As Múltiplas Faces do Amor escrita por Levine, Nina


Capítulo 5
Não se pode escolher o que sentir, mas se escolhe o que fazer a respeito


Notas iniciais do capítulo

OLÁ!! Dessa vez, é a Ray. Primeiramente, queremos nos desculpar pela demora de postar. Garantimos que o próximo sairá mais rápido. Segundamente, espero que gostem do capitulo (que eu achei meio sem graça but) e ignore todos os possíveis erros que podem haver nele.
Enfim, boa leitura.



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"A lembrança tem gosto doce porque a memória tem mania de esquecimento." -Clarissa Corrêa

Acordei com o despertador da Ray em meus ouvidos. Havíamos dormido na cama da minha mãe, já que ela estava viajando. Peguei meu celular para verificar o horário; 8h50min.

–Que droga Ray, desliga isso.

Murmurei, jogando-lhe um travesseiro, enquanto o outro eu colocava em minha cabeça, que latejava de dor. Provavelmente ressaca, o que eu não sentia tão frequentemente.

–Foi mal! -ela respondeu, mal abrindo os olhos.

Assim que o barulho parou, tentei dormir novamente, em vão. Levantei e desci para a cozinha para preparar um café forte. Liguei a cafeteira e sentei em frente ao balcão da cozinha.


–Acordada a essa hora? -questionou minha mãe, assim que entrou na sala de estar e me viu assistindo TV.

–Bom dia para você também, mãe. -respondi indiferente, levando a xícara à boca e bebendo mais um pouco do café.

–Como foi a noite?

–Foi legal... E então, em qual motel ele te levou?

Ela se virou para mim e colocou as mãos na cintura. Achei que ela ficaria brava pela pergunta, mas não, ela apenas riu.

–Engraçadinha. -ironizou, e demorou alguns instantes para continuar - Ele queria que eu conhecesse sua casa de campo.

–E...?

–É grande e confortável, jantamos com a mãe dele em um restaurante lá perto. -explicou- Ela é uma senhora muito simpática.

–Legal.

Voltei a prestar atenção à televisão, mesmo sem saber o que estava transmitindo.

–Bom, -minha mãe falou depois de bom tempo- vou colocar essa mala lá em cima. O que vai querer para o almoço?

Na mesma hora, lembrei que tinha compromisso. Como eu havia esquecido do meu almoço com o James?

–Na verdade, mãe, eu vou sair.

Respondi, correndo para o meu quarto.


–O que a Ray está fazendo na minha cama?

Minha mãe perguntou assim que abriu a porta do meu quarto. Depois, mediu-me de cima a baixo: -Aonde você vai arrumada assim?

–Bom, primeiro: dormimos em sua cama porque ela é maior e, sem dúvidas, mais confortável que a minha. -expliquei, encarando minha própria imagem no espelho- E, segundo: eu vou sair com um cara da faculdade.

Fingi não ouvir quando ela começou a questionar sobre com quem eu ando saindo. Eu não precisava de ajuda, diferente do que ela pensava, eu estava muito bem do jeito que estava. Voltei a prestar atenção em suas palavras quando ouvi uma buzina na frente de casa. Corri até a janela a tempo de ver o carro do James parando em frente a minha casa.

–E nem pense que eu te darei as chaves da moto.

–Certo mãe, que bom que você se preocupa comigo, mas eu não precisarei das chaves. -peguei minha bolsa e saí do quarto. Minha mãe me seguiu, descendo as escadas logo atrás de mim -Assim que a Ray acordar, você pode esquentar o café forte que eu preparei. Acredite, ela vai precisar.

–Espera, vocês beberam...?

–Assim que chegar, - a interrompi - eu faço um relatório de tudo o que aconteceu, mas agora, tchau.

Saí sem esperar resposta. Segui em direção ao carro, James sorriu ao me ver. Entrei e cumprimentei-o.


–Fiz terapia por alguns anos, eles achavam que tinha algo errado comigo... -ri e balancei a cabeça negativamente- E você, era muito rebelde na época de escola?

James não esperava pela pergunta, mas passou uns instantes em silêncio, concentrado na estrada e pensando.

–Na verdade, não. -disse finalmente.

–Ah qual é, você nunca fez nada de errado? Nunca levou uma suspensão ou algo assim?

–Ah, já fui suspenso uma vez. Foi no primeiro ano, quando me desafiaram a cortar o cabelo de uma garota da minha classe.

–Época de trote? -perguntei e ele assentiu- Já passei por isso, mas, no caso, eu fui a vítima.

–Quero ouvir mais sobre isso. -ele falou, parando o carro e desligando-o -Bom, chegamos!

Olhei pela janela. A Cherrys ficava a poucos minutos da faculdade. Era frequentado a maior parte por quem permanecia no campus nos finais de semana. Me perguntei porquê James escolheria logo esse restaurante para almoçarmos.

Saí do carro e o segui para dentro. Assim que entramos, vários rostos conhecidos viraram-se para nós. Olhei para James e estranhei como ele parecia tranquilo.

–Isso não vai te deixar encrencado?

–Não. -ele me guiou até uma mesa ao lado da janela. Sentei-me de frente para ele- Conversei com a diretora Helch, ela falou que seria bom, contanto que você ficasse bem.

Ele explicou, sorriu e pegou em minha mão por cima da mesa. Retribuí o sorriso e observei-o. Seus olhos estavam mais claros do que eu estava acostumada e seu cabelo estava bagunçado. Por um momento, não parecia meu professor de estatísticas.

–O que vocês desejam? -perguntou uma garçonete que se aproximou de nossa mesa.

Pegamos cardápios e fizemos nossos pedidos. Assim que a garçonete se afastou, James voltou-se para mim.

–E então, conte-me sobre como você virou a vítima da época de trotes.

–São informações inúteis, vamos falar sobre você.

–O que quer saber?

–Ah, não sei, aqueles clichês que as pessoas sempre falam em encontros.

James franziu a testa; -Como assim?

–Tipo, músicas preferidas...

–Não, quero dizer, não estamos em um encontro.

A voz dele soou óbvia. Encarei-o; o que ele estava dizendo?

–E o que estamos fazendo aqui? Você me chamou para sair, nós flertamos, você foi me buscar em casa e estamos aqui, em um encontro.

–Não Giu, não é um encontro.

–É, sim, nós...

–Giu, -James se inclinou em minha direção, apoiou-se sobre a mesa e falou, calmamente -não estamos em um encontro.

Ele estava em estado de negação, era a única explicação. Olhei em seus olhos, me perguntando se ele não estava brincando comigo ou algo assim, mas ele estava sério demais para isso.

–Então, Sr. Peacock, o que estamos fazendo aqui?

Consegui perguntar, depois do que pareceu uma eternidade.

–Eu pensei que você quisesse ajuda. Pensei que estava com problemas e queria alguém para conversar, um amigo, é por isso que eu vim.

Repassei as palavras dele na minha cabeça, pouco antes de entender tudo. Dei uma risada sarcástica e olhei através do vidro da janela. Depois, voltei-me para ele.

–Você também acha que tem algo errado comigo?

Encarei o silêncio dele como um sim. Peguei minha bolsa e levantei-me.

–Não, espera...

–Eu não tenho problema algum, eu sou normal. Sou normal como você, como qualquer um aqui, mas que droga! -dessa vez, eu falei mais alto e com raiva.

–Você é, Giulietta...

–Não me chame de Giulietta! -gritei. Ignorei todos os olhares sobre mim e, assim que saí do Cherrys, segui andando sem nenhum destino em mente.

Eu estava nervosa e, ao mesmo tempo, confusa sobre estar nervosa. Ele não era o único a achar que tenho problemas. Lidei com pessoas assim a vida toda, não tinha por quê me estressar tanto com o James. Resolvi andar até espairecer toda a raiva -ou sei lá o quê que eu estivesse sentindo. Tentei pensar em coisas aleatórias, mas não lembrei de nada em que pudesse pensar. Considerei a ideia de ir a um bar, mas um barulho -baixo, mas ainda audível- de um sino me fez estranhamente mudar de ideia.

Havia anos que não entrava em uma igreja. Lembro-me de ir com a minha mãe e com a vovó, quando nos mudamos para a casa dela. Lembro-me também da minha mãe orando antes de dormir. Mesmo estando do outro lado da porta, ainda podia ouvir ela chorar.

Sentei-me na ultima fileira de cadeiras e observei tudo ao meu redor; as pinturas nas paredes, o altar mais a frente, algumas mulheres na fileira ao lado com seus olhos fechados. Podia até ver seus lábios se mexendo, e fiquei imaginando quais preces estavam fazendo.

–Olá. Posso ajuda-la? -Um homem com uma roupa engraçada perguntou-me. Não havia percebido a presença dele até o momento.

–Não, eu só estava...

–Você é frequentante desta igreja?

–Na verdade, não. Eu só estava passando e... Bem, resolvi entrar.

Ele sorriu e assentiu com a cabeça, como se tivesse entendido meu ato impulsivo de ultima hora. Depois colocou a mão em meu ombro.

–Saiba que, se tiver com problemas em qualquer área da sua vida, Deus já está ciente disso e é disposto a te ajudar a qualquer momento, basta pedi-lo uma direção. -explicou, apontando para cima.

Assenti com a cabeça, sem saber como responder. Agradeci pelo conselho e saí da igreja em seguida, meio desorientada. Segui andando em meio as pessoas que passavam por ali e, ao dar uma ultima olhada para onde eu acabara de sair, vi dois olhos claros, que eu sabia que herdara, em meio a multidão. Os olhos do meu pai. Logo os perdi de vista e comecei a andar na direção contrária a procura deles. Ou melhor dizendo, do dono dos mesmos. Demorei um pouco para perceber que foi só coisa da minha cabeça, mas, quando percebi, olhei para cima. Por que comigo, Deus?, questionei.

***

Depois de passar quase uma hora andando, cheguei em casa. Assim que ouviu o barulho da porta de entrada, minha mãe foi em direção à sala.

–Achei que não voltaria mais para casa! -exclamou dramática, como sempre.

–São só duas da tarde. -respondi e fui em direção à escada, mas parei quando a Ray saiu do quarto.

–Tia Claire, já organizei seus sapatos. E agora?

–Ah, obrigada Ray. Não precisa fazer mais nada por enquanto.

–Você está explorando a Ray? -virei-me para a minha mãe, que apenas riu e foi em direção a cozinha. -Ah, você pode me devolver as chaves da moto? Eu estava pensando em voltar ainda hoje ao campus.

Minha mãe estreitou os olhos, como se desconfiasse das minhas intenções.

–Ir direto ao campus? Sem parar em qualquer outro lugar?

Levantei minha mão direita e revirei os olhos; -Prometo.

Ela hesitou, mas assentiu em seguida.

Tentei ao máximo evitar falar do meu "almoço" com o James para a Ray, apesar de ter sido difícil, pois ela não parava de perguntar. Só consegui mudar de assunto quando comecei a falar do Will, que foi quando ela se empolgou.

***

Assim que a Ray foi embora, comecei a arrumar as coisas que levaria ao campus, o que, por sorte, coube em uma mochila. Quando desci, deparei-me com minha mãe tagarelando ao telefone. Fui em direção a ela e pronunciei "chaves da moto" sem emitir som, para não atrapalhar sua conversa que parecia super-importante. Assim que peguei as chaves, ela me abraçou.

–Se cuida, mocinha. -falou em meu ouvido.

–Você também.

E sai. Subi na moto e comecei a pilotar. O tempo todo, minha mente parecia uma colmeia de abelhas. Não conseguia sequer ter um pensamento complexo sem outro invadir minha cabeça. Várias vezes, considerei a ideia de sair da turma de Estatística e entrar em qualquer outra atividade extra-curricular, afinal, teria aula com o James na manhã seguinte.

Quando finalmente cheguei ao meu destino, estacionei a moto e fui direto para o quarto. A apenas alguns metros do mesmo, dei de cara com a Charlotte e um garoto, ambos encostados na minha porta. Parei diante deles e arqueei as sobrancelhas.

–Ahn... Licença?

–Ah, olá Giu! Esse é Brian. -respondeu-me Charlotte, apontando para o garoto, cujo os olhos eram uma mistura de azul e verde. Ele estendeu a mão em minha direção. Cumprimentei-o, com um sorriso sem graça, e em seguida entrei no quarto, tentando evitar conversa.

Ao fechar a porta, avistei alguém mexendo em minha prateleira de CD's. suspirei.

–Ei, perdeu alguma coisa? -questionei, indo em direção a ele. Quando olhei-o de frente, vi que era o amigo de Charlotte que me defendera na festa.

–Ah, oi causa do meu olho roxo. -falou ele, com um certo sarcasmo que me fez rir. -Você tem um bom gosto musical. Fã do Nirvana?

Ele estava com um dos meus CD's na mão, analisando-o.

–Qual é mesmo o seu nome? -perguntei, jogando minha mochila em cima da cama.

–Edward, mas pode me chamar de Ed.

–Então, Edward, gosta do Nirvana? -sentei-me na cama e fitei-o. Ele sentou ao meu lado, mantendo certa distância.

–Músicas legais, porém falta sentimento.

Arqueei as sobrancelhas.

–Desculpa, o quê?

–Não entendo as músicas dele. São confusas, não são sentimentalmente complexas na minha opinião.

Fitei-o por alguns instantes antes de responder.

–Você fala bonito, Edward, pena que suas palavras não têm fundamento. Saiba que a confusão também é um sentimento. Ou você acha que músicas boas deveriam falar apenas sobre amor e essas bobagens?

Ele me observou por segundos. Depois riu de si mesmo -creio eu-, levantou e encaixou o CD de volta na prateleira. Sem dizer uma palavra, ele ficou andando pelo quarto.

–Desculpa, mas, só porque você é amigo da Charlotte, não significa que você pode entrar aqui e ficar mexendo nas...

–Você faz Estatísticas, não é? -ele interrompeu meu sermão com um sorriso divertido no rosto. Assenti com a cabeça, já irritada. -Vou começar amanhã e queria conhecer alguém da minha turma.

Ele me encarou. Nesse momento, pude reparar os vestígios do soco que ele recebera. Quase me senti culpada por ter sido o motivo daquilo. Quase.

–Já conhece. -falei, finalizando o assunto.

Ele assentiu com a cabeça e caminhou até a porta. Antes de abri-la, se virou para mim.

–Então, boa noite... Louise.

Dessa vez, eu retribuí o sorriso.


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Notas finais do capítulo

E então...?



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