Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 7
Sangue de Faraó


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouquinho, mas acho que esse ficou massa, espero que gostem!



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LEAH

Leah acordou sem ter certeza de onde poderia estar, seus olhos doíam, por ter passado tanto tempo acordada e forçando seus olhos na escuridão. Ela tinha a breve sensação de que estava sendo assistida, e, não, não era por Max.

Sentou-se ao lado do filho de Ares, que olhava para os próprios dedos.

— Acho melhor tentarmos voltar já. — disse ele, olhando para Leah.

Os dois caminharam por um tempo, seguindo na direção leste, procurando pelo acampamento, até que Leah segurou o braço de Max, mantendo-o no lugar.

— O que foi? — perguntou Max, mas Leah colocou um dedo sobre seus lábios, puxando-o para um canto entre duas árvores. Ela indicou o ambiente à frente, onde havia uma minúscula clareira.

Estava um rapaz de cabelos e olhos castanhos, pele clara. Tinha uma espada pendurada num cinto, calçava coturnos marrons e estava vestido em roupas de linho, um gato preto enroscava-se em seus pés, carinhosamente; uma mulher de cabelos louros com mechas azuis atingindo as costas, esta tinha traços delicados, usava roupas de linho folgadas na cor preta e calçava coturnos pretos; um homem de cabelos negros enrolados, pele morena e olhos castanhos, este estava vestido em uma camisa de botões de linho, calças também de linho e calçava mocassins. Carregava uma bolsa no estilo carteiro.

Alguns instantes depois, uma águia voou em círculos acima deles e pousou no chão, metamorfoseando-se numa figura feminina de cabelos negros curtos, na altura do queixo, com uma franja longa que caía sobre os olhos.
A pele era cor de caramelo e os traços eram bonitos, ligeiramente árabes. Os olhos, contornados por Kohl preto ao estilo egípcio, eram num estranho tom de âmbar, que podia ser um tanto lindo quanto assustador. Ela usava sandálias e roupas de linho folgadas, parecia estar caminhando para uma aula de artes marciais, assim como os outros ali.

— Zia — disse o rapaz de cabelos castanhos. — Kalil me disse que os ataques estão ficando frequentes no Primeiro Nomo, eles acham que temos a escondido.

Pelo tom de voz do rapaz, quando ele disse “a escondido”, não se referia a Zia.

— Parece que os deuses gregos fizeram um bom trabalho, ela não transpareceu nada claro ainda. — murmurou o homem de cabelos enrolados.

— Na verdade — disse Zia, todos olharam para ela — Não pude deixar de notar que ela tem alguns dons suspeitos, à menos que seja filha do ctonico, ela pode ter alguma referência à Érebo ou ao próprio Isfet, o que eles chamam de Caos.

— E o que nós vamos fazer? — perguntou o rapaz — Se não a tirarmos logo daqui, ela pode descobrir, mas se a levarmos, vamos impor perigo à Casa da Vida.

Zia ficou em silêncio por um tempo.

— Vamos conversar em outro lugar — afirmou.

Os quatro transformaram-se em morcegos de frutas e saíram voando.

— O que... foi isso? — murmurou Max.

— Não sei, mas tenho quase certeza de que é para lá que queremos ir — disse Leah, apontando a direção de que Zia surgira em forma de águia.

Os dois caminharam por mais um tempo. Leah sentia os pés doerem, mas estava tão determinada a chegar ao Acampamento Meio-Sangue, que a opção de parar nem passou por sua cabeça. Seu tornozelo já não ardia, o que de fato era um tanto curioso, pois não havia feito nenhum medicamento.

Ao chegarem à Colina Meio-Sangue, o alívio foi tão grande que sentia os músculos se retesarem e o calor do corpo ir embora em uma única rajada de vento.

Max e Leah desceram a colina e caminharam até a Arena de Combates, onde estavam alguns dos campistas.

Leah avistou Alice, a conselheira do chalé de Atena, discutindo com Chaz, o conselheiro do chalé de Ares, Dylan tentava fazê-los parar enquanto Claire permanecia apática.

— Nada disso! Leah estava mais próxima da bandeira vermelha, se não fosse o manticore... Nós não ganhamos porque ela optou por salvar seu irmão!

— Que culpa tenho eu se ela preferiu ajudar Max? Eu peguei a bandeira azul!

— Mas já não valia! Os manticores...

— Chega! — exclamou Dylan — Será que vocês não conseguem ficar perto do outro por um segundo sem brigar?

— Não! — responderam em uníssono.

— Sim. — disse Alice, só para discordar de Chaz.

— Não! — disse Chaz.

— Sim!

— Calem a boca vocês dois, pelos deuses! — gritou Dylan, parecendo prestes a pegar os dois pelos braços e os atirarem no Riacho Zéfiro.

— Mas... — começou Alice.

— Quieta!

Alice bufou e fechou a cara. Ela notou de relance Leah e Max ali. Soltou um grito abafado de surpresa e abraçou a meio-irmã, que tentava inutilmente se afastar, já que não era uma grande admiradora de abraços.

— Onde vocês dois se meteram? — perguntou, mantendo a expressão séria enquanto se afastava.

— Boa pergunta, infelizmente eu não sei responder. — murmurou Max.

— Vocês estão bem? — perguntou Dylan, seus olhos bateram em Max, transparecendo curiosidade.

— Sim. Só nos perdemos ontem à noite, hoje estávamos procurando o caminho de volta e vimos algo estranho — murmurou Leah.

Relataram o que viram na floresta aos amigos.

— Casa da Vida, Isfet, Primeiro Nomo... Já sei! — disse Alice — Aposto que são magos egípcios, sangues de faraó, basicamente. Só gostaria de entender o por quê de eles estarem por estas bandas.

— Eles se referiam à algum meio-sangue, mas não sabemos qual. — disse Max.

— Provavelmente algum que não tenha sido reclamado — sussurrou Claire.

— O Chalé de Hermes não está hospedando ninguém atualmente — disse Chaz. — Á menos que o semideus não tenha chegado ao acampamento ainda, mas qual seria o interesse dos egípcios num semideus grego?

— Não sei, mas eu sei de uma coisa. — disse Alice — Os deuses estão escondendo algo de nós, e o que quer que seja não vai durar muito tempo como segredo.

Passaram-se duas semanas sem acontecimentos proeminentes desde o ataque dos manticores no bosque. Leah, Max, Dylan e Claire haviam aprendido muitas coisas no acampamento, desde esgrima, arco e flecha, medicina e etc.

Estavam na rotina da aula de esgrima. Percy Jackson lecionava algumas das crianças mais jovens enquanto os outros lutavam entre si. Leah lutava com Dylan, ela fez um golpe, esperando que Dylan o bloqueasse prontamente, mas ele não se moveu, o que resultou num corte em seu braço.

— Dylan! — exclamou Leah — Qual é, não podia ter bloqueado?

Mas o filho de Poseidon olhava pasmo para a garota, enquanto ela o arrastava para a arquibancada da Arena de Combates, Claire ofereceu um copo com néctar ao irmão. Assim que seus olhos bateram em Leah, ela ficou boquiaberta, do mesmo modo que Dylan.

— O que foi? — questionou Leah.

— Seus olhos — murmurou Dylan — Estão vermelhos.

Claire estendeu sua adaga para Leah, que pegou e olhou o próprio reflexo, assim que viu do que se tratava, deixou a adaga cair com um baque, assustada.

Diferente do que ela pensou se tratar, suas íris estavam de um puro vermelho.

— Que diabos... — começou, mas não pode completar, já que Denis Stuttgart notou a mudança de cor dos olhos de Leah.

— Venha — disse — Não deixe que os outros vejam.

Denis levou-a até a Casa Grande, enquanto Claire e Dylan os seguiam, e Leah se esforçava ao máximo para fazer parecer que não havia nada de errado e não deixar os outros notarem a cor de seus olhos.

Os quatro entraram com afobação na Casa Grande. Quíron servia limonada num copo, virado de frente para eles, enquanto uma mulher de cabelos ruivos estava virada de costas.

— Quíron — chamou Denis, Quíron e a mulher olharam para ele, mas logo seus olhares pararam em Leah.

A mulher ruiva, que já havia se levantado, deixou o copo com suco deslizar de sua mão até cair no chão, espalhando cacos para todos os lados. Ela trocou um olhar com Quíron.

— Os deuses não...? — sussurrou.

— Parece que é mais forte que eles — disse Quíron.

Leah pigarreou, pedindo uma explicação.

— Não conte nada a ela. — disse a ruiva, firmemente, olhando para Denis.

— Mas Rachel...

— Não conte até o momento certo. Se Érebo souber de alguma coisa, não vai perdoar...

— Será que dá pra vocês me explicarem o que está acontecendo? — exclamou Leah, calando todos ali.

— Desculpe — disse Rachel — Não podemos, esse segredo não é nosso.

— E de quem é? — perguntou Leah, suas íris estavam tão vermelhas e ela estava furiosa, fazendo com que os amigos evitassem olhá-la em seus olhos. — E o que quatro sangues de faraós faziam perto da Colina Meio-Sangue?

— Vem comigo. — disse Rachel.

Leah a acompanhou até a gruta, que por dentro era um apartamento moderno.

— Sente-se — Leah sentou-se no sofá.

— Os sangues de faraó são, basicamente, magos egípcios, esses magos seguem caminhos de deuses do Egito e muitos até os hospedam. Se você não estiver hospedando nenhum, com certeza é uma surpresa.

— Por que algum deus egípcio iria se interessar por mim? — perguntou Leah, seus olhos estavam laranjas.

— Porque você é poderosa, seu nível de magia egípcia não é tão forte quanto o dos Kane, que eram dois dos que você viu, mas você é filha de uma deusa primordial.

— “Seu nível de magia egípcia”... Isso quer dizer que eu... Tenho sangue de faraó?

— Exato — disse Rachel, animada.

— E isso quer dizer que...

— Você pode praticar magia — afirmou. — Me dê um minuto. Rachel levantou-se e sumiu no corredor. Leah, por algum motivo, sentia que seus olhos haviam voltado ao azul.

Rachel apareceu com um livro de capa de couro em mãos, ela sentou-se ao lado de Leah e colocou o livro nas mãos da garota.

— Página 75. — indicou.

Leah virou as folhas de pápiro até a página 75.

— "Magia básica para iniciantes" — leu. Seus olhos bateram no primeiro feitiço da lista — Ha-di.

Hieroglifos azul gelo brilharam na frente do objeto e o livro explodiu diante dela, que só leu que significava "quebrar" depois do feito. Aquilo havia sido doloroso, enquanto pronunciava a palavra, sentira uma dor de cabeça desconcertante.

Olhou apreensiva para Rachel, que pegara um dos pedaços do livro e entregou à Leah.

— Hi-nehm.

Os pedaços juntaram-se até o livro ser restaurado. Sua cabeça havia doído novamente, logo detrás dos olhos.

— Sabe, acho melhor você fazer isso depois, sua magia é forte porque... Olhe! Há um feitiço para água. — disse, mudando de assunto rapidamente.

Leah preferiu não perguntar. Sentia-se assustada, a cena dos hieroglifos e o livro explodindo ecoava em sua mente, o coração batia tão forte nas costelas que chegava a doer, a garganta parecia inchada, já não conseguia falar com o susto, suas mãos tremiam tanto que ela teve de fechá-las em punho, arranhando as palmas, para amenizar.

Saiu da gruta quase correndo.

Rachel não foi atrás, sabia que a garota estava assustada com tudo aquilo.

Leah não sabia direito o que estava fazendo, correu na direção da floresta até alcançar o Punho de Zeus. Encolheu-se num canto, com as costas tocando um tronco de árvore e abraçou os joelhos.

Estava perdida em pensamentos, seu coração ainda batia aceleradamente e com violência. Quando pensou ser estranha pelo simples fato de ser semideusa, a mais estranha filha de Atena, descobre que é descendente de algum faraó e pode praticar magia.

Estava distraída, até que percebeu um vulto negro passar com vigor por ali.

Como se fosse possível, seu coração bateu mais pesadamente, e ela sabia que suas íris estavam vermelhas por conta do medo.

Levantou-se, pegou suas facas e seguiu na direção em que o vulto fora.


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