinn. Tinha certeza de que ela falaria algo ridículo ou sem noção, e precisava ouvir aquilo para dar ainda mais motivo à Kitty de não gostar de escritores novos.

Dois entrevistadores começaram uma frase ao mesmo tempo, que logo foi interrompida por um deles. Agora somente a voz dele ecoava pelo salão, e era notória a expressão de interesse da parte de todos no ambiente. Menos da de Rachel, que parecia menosprezar a resposta que sequer havia sido dita. E, novamente, o pensamento de que não devia agir daquela forma tomou conta dela; respirou fundo, fazendo cara de paisagem, sem pensar mais nada sobre Quinn. Esta, uma hora ou outra, entregaria o jogo e mostraria o quão ruim ela era, sem precisar do esforço de Rachel.

“Srta. Quinn, por que você, depois de tanto tempo escrevendo sobre mistérios não resolvidos, decidiu escrever uma biografia?”

Ela apontou discretamente para o entrevistador na plateia, cruzando suas pernas. ‘Sensacionalista. Ele sequer sabe elaborar uma pergunta que se preze, duvido que ela tenha uma resposta fora dos clichês de qualquer escritor.’ Pensava Rachel.

“Eu não disse?” Ela olhava para ele, que soltou um breve riso, antes que ela pudesse continuar: “Bom, pra falar a verdade, a pergunta não seria bem essa.”

Berry se contorceu um pouco na cadeira. A mulher disse o mesmo que ela, mas de uma forma menos rude.

“Biografia nada mais é que os pensamentos e memórias de sua vida toda. Desde pequena, fui acostumada a ler sobre casos de desaparecimento e obras clássicas de mistério. Mais tarde, peguei um interesse quase inexplicável por polêmicas, brigas abafadas pelo governo, guerras acabadas sem acordos, casos raros da psicanálise humana...” Seus olhos brilhavam ao dizer tais palavras, o que tirou totalmente o foco de seu sorriso. “É claro que também sou devota dos romances clássicos, como os de Clarice Lispector...”

Nessa hora, Rachel foi puxada de seus pensamentos e jogava diretamente nos de Quinn. Ela tinha realmente dito “Clarice”? Ela sabia do peso que aquele nome carregava? Seus olhos arregalaram como se a própria Clarice estivesse ali, em sua frente. Quinn estava se saindo melhor que Rachel podia imaginar. Kitty cutucou rapidamente o braço da morena, de modo a mostrar que sua escritora favorita havia citado a favorita de Berry, como se ela já não tivesse percebido antes.

“...Mas o lado criminal da história sempre é mais atraente.” Abria um sorriso ainda maior, fazendo Rachel ficar estranhamente irritada com tanta beleza. “Escrever minha biografia agora ou depois, não faz diferença. Mas queria mostrar para meus fãs tudo o que já presenciei e não pude expor através de outras obras, por questão de censura ou pouca relevância para a mídia.”

E assim, as perguntas pipocavam por todo o salão. Quase não se via adolescentes como Kitty e Rachel, mas ao mesmo tempo não parecia que elas estavam num lugar que não lhes pertencia. Primeiro, porque Wilde já era mais que expert na vida da escritora, e segundo_ e não menos importante_ porque Rachel estava tomando gosto daquilo. Há uma hora atrás, ela seria incapaz de dizer que Quinn era tão misteriosa assim como os casos que desvendava. Não era possível que ela fosse a única que já tivera notado aquilo, embora ela pudesse garantir que era.

“Srta.” Uma mulher limpava a garganta antes de continuar a frase. “, por que você viu necessidade de abandonar a riqueza de sua família, pelo menos por um período, para viajar em condições precárias e ir a lugares tão pobres?”

“Essa é uma boa pergunta. Uma das respostas seria dizer que o dinheiro, nesse caso, nada tem a ver com minha profissão...”

Quinn continuava falando, mas Rachel não conseguia acompanhar. A luz do palco, um pouco mais clara que o restante do salão, fazia o rosto da escritora sobressair ainda mais; seu sorriso ainda estava ali, genuinamente atrativo, como uma boneca é para uma criança. “O que é isso?” Rachel se surpreendeu com seus pensamentos. Agora, já estava pensado em comparações para o sorriso daquela mulher? Seu primeiro e último relacionamento com outra garota havia sido pouco antes de entrar na faculdade, que acabara com menos de dois meses de duração. Depois daquilo, não teve tempo para namoros fixos; saía com caras mais velhos, bebia com eles, passava a noite ouvindo poemas. Nada mais. Não que fosse algo vergonhoso, mas era melhor evitar aquele tipo de pensamento, ainda mais por uma escritora daquelas.

Afinal, era apenas um sorriso e olhos inegavelmente lindos. Era óbvio que ela tinha um namorado. ‘Será que ela já pensou em ficar com uma garota?’ Rachel se perguntava, com o queixo apoiado na mão, encarando-a enquanto respondia às perguntas antes da entrega dos livros. Até que percebeu que continuava com aquele tipo de questionamento. Desviou os olhos de Quinn, assim como tinha feito poucas vezes durante a noite. Olhou novamente para baixo, pegando mais um donut. Não queria ficar igual uma idiota admirando aquela mulher à sua frente, então ficou brincando com as dobras do guardanapo.

“Rach?” Kitty falava baixo.

“Sim?”

“Você está bem?”

Rachel riu.

“Por que não estaria?”

“Porque você está realmente se divertindo com esse guardanapo...” Kitty levantou uma sobrancelha.

“Não, Kitty. Eu estou olhando para a Quinn. Assim como você devia estar.”

Foi a segunda vez no dia que Rachel suspirou. ‘Tá,’ pensou ela ‘essa entrevista deve estar acabando, mesmo.’ A morena continuou, mesmo que contra sua vontade_ em parte_, encarando aquela mulher tão linda e misteriosa. Era coisa de sua cabeça, só podia ser. A escritora apareceu numa hora propícia, afinal, ninguém planeja ir a uma entrevista para ficar tão atraído pela entrevistada.

Depois de uma hora, Quinn despediu-se dos fãs, librando a venda dos poucos exemplares disponíveis_ apenas o suficiente para as pessoas no salão, sem ser quantidade para uma venda posterior. Fabray saiu do palco pela porta ao lado, sem ter qualquer contato físico com a plateia, recebendo uma singela salva de palmas, seguida pelo segurança.

Então era isso.

“O que achou dela?”

Berry não sabia. Entrara no salão querendo ficar em casa, e agora não conseguia tirar o rosto de Quinn da cabeça.

“Principiante.”

Kitty revirou os olhos.

“Ela é linda, maravilhosa, e escreve os melhores textos que eu já li. Se ela é principiante, eu não quero saber o que é uma profissional.”

As pessoas saíam de suas cadeiras e faziam uma fila imensa em frente ao livros, de onde uma mulher surgiu para entregá-los de forma organizada. Kitty foi uma das últimas, levando em conta que sentara num dos primeiros lugares e ficava difícil de sair de lá antes dos demais. Rachel ainda não conseguia entender como deixara a escritora escapar daquela maneira, sem sequer ter uma foto de recordação.

“Você vai realmente ficar nessa fila gigante? Só pra pegar um livro que mais tarde já vai estar à venda em qualquer botequim?”

“Mais tarde? Você quer dizer daqui a séculos, né? Claro que vou ficar! Melhor que isso só um autógrafo.”

Rachel não pode evitar o pensamento: ‘Tanta coisa melhor que autógrafo para se pedir à Quinn...’

“Rach?”

“O-oi?!”

“Por que você está assim?”

“Assim como?”

“Agindo como se tivesse cinco anos de idade. Primeiro eu olho pra você e você está brincando com um guardanapo, depois eu falo contigo e você fica me olhando com essa cara de ‘fora do ar’ ao invés de me responder.”

“Desculpa. É que... esses donuts não me fizeram muito bem. Acho que estou passando mal.”

Kitty deu de ombros, sem dar muita importância para o que Rachel dizia. Sabia que era mentira, e era apenas um pretexto pra que ela quisesse ir embora, mesmo que elas não fossem sair enquanto Wilde não tivesse a biografia em suas mãos.

“Eu vou jogar esse guardanapo na lixeira do banheiro.” Rachel o pôs dentro do bolso da calça e saiu da fila, deixando a amiga para trás.

Ia caminhando em direção aos fundos do lugar, de onde podia ser visto um pequeno pátio com chafariz. A noite fazia a água parecer pequenas gotas prateadas, o que dava ao ambiente um aspecto menos formal. Continuou andando, até chegar a algumas portas, todas iguais e sem descrição. Uma delas era, com certeza, o banheiro.

Abriu a primeira porta; lhe parecia uma cantina de colégio, cheia de pratos empilhados e uma pia grande ao lado de um balcão. Uma porta a menos. Abriu a segunda. Era o berçário. Ela revirou os olhos, pensando em como seria muito mais fácil se as portas tivessem identificação. Abriu a terceira, e entrou em um lugar cheio de entulhos e gavetas. Já estava fechando a porta quando Quinn apareceu de lá de dentro.

Elas se entreolharam.

Rachel pensou em voltar discretamente, para que Quinn não pensasse que ela era mais uma de suas fãs enlouquecidas atrás dela. Mas, assim que pensou na ideia, a imagem de Kitty invadiu sua cabeça, o que a fez, quase que por impulso, andar na direção da escritora para pedir um autógrafo. Poderia até trazer a amiga para pedir pessoalmente e, quem sabe, tirar uma foto, mas ela não podia simplesmente pedir para que Quinn a esperasse ali, até porque aquilo geraria tumulto, e não era o que elas queriam.

Fabray parou de andar imediatamente na hora em que percebeu que a garota andava em sua direção. Contanto que ela não fizesse escândalo ou chamasse atenção dos outros, não via problema em atender mais uma pessoa. Só que, ao ver Rachel caminhando com tanta formalidade e educação, começara a desconfiar se ela era realmente uma fã.

“Pois não?” Quinn dizia, em dúvida, querendo que aquela mulher falasse logo o que estava fazendo ali.

Rachel, por um momento, não soube o que dizer. Estava quieta e parada diante de Quinn, e nem sabia se queria falar. A mulher era ainda mais hipnotizante assim, vista de tão perto. Ela quase podia pedir permissão para ficar olhando para seu rosto.

“E-é... Bem, eu...”

Ela parou novamente. O que havia de errado com ela? Era só uma mulher bonita. Tomou fôlego novamente e continuou:

“Eu queria um autógrafo para a minha amiga. Ela ama você.” A última frase saiu um tanto quanto estranha. Kitty não podia amar Quinn, mas sim suas obras; elas nunca haviam se visto, e Rachel podia apostar que sua amiga nunca havia percebido a beleza da escritora.

Não que ela se julgasse no lugar de poder amá-la.

Quinn sorriu, voltando para dentro da sala, sendo seguida pela baixinha. Colocou os poucos exemplares que segurava em cima da mesa e pegou uma caneta do bolso da calça, como quem já espera ser abordado para dar autógrafo; abriu um dos livros nas primeiras páginas, perguntando:

“Qual é o nome dela?”

“Kitty Wilde. Se você puder fazer um coração perto do nome dela... ”

A loira confirmou com o rosto, enquanto escrevia uma pequena mensagem dedicatória. Seu corpo inclinava-se para frente, e Rachel não sabia por que tinha tanta vontade de ficar a olhando. Um vulto passou pela porta voltada ao corredor.

“Pronto, aqui está. É melhor irmos um pouco mais rápido porque não quero que alguém faça alarde.” Ela falava baixinho. “Bem, e você? Como se chama?”

Ela já ia puxando outro livro da mesa para dar outro autógrafo, quando foi interrompida pela morena:

“Rachel Berry. Mas você não se importar, eu... não quero o livro.”

Berry não abriria mão tão facilmente de sua literatura tão polida para receber um livro daqueles. Ela havia se surpreendido com a escritora, de fato; mas não estava nem um pouco afim de reconhecer que ela escrevia bem.

Fabray ficou boquiaberta. Era a primeira vez que alguém recusava uma de suas obras, ainda mais sendo entregue pela própria escritora. Até mesmo quem não era fã dela não perderia a chance de um dia poder se gabar que pôde ter essa honra. Não era o caso daquela mulher. Quinn gostara daquilo, de certa forma; a menina havia sido sincera o suficiente para que a situação não ficasse parecendo uma ofensa_ ela simplesmente não queria o livro.

A baixinha apertou o bolso da calça, sentindo um pequeno papel dobrado. Não queria a biografia, mas não tinha como negar o autógrafo daquela mulher. Não sabia por que, nem pra que, mas sentia vontade de ter um pedaço dela, pelo menos por mais um instante. Se perguntava se aquilo era normal, mas ao mesmo tempo não se preocupava, afinal, ninguém acharia estranho se ela estivesse afim de um autógrafo da loira.

Antes que Quinn pudesse falar qualquer coisa, Rachel tirou algo do bolso e continuou o que dizia:

“M-mas você pode autografar esse guardanapo?”

Ela não conseguia acreditar que havia dito aquilo. Poucos minutos antes, mal sabia como pedir um autógrafo, e agora estava entregando um guardanapo sujo de doce para que ela escrevesse. Ela tinha noção de com quem estava falando?

Quinn não sabia se aquilo era uma brincadeira ou não. Mas, ao perceber a morena com os olhos tão fixos nos dela e ainda segurando o guardanapo a sua frente, entendeu que aquilo era real. Agora ela podia ter certeza de que não tinha visto de tudo em sua carreira, ou aquela mulher ali, diante dela, era uma imensa exceção do que ela ainda poderia ver. Ela lhe parecia um gigante ponto de interrogação, e ela gostara disso.

“Só pra ter certeza... você não está brincando comigo, está?” Disse, com toda a classe.

“Não, imagina! É que eu realmente queria um autógrafo seu e... bem, não tem onde escrever...”

Quinn soltou um riso alto. A razão de Rachel estar ali era justamente o lançamento do livro e, agora que ele estava disponível, ela preferia um guardanapo. Quase podia prever alguém entrando pela porta por tanto barulho, mas logo tratou de pegar o papel e apoiá-lo em cima dos livros. Parou de rir, concentrando-se no que escrevia. Resmungou algumas palavras.

“Você é bem maluquinha. Gosto disso.” Ela envolvia a morena em seus olhos de um jeito íntimo e quase indecente, se ela não fosse não bela. “Bom, aqui está.”

Ela entregou o livro de Kitty à Rachel, devolvendo o guardanapo. Assim acabava a conversa entre as duas, conversa essa que Rachel não queria acabar. Ia perguntar algo sobre o fim daquela noite, se uma pessoa não tivesse entrado no corredor. Quinn disse, apressada:

“Ah, foi muito bom te conhecer. Espero que a gente se encontre novamente.” Piscou o olho, andando rapidamente e sorrindo, a tempo de fugir antes que outra pessoa a tivesse notado.

Aquilo lhe causou um arrepio. Seria normal ela ficar tanto com ela na cabeça sendo que não sabia nada de sua carreira_ e até o começo da noite, nem queria saber? Deu um suspiro, como se ela não soubesse o que havia acabado de acontecer.

Quinn era irritantemente misteriosa.

Agora ela estava ali, sozinha, com um livro da escritora favorita de sua melhor amiga e um autógrafo registrado no guardanapo. Este, ela guardaria novamente no bolso da calça para que ninguém visse. Se sentia tão ridícula quanto corajosa por ter feito aquilo, mas de fato, isso não importava mais. Estava em uma espécie de transe, parada na cena em que Quinn piscou o olho para ela. Devia ser algo comum para uma escritora ganhar popularidade, mas para ela, parecia algo tão pessoal.

Voltou ao salão, onde Kitty esperava na fila pelo livro. Foi quando a morena finalmente percebeu o que havia acontecido: conseguira o que sua amiga mais queria, e agora ela seria grata pelo resto de sua vida. Já estava vendo os planos de emoldurar aquele “Com carinho, da escritora Quinn Fabray para Kitty Wilde”, e dos gritos histéricos que a mulher daria ao ver o livro entregue pela própria dona. Rachel saiu correndo, animada, em sua direção:

“Kitty! Kitty! Olha o que eu trouxe pra você.”

A menina já podia reconhecer a obra nas mãos da amiga, mas não tinha noção do que tinha dentro dele. Bastou que Berry abrisse a primeira página para que Kitty explodisse de felicidade, pulando e saindo da fila, chamando a atenção de todos.

“Você conseguiu, Berry! Você pegou um autógrafo com ela!” Nesse momento, todos olharam para ela e logo após para o corredor de onde ela havia saído. Meia dúzia de pessoas foram caminhando como quem não queria nada em direção a ele, enquanto eram seguidas por mais uma dúzia correndo freneticamente. Era melhor que Quinn já estivesse longe.

Rachel e Kitty acompanharam as demais pessoas, sendo que a primeira estava se sentindo culpada por ter arranjado tanta euforia no ambiente. A segunda mal podia acreditar no que estava vendo, e lia e relia aquelas palavras com tanta felicidade que era capaz de chorar.

Elas ouviram alguém no corredor gritando que Quinn estava saindo com o carro. Kitty automaticamente correu em direção ao final do corredor, de onde podia ser visto, pela porta da saída, o carro da escritora. Elas foram mais para perto, somente impedidas pelos poucos seguranças que faziam a guarda do lado de fora. Agora, Fabray entrava no carro, o qual era dirigido por um homem bonito e elegante. Ele parecia alto, se não estivesse sentado para deixar dúvida.

A loira sentou-se ao lado dele, dando-o um singelo beijo nos lábios.

A euforia de dentro do salão transformara-se em silêncio em algum momento antes, que passou despercebido por Rachel. Ela só conseguia olhar para o rosto de Quinn encontrando o daquele cara, que, de um jeito desconfortável, a perturbou por um instante. Não era permitido a ela ter tais sentimentos, porque ela acabara de conhecer aquela mulher. Provavelmente, era só o efeito de uma noite carente sem seus livros do quarto. Só não pensou mais sobre aquilo porque Kitty continuava surtando ao seu lado, segurando o livro como quem segura um cofre de joias, sem arriscar de alguém o tomar dela. O carro partiu, e as pessoas voltaram para dentro do salão, onde ainda havia doces e, principalmente, os livros em primeira mão.

“Eu sabia que você era a pessoa perfeita pra me acompanhar hoje!” Kitty abraçava Rachel, que ainda um tom de frustração. “Só você iria conseguir um autógrafo dela pra mim.”

Berry sorria, ou pelo menos se esforçava. Aquela noite poderia ter sido diferente caso ela tivesse ficado em casa e sequer parasse para apreciar a beleza daquela escritora. Ela não gostava dela, teria sido melhor continuar daquele jeito; Quinn já estava em algum lugar longe dali, autografando mais livros, e não guardanapos. Ou, quem sabe, ela não estaria em sua própria casa, com aquele cara que a acompanhara?

Agora, podia voltar para casa mais cedo, sem esperar na fila, e poder continuar com seu mundo de literatura pura.

Onde nenhuma escritora era mais bonita que seus escritos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!