Um Amor Definitivamente Inumano escrita por Carol Potter Greymark


Capítulo 20
O Pedido


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou muito feliz, pois ganhei comentários de uma nova leitora : a Tata Everdeen. Obrigada gata! Gabi, Ester e Joh, os comentários fieis de voces me deixam quase tao feliz quanto se eu ganhasse um beijo do Scott, quase. Voces amarão este cap! Agora, sem mais enrolaçaõ ; Go!



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Eu agarrei o livro mofado da mão de Basso antes que Patch o fizesse. Nora e Scott se esgueiraram para trás de mim agilmente, e eu abri o livro. Ou melhor. Tentei abrir.

–O livro só abre para aqueles com sangue imortal... – Basso disse, e eu pude sentir o cuidado em suas palavras. Porque todos pensavam que o fato de ser humana era tão ruim a ponto de me incomodar? Não que eu estivesse satisfeita pelo que tinha me tornado. Mas eu não iria sair chorando só porque um livro encardido não quis se abrir ao meu toque.

Patch se aproximou. Apesar de sua expressão cautelosa eu poderia claramente supor que no fundo ele estava gritando : Há! Se ferrou!. Mas aparentemente, ele estava tentando manter aquela mesma mascara de cinismo do detetive Basso. Sem nenhum cuidado, o anjo moreno retirou-o de minhas mãos. Todos nós olhamos com expectativa palpável enquanto Patch deslizava os dedos pela capa puída. Mas novamente, nada aconteceu. Era minha vez de pensar: Há! Se ferrou!

–Oh... – detetive Basso colocou uma mão de dedos longos na testa. – Esqueci... O livro precisa ouvir a...

“Iri mitch salvanori. Asmodeis ubric natch. Saushe torinn musti.”

O anjo do senhor caiu. E o dia se tornou noite. E o inferno mais quente.

Patch começou a falar naquela estranha língua angelical. E finalmente (fiquei um pouco chateada com isso) , o livro se abriu. As páginas de pergaminho não estão vazias apenas por uma linha escrita com tinta negra.

“Nobris tui mitch . Hui denottiem, burie silitchi vaem .”

–O que significa isso? – Scott torna literal as perguntas em minha mente. – Nunca ouvi essa língua antes...

–É a língua dos anjos. – Basso responde, lançando um olhar um pouco surpreso a Patch. – Geralmente os caídos esquecem a língua natal e passam a falar o idioma do lugar em que vivem. Mas claramente, há algumas excessões... Primeiramente, para abrir o livro, Patch disse : O anjo do senhor caiu. E o dia se tornou noite. E o inferno mais quente. A pergunta escrita é bem clara : Nobre anjo não esconda tua face. Diga teu nome, mas não em vão.

Jev. – Patch diz, em alto e bom som.

Outra linha negra começa a aparecer lentamente sobre a folha. Quem diria que esse livretinho acabado teria tanto poder?

Percebo que o que se forma não é uma linha, mas sim um desenho. Uma pena. A pagina se vira. Agora se formam asas negras sobre as costas fortes de um anjo. Uma pequena palavra no canto : salvanoribus.

– Paraíso. – Basso traduz, antes que alguém pergunte. Volto a olhar o livro. Outro desenho surgiu na folha seguinte. O mesmo anjo, dessa vez com a face voltada para frente, uma expressão de dor em seu rosto. Atrás dele, duas figuras altas e negras, indescritíveis, como o próprio terror, arrancam suas asas. Outra palavra aparece. Trouxettine. Não me parece significar coisa boa.

–Traição... – Patch traduz dessa vez. Eu o encaro. Seu maxilar está contraído, seus olhos estão duros.

Humanitaten hui. – Basso sussurra, e de repente, as páginas começam a passar rapidamente, até pararem um pouco além do que me parece ser a metade do livro. A mão invisível começa a desenhar cuidadosamente. Aos poucos, surge o anjo. Sei que é um anjo caído pelas cicatrizes em suas costas, e pela expressão fixa em seus olhos negros. Mas o que me surpreende é a mulher em sua frente. Uma bela mulher , uma mulher humana. A página se vira novamente. Dessa vez há um homem, mas ele é muito alto e musculoso para ser humano. Nephilin, está escrito no canto da página. A folha da direita contém , talvez, a pior das cenas. O nefilim está caído de joelhos em frente ao anjo, o desenhista invisível foi impiedoso a ponto de retratar com precisão a expressão de dor e medo em seus olhos. Piertinne. Não preciso de tradução. Sei perfeitamente o que significa.

–Possessão... – eu digo de maneira sombria. Ninguém comenta nada. Mas é possível perceber a inquietação que o desenho causou em todos. As paginas se viram novamente.

Hodie tui. – Patch sussurra. Imediatamente a tinta invisível abandona sua arte sacro-santa cruel, e começa a registrar palavras ao invés de desenhos.

E os anjos, verdadeiros culpados, não pagaram por seus crimes. Seus filhos, seu próprio sangue, eram os condenados a sofrerem a pena da traição de seus pais. Possuídos. Possuídos, muitas vezes, por seus próprios progenitores. E o Senhor se enraiveceu, e retirou dos anjos o toque físico, a dor, mas também, o prazer. E os dias tornaram-se menos escuros. E a morte menos corriqueira... – Basso pronuncia as palavras em voz alta para nós. – E os arcanjos, os soldados celestes, intervinham na Terra. E aqueles que julgavam culpados, eram mandados para o Abismo... – eu estremeço, não conseguindo evitar pensar em meu pai. – Mas o Senhor, em sua bondade infinita, concedeu a seus amados inúmeras benções...O anjo que salvasse a vida de um mortal, sem interesses futuros, por simples caridade ou amor de seu coração, seria perdoado, tornando-se um Anjo Guardião de seu protegido. E aqueles, mortais ou não, que salvassem a vida de um caído, pelos mesmos motivos caridosos, teria direito a um pedido. Um pedido qualquer, sem limite em magnitude. Pois a misericórdia do Senhor é infinita, e seu zelo para com...

Mal consigo acreditar no que acabo de escutar. Eu salvei a vida de um caído. Tenho, afinal, o direito de fazer um pedido. Qualquer pedido. Sem limite em magnitude. Eu sorrio.

Obrigada, Senhor. Obrigada,obrigada,obrigada..., rezo de maneira silenciosa.

Nora está sorrindo assim como eu. Patch parece estático. Minha mãe e Basso me encaram de um jeito carinhoso, e Scott...

–Vee! – ele grita, pegando o livro de Enoque das mãos de Basso e beijando a poeira. – Vee! Você pode fazer um pedido! Você pode ser ...

Eu começo a rir. Os lábios dele ficaram negros, e ele começa a cuspir. Mas não é só isso. Posso pedir o que eu quiser. Posso ser imortal. Posso...

–Faça. – Patch aparece em minha frente. – Acelerar o processo é o mínimo que posso fazer para lhe agradecer.

–Eu desejo... – começo, mas Basso entra na minha frente.

–Não,não! – ele abre os braços, como se quisesse evitar que eu me aproxime de Scott. Eu ergo minhas sobrancelhas de maneira cautelosa. – Não desse jeito...

Meia hora depois...

Estamos na parte detrás da minha casa, no jardim verde coberto de grama bem cuidada e rosas perfumadas. Jardinagem é a paixão de minha mãe... Patch está a minha frente. Basso ao meu lado, o livro de Enoque em suas mãos. Não consigo deixar de assemelhá-lo a um padre, realizando uma cerimônia de casamento. Exceto por suas roupas de policial, minha blusa do Bob Esponja e a repulsa mutua entre Patch e eu, poderíamos ser perfeitos noivos.

... Et tui mitvh nobis arteitti... – ele finaliza a estranha prece. – Levantem suas mãos direitas.

Eu e Patch o fazemos.

–Corte o pulso dela, Patch. – Basso dá as instruções. Eu me arrepio com isso, mas mantenho meu braço firme enquanto sinto a punhalada. – Agora faça o mesmo com ele, Srta.Sky.

Eu corto o pulso de Patch. Ele solto um gemido baixo, e eu quase sorrio. Vingança por ter aberto o livro, muahahaha!

–Misturem o sangue... – nós erguemos nossos pulsos e eu sinto uma sensaçao desconfortável. – Agora diga o seu pedido, diga para que os céus escutem!

–Eu desejo voltar a ser nefilim! – eu praticamente grito. Sinto um aperto no estomago, o mesmo aperto de quando a imortalidade foi retirada de mim. Mas dessa vez não fico tonta. A sensação , na verdade, me lembra mais um transplante. Como se um órgão vital tivesse sido retirado do meu corpo, e agora estivesse sendo recolocado no lugar.

–Podem desfazer a ligação agora... – eu desfaço o contato molhado, quase gritando de animação ao ver meu pulso se auto-cicatrizando. Permaneci humana por menos tempo do que esperava...

Relembro do que Scott e eu fizemos há algumas horas. Parece que passaram-se dias desde que aquilo aconteceu.Todas aquelas lagrimas, todo aquele sofrimento me parece tão sem sentido agora. Eu encaro os olhos castanhos ternos que me sorriem. Me aproximo e ignorando tudo ao meu redor o abraço, deitando minha cabeça em seu peito, meu porto seguro. Meu futuro, nosso futuro, só está começando. Mas tenho certeza que essa sensação de segurança permanecerá por toda a minha longa, espero, existência.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? Posso pedir que favoritem? Recomendem, talvez??
P.S: Nao respondi aos seus reviews porque meu computador está travando quando clico em 'responda'. Mas em resposta a Anjo, sim. A historia se passa depois da guerra, uma guerra adaptada por mim, é claro.
P.S.2: Essas palavras malucas que parecem macumba (perdão aos praticantes, mas é porque nao achei outra palavra melhor) foram todas invençoes da minha mente. O Livro de Enoque, pra quem tem curiosidade, realmente existiu, mas ninguem sabe onde está. Enoque de acordo com a Biblia, foi um homem que amou Deus profundamente, e sua alma boa foi enviada para o paraiso. O livro, creio eu, deve ter se perdido naquela epoca. Na Biblia nao há mais comentarios sobre Enoque. Entao nao saiam cortando os pulsos e murmurando 'Asmodeis ubric natch' por aí. Amo voces!



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