Um Amor Definitivamente Inumano escrita por Carol Potter Greymark


Capítulo 13
A Montanha Worthington


Notas iniciais do capítulo

Hey! Voltei! E o que dizer do sul... Simplesmente maravilhoso... (se quiserem podem ler meu poema sobre a viagem, mas não recomendo. acho que ficou até meio ruim e...) Mas enfim. Vamos ao que interessa. Vida longa a Skynell!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/560293/chapter/13

Uma coisa que me agrada particularmente nos carros antigos, é a capacidade que eles tem de preservar cheiros de seus donos anteriores. O idoso Fiat Spider de Nora, por exemplo, tinha uma fragrância de aromatizador de pinhos (aquelas folhinhas bregas que se vendem em postos de gasolina de beira de estrada), apesar de ela nunca compra-los porque eram dez dólares cada. O Neon está como sempre perfumado por Donuts, batatas fritas e todo tipo de comida com alto teor de gorduras saturadas, que, desde que fiz dieta, resolvi evitar. Mas parece que o delicioso cheiro ficou impregnado nos bancos velhos... E o Mustang de Scott, em total concordância com a personalidade do dono, cheira a tequila, canela e óleo de motor queimado, uma mistura excêntrica, mas ao mesmo tempo agradável.

Depois de inúmeras tentativas falhas de saber nosso destino eu dou de ombros e ligo o rádio. A música que está tocando é In The End , do Linkin Park. Scott parece ter gostado porque aumenta o volume, e nesse momento nossos dedos se tocam. Eu sorrio e viro os olhos para a janela imediatamente, aquela energia pulsante percorrendo meus músculos. Além do vidro embaçado do vapor de minha respiração enxergo o Berkeley Park, e mais ao longe, verde e imponente, a Montanha Worthington. Eu só subi até o topo uma vez, quando houve uma gincana na escola na sétima serie, e fui motivada exclusivamente pelo premio, que me parecia bastante bom. Mas quem ganhou cem Donuts do Enzo’s foi Anthony Almowitz, cujas pernas eram injustamente dez centímetros maiores que as minhas. Desde então Nora e eu vínhamos de vez em quando até o sopé da montanha, onde sentávamos na escadinha de pedra íngreme e desabafávamos uma para outra nossas preocupações, seguras dos ouvidos alheios curiosos.

Scott estaciona na rua paralela a montanha e eu sorrio novamente, pensando em como fui tola ao achar que ele me levaria a um lugar sofisticado, que minhas roupas não estavam boas o suficiente. Ele desce antes de mim e pega algo no porta-malas, algo que eu reconheço como uma grande cesta de piquenique, coberta cuidadosamente por uma toalha xadrez esverdeada. Ele abre a porta para mim e eu pego a minha bolsa, mas ele me impede de concluir a ação e fecha a porta do carro, trancando-o. Por um momento o eu encaro pasma, mas seu sorriso fofo me faz perder todo o ressentimento bobo.

–Não vamos precisar disso – ele diz. Então pega minha mão e começa a me levar em direção a montanha...

A subida é árdua, cerca de uns vinte minutos, mas tenho certeza que mais árdua seria se nós não fossemos nefilim. Eu chego até o descampado verde recuperando o ar, mas imediatamente o perco de novo. A minha direita, e toda a minha frente há uma deslumbrante visão do mar e das alvas nuvens sobre o céu azul do Maine. Toda aquela névoa escura que impermeava a superfície e me impedia de apreciar a beleza de Coldwater desapareceu com a subida. Eu respiro profundamente, meus pulmões gratos pela rajada fresca que os atravessa.

–Uau... – é a única coisa que consigo dizer. Verde, verde, azul, turquesa, rosa, vermelho, mais turquesa... Minha mente registra as cores a minha volta como se eu outrora fosse cega, e esta fosse a primeira vez que apreciasse o mundo a minha volta.

–Incrível não é? – ele suspira, ainda entrelaçando nossos dedos. – Meu pai costumava me trazer aqui quando eu era criança... Ele...

Eu não ouço mais nada. O ressentimento que eu tentei ignorar, juntamente com a culpa me atingem em cheio... Eu preciso contar... Eu preciso tirar essa culpa amarga e pesada dos meus ombros... Pois tenho certeza de que nunca poderei ser feliz assim...

–Então eu...

–Scott... – eu o interrompo e solto nossos dedos.

–Sim? – ele me encara, seus olhos belos, com um toque de carinho explicito. Sem querer lágrimas escorrem pelo meu rosto, e eu me viro para encarar o mar, qualquer coisa que não seja aqueles olhos cautelosos, precisos e desafiantes.

–Preciso te contar uma coisa... – eu solto meu braço de seu aperto preocupado. É agora...

Eu conto tudo. Desde os sonhos de Nora até o que senti quando ele disse que aquele era o colar de seu pai. Ele não me interrompe nenhuma vez, e tenho duvidas se isso é um bom sinal. Eu finalmente me viro para encará-lo de frente, esperando ver o ódio em seus olhos, a repulsa, a...

Ele segura meu rosto com as mãos e me puxa em sua direção. Seus lábios acariciam os meus suavemente, minhas preocupações se esvaindo com seu toque. Então, tão rapidamente quanto veio, ele se vai.

–Scott eu...

Ele coloca um dedo sobre os meus lábios, me silenciando.

–Eu sabia. – ele sussurra. –Desde o inicio, eu sempre soube.

–Mas...

–Vee... – ele segura meus ombros com firmeza, seus olhos fixos nos meus. – O que sinto por você supera tudo... Não importa o que dizem. Não importa o sangue que corre em suas veias. O que importa é o que nós sentimos, e se você não sente nada por mim, então estou muito iludido...

Eu não sei o que dizer. Nenhuma palavra de minha língua pode traduzir o que sinto. Mas talvez em outra língua...

–Kär vinner blodet... – eu sussurro. Scott me encara, os lábios entreabertos, prontos para perguntar que diabos estou dizendo.

–O amor supera o sangue... – eu digo, em bom e alto inglês. Ele sorri e me dá um breve beijo.

–Eu te amo, Vee Sky.

Meu coração começa a bater em um ritmo extremamente rápido até mesmo para um nephil.

–Meu coração te pertence, Scott Parnell...

Nós nos beijaríamos, se meu estomago não tivesse roncado exatamente naquele momento. Eu ruborizo e me xingo mentalmente.

–Parece que a sessão amassos terá que ficar para mais tarde... – ele sorri, mas não parece satisfeito.

–Acho que sim...

Ele estende a toalha em um local sombreado e abre a cesta. Eu não me incomodo em perguntar qual o nosso cardápio, porque sei que ele cozinha tudo extremamente bem. Então para minha surpresa ele tapa meus olhos com uma mão.

–O que...

–Confie em mim. – ele sussurra.

–Ah, certo...

–Abra a boca. – ele diz e eu obedeço, ignorando ao máximo meus pensamentos libidinosos. Sozinha com Scott... Ele tapando meus olhos... Dando ordens e...

O sabor familiar de morangos com chocolate desperta meu paladar. Eu sorrio.

–Geralmente os pratos doces são servidos depois dos salgados... – eu digo ironicamente, as mãos dele ainda tapando meus olhos.

–Minha querida dama, se você ainda não percebeu, vou alertá-la de que eu não costumo seguir as regras...

Ele coloca outra coisa na minha boca, queijo gouda, provavelmente, mas com um toque de...

–Manjericão. – ele diz. – Este é o segredo das melhores pizzas da Itália...

Eu retiro a mão dele dos meus olhos, e tapo os dele com minha mão.

–Minha vez... – eu digo.

Vasculho pela cesta a procura de algo que parece estar a altura dele. Maçãs, caramelo, chocolate, pimenta... Pimenta?

Eu pego um pedaço do chocolate e então pico a ponta da pimenta, colocando-a por cima. Eu coloco delicadamente sobre a língua dele e então o deixo apreciar minha criação.

De repente ele puxa minha mão de seus olhos e me empurra na grama, segurando meus pulsos por cima da cabeça, minhas coxas presas por seus joelhos fortes. Aquele sorriso sedutor, somado a nossa posição provocante só me faz querer beijá-lo ainda mais...

–Vee Sky... – seu tom é quase serio. – Nunca dê chocolate com pimenta a um homem, pois essa é a receita do diabo, e quem o faz deve estar disposto a aceitar as consequências...

Tomada por um impulso repentino eu o empurro e inverto nossas posições, segurando os braços dele rentes ao seu corpo e sentando sobre suas coxas. Estou plenamente ciente de que apenas uma fina camada de roupa nos separa, assim como do calor estranho vindo da parte debaixo do meu ventre e do desejo escurecendo os olhos dele, tornando-os quase negros.

–E se eu me recusar? – eu sussurro, provocantemente.

–Você queimará no inferno eternamente...

Eu me inclino para beijá-lo, para acabar com essa tortura imposta pelo desejo, mas pela segunda vez hoje, somos interrompidos. Mas dessa vez não é o meu estomago, e sim um pigarreio alto e rouco.

Em pé sobre o ultimo dos degraus que dão acesso a montanha, não convidado e imponente, está um homem alto, que não aparenta ter mais de trinta anos. Um sorriso quase demente em seu rosto manchado de sangue, o que significa que já passou por uma briga antes de vir para cá. A arma em sua mão direita arma apontada diretamente para o meu peito.

–Ora, ora. – seu sorriso delirante se alarga, como o de uma hiena prestes a devorar sua caça.- Quem diria que eu chegaria em uma hora tão peculiar...

Scott entra na minha frente de forma protetora.

–Se você quiser Vee, vai ter que passar por mim primeiro, papai...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uh... O que acharam?
Beijos da Tia Carolzinha *o*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Amor Definitivamente Inumano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.