Pov Narradora

Leon a olhou recriminado-a, ainda não acreditava que aquela garota estava estragando os seus momentos a sós com Violetta. Fora que uma chuva grossa de verão se derramava pela cidade e Lara usava um short curto e uma blusa colada. Onde estava a consciência dela?

– Estávamos conversando – Ele respondeu fitando-a, estava com muita raiva dela. Violetta apenas observava os dois, quieta no canto da cama e segurando o embrulho do presente.

– Estavam? – Lara perguntou erguendo uma sobrancelha e sentando na cama onde o casal estava.

– Sim, até você chegar e atrapalhar o clima – Leon soltou as palavras e lhe lançou um sorrisinho, levantando-se da cama e olhando diretamente para Violetta – Eu vou tomar café da manhã, se quiserem, a Olga já chegou.

Leon saiu do quarto e Lara ficou em silêncio, assim como Violetta, que mordia o lábio com um pouco de força, deixando uma marca vermelha no local onde os dentes estavam pressionando.

– Acho que ele não gosta muito de mim – Lara disse e sorriu um pouco. Jura garota? Você entra de intrometida na casa onde os dois ficariam sozinhos durante duas semanas e ainda acha que não está incomodando. Realmente falta um pouco de senso em algumas pessoas.

– Não, não é isso – Violetta apressou-se para dizer – Ele apenas está com ciúmes, eu acho. Nós dois estávamos sozinhos aqui, etc, e acho que ele sente falta disso.

– Vilu arrasando os corações dos novinhos – Lara falou rindo e empurrou o ombro da amiga levemente.

– Onde aprendeu essas expressões? – Violetta perguntou curiosa, afinal, não se falava daquela maneira em Minas.

– Alguns dias convivendo com a sociedade carioca – Ela respondeu e as duas riram – Acho melhor descermos e tomarmos café com o Leon, vai que ele fica com raiva disso também.

Violetta notou um tom de ironia na frase da amiga, mas preferiu deixar aquilo de escanteio, até porque não queria criar nenhuma confusão com os dois. Isso ainda iria deixá-la meio louca.

Violetta’s POV

Lara e Leon pareciam estar vivendo uma guerra fria, sinceramente eu não estava entendendo o porquê daquelas reações dos dois. Lara eu ainda entendia, ela devia estar com ciúmes do Leon, porque minha atenção não estava voltada cem por cento para ela. Mas, ele? Porque Leon sentiu aversão a Lara? Ela era tão legal, tão espontânea, divertida, simpática... Realmente eu não entendo as pessoas, acho que elas deviam vir com manuais.

– O que temos para hoje? – Perguntei quando me sentei à mesa, de frente para Leon.

– Recomendo as torradinhas amanteigadas com Nutella, estão muito boas! – Leon colocou uma torradinha inteira na boca e começou a mastigar, ri da sua atitude.

– Você ligou para seus amigos? A festa será esse sábado, não é? – Perguntei pegando um pedacinho do pão e passando um pouco de doce em cima. Comi um pedaço e o fitei.

– Sim, todos confirmaram – Leon sorriu – Meus amigos estão de férias, aqui no Rio e amam uma festa, não faltariam nunca.

– Vamos ter uma festa? – Lara falou sorridente – Amo festas.

– Eu sei, só não vai beber, por favor – Falei fitando-a. Odiava quando Lara bebia nas festas, pois ela é meio fraca com o álcool, e eu sempre tinha que cuidar dela quando chegávamos em casa, e é claro, no outro dia também, pois a ressaca dela era insuportável.

Lembro que um dia fomos passar um final de semana na casa de praia de uns amigos nossos, tinha algumas bebidas e Lara bebeu loucamente, perdi as contas de quantas vezes ela abriu garrafas e latinhas de cerveja e cachaça. No final, ela tirou a blusa e o sutiã, tive que levá-la para dentro do quarto e colocá-la no chuveiro, com uma água bem fria caindo sob sua cabeça. E para completar, ela ainda vomitou em mim, foi horrível.

– Só um pouquinho vai – Ela fez bico, Leon nos observava calado.

– Você que sabe, mas eu não vou cuidar de você quando estiver morrendo pelos corredores, só avisando – Respondi e voltei a me concentrar na minha comida.

– Que péssima amiga – Lara disse rindo baixinho.

– Sou apenas cuidadosa, só isso.

Terminamos de tomar café da manhã e decidimos ir ao shopping comprar umas coisas para a decoração da nossa festa. Ainda faltavam dois dias para ela, mas já que estávamos sem fazer nada, é melhor deixar tudo organizado e sobrando tempo.

Chamamos um taxi e seguimos para o Barra Shopping, já que ele era o maior shopping daqui do Rio e da América Latina. Acreditam? É impossível andar nele inteiro em apenas um dia, mas tentaríamos pelo menos a metade.

Leon’s POV

Eu não estava mais aguentando aquela amiga da Violetta, sério, que garota mala! Se não fosse por ela, nós dois estaríamos com aquela casa inteira apenas para a gente. Mas não, sempre tem alguém para atrapalhar nossos planos.

Viemos para o shopping perto daqui de casa e ela simplesmente deu palpite em tudo que pensávamos em comprar e até depois da compra finalizada. Tudo para ela estava simples demais, brega demais, ultrapassado demais, meu Deus! Estava com vontade de ir na Ponte Rio-Niterói e jogá-la lá de cima.

– Meus pés estão doendo – Violetta reclamou e ajeitou um pouco as sacolas pesadas em seus braços. Havíamos comprado tudo, eu estava com a maioria das sacolas é claro, mas mesmo assim não poderia levar tudo, então as meninas estavam ajudando.

– Vamos chamar um taxi e quando chegarmos em casa, vou preparar uma comidinha bem especial para o nosso jantar – Falei e depositei um selinho rápido nos lábios de Violetta, que sorriu delicadamente.

Pegamos um taxi e dentro de dez minutos já estávamos em casa, já que era bem perto do shopping ao qual estávamos. Largamos todos os pacotes na sala de estar e as duas seguiram para tomar um banho, enquanto eu fui para a cozinha preparar nosso jantar.

Cozinhei uma lasanha bolonhesa, a favorita de Violetta – é claro que eu havia perguntando quais eram os pratos favoritos dela, já que eu sabia cozinhar, queria agradá-la sempre -, preparei um suco de uva, porque Lara não tomava refrigerante, até nisso aquela garota era um porre.

Deixei a mesa toda arrumada e fiquei esperando elas para comer.

*

Tivemos um jantar agradável, na medida do possível, é claro, porque Lara havia feito o favor de ficar reclamando a refeição inteira o quanto lasanha engordava. Se ela não queria comer aquilo, levantasse aquela bundinha da cadeira e fosse preparar uma salada sem graça para encher o seu estomago. Sinceramente, não mereço e nem quero ouvir aquela palhaçada toda.

Depois do jantar, ela subiu para o quarto e eu e Violetta ficamos deitados no sofá, assistindo a novela que passava na televisão. Era muito bom estar assim com ela, já que aqueles momentos íntimos estavam ficando cada vez mais reduzidos.

O celular de Violetta começou a vibrar no seu colo e ela bufou após olhar o nome do contato do visor.

– Quem é? – Perguntei curioso. Violetta sentou-se no sofá e me olhou.

– Esmeralda, a secretária e acho que nova namorada do meu pai – Ela respondeu.

– Não vai atender?

– Vou, pode ser alguma coisa com o meu pai – Ela respondeu e em seguida levou o celular ao ouvido.

No começo, a conversa me pareceu bastante simples, mas aos poucos a expressão de Violetta foi mudando e pude perceber que lágrimas começavam a rolar pelo seu rosto. Eu estava preocupado demais com ela, observei que Lara havia descido e se sentado no outro sofá, olhando para Violetta também. Resolvi ignorá-la.

Depois de muita impaciência da minha parte, Violetta desligou a ligação e caiu em meus braços, chorando compulsivamente.

– Violetta, pelo amor de Deus, o que está acontecendo? – Perguntei ainda abraçado com ela, afagando os seus cabelos.

– Meu pai teve um AVC, Leon, um AVC! – Violetta fungou e eu a abracei com mais força – Ele está numa sala de cirurgia agora e eu não posso nem vê-lo tão cedo!

– Calma, tudo vai dar certo, fica calma... – Tentava de alguma maneira acalmar Violetta, uma tentativa um tanto falha, já que não existe conformação numa situação dessas. Mas eu precisava arranjar alguma forma de fazê-la ficar melhor, isso era uma obrigação para mim.