Boa noite, Mary escrita por Ella


Capítulo 1
Boa noite, Mary


Notas iniciais do capítulo

Primeira one-shot =)



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Em um momento de nossas infâncias, por sermos ingênuos e tímidos, desenvolvemos amigos em nossa mente. Quando chegamos à puberdade, conseguimos amigos e eles, os imaginários, que sempre estiveram conosco, acabam sendo esquecidos, deixados de lado. Comigo não foi assim. Eu, com meus seis anos, fui diagnosticada com esquizofrenia. Bom, uma criança estranha, que ouve vozes, passos e gritos e fala isso para os coleguinhas não poderia ter amigos. Ela apareceu e mostrou o contrário.

Nina era o seu nome. Cabelos loiros opacos, olhos de um cinza gélido, sorriso doce e inocente no rosto. Ela cresceu ao meu lado, me ajudando, me amando. Sempre. Vários anos juntas mas sua aparência continuava a mesma.

Quando eu lhe perguntava: “E se eu te esquecer?”, ele dizia: “Não me esqueças” e tentava abraçar meu corpo, sua forma espectral ás vezes adentrando minha pele. Ela era diferente, me entendia. Dava-me boa noite e velava meu sono. “Boa noite, Mary” mas eu nunca respondia.

O baile de inverno havia chegado, o vestido longo contornava meu corpo. Os braços fortes de Elliot rodeavam minha cintura. Sorri para ele. Eu o amava. Mas por algum motivo estranho, eu me sentia incompleta.

Subimos as escadas do colégio, seu sorriso galanteador me deixava boba. Senti um olhar queimar meu pescoço, havia alguém me olhando. Olhei para trás. Nada.

Os beijos ásperos continuaram, até que nós dois estivéssemos totalmente satisfeitos. Ainda estávamos colados quando saímos pela porta.

— Ei, feche a porta, temos que deixar tudo como encontramos. — Elliot sussurrou rindo. Gargalhei e andei até aporta, mas antes que minha mão segurasse a maçaneta, a porta se movimentou rapidamente, o som alto da batida ecoando pelo corredor. Minhas mãos tremeram, olhei em volta.

— Mary, o que foi isso? — Silêncio.

— Não a chame de Mary, seu verme imundo! – Uma voz raivosa rosnou em nossa direção. Minhas pernas fraquejaram.

— Nina?

— Mary, o que é isso? Vo-você...

— Tantos anos... — Sua imagem tremeluziu, aparecendo e desaparecendo várias vezes. — Você me esqueceu, Mary? — Não respondi, caminhei para trás, ela se aproximou também. — Quem é ele? — Sua voz saiu chorosa, os olhos marejando. Movimentou as mãos, o corpo de Elliot foi parar do outro lado do corredor.

— Elliot! — Tentei correr para ele mas ela levantou a mão como se fosse fazer o mesmo comigo. Essa foi a deixa para me fazer correr. Ela estava perto da porta de saída, não podia correr para lá. Meus passos foram para trás, eu precisava me esconder.

Eu já havia parado de correr quando os passos dela se tornaram inaudíveis. A cantina estava muito calma.

— Por que fugiu? — choramingou a voz. Meu corpo gelou. — Pensei que éramos amigas. Você me esqueceu como todas as outras crianças.

— Nina...

— Mas não tem problemas, eu te perdoo. — E com um sorriso, suas mãos giraram a boca do fogão. O gás impregnou a sala. — Nós vamos ficar juntas agora, não se preocupe. — Bati minhas mãos na porta com desespero. — Boa noite, Mary.


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