Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 15
Os devaneios de Reyna e o porco-espinho chinês


Notas iniciais do capítulo

O título desse capítulo ficou meio esquisito, eu sei, mas eu tinha que colocar algo que tivesse palavras-chave do texto, esse me pareceu apropriado.
Demorei, mas é isso que acontece quando se tem personagens tão novos quanto estes.
Espero que goste!



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YURI

Yuri corria pela Avenida Atlântica como um louco. As pessoas que o viam de longe se arredavam antes de sua chegada, as que não viam... Bom, elas não ficavam muito felizes. Ele chegou a derrubar o café de uma moça, saltar um carrinho de bebê, costurar por entre um grupo de ciclistas e quase foi atropelado. O pior de tudo? Ele passou por tudo isso sem ao menos saber onde estava indo.

Ele fora um dos semideuses que vira Hazel e Frank morrer, porém nos dias recentes havia tido sonhos com os dois, daí aparece um mago num ônibus dizendo que os viu. Certamente Hazel e Frank não queriam ser localizados, então ele não perderia a oportunidade de encontrá-los. Entretanto já podia ser tarde demais.

Quando chegou ao final da avenida parou bruscamente, olhando para os lados. Ele não sabia aonde ir. Apertou as têmporas com força ao fechar os olhos, poderia utilizar seus poderes para encontrar a meia irmã.

Quando abriu os olhos deparou-se com colares e anéis de prata, ouro e outros metais levitando em sua mente. Virou o rosto para a esquerda e percebeu que estava diante de uma joalheria.

— Ladrão! — exclamou um homem velho, apontando para Yuri, de dentro da loja.

— Mas que... — começou o rapaz. Sua falta de sorte ás vezes lhe parecia impossível, como se deuses conspirassem contra ele.

Não poderia parar para explicar ao velho que ás vezes não tinha controle de seus poderes sobre metais. Aquilo só complicaria ainda mais a ética do momento.

Tornou a correr, passando por uma Starbucks da Rua Front. Já podia observar que havia guardas atrás dele.

Vae, vae, vae... — xingou em latim.

Quando pensou que tudo estava perdido, pôde viajar pelas sombras. Era uma sensação estranha, como ter os ossos e órgãos levados pelo vento. No instante que pôde ver novamente, percebeu que se encontrava na Via Principalis. Suspirou, aliviado. Da última vez que fizera aquilo foi parar na China, literalmente.

— Yuri? — chamou Louise, meneando a palma da mão na frente do rosto do garoto. Yuri sacudiu a cabeça, livrando-se de seus devaneios. Olhou para Louise.

Louise tinha longos ondulados cabelos cor de areia, olhos azuis tão claros quanto o céu de uma tarde nublada. Sua aparência era a que se esperava que princesas da Grã Bretanha tivessem, todavia sua personalidade era similar a de Honória, uma princesa de Roma. Estava vestida com a camisa do Acampamento Júpiter, short jeans e uma toga roxa.

— Erh... Hã? — gaguejou Yuri.

— Viagem pelas sombras? — perguntou ela. Ele assentiu.

— Isso também. — murmurou.

Algumas pessoas passavam por ali. A população de Nova Roma havia crescido muito com o passar dos anos. Havia semideuses e legados de todas as idades e tipos.

— Como “também”? — averiguou Louise, enquanto caminhavam pela vila. — Por onde você esteve?

— Brooklyn. Até encontrei um mago num ônibus.

— Um... Um egípcio? — indagou a garota, arregalando os olhos. Yuri assentiu.

— Ele viu.

— Viu o quê?

— Hazel e Frank.

Louise parou, encarando-o estática. Depois de um minuto, revirou os olhos, tornando a andar.

— Que é? Não acredita em mim? — inquiriu Yuri. Louise suspirou.

— Posso até acreditar, mas não significa que acredito nesse mago. — afirmou ela.

— Mas eu sei que eles estão vivos...

— Não é porque sonhou com isso que é verdade. — disse Louise, enquanto entravam na loja de música.

— Lou, eles estão procurando por Nico — sussurrou Yuri. Louise o encarou, com os dedos pousados sobre um disco de Thirty Seconds To Mars.

Desviou o olhar logo em seguida, buscando um disco de Owl City. Yuri percebeu que foi porque Reyna — uma mulher com cabelos negros e olhos escuros. A pretora de Nova Roma — entrava ali naquele momento. Pegou um disco de Coldplay e fingiu estar concentrado nele. Porém Reyna não se deixou levar pela “ingenuidade” dos dois, caminhou até eles, jogando os discos de volta em seus lugares. Os olhos penetrantes focaram-se em Yuri.

— O que soube sobre Hazel e Frank? — perguntou.

Yuri não sabia se era pelo comportamento de Reyna ou pelo fato de ela ser filha de Belona, mas ela o assombrava um pouco.

— Hã… Eles estão no Brooklyn e estão procurando por Nico.

O olhar de Reyna tornou-se longínquo, até um pouco desolado, porém ela voltou a olhar para Yuri.

— Falou com eles?

Yuri balançou a cabeça negativamente.

— Fui informado. — disse ele. Reyna não se importou em perguntar o que aquilo exprimia.

— Nico não quer ser encontrado, disso eu tenho quase certeza. E se Hazel e Frank estão vivos, quem os trouxe de volta? Ou por onde passaram todo esse tempo? Por que não vieram para cá? — Reyna realmente parecia aflita, o que não era característico dela. Assim que percebeu que refletia em voz alta, recompôs a postura.

— Quero vê-lo na Principia depois do jantar. — disse e saiu da loja.

Louise e Yuri ficaram uns tempos em silêncio, meditativos em devaneios, até que a garota sorriu.

— Parece que alguém ficou bem importante nesses últimos dias. — comentou, satírica. Yuri riu.

— Nem me fale, ás vezes tenho receio de adormecer durante o dia e Reyna me acordar com um balde de água fria... De novo.

— Toda essa história com Hazel e Frank a tem atormentado muito. É muito difícil ver Reyna assim, você sabe. Ela deve ter ciência de algo ruim e não nos contou. — concluiu Louise.

— Disso eu tenho quase certeza. — murmurou Yuri. — Espero que seja algo relacionado a isso que ela tem para me contar na Principia.

— Tem certeza de que deseja saber? — questionou a garota.

— Acha que eu não aguento? — perguntou Yuri, de cenho franzido.

Louise revirou os olhos e saiu da loja, escoltada por Yuri, sem contrapor.

— É fato que acha que eu não aguento? — indagou ele.

— Yuri, você nasceu em um berço de ouro, praticamente, a despeito de ser filho de Plutão, não conhece a morte de perto, nem como uma amiga afastada. Nasceu e cresceu como semideus, sempre sob a redoma que protege a todos nós. Acha que pode estar pronto para algo que afeta tanto a própria Reyna? — proferiu Louise, calmamente.

Yuri franziu o cenho.

— Crê que não sou audacioso por eu não conhecer a morte? — averiguou, ofendido. — Isso não soa menos hipócrita, mesmo vindo de você.

— Não foi isso que eu disse. Ser corajoso não é o mesmo que encarar tudo sem uma pancada. Ultimamente tenho percebido coisas estranhas acontecendo, tenho um mau pressentimento.

Yuri riu.

— Não vou deixar a Fada do Dente te ferir, doce Louise. — murmurou, envolvendo os ombros da garota com um dos braços.

— Era disso que eu estava falando — ela bufou e pôs-se a andar mais célere, desviando de outros romanos que perambulavam pela vila, deixando um Yuri risonho para trás.

Yuri suspirou e entrou na Loja de Magia e Esoterismos, que pertencia a própria Louise. Lá eles vendiam livros e grimórios das mais diferentes culturas, caldeirões, incensos, cabeças de hidra, asas de morcegos, água do Estige e diversas outras coisas do estilo.

Yuri atrapalhou-se com os sinos de vento, tropeçou em um caldeirão de ferro e esbarrou numa estante, que chacoalhou para os dois lados, mas manteve-se de pé.

— Yuri? — exclamou uma voz masculina, na sala que era ligada à loja.

— Sim, sou eu. — murmurou Yuri.

Aiden apareceu atrás do balcão.

— Percebi pelo barulho — comentou ele, com um sorriso debochado.

Aiden tinha cabelos lisos e ruivos, com uma franja pendendo sobre um dos olhos azuis glaciais, ele tinha sardas nas maçãs do rosto. Era um filho de Júpiter e cuidava da loja de Louise no período da tarde.

— Sabe, às vezes penso que sou inútil e destrambelhado demais para ser um herdeiro de Plutão... Vai ver por isso nunca parti em uma missão. — murmurou Yuri.

Aiden deu de ombros, enquanto servia uma caneca com chocolate-quente.

— Relaxe, eu mesmo nunca parti numa missão. — proferiu, oferecendo a caneca a o amigo.

Assim que Yuri a apanhou, sentiu uma carga elétrica subir por seu braço, deixando-o de cabelo em pé... literalmente. Seus reflexos o fizeram soltar a caneca, que caiu com um baque, derramando toda a bebida no piso de madeira.

Aiden grunhiu.

— Digamos que está aí o motivo. — articulou, melancólico, porém logo recuperou seu bom humor e gargalhou. — Você está parecendo um porco-espinho chinês.

Yuri revirou os olhos.

— Cale a boca, para-raios. — disse, enquanto Aiden ia buscar um pano para limpar o assoalho.

— E então, o que está fazendo aqui? Lou te pediu para me comunicar algo ou veio estragar mais produtos? — indagou Aiden. Yuri franziu o cenho, enquanto baixava os fios eriçados do cabelo.

— Venho te fazer companhia e você me recebe assim? Com um choque elétrico e uma insinuação como essa? — reclamou, fingindo desapontamento.

Aiden deu de ombros, abrindo um sorriso maroto.

— Fala logo o que você quer, Karate Kid. — pronunciou.

Yuri suspirou, vencido.

— Reyna me pediu para ir ao Acampamento Meio-Sangue. Você soube sobre o que ocorreu lá recentemente, certo? — murmurou. Aiden assentiu.

Yuri pensou, escolhendo as palavras.

— Eu gostaria que me acompanhasse.

Aiden franziu a testa, desconfiado.

— Por quê? O que vai fazer lá? — indagou.

— Vou interrogar as testemunhas, claro, mas Reyna, por alguma razão, está focada de forma relevante no filho de Ares.

Aiden riu.

— Vai interrogar? Você e Reyna estão virando detetives? Tipo Holmes e Watson? — Aiden disse, sarcástico. — E você não pode interrogar o filho de Ares, ouvi dizer que ele está muito mal.

— É claro que não vou conversar com um garoto em coma, vou falar com os amigos dele. — disse Yuri, como se fosse evidente. — Claire e Dylan, que estavam com ele.

— Por que isso é do interesse de Reyna? — questionou Aiden.

Yuri contemplou a madeira do piso, tamborilando os dedos no balcão.

— Não tenho certeza. Acho que descobrirei hoje na Principia. — proferiu.

Aiden não disse nada. Ouviram o som dos sinos de vento tocando enquanto alguém entrava. Era Kira, a irmã mais velha de Yuri. O modo como ela entrou espantou aos dois.

Ela caminhou até Yuri, parando de frente para ele. Deu-lhe um tapa estalado no rosto, chocando-o.

— O que...

— Contou para a mãe que eu saí escondida ontem a noite. Seu infeliz! Você sabia porquê eu precisava sair! — os olhos de Kira estavam marejados e ardendo de raiva e mágoa.

Yuri estava boquiaberto.

— Kira, eu não...

Kira grunhiu e deu-lhe as costas, secando as lágrimas nas mangas do cardigã.

Aiden encarou Yuri, em silêncio, mas com a boca escancarada.

— Eu não contei! — exclamou Yuri. — Eu juro!

Aiden deu de ombros, atônito.

— Explique isso para ela. — falou.

— Resolvo isso em casa. — disse Yuri, pasmado. — Quando Louise vem?

Aiden olhou em seu relógio de pulso.

— Daqui a três minutos. — murmurou, caminhando até a sala e vestindo sua jaqueta de couro por sobre a camisa xadrez.

Louise entrou no mesmo instante que ele regressava à loja.

— Ou antes — completou ele.

— Dê o fora. — murmurou Louise, ocupando o lugar dele.

Aiden deu de ombros e escoltou Yuri, descendo os degraus da entrada e partindo em direção ao Acampamento Meio-Sangue.


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Notas finais do capítulo

Prometo que o próximo não tardará tanto, já que tenho boa parte dele pronta.



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