Leah Goldwyn: Entre dois Mundos escrita por Laurah Winchester


Capítulo 10
As proles de Kaa e a teoria do Feiticeiro Imortal


Notas iniciais do capítulo

Hey, ho, let's go!



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— Pelos deuses, o que é que está acontecendo então? — perguntou Ben.

Dean não respondeu de imediato, teve de fazer uma pausa para respirar.

— São apenas os descendentes de Kaa que estão doentes, não é? Com exceção de Walt, claro. Estudei a história de Kaa, e ressalto um ponto que tem ligação com seu antecessor. Kaa é conhecido por apagar o nome de Semerkhet de arquivos e artefatos, culpando-o pela calamidade que surgiu no Egito na época de seu reinado.

— E? — disse Peter.

— Semerkhet fez um pacto com Anúbis, para ter o que ele considerava como poder absoluto. Como sacrifício, ele teve que matar seu melhor amigo para completar o pacto, mas o terrível é que Semerkhet era conhecido como “o feiticeiro imortal”. Não sabemos se ele era mesmo imortal, mas se era, porque foi decretada sua morte?

— E você acha que Kaa, além de apagar o nome de Semerkhet, apagou o faraó? — perguntou Ben — Faz sentido... Por isso Semerkhet pode estar atrás dos herdeiros de Kaa e sacerdotes de Anúbis.

— Para quê ele iria atrás dos sacerdotes de Anúbis? — disse Joe — E o que Walt tem com isso?

— Se Semerkhet foi mumificado vivo, Anúbis tem participação no ritual que o “adormeceu”. E Walt hospeda Anúbis — esclareceu Peter.

— Tem outra coisa... — disse Dean, prendendo a atenção dos companheiros — Se Semerkhet está de volta, alguém o despertou, alguém que leu O Livro dos Mortos de sua tumba.

— Como foi que pensou em tudo isso? — perguntou Ben, maravilhado.

— Eu não sou burro, tá? Passei uma semana inteira na biblioteca, estou até aturdido de tanto traduzir textos hieroglíficos, investiguei em outros nomos... Enfim, a resposta pode estar aí.

— Se Semerkhet queria punir Kaa, por que não matou ao faraó? — perguntou Jaz, enquanto tirava uma amostra sanguínea de Walt.

— Como eu disse, se ele está desperto, alguém leu O Livro dos Mortos recentemente, e os faraós eram protegidos por Sekhmet. Só não compreendo por que Semerkhet não usou o padrão de punições do Egito Antigo, como entregar o condenado aos crocodilos, empalação no estômago ou queimar vivo. Quero dizer, essa coisa de envenenamento, ou deixar morrer de fome e sede era mais utilizada pelos gregos que pelos egípcios.

— Prefiro morrer envenenado a devorado por crocodilos — disse Ben.

— Você não vai morrer. Nem você, Liz ou Jared, ninguém vai morrer — afirmou Peter, mais nervoso que antes. Estava de cenho franzido, cerrando os punhos, de braços cruzados.

— Se eu morrer...

— Cale a boca, Ben — interrompeu, amargurado.

Ben ergueu as sobrancelhas e deu de ombros.

— Talvez porque ele teria de raptá-las, deve ser mais simples amaldiçoar as proles do que arrebatar, se as raptasse, seria muito mais fácil de resolvermos o problema — continuou Zia.

— Onde Semerkhet está enterrado? — perguntou Jaz.

— Não sei bem — respondeu Dean — É muito difícil encontrar resultado, já procurei na internet em diversos idiomas e até em seu nome africano, Semempsés, mas não encontrei nada, ele é um faraó da primeira dinastia, por isso dificulta muito. Só sei que é na necrópole de Umm El Qaab, mas não encontrei resultado nenhum para o endereço, acreditam?

— Já ouvi falar sobre esse lugar — disse Ben — Narmer, Kaa e outros faraós da primeira dinastia estão enterrados lá, fica em algum lugar de Abidos.

— Quer dizer que vamos atrás de uma múmia assassina? Perfeito... — resmungou Peter.

— E se não for isso, o que vamos fazer? Deixar que nossos amigos morram? — disse Felix.

— Vamos dar um jeito — prometeu Dean.

Sadie entrou correndo na ala.

— Deus! O que houve? — exclamou, horrorizada.

— A mesma coisa que os outros, simplesmente desmaiou — disse Jaz.

— O que todos vocês estão fazendo aqui? — perguntou ela, encarando um por um, dando exceção apenas a Zia — Ben, por que está fora da cama?

— Viemos visitá-los. Walt entrou as pressas aqui e queríamos ver como ele estava. — articulou Joe.

— E concluímos que uma múmia assassina foi desperta e veio matar os descendentes de Kaa, um por um. — disse Peter, com sarcasmo.

— Tipo naqueles filmes de nerd do Carter, não é? Vocês estão obcecados. — disse Sadie, no mesmo tom.

— Não é brincadeira — proferiu Dean.

Sadie o encarou.

— Que seja, podemos falar sobre isso depois do jantar, agora vão. — disse ela, um tanto amarga, muito provavelmente pelo fato do namorado enfermo.

Começaram a caminhar até a porta.

— Você fica, Ben! — advertiu Peter.

— Porcaria — resmungou Ben, revirou os olhos e voltou para sua ala.

Desceram ao primeiro andar, indo na direção da varanda, onde estava boa parte dos aprendizes, fazendo com que a mansão ficasse estranhamente silenciosa. O sol já havia se escondido na linha do horizonte, deixando que a lua cheia iniciasse seu turno no céu de coloração índigo.

Peter serviu-se no bufê e sentou-se com Dean, Leah e Joe, que estavam desinteressados na própria comida. Dean estava concentrado num rolo de papiro, o que soava um tanto estranho, já que ele geralmente ficava muito irritado ao fazer pesquisas, Joe tentava ajudá-lo a decifrar e Leah apenas os observava, sem muito interesse, como se não tentasse compreender o que faziam.

— O que estão fazendo?

— Não é obvio? — perguntou Dean, irritado.

— Não. Se fosse, eu não estaria te perguntando. — rebateu Peter.

Dean bufou, derrotado.

— Estamos tentando ler isso. — disse ele, empurrando o rolo à Peter.

Eram hieróglifos, mas os conjuntos de palavras não faziam sentido para o rapaz, ele podia reconhecer a maioria das letras, mas elas, todas juntas, não chegavam a significar nada claro.

— É egípcio clássico — esclareceu Leah, impaciente.

— E o que quer dizer? — perguntou Joe.

— Não sei. Eu tenho cara de especialista em idiomas de mais de quatro milênios? — perguntou ela, com sarcasmo.

Joe não respondeu, parecendo perdido em pensamentos. Trocou um olhar lacônico com a prima e tornou a encarar as palavras incógnitas no rolo de papiro.

— Um pouco. — disse, depois de um tempo. Leah o encarou sem apreender, mas logo suspirou.

— Quer ir para lá hoje mesmo? — perguntou ela.

Joe deu de ombros.

— Melhor amanhã.

— De que diabos vocês estão falando? — inquiriu Dean, irritado.

Uma característica notável sobre Dean Murray era que ele se irritava facilmente quando não conseguia compreender as coisas.

— Meu pai é historiador, muito provavelmente deve saber algo de hieróglifos das primeiras dinastias. — disse Leah.

— Não é apenas um disfarce? — perguntou Peter. Joe meneou a cabeça negativamente.

— Então vocês estão planejando consultá-lo. — concluiu Dean.

— Afinal, qual é a importância desse papiro? — indagou Peter, sem entender o porquê de tanta cogitação por um simples pergaminho que deviam ter encontrado na biblioteca.

— É de um livro sobre rituais de mumificação. — disse Joe. — Lemos sobre a mumificação solar faraonítica, mumificação osiriana e embalsamento para pessoas de classe baixa, até que chegamos a este pedaço.

— Sabe o que eu suspeito de sua conclusão, Dean? — murmurou Peter — Se Kaa quisesse penitenciar Semerkhet, para quê embalsamá-lo? Os delinquentes não tinham direito a pós-vida. Não acha curioso?

— Não. Se Semerkhet era imortal, já não teria uma pós-vida, muito menos ainda se fosse enterrado vivo, ninguém saberia. Kaa não seria idiota de mantê-lo “desperto” dentro da tumba, por isso só alguém com vantagem superior à do próprio deus-chacal pode tê-lo acordado.

— Alguém que descende do Feiticeiro Imortal e tem alguma ligação com Anúbis. — sussurrou Peter, sugestivamente.

Dean arregalou os olhos, encarando Peter com incredulidade. Levantou-se rapidamente, sem nem pegar a comida, e entrou na Casa do Brooklyn.

— O que deu nele? — perguntou Leah, finalmente.

— Não foi nada — disse Peter, amargo.

— Sério? Então por que merda Dean saiu daquele jeito? — pressionou Joe.

Peter não respondeu, saiu da mesma forma, deixando o prato com o bacon que mal havia sido tocado sobre a mesa.

Joe franziu a testa, acertando um tapa na mesa, raivoso.

Felix aproximou-se dali, sentando-se.

— O que está havendo aqui? — perguntou.

— Acredite, eu gostaria muito de saber — resmungou Joe.

— Peter disse algo sobre descendentes de Semerkhet que tem ligação com Anúbis e Dean saiu quase correndo. Depois Peter saiu também, para outro lado. — explicou Leah.

— Droga. Por que merda Peter não consegue manter a boca fechada? — mastigou Felix.

— Do que está falando? — questionou Joe.

— Por favor, não me peça para explicar — Felix quase implorava — Em algum momento Dean vai contar a vocês, provavelmente...

Felix interrompeu-se, mergulhando em pensamentos.

— Então... — murmurou depois de um tempo — Já escolheu algum deus para seguir?

Leah balançou a cabeça negativamente. Era um assunto em qual ela não pensara com calma.

— Falando nisso, a qual deus você segue Joe? — perguntou ela.

— Anúbis — respondeu ele, cuidadoso. Leah deixou a uva que levava a boca cair de volta no prato. Apaziguou o terror na expressão brevemente.

— Hã... Interessante. — admitiu. Era novo para ela que Joe tivesse alguma ligação com um deus da morte, ele sempre fora tão indiferente em relação a mortos e coisas do tipo. E se ele também ficasse doente? — E você, Felix?

— É complicado. Deveria seguir algum deus do gelo, mas a questão é que não há nenhuma divindade egípcia do gelo, porque o Egito é terrivelmente quente.

— Complexo — concordou Leah.

— Ben diz que eu posso estar predestinado a ser um deus. — disse Felix, sorrindo de canto como se a ideia o divertisse.

Leah sorriu.

Mais tarde o interior da casa já era povoado. Alguns aprendizes zarpavam por canais na TV, outros voltavam a suas atividades.

Leah olhou em volta assim que entrou, mas nem Dean ou Peter estavam ali.

Avistou Sadie e Carter Kane conversando com um homem, próximos a estátua de Tot. O homem era gordo, com pele da cor de café tostado. Vestia sobretudo e terno preto de risca de giz que pareciam caros. Os cabelos compridos estavam presos em uma trança e ele usava um chapéu Fedora, que de tão baixo no rosto encostava-se aos óculos escuros redondos.

Leah teve a sensação de tê-lo visto outra vez, mas muito provavelmente só estava confundindo com um daqueles músicos de jazz que sua avó costumava ouvir.

— Aquele é Amós — disse uma voz feminina. Leah teve a breve sensação de conhecê-la de algum lugar. Virou-se para encarar a pessoa e viu Hilde, seguidora de Bastet, que mais cedo havia visto na Oficina de Shabtis. — Sacerdote leitor-chefe da Casa da Vida. Ah, e eu sou Hilde. — disse ela, com um sorriso.

— Leah.

— E então, Leah, o que acha de uma partida de hóquei de mesa?


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Notas finais do capítulo

Eu não iria cortar neste pedaço, mas considerei melhor, já que o capítulo já tem numero de palavras o suficiente para colocar outro POV aí.
Bjokas



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