Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 3
Ajax invade o meu quarto e o Rei das Serpentes ataca




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Quando acordei, eram cinco e meia da manhã, havia despertado com um som de ruídos e pios do lado de fora da janela.

Levantei-me, grogue e resmungando xingamentos, e me dirigi à janela abrindo o vidro. No mesmo instante em que uma rajada de vento frio me atingiu em cheio, uma mancha parda entrou na mesma velocidade da brisa, batendo na parede e caindo no chão, do outro lado da cama, com um baque.

Senti meu coração bater com tanta intensidade que a garganta chegava à doer. O que quer que fosse aquilo, estava vivo.

Peguei um taco de beisebol que costumava deixar do lado da cama e caminhei furtivamente até o local onde a coisa caíra.

Meu corpo se retesou ao notar que, ao invés de mancha, estava uma coruja caída no chão do meu quarto. Ela se levantou, tonta pela queda, e pegou um envelope pardo que deixara cair do bico.

Larguei o taco de beisebol num canto e me aproximei da pequena coruja, sem acreditar.

Eu tinha um encanto por corujas, mas nunca chegara a ver uma tão de perto.

Ela bateu as asas e pousou levemente na minha cama, deixando o envelope que trazia ali, olhando-me com seus grandes olhos profundos, como se esperasse que eu abrisse. Era estranho, eu sentia uma forte conexão com a ave.

Hesitante, peguei o envelope e o abri cuidadosamente, já que o mesmo era delicado e antiquado. Dali tirei um bilhete, que em uma fina e caprichosa caligrafia, dizia o seguinte:

Querida Leah,

Este é Ajax, uma Coruja Duende.

Recordei-me de que ainda não havia lhe enviado nenhum presente. Ajax é uma coruja um tanto atrapalhada, posso dizer, tem um grande potencial, mas ainda tem muito à aprender, assim como você. É dócil e cheio de personalidade, vai ser um grande amigo. Também poderá usá-lo como mensageiro, mas alerto para que não a mande para lugares muito cheios de animais de outras espécies, ele se sente desconfortável. Quando soltá-lo, ele volta para você sem problemas.

Você cresceu bastante, e tornou-se uma garota entanto.

Feliz aniversário!

Atenciosamente, A.

Ofeguei. O que diria ao meu pai?

"Ah, pai, alguém chamado A, que eu não faço ideia de quem é, me mandou uma coruja mensageira, muito normal, não?"

Quem usa corujas como mensageiros em pleno século XXI? Harry Potter, talvez.

Olhei para a coruja, que tinha as penas eriçadas ao observar meu gato, preto com poucas manchinhas brancas, Mike dormindo.

Ouvi batidas na porta.

— Entre – murmurei.

Meu pai colocou a cabeça do lado de dentro do quarto.

— Acho que isto é para você – disse, colocando uma gaiola perto da porta. – Estava lá fora.

— Na hora certa – murmurei, papai me olhou, desconfiado. – Este é Ajax, eu, hum, achei ele – menti, indicando a coruja.

— E se Mike o pegar? – perguntou papai, surpreso pela coruja, mas não tanto quanto eu esperava.

— Não vai – eu disse – Deixo Ajax preso na gaiola, quando eu estiver fora tranco o quarto.

— Está bem, não se atrase para a escola, estou saindo mais cedo. – disse.

— Não quero ir. – eu disse.

— O quê? – pronunciou meu pai, olhando-me como se eu tivesse dito algo obsceno.

— Não quero ir para a escola. – reforcei.

— Nada de faltas, é só seu segundo dia lá. O que é? Não está se dando bem com os adolescentes de lá?

— Não é isso, eu só... É uma professora.

— Não gostou dela?

— Tenho medo dela. – eu disse, estranhando minha própria sinceridade.

— Uma professora não vai te fazer mal, não precisa ter contato com ela, basta participar das aulas e andar com o restante da turma, você vai ficar bem.

— Tchau pai. – falei.

— Tchau, amor – respondeu ele, entrou no quarto, vestido nas roupas do trabalho, e me deu um beijo na testa, no mesmo momento escondi a carta atrás de mim. Papai saiu da casa.

Suspirei e verifiquei o envelope da carta, o remetente continuava sendo apenas "A", bufei e a guardei dentro de um livro.

Ajax alongou as asas, voando em círculos próximo ao teto, era uma coruja muito bela.

Pousou ao meu lado.

Abri a portinha da gaiola e tentei atrair Ajax para lá, deu trabalho, mas a coruja cedeu.

Deixei a gaiola em cima do criado mudo e me levantei.

Arrumei minhas coisas para a escola, tomei banho e me vesti.

Desci as escadas aos pulos e joguei minha mochila perto do sofá, notei que Joe não estava por ali.

Subi as escadas e entrei no quarto dele, que dormia só de calção de futebol. Pela sua expressão, parecia estressado, supus que não tivesse dormido direito, pois Joe dificilmente se atrasava, cedo já estava de pé.

— Ei, Joe, acorda! – chamei, mas Joe nem se mexeu, tentei por mais um tempo, mas Joe não acordava de jeito nenhum.

Desci as escadas e peguei um copo de água na cozinha, subi as escadas novamente e virei o copo em Joe, que levantou num salto.

Ele reparou eu ali e me encarou.

Larguei o copo no criado mudo e comecei a correr enquanto ouvia Joe correndo atrás de mim. Desci as escadas pulando e corri pela sala.

— Volta aqui! – grunhiu Joe. Até que finalmente me alcançou e me segurou pela cintura, agarrando-me e me fazendo cócegas.

— Para! – ofeguei, tendo um ataque de riso, Joe sorria. Ele parou. – Vai logo, vai se atrasar!

Joe correu escada acima. Fui até a cozinha e fiz panquecas. Joe desceu minutos depois, tomamos café da manhã e fomos cada um para a sua escola.

Entrei na Berkeley Carroll e fui até a sala de Inglês.

Metade da turma já estava lá, inclusive Max e Tony, mas os gêmeos e Tyler ainda não haviam chegado.

Sentei-me em uma carteira próxima à janela e olhei para a rua.

O dia passou como um borrão, completamente monótono, isso até o fim da última aula, que por azar, era matemática.

— Podem sair, exceto pela srta. Goldwyn, os Bulfinch e o sr. Stone. – disse a Srta. Hannover.

Tony passou a aula toda tentando ficar na detenção, pois eu, Max, Claire e Dylan havíamos ficado por pouca coisa. Não estou sendo hipócrita. Claire havia ficado por trocar uma palavra com Dylan, que na mesma rodada ficou também, Max ficou por desafiar a professora quando esta lhe mandou sentar-se à primeira carteira da fileira, e eu fiquei por deixar escapar uma caneta da minha mão, por azar ou não, acertou a professora bem entre os olhos.

Tony e Tyler fizeram desde atirarem bolinhas de papel, fazerem as pessoas tropeçarem em suas muletas e até tagarelar durante explicações, mas não conseguiram ficar na detenção, o que obviamente os deixou esgotados e desapontados.

— Vamos ficar atrás da porta. – afirmou Tony.

— Não precisa, cara... – disse Dylan.

— Vamos ficar – reforçou Tyler. Os dois saíram da sala com o restante da turma.

Depois de um tempo a toa, a Srta. Hannover caminhou até a frente da lousa.

— Então, vamos fazer um jogo, quem gritar por último ganha. – disse a professora.

— Quem gritar por últi... – Dylan começou a perguntar, mas uma coisa muito esquisita aconteceu.

As roupas da Srta. Hannover rasgaram, à medida que ela adquiria um tamanho desumano, suas pernas foram substituídas por uma cauda de serpente, chegando até a cintura. Na cabeça havia uma crista em forma de coroa, além dos cabelos de cobra.

— Não olhem nos olhos dela! – gritei.

— Vai dizer que isso é a Medusa? – gritou Dylan.

— Que diabos é isso? – berrou Claire, aterrorizada.

— Não sei que droga é essa, pode ser muito pior que a Medusa... Talvez um basilisco!

— Como é que você sabe disso? Já viu algum basilisco? – perguntou Max.

— Eu li sobre isso, mas nunca tinha visto um antes, droga, basiliscos nem existem, devo estar tendo um pesadelo.

— Se for isso, estamos tendo o mesmo pesadelo. – afirmou Dylan.

O basilisco fez um som parecido com um pigarro, impaciente por não darmos atenção à um monstro de quase três metros de altura.

Ele se atirou contra o local onde estava Claire, que fechara os olhos fortemente, mas Max havia puxado a garota pelo braço, de forma que o monstro se chocasse com uma cadeira e quebrasse duas janelas.

À essa altura, Tony e Tyler batiam freneticamente na porta, que estava trancada.

O basilisco era muito rápido, de forma que só provava que Max tinha um reflexo muito bom, o monstro se movia fazendo parecer que se teletransportava a todo momento.

A serpente se virou na direção de Dylan, mas eu atirei uma mesa bem na sua cabeça, ela soltou um guincho de frustração. Veio tão rápido na minha direção que não pude reagir. O basilisco sibilou, bem perto de meu rosto, enquanto eu me esforçava para não abrir os olhos. A cauda da serpente se enrolava ao meu redor, me apertando como uma jibóia.

Ouvi o som de um vidro se estilhaçando e Claire ofegando muito alto.

O basilisco pareceu se distrair, mas ainda me apertava, eu sentia como se fosse sufocar à qualquer momento.

O basilisco me apertou ainda mais forte.

— Ei, bicho feio! – gritou Dylan, senti que o basilisco se virava na direção que deveria estar Dylan. – Quando foi a última vez que se olhou no espelho? – disse Dylan, com um suspeito sarcasmo.

De repente, o aperto desapareceu, mas permaneci de olhos fechados.

— Pode abrir os olhos. – murmurou Dylan, olhei para ele e reparei um pedaço de vidro na sua mão, que tremia, de forma que arranhava sua palma.

— Onde... – comecei.

— Acho que o monstro não gostou do próprio reflexo. – murmurou Dylan.

— Isso foi inteligente – disse Claire, ainda parecendo aborrecida pelo que vira. – Sabe, eu não espero esse tipo de coisa vindo de você, Dylan.

— Engraçadinha. – respondeu ele.

— Alguém me diz... que isso não aconteceu de verdade. – eu disse.

— Gostaria de poder dizer isso. – murmurou Max.

Dylan pegou a chave que estava na gaveta da mesa da professora e destrancou a porta.

Quando saímos faltaram palavras, Tony e Tyler pareciam tranquilos, não como se tivessem notado que algo de errado acontecera (e como se não tivessem batido na porta até ferirem os dedos), os dois cochichavam um com o outro o tempo todo.

— Precisamos avisá-lo, não podemos esconder por mais tempo, eles já tem bem mais de treze anos. – cochichou Tony para Tyler. Pigarreei.

Os dois finalmente notaram que estávamos ali, e pareceram se assustar, como se tivéssemos os pegado num assunto oculto.

— À quem vocês precisam avisar? E o que não podem esconder por mais tempo? – interrogou Claire.

O maxilar de Tony começou a tremer, Tyler brincou com os próprios dedos. Até que foram salvos pelo diretor Stuttgart.

— Sr. Mitchell e Sr. Hewson, creio que não deveriam estar aqui à esta hora, podem dar uma palavrinha comigo por um estante?

Os dois assentiram rapidamente e correram para a sala do diretor.

— Droga, esses dois ás vezes são mais esquisitos do que de costume. – resmungou Dylan.

Depois de alguns minutos os dois voltaram e pareceram se frustrar por continuarmos ali. O diretor Denis Stuttgart caminhou na nossa direção com alguns papéis em mãos, engoli em seco.

— Não vou lhes dar uma advertência, se é isso que temem, é uma autorização para uma excursão que faremos para o Central Park Zoo. Seus pais devem assinar até a sexta-feira.

— Ok, obrigado – disse Claire.


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