Trust escrita por Marimachan


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bem... Não tenho mais nada a dizer. Então, boa leitura! ;)



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Seus olhos se abriram e novamente a única coisa que ele conseguiu enxergar fora um ponto de luz que vinha da fresta em cima de sua cabeça. Um único ponto que deixava claro o quanto ele estava afastado de todo o mundo lá fora.

Já haviam se passado três dias. Seu corpo já sentia o efeito de ficar sem comer por todo aquele tempo e a desidratação de suas células já dava sinais de vida. Um único copo de água por dia nunca seria o suficiente para o corpo de um humano se manter forte e normal. E ele sentia tudo isso em sua pele.

O garoto fez um enorme esforço para se sentar, inclinando sua cabeça e recostando a mesma à parede atrás de si. Fechou os olhos. Torceu para que aquela dor de cabeça insuportável desaparecesse.

Como diabos ele foi parar naquela situação? Ele já havia superado o nível de força daquele homem há muito tempo. Como deixara ser capturado tão facilmente assim? Ridículo.

Abriu os olhos, novamente encarando a pequena fresta de luz que entrava no cômodo.

Não...

Tivera um motivo. Não ser capturado naquele momento era o que menos importava. Existiam outras prioridades antes disso. Foi por ela. Unicamente por ela que ele havia permitido tal feito para a marinha. Será que ela estava bem? Confiava em seu avô, mas ainda assim...

Como será que estavam todos? Será que haviam conseguido fugir todos juntos ou mais alguém havia sido capturado no meio daquela confusão? Só de pensar em algo assim, sua alma se inquietava por inteiro. Não conseguiria suportar se alguma coisa houvesse acontecido com algum de seus nakamas. Ele não havia treinado dois anos inteiros para perdê-los.

Droga.

Talvez se ele tivesse a tirado dali antes, não precisasse ter que fazer aquilo e sairiam todos em segurança. Agora ele estava preso em um navio de guerra da marinha sabe-se lá Deus onde, enquanto não fazia ideia de onde e como estavam seus companheiros.

Três dias atrás, em alguma ilha do Novo Mundo.

Estava uma verdadeira confusão.

As pessoas corriam de um lado para outro fugindo do meio daquela batalha. Temiam por suas vidas e com razão. A marinha atacava assiduamente os Chapéus de Palha. Finalmente havia os encontrado e não perderam a oportunidade de tentar uma captura do bando.

Com a notícia de que a Aliança Pirata entre Law e os Mugiwaras havia derrotado Doflamingo, o governo não poderia deixá-los de lado. O bando estava tomando renome e poder muito rapidamente e aquilo estava se tornando perigoso ao domínio absoluto do GM em relação ao resto do mundo. Tinham que tomar alguma atitude e fora o que fizeram. Mandaram 10 navios de guerra para a ilha que seria o próximo destino do bando após Zou, todos comandados pelos 10 vice-almirantes mais fortes da Marinha, inclusive Garp. Seria praticamente um navio para cada Mugiwara. Não precisavam capturar todos, tinham consciência de que capturando o capitão não precisavam fazer mais nada. O bando se despedaçaria por conta própria.

Ao menos era como pensavam.

Mesmo com todos aqueles marinheiros atacando, os Mugiwaras estavam levando vantagem sobre a Marinha. Já haviam derrotado 100.000 tritões alguns meses atrás, o que seria algumas centenas de marinheiros? No entanto, estes marinheiros estavam sendo comandados por outros de um nível muito acima e quando finalmente chegaram aos vice-almirantes, as coisas se tornaram um pouco mais difíceis. Dos dez, seis já haviam sido derrotados pelo bando em conjunto. Porém, com toda a força que necessitaram para derrotar todos aqueles marinheiros e mais seis vice-almirantes, todos já estavam cansados e a luta permanecia acirrada.

Zoro, Sanji e Luffy enfrentavam três dos quatro que sobraram e havia um único vice-almirante, Haruma Isaki, observando tudo. Usopp, Brook, Robin e Franky lutavam contra alguns marinheiros que persistiram à luta e se levantaram mais uma vez contra os piratas; enquanto isso, Chopper estava com Nami em um canto. A ruiva havia sido atingida por um tiro de má fé dado por trás por um dos inimigos. O grande problema era que o médico não tinha todo o material necessário para os primeiros socorros ali, eles estavam exatamente reabastecendo o Sunny quando foram atacados e não dera tempo do mesmo comprar os pertences de seu costumeiro quite.

O que ele faria? Não podia deixar Nami ali sozinha, exposta ao ataque dos marinheiros, mas também não podia levá-la até a clínica próxima dali sem que os ferimentos da navegadora piorassem. Chopper estava sem opções naquele momento.

Vendo a dificuldade do médico, Usopp atirara uma pop green em alguns marinheiros que vinham em sua direção e correu para próximo dos dois amigos.

― Chopper, vá até lá. Eu fico aqui! – Usopp se pusera de frente à amiga, pronto para defendê-la de quem quisesse atacá-la.

― Hai! Obrigada, Usopp! – Chopper agradecera confiando Nami ao amigo e então correra em direção à clínica.

― Aguenta aí, Nami. Nós já vamos acabar com isso e sair daqui! – Ele prometeu firme.

Nami sorriu.

― Hai... – Apenas concordou com sua voz fraca, mas audível para Usopp que estava bem perto.

A ruiva estava sentada recostada à parede de uma das casas localizadas na rua. Sua mão direita pressionava o ferimento no ombro esquerdo, tentando conter o sangue que não parava de jorrar. A dor era presente, mas não fazia com que tirasse os olhos de seus companheiros que lutavam com todas as suas forças restantes contra os vice-almirantes. Luffy continuava desviando de todos os golpes de Garp, tentando convencê-lo a parar com aquilo. Não queria lutar contra seu avô.

Nami sorriu mais uma vez vendo os dois interagindo. Luffy desviando e Garp gritando com ele, dando todas as broncas possíveis por ter se tornado um pirata famoso e obrigá-lo a lutar contra seu próprio neto.

Era até engraçado ver a “luta” dos dois. Luffy era inacreditavelmente diferente de qualquer outro ser humano que já conhecera.

Se não fosse por aquele garoto idiota, provavelmente não estaria ali, estirada ao chão, sangrando. Mas se não fosse por ele também, possivelmente estaria ainda aprisionada à Arlong, com a vida de todos os entes queridos presa junto a ela. Devia sua vida e a vida de todos aqueles que ela amava. Nunca pensaria duas vezes caso um dia precisasse dar sua vida pela dele ou por algum deles. Amava os Chapéus de Palha, amava ao Chapéu de Palha e há algumas semanas percebera que amava muito mais do que imaginava.

Nami permanecia perdida em seus pensamentos, quando três marinheiros armados vieram em sua direção. Usopp conseguiu desviar dos tiros com seu Kenbunshoku, mas precisara se distanciar de Nami para protegê-la dos ataques. A ruiva despertou de seu devaneio com a situação e chamou por Usopp, preocupada. No entanto, suspirou aliviada por ver que ele se saía bem lutando contra os inimigos. Ele com certeza estava em outro nível de força depois dos dois anos de treinamento.

Sorriu com o pensamento e distraída com a luta não percebeu o homem que se aproximara de si. Um grito estridente deixou a garganta da navegadora assim que uma dor trucidante atingiu seu ombro ferido ao sentir as mãos masculinas apertarem com força o local, levantando-a forçadamente do chão.

― Nami! – Usopp gritara quando enfim viu que Haruma a segurava firme contra seu corpo e tinha uma espada contra o pescoço da garota.

Automaticamente todos os Mugiwaras olharam em direção ao grito de Usopp.

― Nami! – Luffy desviava de mais um golpe de Garp, já indo em direção à ruiva mantida de refém.

― Entregue-se, Chapéu de Palha! E sua navegadora poderá sair viva dessa. – O homem sorriu maldoso.

― Desgraçado! Solte ela! – O capitão não dera ouvidos a uma única palavra do marinheiro e continuara correndo em direção a eles, quando sentiu alguém segurá-lo. – Zoro, o que...

― Não faça nada estúpido. Ele está com uma espada muito bem afiada na garganta dela. – O espadachim, que já havia derrotado seu oponente, alertou sério, fazendo Luffy se aquietar por um momento.

Sanji deu um último golpe no vice-almirante contra quem lutava e então seguiu para junto de Luffy e Zoro, que permaneciam parados. Logo os outros Mugiwaras se juntavam aos três, inclusive Chopper que havia acabado de chegar da clínica. Estavam todos lado à lado.

― Deixe a Nami-san em paz, seu maldito! – Sanji vociferou de onde estava.

― É muito simples! Entreguem-me o capitão de vocês e ela sai livre.

― Nunca! – Todo o bando, inclusive Nami gritaram em uníssono.

― Antes disso, nós acabamos com todos vocês. – Zoro já colocava sua Wado Ichimonji na boca, ignorando o alerta que ele próprio havia feito ao capitão.

Todos estavam prontos para atacar, mesmo receosos pela vida de Nami, tinham que agir de alguma forma. No entanto, Luffy deu um passo à frente e colocou seu braço esquerdo em frente à Sanji e Zoro que eram os mais próximos. O garoto tinha sua cabeça abaixada e seus olhos escondidos sob o chapéu.

― Eu vou com vocês. – Disse firme direcionado ao homem que prendia Nami.

― Naniiiii?! – Todos, exceto Nami que ficara em choque, gritaram surpresos pela frase do capitão.

― Solte-a. – Ele exigiu dando seus primeiros passos em direção ao marinheiro e sua navegadora.

― Você está brincando, não é Luffy?! – Usopp bradou atordoado, mas sua reposta fora Luffy caminhando em frente.

― Não há outro jeito, há? – Seu timbre de voz era baixo e de certa forma sombrio, embora pudesse ser ouvido por todos os presentes. Garp observava tudo atentamente, tentando desvendar os pensamentos de seu neto. – Não impeçam. – Ele pediu firme, fazendo todos engolirem a saliva com a situação em que se encontravam. Aquilo fora claramente uma ordem.

― Luffy... – Nami tinha seus olhos já lacrimejando. – Não faça isso... – Ela sussurrou quando o capitão já estava próximo o bastante para ouvi-la.

Luffy estendera suas mãos, uma ao lado da outra demonstrando que já podiam prendê-lo se quisessem.

― Agora solte-a. – Exigiu novamente. O marinheiro riu alto, empurrando Nami para Garp, que a segurou, surpreso.

― Ora, enquanto você não estiver aprisionado com Kairouseki dentro de uma cela daquele navio. – Apontou para o navio que comandava. – Ela não estará livre. Assim que isso acontecer, ela será libertada. Estará com seu avô, então não se preocupe. Afinal... Você confia nele, certo?

Luffy encarou por um momento seu avô que tinha a ruiva segura em suas mãos. Nesse rápido olhar uma conexão entre ele e a garota fora feita. Seus olhos estavam fixos nas duas amêndoas marejadas da ruiva. Nami percebeu a confiança que ele passava naquele olhar instantaneamente.

― Certo, trato feito. – Novamente o capitão pirata estendera suas mãos para que seus punhos recebessem as algemas.

E assim foi feito. Isaki colocou as algemas de Kairouseki no moreno, o encaminhando assim para o navio.

― Luffy! Não faça isso! – A ruiva se debatia contra Garp, que a segurava firme. – Mina, façam alguma coisa! – Ela gritava para seus nakamas que permaneciam parados no mesmo lugar. A raiva e frustração eram visíveis em cada punho fechado e cabeça abaixada. – Pessoal...

Aos poucos Nami fora parando de se debater, sentindo o sangue pulsar mais forte e jorrar ainda mais de sua ferida, as lágrimas se misturavam ao sangue que também descia pelas feridas em seu rosto. Luffy estava passando por ela e seu avô naquele momento e então ela pôde perceber um sorriso surgir nos lábios do capitão. Um sorriso direcionado exatamente a ela.

― Você confia em seu capitão, Gata Ladra, Nami? – Garp perguntou baixo em meio a um sorriso. – Porque parece que ele confia o bastante à vocês.

Fora ali que ela compreendera exatamente tudo. Naquele momento, Luffy confiava a eles sua vida.

Hoje, mar do Novo Mundo.

Suspirou. Encarou o chão.

Precisava dar um jeito de sair dali e adiantar o lado de seus nakamas. Não chegara tão longe para ser executado pela marinha daquela forma.

O som de ferro enferrujado se movendo pôde ser ouvido, e a luz excessiva que entrara no cômodo fizera os olhos de Luffy escurecerem.

― Em algumas horas chegaremos ao Quartel General, Mugiwara. E então você poderá dar adeus a sua inútil e ridícula vida. – O vice-almirante avisou. Luffy sorriu.

― Inútil? – Ele gargalhou. – Com certeza foi a inutilidade mais divertida que poderia ter desejado. – O sorriso voltara a reinar em seu rosto.

― Ainda não entendeu que você está prestes a ser executado, garoto? – O marinheiro questionou irritado pela atitude do pirata. – Tudo o que você viveu até aqui foi inútil! Você não chegou a lugar algum. Apenas apressou sua morte!

― Isso não acabou aqui... Ainda não sou o Rei dos Piratas! – Ele continuou sorrindo, se divertindo com as palavras de Haruma.

Não foi preciso mais nada para que o marinheiro saísse dali como um furacão. A atitude irresponsável e ridícula daquele garoto o tirava do sério.

A escuridão voltara a reinar no ambiente.

Será que estavam muito longe dali? Será que Nami já havia se recuperado do ferimento?

Com certeza. Chopper sabia cuidar dos ferimentos de todos como nenhum outro médico saberia. Esperava que todos estivessem bem, embora soubesse que não demoraria muito para reencontrá-los.

Seu devaneio o deixou assim que pôde ouvir tiros de canhão e passos apressados e fundos no deque do navio acima dele.

Luffy sorriu.

Chegaram mais cedo do que pensara que chegariam.

―X―X―X―X―X―

― Vice-almirante, Haruma! Eles estão nos atacando por todos os lados! O que fazemos? – Um dos marinheiros gritou para o chefe que observava de cima, próximo ao leme, o tumultuo que se formava em seu navio.

― Ataquem de volta, idiotas! Não permitam que eles cheguem às celas! – Ele ordenou descendo para o deque.

Os marinheiros eram derrotados rapidamente por Zoro e Sanji que já invadiam o navio. Usopp atirava com o canhão na proa do Sunny; Nami permanecia agarrada às cordas que ligavam as velas ao deque do navio, observando todo o navio de guerra do oponente com o binóculo, tentava encontrar janelas no mesmo que levassem às celas; Robin se encontrava na beirada do Sunny utilizando seu poder nos marinheiros dali mesmo; Chopper e Brook invadiram o navio também lutando contra os marinheiros; Franky permanecia à bordo do Sunny, preparando o Mini Merry para ele e Nami poderem utilizá-lo assim que ela encontrasse alguma abertura para invadir diretamente o último andar do navio de guerra.

― Franky! – Ela desceu das cordas, correndo em direção ao sistema de docas. – Vamos!

― Suuuuuuper! – Franky pulou dentro do Mini Merry fazendo sua pose característica, caindo sentado ao lado de Nami.

A doca foi aberta e então o pequeno barco pôde sair para o mar.

― Trouxe as cordas? – A navegadora perguntara.

― Sim e estou pronto para quebrar tudo! Au!

― Ótimo. Vamos! – E então colocou o Mini Merry na direção desejada.

―X―X―X―X―X―

Luffy permanecia escutando todo o barulho que a confusão lá em cima estava causando, por mais que estivesse dois andares abaixo do deque onde tudo acontecia, era possível ouvir claramente toda a baderna.

Se ele se concentrasse em sua habilidade, podia ouvir perfeitamente os gritos desesperados dos marinheiros caindo ao mar; o canhão do Sunny comandado por Usopp; o tilintar de espadas; o que ele achava serem as pernas gigantes produzidas por Robin batendo contra a madeira do navio; Sanji surtando com as poucas marinheiras que haviam na batalha; o Quinte Tierce Fantasia de Brook; Chopper com seu Kung Fu Point... Mas... Faltavam dois!

Onde estavam Nami e Franky? Não ouvia nada que os lembrasse. Será que...?

Um estrondo alto tirara Luffy de sua concentração ao mesmo tempo em que viu a pesada porta de ferro ser destroçada.

― Suuuuuper! O encontrei, Oniichan!

O capitão assistira Franky entrando no cômodo enquanto tossia forte por conta da poeira levantada pela explosão.

― Luffy! – Nami não esperou mais um segundo para correr até o moreninho e abraçá-lo.

O garoto fora pego de surpresa, mas logo retribuíra o abraço.

― Seu idiota! Nunca mais faça isso! – Ela agora gritava com o pirata que tinha sua mão sobre a cabeça sentindo emocionalmente a dor que o soco da navegadora havia causado.

― Oe, Nami! Eu já estou acabado o bastante para você querer terminar de acabar comigo. – Ele resmungou emburrado e só então a ruiva percebera o estado em que seu capitão se encontrava.

Ele parecia bastante fraco, suas roupas estavam sujas pelo sangue ainda das batalhas na ilha e ele permanecia algemado. Provavelmente Haruma não deve ter pegado leve com ele depois que o trouxera para aquele navio, não parecia ser do estilo de marinheiro que perderia a oportunidade de torturar e fazer o quem bem entendesse com um pirata como Luffy. Um aperto surgira em seu peito, por um momento ela se amaldiçoou por ter batido nele. Levara sua mão à boca com lágrimas nos olhos.

― D-desculpa... Eu sinto muito! Não deveria ter feito isso. – Ela permanecia indignada consigo mesma, enquanto algumas lágrimas solitárias desciam de seus olhos.

Ele sorriu abertamente, tentando reverter a situação em que deixara sua navegadora.

― Também não é pra tanto. Estou vivo não estou? – Luffy se apoiara no chão com intenção de levantar, mas sua força era totalmente anulada pelas algemas. Isso o fez cambalear e se desequilibrar quando tentou pôr-se de pé. Não caíra pelo fato de Nami o apoiar sobre seu ombro. – Obrigado. – O moreninho sorriu novamente, mas agora um sorriso fraco.

― Cara, você está péssimo! Precisamos levá-lo para o navio para que Chopper cuide dele, Onii-chan. – Franky alertara, já se preocupando com o estado do amigo.

Nami concordou em um meneio de cabeça e pôs-se a caminhar para fora da cela, ajudando Luffy a acompanhá-la.

― Precisamos da chave das algemas, Franky. Faz alguma ideia de onde estão? – Ela encarou o ciborgue, aflita. Este negara.

― Está com Haruma... – Luffy avisou com sua voz falha. Só o esforço de se manter em pé estava tirando toda e qualquer energia do garoto que ainda restara daqueles três dias.

― Certo. Eu ajudo vocês a chagarem no Mini Merry e você leve-o para o Sunny, Nami. Aproveite que os marinheiros estão todos distraídos com o ataque e não vão perceber vocês indo em direção ao sistema de docas. Depois eu vou lá em cima e ajudo a pegar a chave.

― Hai! Vamos então!

E dessa forma foi feito.

Nami levava Luffy no Mini Merry de volta para o Sunny, torcendo para que ninguém os percebesse ali. Franky, depois de ajudá-los, fora para o deque do navio de guerra comunicar aos companheiros os fatos e ajudá-los a conseguir a chave das algemas do capitão.

Uma batalha feroz se iniciara entre Zoro e Haruma, enquanto Sanji tratava de inutilizar o leme do navio para que quando chegasse a hora de fugir os marinheiros não tivessem como segui-los. A maioria dos marinheiros já estava caída e os poucos que restaram, Usopp – que agora também lutava no navio –, Chopper e Brook davam conta. Robin passou a observar tudo atentamente buscando a melhor forma de ajudá-los e assim que viu o Mini Merry vindo em direção ao Sunny soube como.

A arqueóloga fez nascer duas novas pernas exatamente na direção em que se encontravam Nami e Luffy no mar. Dessa forma atacava os marinheiros e impedia que qualquer um deles visse seus companheiros. Vendo a atitude da amiga, Nami sorriu agradecida. Permaneceu guiando o pequeno barco em direção ao sistema de docas do Thousand Sunny.

Percebendo a forma que os Mugiwaras atacavam agora, Haruma entendeu que alguma coisa estava acontecendo.

― Kanjik! – Gritou para um marinheiro próximo a ele. – Vá até ao último andar e veja o que está acontecendo por lá! Agora mesmo! – Ordenou.

“Maldito. Ele percebeu.”. O espadachim precisava acabar com aquilo logo.

― Robin! Dê uma ajuda aqui! – O moreno chamou-a. A mesma o encarou e logo percebeu o que ele lhe pedia. Com sua Hana Hana no Mi poderia facilmente tomar a chave do poder de Haruma. O problema é que ela não sabia onde ele havia a guardado. Percebendo o impasse, Zoro xingou mentalmente o marinheiro mais uma vez.

― Vice-almirante Haruma! – Kanjik voltava ao deque, sua expressão era assustada. – O Chapéu de Palha não está mais lá! Está tudo destruído e os dois marinheiros que ficaram de vigia estão inconscientes!

Logo Haruma compreendeu tudo. Faltava uma Mugiwara ali. Aquela maldita mulher. Precisava dar a volta por cima.

― É isso que procuram? – Ele pegou a chave, balançando-a no ar, chamando a atenção de todos no navio para si. – Pois então tentem pegá-la!

Não!”, Zoro tinha uma expressão aflita percebendo o que ele iria fazer.

Em um movimento veloz, o vice-almirante lançou a chave em direção ao mar e soltou uma gargalhada assim que a viu cair no mesmo. O desespero entre os Mugiwaras não poderia ser maior.

― Ora, seu desgraçado! – Zoro avançara em direção ao marinheiro que foi ágil e desviou, atacando as pernas gigantes de Robin com um bastão. Logo a morena caiu ajoelhada na beira do Sunny, sentindo suas forças se esvaírem, provavelmente por conta da pedra anuladora de Akuma no Mis na ponta do bastão utilizado por Haruma.

A lógica do marinheiro fora rápida. Se ela não estava ali e seu capitão também não, só havia um único lugar por onde entrar e sair sem ser notado. E como previra, lá estavam os dois.

Nami se desesperou assim que percebeu que haviam descoberto ela e Luffy. Não tinham muito que fazer ali. Luffy estava encostado à borda do Mini Merry ainda muito fraco para qualquer tipo de luta e ela não tinha condições suficientes naquela situação para tomar qualquer tipo de atitude. Precisava manter o barco navegando em direção ao Sunny e proteger Luffy de qualquer ataque.

Proteger Luffy... Nunca pensou que um dia pensaria numa frase como essa. Geralmente era ele quem protegia todo mundo...

A ruiva fora tirada de sua distração momentânea pelo tiro ouvido e percebendo que era em sua direção Nami estacalou. Não tinha como fazer qualquer coisa.

Fora tudo muito rápido.

Ela ouviu o projétil deixar a arma de fogo e fechou os olhos, esperando pelo pior. Mas a dor não viera.

Ao abrir seus olhos, pasma com o que havia acontecido entendera exatamente tudo. A sombra de seu capitão a escondia do sol escaldante e então pôde sentir o peso do corpo do mesmo caindo em seus braços. As pupilas da navegadora se dilataram, enquanto ouvia as vozes de seus companheiros chamando pelo nome do capitão.

“Kairouseki”

― Luffy... – Ela chamara sussurrando, sentindo o sangue de seu capitão manchar suas mãos, postas às costas do mesmo, mas ele não respondera. Estava sem força alguma para dizer qualquer coisa. Na verdade, não era somente sua força física que inexistia naquele momento.

Sua vida estava se esvaindo aos poucos e aquilo afligia a ruiva de forma que não conseguia ter qualquer tipo de reação.

No navio, Zoro atacara furiosamente o vice-almirante, não dando trégua para o mesmo se defender. Como se já não bastasse ter ameaçado Nami de morte, capturado Luffy, jogado a chave das algemas no mar, agora atirara em seu capitão. Aquele cara já havia passado do limite dos limites.

― Nami! – Chopper gritara com lágrimas nos olhos, voltando ao Sunny junto de Usopp e Brook e em seguida pulando no Mini Merry. – Precisamos levá-lo para cima agora!

O médico alertava, mas a navegadora não parecia ouvi-lo. Estava em choque.

― Nami! – Gritou mais uma vez. – Por favor, Nami! Precisamos levá-lo agora ou ele irá morrer! – A rena implorava já chorando, enquanto tomava Luffy em seus braços, deixando assim a navegadora livre para guiar o barco.

Aquelas palavras pareceram despertar a ruiva, fazendo-a voltar em si e levar o Mini Merry a todo vapor em direção ao navio pirata.

Zoro derrotara Haruma em seu ataque de fúria, Sanji já cumprira sua missão e agora voltava junto de Franky para o Sunny. Logo o ciborgue correu até aos andares inferiores do navio fechando o sistema de docas assim que Nami chegara com Chopper e Luffy baleado no mesmo e em seguida preparando um Coup de Burst. Precisavam sair dali o mais rápido possível para cuidarem do capitão em paz.

― Luffy! Fique com a gente! Aguente firme, por favor! – A rena corria chorando em direção à enfermaria, precisava arrancar aquela bala urgentemente do corpo do moreno, quando Zoro o fez parar de correr.

― Oe! Como que vai fazer isso, Chopper? – Zoro chamava a atenção de todos. – Ele está algemado também com Kairouseki!

De fato, a cirurgia muito possivelmente seria um desastre se aquelas algemas continuassem a “sugar” a força de Luffy.

― É verdade! O que faremos? – Usopp gritava desesperado. – Não temos a chave!

― Oe, marimo de merda! Você não pode simplesmente cortá-las?!

Zoro enfiou a espada na grama do deque, irritado e frustrado. Sussurrou.

― Não. – Tinha a cabeça baixa e segurava a espada com força. – Ninguém além de Dracule Mihawk consegue cortar Kairouseki.

― Não... – Nami sussurrava baixinho, ajoelhada com Robin de sentada no chão à sua beira.

― Nós temos que encontrar outra forma! Será que outra chave não resolveria? Não posso operá-lo enquanto estiver algemado! – Chopper tentava estancar o sangue que jorrava do ferimento no garoto inconsciente.

― Essa... Serve? – Robin finalmente conseguira forças para se pronunciar e levantou uma chave acinzentada, todos a olharam surpresos.

― Como... Como conseguiu pegá-la?! – Nami se levantou tomando a chave da mão da arqueóloga e correu em direção a Chopper que tratou de abrir as algemas do capitão, novamente o carregando imediatamente para a enfermaria.

― Quando Haruma jogou a chave, ele não percebeu, mas ela caiu bem próxima ao casco do navio. Assim que ela caiu na água, com muito esforço consegui pegá-la antes que afundasse. – A morena explicou sorrindo. Estava agora deitada no chão. Estar exposta antes ao kairouseki e depois à água do mar fez com que ela ficasse fraca.

― Você é incrível, Robin! – Nami se jogou nos braços da amiga, chorando num misto de felicidade e alívio. Robin sorriu.

Sentia como se um caminhão tivesse a atropelado, mas ao menos conseguira ajudar consideravelmente a salvar a vida de seu capitão. Aquilo compensava qualquer fraqueza ou dor.

― Ainda dependemos das habilidades do Chopper. – A arqueóloga alertara séria.

― Hum! – A ruiva acenou positivamente, enxugando as lágrimas.

“Fique bem, Luffy... Por favor...”

―X―X―X―X―

Ouvia bipes irritantes de aparelhos e sentia seu corpo dolorido. Nem abrira os olhos ainda, mas podia perceber claramente que estava completamente enfaixado.

Sorriu.

Então eles haviam realmente conseguido. Por um momento todas as últimas cenas de que lembrava vieram à mente. A batalha na ilha, sua captura, a cela escura, Nami e Franky entrando após a explosão no cômodo em que estava preso, Nami guiando o Mini Merry, Haruma atirando e ele tirando forças de onde não tinha para entrar na frente de sua navegadora e protegê-la do tiro.

Naquele momento não pensara nas consequências que aquela bala lhe causaria considerando que estava algemado com Kairouseki e seus poderes elásticos não funcionavam. Tudo o que viera em sua cabeça fora proteger sua companheira. Proteger sua navegadora. Proteger sua Nami.

Aquilo era verdadeiramente estranho. Demorara algum tempo para compreender o que significava aqueles sentimentos. Até que um dia lembrara-se da Imperatriz Boa Hancock. Ela vivia dizendo que não parava de pensar nele um segundo, que queria se casar com ele, formar uma família... Que era completamente apaixonada por ele e sabia disso porque toda vez que ele chegava perto, seu coração batia forte e a vontade de se jogar em seus braços era fatal.

E foi então que compreendera que o que estava sentindo por Nami era o mesmo que Hancock sentia por ele. Aquilo o assustara de início, já que ele não fazia ideia de como agir com relação àqueles sentimentos estranhos. Já havia sido muito conseguir compreender tudo aquilo para alguém como Luffy, imagina descobrir o que fazer diante daquela situação. Foi exatamente por isso que ele resolveu deixar tudo como estava.

O capitão despertou de seu devaneio assim que sentira algo se movendo e só então percebeu que existia um peso a mais sobre seu braço direito.

Abriu os olhos.

Na mesma hora compreendeu o que era aquele peso. Ou melhor, quem era. Nami tinha sua cabeça deitada sobre seus braços cruzados, dos quais o esquerdo segurava firme a mão do moreno.

Era tarde da noite, madrugada, na verdade.

Fazia quatro dias que Luffy permanecia desacordado, mas Chopper tranquilizava todos dizendo que ele apenas estava dormindo por conta de todos os dias cansativos e difíceis que havia passado desde a batalha contra a marinha na Ilha. No entanto, ele estava se recuperando muito bem e assim que seu corpo descansasse o suficiente, ele acordaria.

Nesses dias, os Mugiwaras faziam escala para permanecerem acordados com o capitão na enfermaria, caso qualquer emergência surgisse. Aquela noite era a vez de Nami. Acontece que a garota acabou adormecendo ali mesmo.

Não dormia bem desde o dia que Luffy fora capturado. A culpa e aflição que lhe tomavam não permitiam que tivesse um sono descente há muitos dias.

Mais uma vez, Luffy sorrira.

Um alívio gigantesco o fizera suspirar profundamente. No final das contas havia ficado tudo bem com ela.

Sentiu mais uma vez a garota se mexer e então pôde vê-la despertar preguiçosamente. A ruiva abriu os olhos cansados ainda sem levantar a cabeça.

― Eu dormi... Droga. – Ela amaldiçoou a si mesma em um tom de voz baixo.

― Você parecia tão tranquila dormindo, não quis te acordar. – O moreno disse ainda sorrindo, fazendo a navegadora levantar a cabeça bruscamente, encarando os olhos grandes abertos e o sorriso divertido nos lábios dele.

― Luffy! Você acordou! – Ela exclamou feliz se jogando sobre o corpo do garoto, mais uma vez o abraçando forte.

Luffy fez uma careta ao sentir suas feridas pressionadas e um gemido de dor involuntário deixou seus lábios. Automaticamente a ruiva saiu de cima dele e baixou a cabeça envergonhada. Ele se sentou na cama hospitalar com certo esforço, encostando-se à parede atrás de si.

― Desculpa. – Ela pediu, fazendo-o rir.

― Relaxa. Fico feliz de saber que está bem. Estão todos bem? – Ele perguntou preocupado, recebendo um aceno afirmativo da garota. – Yokatta... – Ele sussurrou aliviado, fechando os olhos, satisfeito.

Nami sorriu.

― Eu vou chamá-los. Ficarão muito felizes ao ver que você acordou. – Ela avisou já se levantando, mas sentiu sua mão sendo puxada. Encarou-a, vendo que Luffy a segurava.

― Eles devem estar cansados também. Deixa eles dormirem. – Ele pediu tranquilo. – E também... – O moreninho encarara as mãos enlaçadas por um momento, receoso do que estava prestes a fazer.

― E também o quê? – Nami voltara a se sentar, mas agora ao lado dele na cama.

― Eu... – Sem pensar muito, para não mudar de ideia, levou rapidamente seus lábios até os de sua navegadora.

A garota ficara paralisada.

É óbvio que nunca imaginara ou previra uma atitude daquelas vindo de Luffy. Por alguns instantes não correspondera, mas logo deixou-se levar pelo beijo, fechando seus olhos e sentindo-o ser aprofundado.

Luffy a beijava, mas realmente não sabia como diabos estava fazendo aquilo. Não pensara muito antes de fazer. Assim como quando descobriu o que sentia por Nami, também descobriu o que fazer com esse sentimento de repente. Simplesmente achou que deveria fazer e fez.

Sorriu em meio ao beijo.

Bem... Só esperava que não recebesse socos e murros depois. Mas preferiu deixar esses pensamentos para serem refletidos mais tarde.

Aproveitar aquele momento parecia muito mais atraente do que pensar nas consequências daquele ato.

Depois de alguns minutos mergulhados nas milhares de sensações que invadiam a alma de ambos, se separaram sem ar. E qual a surpresa do moreninho ao ver que de forma alguma Nami iria atacá-lo.

Ao invés disso, colou sua testa na dele, ainda de olhos fechados.

― Eu fiquei com muito medo... De perder você pra eles. – Ela admitiu em um sussurro, o que mais uma vez surpreendera o capitão.

Novamente sorriu.

Em nenhum momento vacilara em sua decisão. Confiava em seus nakamas. Confiava nela.

― Achei que estaria na hora de devolver toda a confiança que vocês depositam em mim.


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Notas finais do capítulo

Comentários e críticas construtivas são muito bem-vindas para eu estar sempre melhorando o conteúdo para vocês! *-*Até a próxima! O/



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