Amor e Liberdade [PAUSADA] escrita por Bianca Ribeiro


Capítulo 10
Capítulo 10




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Não consigo escapar do educado convite do senhor Hans. Ele parece tão cortês e simpático que simplesmente não posso dizer não. Além do mais, eu realmente não tenho um par e não quero ir à noite de música sozinha. E talvez Reidi e Vega gostem de ser apresentadas a meu novo amigo.

– Bem... – meus lábios estão secos -, não posso recusar tal convite, senhor.

Hans abre um sorriso radiante e seus olhos faíscam.

– Fico feliz por aceitar. Vejo a senhorita mais tarde, então?

– Certamente.

Ele beija minha mão e eu o deixo na companhia de Kai. Quando já não posso ser vista nem ouvida, ergo minha saia e corro escadaria acima, tropeçando uma ou duas vezes. Preciso encontrar o vestido perfeito para esta noite e isso levará algum tempo, pois madame Daisy não está aqui para me ajudar.

Assim que entro em meu quarto, encontro lady Lana em minha cesta de costura, toda embolada em novelos, linhas e retalhos.

– Ora, vejam só – rio, pegando-a em meus braços. – Não posso deixar você sozinha nem por um momento sem que vire minhas coisas ao avesso?

Ela ronrona e salta para o chão, correndo a deitar-se em minha cama. Gata preguiçosa.

– Muito bem, milady, já que não vai me ajudar a encontrar um vestido, terei que fazer tudo sozinha.

Abro meu imenso guarda-roupa abarrotado de vestidos de passeios e de festas e vestidos comuns. Madame Daisy sempre diz que uma boa moça mantém suas vestes sempre muito bem organizadas e aqui está tudo em seu devido lugar, mas mesmo assim parece uma bagunça. Mal sei por onde começar.

Ouço três batidas na porta e viro-me para ver quem é.

– Parece ocupada, Anna.

Devolvo o vestido que havia acabado de tirar do guarda-roupa e olho para ele.

– Procuro um vestido bonito – digo.

– Está certa disso tudo?

– Disso tudo o quê?

Kai suspira.

– Seu pai chegou agora mesmo. Está conversando com o senhor Hans no escritório e não parece nada contente em vê-lo.

Franzo a testa.

– Por que não?

– Tentei fazer com que entendesse, Anna. A família de Hans, das Ilhas do Sul, não tem um histórico muito bom. São todos trapaceiros e oportunistas, sempre preparando-se para conquistar o que não lhes pertence.

– Mas o senhor Hans é tão gentil, Kai... Tenho certeza disso. Você ouviu o que ele disse...

Ele revira os olhos.

– É apenas uma fachada, Anna. Deve ser mais esperta daqui em diante quando fizer parte da sociedade de verdade.

Estou confusa.

– O que isso quer dizer?

– Quer dizer que nem todos que sorriem, dizem palavras agradáveis e lhe dão presentes são boas pessoas. Deve ser cautelosa o tempo todo.

Crispo os lábios. Kai está usando aquele tom condescendente comigo, como se eu fosse uma criança recebendo um sermão.

– Deixe-me sozinha – peço e meu pedido soa como uma ordem fria. – Preciso me arrumar.

– Anna... – ele dá um passo em minha direção, a mão estendida.

– Não, Kai.

Não vou permitir que ele me trate como uma menina ingênua que não sabe nada da vida. Tomarei minhas próprias decisões, seguindo minha intuição. E, agora, ela diz que Hans não é mau como sua família. Ele mesmo disse que queria uma chance de mudá-los para melhor. Acredito nele.

Kai crispa os lábios e sai, fechando a porta atrás de si. Suspiro e olho para lady Lana.

– Quando todos nessa casa irão parar de me tratar como criança?

Desabo ao lado de minha gata na cama e fito e teto branco. De repente, estou pensando em Kristoff. O que ele diria se soubesse que vou à noite de música acompanhada do senhor Hans? Aprovaria? Diria o mesmo que Kai? Sentiria ciúmes?

Tento imaginar o rosto de Kristoff enciumado. Não consigo. Mamãe sempre dizia que ciúmes não é uma coisa muito boa e só consigo ver o bem em Kristoff. Queria que ele estivesse aqui agora, nem que ficássemos em silêncio olhando um para o outro.

***

Ajeito minha franja pela quarta vez. São quase seis horas e meus dedos tremem. Optei por um vestido de mangas fofas, verde e branco, bem rodado. Prendi o cabelo em um coque trançado com fitas brancas e vesti luvas de renda.

– Está exuberante, Anna – diz madame Daisy, contente com minha escolha de roupa.

– O-obrigada.

Estamos na sala de estar, esperando que meu acompanhante venha me buscar. Papai não gostou nada quando eu contei com quem iria à praça, mas não me proibiu. Madame Daisy não se importou, desde que eu estivesse apresentável.

– Algum último conselho? – pergunto a ela, olhando para minha mãos entrelaçadas.

Daisy afaga meu ombro. Ela sabe ser amável às vezes.

– A senhorita não deve ficar nervosa. Está estragando tudo – madame ri.

– Não estou nervosa – rebato.

Trudy chega correndo na sala de estar. Seu sorriso é animador.

– O senhor Hans acaba de chegar, senhorita.

Levanto-me do sofá e ajeito a franja outra vez.

– Oh, certo. Certo. Meu casaco, por favor.

Despeço-me de papai, madame Daisy e sou acompanhada por Kai até a carruagem do senhor Hans. Ele salta do veículo, altivo e bonito e estende a mão para mim, ajudando-me a subir.

– Está deslumbrante, senhorita Anna.

– Obrigada – digo. – O senhor está bastante elegante.

Ele sorri e eu adentro a carruagem. Aqui dentro tudo cheira a hortelã e licor e o interior é forrado em veludo vermelho. A neve não tomou toda a estrada, então não demoraremos a chegar. Hans diz algumas palavras para Kai e entra na carruagem também, sentando-se de frente para mim. Está usando meio-fraque e os cabelos avermelhados estão penteados para trás.

– É meu primeiro evento em Arendelle – ele diz, quando a carruagem começa a andar. – É empolgante.

– O senhor vai adorar a noite de música. É uma tradição antiga e muito divertida.

Hans dá um meio sorriso.

– Tenho certeza que sim.

A neve deixa toda a vila encantadora nesse pôr do sol e eu mal posso esperar para ouvir o som de violinos, gaitas e liras e pés dançantes. Mesmo no inverno, o povo de Arendelle não dispensa uma boa festa.

– Mal posso acreditar em minha sorte – diz Hans, de repente. – Ter a senhorita como acompanhante é definitivamente uma dádiva.

Dou risada, sem graça.

E então resolvo contar-lhe a verdade.

– Na verdade, eu teria um acompanhante... se meu noivo não estivesse ocupado esta noite.

O sorriso de Hans desaparece e suas sobrancelhas arqueiam-se.

– A senhorita... está noiva?

Mordo o lábio.

– Pensei que o senhor soubesse.

Ele dá um sorriso sem graça e olha pela janela. Parece desconcertado. E a culpa é toda minha. Agora que estou aqui, não sei se tudo isso parece uma boa idéia.

– Que é o felizardo? – Hans ri, sem realmente me encarar.

– Kristoff Bjorgman – digo, orgulhosa.

A cor some do rosto de Hans e ele fica boquiaberto por um ou dois segundos. Remexo minhas mãos, nervosa.

– Bjorgman? – ele sibila, parecendo falar consigo mesmo.

Olho de relance pela janela e vejo que já estamos chegando.

Anna.

Olho para Hans, surpresa com o tom íntimo como ele diz meu nome.

– Sim?

– Os Bjorgman... você não sabe, não é?

Franzo a testa.

– O que eu não sei?

– Sobre a fama que essa família carrega consigo – Hans crispa os olhos, como se o que diz o estivesse causando dor. – O senhor Bjorgman já casou-se cinco vezes, todas elas por dinheiro e interesses. Todas as suas esposas faleceram de causas misteriosas. A esposa atual, Amélia, foi a única a dar-lhe um herdeiro e por isso ele a mantém consigo. Agora, ambos querem usar o próprio filho para enriquecer ainda mais a família. E ele, o seu noivo, seguirá o mesmo caminho que o pai...

– Não – cerro meus punhos enluvados. – Kristoff não é assim. Os Bjorgman não são assim.

Hans suspira.

– É o que dizem os rumores. Mas, bem, a senhorita os conhece muito melhor do que eu, não é mesmo?

Engulo em seco e assinto devagar. É claro que esses rumores não condizem com a verdade. Hans está muito mal informado. Kristoff é um bom homem e seus pais são ótimas pessoas.

Certo?


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham sobre os rumores sobre os Bjorgman?
Continuem acompanhando!