Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 42
O que se faz com a esperança




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Kakashi recebeu a mensagem dos alunos com surpresa que depois considerou deslocada. Era previsível que eles o procurassem. Enquanto observava a caligrafia impecável de Sasuke, o Rokudaime considerou que a quantidade acumulada de trabalho pesando as pernas da escrivaninha era motivo justo para escapar do encontro. Descartou a desculpa no segundo seguinte. Duvidava que Naruto fosse simplesmente aceitar o bolo e deixá-lo na sua. Suspirou entregando os pontos. 

Contudo, ainda que Naruto aceitasse a justificativa passivamente, o sensei não se via em condições de negar a ele coisa alguma. O antigo capitão do Time Sete considerava que não ensinara nada aos alunos. Pelo contrário. Permitira que Sasuke fugisse da vila, não impediu que a Akatsuki atacasse Naruto, não foi capaz de desenvolver Sakura. O trio, por outro lado, pegou-o pela mão e o colocou onde ele agora estava. Seria apenas um gênio com potencial incompleto não fosse a sorte de tê-los como companheiros. Eles compensavam suas falhas em seus múltiplos lados. Enquanto figura paterna da família quebrada que era seu time. E enquanto figura paterna real de sua única realidade perfeita. Aiko. 

Naruto, Sakura e Sasuke formaram espontaneamente a rede de apoio que Kakashi sequer sabia que precisava para criar sua filha. Sakura era impecável, parecia ter lido todos os livros sobre crianças já escritos, havia nada que fugisse do controle da Haruno. Naruto tinha jeito com crianças e Aiko o adorava. Brigavam todo o tempo, mas ela corria para ele sempre que o via. Gastava a mesada comprando lámen de sabores inusitados para dividir com o Uzumaki. Era uma coisa dos dois. E Sasuke... Bem, esse foi uma surpresa. Ele não fazia nada de especial. Como o próprio Uchiha definira, dava guarita e segurança. Assim, Aiko o via como um porto. Era como se o farol apontasse para o Uchiha. Era seu favorito.  

Nas noites em que Sasuke estava na vila, Aiko preferia dormir no apartamento dele onde, de uma forma ríspida, era mimada pelo nii-san. Kakashi aproveitava essas oportunidades para esticar o expediente madrugada adentro e adiantar algo do interminável serviço. Compensava, assim, os dias que saia “cedo” para jantar com a filha. O relógio acima da porta apontando quinze para as nove, então, em situações passadas parecidas, indicava apenas que a noite seria longa. Mas o Hatake se levantou e pensou que se saísse naquele momento, ainda veria sua criança acordada. Partiria em no máximo uma hora de qualquer forma, pensou, o bilhete em sua mesa com horário grifado. Espreguiçou-se decidido. Estava indo. 

Então, Shikamaru bateu à porta. 

 

Kakashi quase falhou em segurar o ímpeto de socar Shikamaru quando o viu entrar no escritório com uma mensagem urgente da fronteira Norte. Um grupo de contrabandistas vindos de Suna foi interceptado e sendo um deles shinobi ainda ativo da aldeia liderada por Gaara, uma simples prisão poderia evoluir para um incidente diplomático. Não era inédito que situações daquela natureza ocorressem, mas ao Norte, sabia pelo histórico registrado que o responsável tinha canal com as outras vilas e costumava apenas pedir a autorização final do Hokage para encerrar os procedimentos de extradição. Nana era a responsável, ele lembrou, a alma sangrando enquanto lidava com a mundana burocracia. 

O problema foi resolvido, contudo, e três horas depois do previsto, Kakashi entrava na própria sala de estar. Seus alunos ainda o esperavam, sentados no chão, as costas apoiadas no sofá, as embalagens de lámen vazias empilhadas no canto. O sensei sorriu e coçou a cabeça, prevendo a acusação, que chegou antes da porta bater atrás dele. 

atrasado!!! - Naruto gritou, apontando para o professor, revoltado. Sasuke o encarou com um mal humor que rivalizaria o dos deuses pré-cataclismo. 

— Nhá, eu estava vindo quando chegou um... 

— MENTIRA! 

Não era mentira, mas Kakashi apenas riu. Algumas coisas não mudam, pensou servindo ao clichê. Tirou os sapatos, as reclamações de Naruto como trilha sonora e, contrariando a própria avaliação de que não tinha mais idade para aquilo, sentou-se no chão, escorando-se na poltrona que compunha conjunto com o sofá. Não entendia por que se sentar no piso frio quando almofadas confortáveis esperavam desocupadas, mas nem questionou. Seguiu o fluxo. 

— Aiko se comportou? - perguntou a um Sasuke ainda mal-humorado. 

— Igual sempre... - o rapaz respondeu, sem importância – Ela não pediu desculpas ao moleque lá. 

— Acho que deve ter rolado mais coisa do que ela contou – ponderou Naruto, atraindo atenção dos outros dois – A Aiko é mal-educada que nem a Nana, mas ela é meio descolada, tipo o Kakashi-sensei. Não faz o tipo dela apelar por coisa pouca. E ela quase quebrou o braço do menino, o Iruka-sensei teve que segurar ela. 

— É... fiquei sabendo disso – Kakashi assentiu, cansado – Os pais do menino me contaram. 

— Ele é 5 anos mais velho que a Aiko, os pais deviam estar envergonhados dele ter apanhado tanto – o Uchiha falou, a voz baixa evidenciando o desdém. Com um pouco de orgulho, ainda acrescentou – E ela só usou taijutsu.  

— Você é péssima influência para a Aiko, vou te proibir de vê-la – Kakashi brincou, ao que Sasuke apenas deu de ombros e Naruto riu. 

Os três, então, se calaram. O Rokudaime procurou algo para comer e se contentou com um potinho de lámen que restara. Aparentemente, uma unidade era tudo o que seus alunos estavam dispostos a compartilhar considerando o chá de cadeira que tomaram. Concentrando chakra na palma da mão, Kakashi aqueceu um pouco o caldo antes de engoli-lo quase todo de uma vez, não ligando para o sabor. Com a boca ainda cheia, percebeu que precisaria de mais uns quatro para matar a fome. 

Naruto se levantou sem avisar e, por um instante de ilusão, Kakashi pensou que o rapaz o traria mais alguns potinhos. O que o jovem colocou entre o sensei e Sasuke, entretanto, era mais apropriado. Sentando-se no vértice que faltava do triângulo, o Uzumaki distribuiu um copinho para cada e pôs-se a encarar o sensei, que por sua vez fitava a garrafa comprida com vontade reprimida de entorná-la.  

— Não sei se quero saber como vocês conseguiram isso... - Kakashi suspirou, se sentindo menos culpado do que deveria por ter introduzido os alunos ao álcool. 

— Sakura pegou com a Godaime. 

— E cadê a Sakura? 

— Você não dá folga para ela, então fazendo plantão... - Sasuke reclamou, um tom acima do que geralmente usava. 

— Ah, quer dizer que você se importa? - Naruto rebateu, voltando-se ao amigo – Achei que não ligava já que VAI EMBORA E VAI DEIXAR A SAKURA AQUI SOZINHA! 

— Naruto, fala baixo, vai acordar a Aiko – o sensei advertiu, sorrindo quando viu o rapaz tapar a própria boca com as duas mãos, no susto. O Rokudaime de curvou sobre a garrafa na bandeja e, pegando-a, começou a servi-los – A escala do hospital não passa por mim, mas vou ver se consigo uma folga para a Sakura. Ela realmente sobrecarregada. Mas o Naruto tem razão, você não devia deixá-la... Vai por mim. 

Kakashi empurrou os copos aos companheiros daquela noite e virou o conteúdo do próprio goela adentro. Sem educação, serviu-se novamente enquanto os dois rapazes ainda o fitavam preocupados. Mais uma vez ele bebeu o saquê de gole e abasteceu o copo. 

— Hey, sensei, vai com calma! - Naruto pediu, os olhos arregalados com a voracidade do homem perante o álcool. 

Kakashi sorriu. Fazia muitos anos desde que o saquê conseguira deixá-lo bêbado. 

— Se vocês não beberem, vai ser uma conversa muito chata, sabem? 

Naruto e Sasuke se entreolharam. Eles faziam muito isso ultimamente, pensou o Hokage. Como irmãos, comunicavam-se sem falar. Com as pernas cruzadas e o rosto apoiado no braço dobrado sobre os joelhos, Kakashi viu os dois virarem o copo como ele mesmo o fizera. Contudo, sem a dureza de quem está acostumado ao álcool, a careta deles provocou uma abafada gargalhada no sensei. 

— Isso ainda é muito ruim... - Naruto reclamou, mas aceitou quando seu copo foi cheio novamente. Sasuke tampouco reclamou. 

— Geralmente é pra disfarçar gosto pior. 

Kakashi tomou mais uma e seus alunos o imitaram. Ele ficou feliz que a sala estava iluminada apenas por uma fraca lâmpada amarelada no canto e pelo que entrava da Lua através da janela. O esforço colocado em dissimular qualquer coisa era bem menor quão mais escuro estivesse. 

— Acho que entendo isso... - Sasuke comentou, depois de um longo silêncio, completamente fora de timing. Naruto concordou acenando. 

A proporção não parecia justa, mas continuaram seguindo no dois para um. Para cada duas que o Hatake entornava sem esforço, seus alunos engoliam uma com careta. Repetiram a dança algumas vezes até que, mesmo ainda relativamente sóbrios, as defesas dos três ninjas começaram a baixar a um nível que eles pararam de se importar. 

— Ninguém nunca soube de vocês dois? - Naruto quis saber, fazendo Kakashi voltar-se a ele – Nem desconfiavam? 

A pergunta veio sem contexto, mas todo o ambiente já servia de conjuntura. Kakashi pensou um pouco antes de responder, entretanto. Poderia dar algum migué e esquivar-se do assunto, mas os dois à sua frente, os ninjas mais poderosos e brilhantes do mundo, estavam ali sem nem tentar disfarçar preocupação, apenas para ouvi-lo. E ajudá-lo. Pareceu covardia fugir. 

— Acho que em um momento o Sandaime descobriu, mas fingiu que não... Certamente depois da Nana fugir, ele já sabia. Mas nunca falou nada comigo.  

— Ele era bom em fingir que não sabia – Sasuke cuspiu, o álcool desinibindo-o. Naruto fechou a cara para a ofensa ao Terceiro. 

— Bem, nesse caso foi bom ele fingir, porque teríamos sido presos. Nós éramos da ANBU, não podíamos nos relacionar. 

— Então vocês se encontravam escondidos? - quis saber Naruto, animado, permitindo-se ser o adolescente que de fato era – Tipo, deixavam códigos secretos, dicas, essas coisas? 

Sasuke revirou os olhos e Kakashi riu. 

— A gente quase nunca se encontrava, Naruto. A Nana saía em missões que duravam muitos meses, às vezes quando voltava eu não estava e então ela partia em outra antes de eu chegar. Não tinha muito o que disfarçar, para ser sincero. 

— Nhá... é claro que você tinha que deixar as coisas sem graça, Kakashi-sensei! 

Na verdade, Kakashi pensou, os dois enquanto casal eram muita coisa, menos sem graça. Eles nunca sabiam se se veriam de novo, então esgotavam cada segundo juntos. Se Nana perdia a linha, tudo escalava potencialmente e a previsibilidade se esvaia. Nada era calmo, ele se sentia sempre em um vórtex, uma ansiedade incendiária que se alimentava e produzia vontade por ela. Porque, paradoxalmente ao caos, era muito fácil estar com ela. O Hatake se lembrou de quando tinha a idade dos alunos. Queria ter sido capaz de reconhecer o quanto a amava desde aquela época, por trás de toda a imaturidade dos dois. Era tão forte que resistira ao sufoco diário da tragédia, ao soterramento sob toneladas de tristeza, à pressa que ambos tinham de morrer. Podia, então, sobreviver um pouco mais? 

Do bolso do colete, o homem sacou uma pequena carteira escura. Era simples, apenas um retângulo dobrado, sem divisões internas. O kanji no couro do acessório entregava que o Hokage não era o dono original. Ele abriu e em uma das abas viu uma menina de dois anos, cabelos prateados, olhos amarelos, sorrindo suja de lama. Na outra, encontrou os mesmos cabelos prateados, os mesmos olhos amarelos.  

— A Aiko encontrou isso semana passada – Kakashi começou, entregando a carteira para que Naruto e Sasuke vissem a fotografia também - A gente tinha a idade de vocês aí... 

— Vocês já estavam juntos aqui? - Naruto perguntou, antes de repassar o objeto a Sasuke. 

— Não... A gente ganhou essa foto em um festival. Um cupom num dango.  

Os três riam e Sasuke devolveu a carteira a Kakashi. 

— No dia seguinte, a Nana saiu em uma missão suicida. Era o tipo de coisa que tinha na ANBU, na época. Eu estava no esquadrão de execução, então ficava sob ordens do Hokage. Mas havia o de inteligência, onde a hierarquia passava por um comandante antes de chegar ao Sandaime. A Nana estava nessa divisão. Esse cara a enviou para uma missão de reconhecimento, mas quando ela chegou lá, mudou o escopo. Ficou três meses infiltrada e então recebeu ordens para desativar a organização toda. O correto seria ela voltar com as informações e o meu esquadrão avançar com um plano, mas o comandante dela queria rivalizar com o Danzou e mostrar serviço. Eram mais de 150 membros na organização e ela matou todos.  

O Hatake suspirou, olhando a menina sorrindo a pedidos na foto e imaginando o terror. Nana mudou após aquela missão. Kakashi se lembrava da culpa que sentiu quando se percebeu aliviado por ela entendê-lo melhor após o massacre que executara. Notou, então, os olhos de Naruto e Sasuke pendurados nele, o ar pesado de guerra, a consciência em dois ainda meninos do que fundamentava os pilares da vila. 

— Ela quase morreu – continuou, tentando dissipar um pouco o peso do ar - Ficou semanas internada. Eu não sabia da missão, então fui ao hospital e briguei com ela por ser desleixada e ter se deixado ser atacada daquela forma. 

— KAKASHI-SENSEI! - Naruto exclamou, incrédulo.  

— Nhá, ela me xingou e jogou a cesta de frutas inteira em mim. E depois me fez comprar outra – contou, divertindo-se ao se lembrar do desespero das enfermeiras tentando acalmar Nana – Eu fui um completo idiota com ela.  

— Duvido que você consiga me superar. 

Sasuke ergueu o copo em um brinde irônico e tomou mais uma.  Não houve careta, a garganta já estava queimada o suficiente para se anestesiar. Ele simplesmente abaixou o rosto e sacudiu a cabeça. 

— É, você colocou o sarrafo bem alto mesmo – o sensei concordou, zoando o aluno. Naruto riu alto e depois tapou a boca com as mãos mais uma vez ao lembrar de Aiko dormindo. 

— Mas gritar com a namorada moribunda te ajuda a alcançar esse sarrafo, Kakashi-sensei. 

— Ela ainda não era minha namorada, então tem um desconto – o Hatake se defendeu, enquanto resolvia o problema dos copos vazios. 

— E quando ela virou sua namorada? 

— Hum...  

Kakashi não respondeu. Ele nunca pedira Nana em namoro. Um dia, sem querer, a classificou como namorada e ela arregalou os olhos surpresa. Riram. E só. Era uma história estúpida que apenas evidenciava a o vazio que fora o jovem Hatake. Incapaz de valorizar o que o salvava, nutria e tornava a vida algo mínimo acima da sobrevivência. Ele devia tê-la pedido em namoro, pensou. Seguido o rito, dado a devida importância. Não podia se permitir ter esperanças, não sobreviveria além delas, mas sob efeito do álcool, queria. Esperar e ter outra chance. Cansado, suspirou. 

— Sakura? 

A voz de Sasuke o salvou de ter que responder e o pôs imitando o aluno, encarando a porta. A maçaneta girou segundos depois, devagar, e a porca luz da sala refletiu os cabelos rosados da integrante do time que faltava. O Uchiha se levantou para receber a namorada, enquanto Naruto exclamava alegremente, os braços erguidos em boas-vindas. Kakashi sorriu para a aluna, que sorriu de volta aos companheiros. 

— Acho que esse inverno nunca vai acabar! - a Haruno reclamou, entregando a capa molhada a Sasuke – Tá muito frio! 

— Toma uma que esquenta – Naruto brincou, já trazendo um copo para a amiga, que recebeu agradecida. 

— Achei que você não ia vir... - Sasuke murmurou para a jovem, usando a própria capa de almofada para ela se sentar. Puxando a manta que Aiko deixara no sofá, jogou sobre os ombros de Sakura – Quer comer alguma coisa? 

— Já jantei no hospital. E eu não ia vir, mas Tsunade-sama me expulsou do consultório. E confiscou meus cadernos para eu não trabalhar de casa. Então, vim beber.  

Sakura virou o copo que Naruto lhe entregara com muito mais naturalidade que seus companheiros de time. Ela era realmente discípula da Godaime, pensou o atual Hokage, vendo-a servir-se mais uma vez. Sasuke não pareceu surpreso com a disposição da garota, o que ajudava a equilibrar o espanto de Naruto: 

— Sakura-chan!!! Vai com calma, dattebayo! Isso é forte, hein? 

vendo, você já tá vermelho e inchado!  

Os três riram do Uzumaki, que fechou a cara fingindo-se ofendido.  

— Do que vocês estavam falando? Se for besteira, eu vou precisar tomar mais algumas pra aturar... 

— Nah, Kakashi-sensei ia contar do lance dele com a Nana! 

Sakura se engasgou com saquê e precisou ser socorrida por Sasuke, dando tapinhas em suas costas enquanto ela tossia. Kakashi sorriu, mas puxou a garrafa para perto. Se conseguia driblar os dois rapazes, duvidada que o faria com Sakura. O gole ainda estava na garganta quando ouviu a Haruno gritar. 

— QUÊ? - quis saber Naruto olhando de Sakura para onde o dedo dela esticado apontava - QUÊÊÊ? AHHHHH!!! 

Sakura apontava para ele, Naruto apontava para ele e, quando viu os olhos de Sasuke esbugalharem, Kakashi entendeu. Estava sem máscara. Suspirando, revirou os olhos para a criancice dos alunos e sacudiu a cabeça em fingida desaprovação. Mas mesmo que não transparecesse se importar, teria que garantir o coma alcoólico dos três para que se esquecessem da noite inteira. 

— Por isso a Aiko é tão bonita! - Sakura exclamou, e foi a vez de Sasuke fazer careta. 

— Ninguém vai acreditar quando eu contar amanhã! 

— Eu ainda sou razoavelmente bom em Genjutsu, Naruto – Kakashi ameaçou, servindo os alunos. 

— Não importa, temos o Sasuke! Sempre achei que o sensei era dentuço... 

Naruto projetou os dentes para fora e eles riram do rapaz. O sensei abasteceu os copos de todos mais uma vez e brindaram ao “rosto relativamente normal” de Kakashi, nas palavras do Uzumaki. O elogio disfarçado de ofensa animou um pouco mais o grupo e o Hokage esvaziou a garrafa servindo os três, que beberam sem constrangimento enquanto o Hatake buscava uma segunda na cozinha. Do cômodo, ainda ouvia as vozes animadas do trio e, numa pontada, imaginou que Aiko acordaria a qualquer momento. Mas raramente os via tão felizes e não teve coragem de interromper. Até Sasuke ria das palhaçadas dos outros dois, a presença de Sakura por algum motivo potencializando o efeito do álcool no time. Ao voltar, foi recebido com três copos embaixo de seu nariz pedindo mais. Se a vila fosse atacada naquele momento, estavam entregues. 

— Vocês vão arranjar confusão pra mim – Kakashi riu, enchendo os copos - são menores de idade, lembram?  

— O crime de beber uma não é menor que o de beber vinte, sensei – Sakura argumentou, ao que Naruto apoiou entusiasmado – Nem pra nós, nem pro senhor! 

Era parcialmente verdade, mesmo que fosse o argumento mais descarado que a Haruno já lhe apresentada. Garantiria que eles pernoitassem ali, entretanto, apenas por precaução. A hipocrisia exigia esconder os heróis da vila em uma redoma puritana que nada condizia aos adolescentes que eram. Sem contar o trabalho que seria responder por uma contravenção tão ridícula quanto aquela. 

— Mas então, sensei... Pode desembuchar – Sakura intimou, ao que Kakashi respondeu apenas com uma dissimulada expressão de não sei do que você está falando que a fez bufar – Sensei! Você e Nana, a gente quer saber! 

— Nha... não tem nada demais. É só uma história tediosa e triste, vocês sabem... 

— Ainda não! - Naruto interrompeu, confiante e sério. Parecia que haviam atingido onde tinham mirado desde o início – Ainda não acabou pra ser triste!  

O clima mudou. A realidade os chamou e fez Sasuke baixar o rosto, Sakura murchar de imediato. Kakashi apenas mordeu o lábio, fitando um Naruto de peito cheio, exalando confiança de que tudo ficaria bem, inabalável. Sentiu inveja. Seu ceticismo vacilava perante o aluno, era assim há anos, mas não se tornava esperança. 

— Queria ter a sua fé, Naruto... 

— Eu tenho por nós dois, sensei. E a gente sempre pode contar com a Sakura-chan! Sem pressão! 

Naruto piscou para Sakura fazendo-a corar. Já meio alterada, ela escondeu o rosto no peito de Sasuke, que riu. O Uchiha bagunçou os cabelos da namorada carinhosamente e Naruto ampliou o sorriso. Mas a atmosfera já tinha virado. Aos poucos, os três voltaram-se para o sensei outra vez, os olhos carregados da preocupação de imaginar o que seria do homem se a confiança do Uzumaki não se convertesse em realidade. Kakashi queria dizer que nada mudaria, que ele matara Nana quando atravessou a mulher com a katana e que já estava de luto, aquilo era ele em luto. A verdade, entretanto, era outra e ele também sabia disso. Se não fosse, não haveria impacto em ouvir Sakura dizer que era tudo ou nada. Seria apenas apostar nada em coisa alguma. Não haveria emoção. E não era o caso ali. 

— Eu perdi a Nana quatro vezes – Kakashi começou, depois que o silêncio passou a doer, decidindo que contaria aos alunos o que eles queriam saber, sem crença de que houvesse algo de bom que pudesse sair disso – E eu achei que era definitivo em todas elas. Até minha intuição falha quando se trata dela... 

“A primeira vez, foi pouco depois dessa missão que eu contei pra vocês. Na verdade, essa missão mudou tudo. Mudou a Nana, girou uma chave. Depois disso, ela se tornou mais feroz, mais impulsiva. Algo quebrou de vez. Acho que porque ela ficou tão impaciente que a gente... não sei como dizer... avançou? Não seria bem isso também. Mas, enfim, nós éramos melhores amigos, estávamos juntos sempre que podíamos e nosso lance era só comer e ver TV. Depois que ela recebeu alta, num dia que a gente tava vendo TV, ela me pediu um beijo”. 

O efeito foi o que Kakashi imaginava. Sakura deu um gritinho, baixinho, como se a animação escapasse contra vontade. Sasuke apenas a fitou de canto, desviando o olhar, disfarçando o interesse. Naruto se inclinou para ouvir melhor. Eram, ainda, três crianças. 

— Ela disse que pela primeira vez pensou que iria, de fato, morrer. Não tinha problema com isso, mas não queria partir sem nunca ter beijado ninguém. 

— Nunca? - Naruto perguntou, os olhos brilhando, curiosos – Quero dizer, a Nana é muito gata! Impossível ninguém nunca ter chegado nela... Com todo respeito – acrescentou, nervoso. Kakashi riu. 

— Eu pensei algo parecido, Naruto. Ela era a garota mais linda que eu vi na vida. E ela tem esse negócio, quando ela te encara... Ela fazia isso comigo de vez em quando, me olhava e era como se me tirasse de mim. Ela fez isso com vocês, na cachoeira. 

Naruto e Sasuke concordaram, acenando. Sakura estreitou os olhos contra o namorado e esse desviou o olhar. 

— Não tinha o que eu fazer... - o Uchiha se defendeu, ao que Kakashi e Naruto riram – Depois eu aprendi e não cai mais... Sakura... 

Sakura fingiu-se ofendida, mas um Sasuke nada sóbrio a puxou de volta para perto e ela não resistiu. Então era assim que os dois se comportavam quando estavam sós, o sensei concluiu. 

— Que bom que você não caiu mais – Kakashi retomou, puxando a atenção de volta a ele – porque eu caí todas as vezes.  

— Você beijou ela? - Sakura perguntou, a curiosidade alterando o tom da voz. 

Kakashi acenou. Naruto e Sakura gritaram. 

— O sensei sabe que ela planejou isso, né? Ela não te pediu apenas porque queria saber como era... 

Kakashi acenou outra vez. 

— Mas na época, eu não sabia. Achei que era como atender um favor que ela pedia, sabe? 

— Favor, Kakashi-sensei? Conta outra, se não fosse a Nana, e sim o Gai-sensei... 

As gargalhadas foram imediatas.  

— É mais fácil atender a um favor da Nana do que do Gai – o Hokage brincou, aproveitando para encher os copos vazios espalhados. 

— E então? Depois? O que aconteceu? 

O Hatake lembrava com a precisão milimétrica que ele não compartilhou o que acontecera. O aniversário dela tinha sido algumas semanas antes, ele deu um doce de centavos e arrependeu-se quando a viu genuinamente feliz por receber um presente. Por isso, depois que conseguiu parar de rir da garota por lhe pedir um beijo como se fosse um casaco emprestado, ele decidiu fazer direito. Não era sacrifício em qualquer medida. Seu coração acelerou no que a respiração dela encontrou a dele e foi preciso um esforço consciente para não avançar além do que devia quando os lábios deles se encontraram. Não pretendia, mas segurou a cintura dela e a puxou mais para perto intuitivamente. O corpo mais rápido que o cérebro. Tentou ser delicado, algo de carinhoso. Era sua melhor amiga, afinal. Era o primeiro beijo dela. E, permitindo-se um raro momento de trégua, com Nana tão perto percebeu o quanto a queria. 

— Eu fui pra casa, tinha uma missão no outro dia – Kakashi respondeu, optando pela versão curta da história – Quando voltei, ela já tinha saído em outra. 

Tá, sensei, mas e quando ela voltou? - Naruto perguntou – Diz que você não a ignorou simplesmente! 

— Que moral você tem pra falar isso, Naruto? A Hinata-chan se declarou pra você quando o Pain invadiu a vila e você a ignorou totalmente! 

— Sakura-chan, já falamos sobre isso, EU NÃO LEMBRO!  

— Para de gritar, idiota! A Aiko vai acordar! 

— Ah, foi mal! - Naruto se desculpou, desviando da almofada que Sasuke arremessou – Foi mal, foi mal! Conta aí, sensei, como foi quando ela voltou? 

Kakashi suspirou. 

— Passou um mês e ela não voltou. Depois dois, três... cinco. Ela não voltava e, quanto mais tempo passava, mais eu pensava nela. Eu queria ir atrás dela, mas não tinha motivos, sabe? Não tinha como justificar uma missão para encontrá-la, até onde eu sabia, toda aquela demora poderia muito bem fazer parte do que foi previsto. Aí seis meses e nada. Então, um dia, o comandante dela me chamou. Eu e algumas outras pessoas. Todos nós tínhamos participado de missões com ela em outros momentos. Disse que seria rápido e contou que a Nana tinha desaparecido há algumas semanas, depois de uma explosão em um esconderijo de um contrabandista. Eles tinham certeza de que ela estava lá e que tinha morrido. Foi como a morte do meu pai, do Obito, da Rin, do Minato-sensei... Tudo de novo. Foi assim que eu a perdi pela primeira vez. 

Ele esvaziou o copo que segurava e respirou cansado. Por semanas após aquela tarde, teve pesadelos onde atravessava Rin com seu Chidori e, de repente, era Nana. Na ironia que sua vida tomou por caminho, ele acabara por realmente a transpassar. À época, contudo, apenas acordava suado, o rosto lavado em lágrimas, o corpo dolorido coberto por calafrios. O tempo que costumava passar com ela passou a dedicar à frente do monumento dos guerreiros mortos em batalha, esperando pelo dia que gravariam o nome da garota.  

Kakashi ergueu o rosto e viu três pares de olhos pendurados nele. As íris verdes de Sakura refratadas por trás das lágrimas que a menina se esforçava em segurar. As bilocas azuis de Naruto, um tanto escondidas por pálpebras bêbadas meio caídas, refletiam a empatia infinita do rapaz, que parecia querer pegar a tristeza do sensei para si. E as pupilas heterogêneas de Sasuke, mortais e inacessíveis, mas que naquele instante exteriorizavam o sentimento que o Hatake reconheceu de imediato: medo de sentir a mesma dor. Não foi propositalmente que o homem focou no Uchiha ao continuar. 

— Eu achei que não sobreviveria daquela vez - continuou, ocultando que desejou não sobreviver - Com Nana morrendo, não sobrou ninguém. Tinha o Gai, o Asuma, outros amigos, mas... Sinceramente, eu nem lembrava deles. Eu só pensava nela. E, então, eu pensei que estava enlouquecendo. Andando na rua e, do nada, sentia o cheiro do perfume dela. Saía procurando e não tinha coisa alguma. Acontecia direto, parecia que eu tava em um jardim de lavanda. 

— Alucinação olfativa... - Sakura explicou em um sussurro. 

— Aí piorou... Comecei a ouvir a voz dela. Virei uma menina com tanta força achando que era a voz da Nana que ela quase me denunciou por agressão. Tinha certeza de que era questão de tempo até eu começar a vê-la em todo lugar. Eu emendava missão em missão para não ter tempo pra nada e ainda assim parecia que a única coisa que eu fazia era pensar nela.  

“Quando chegou perto do Natal, eu recebi uma folga de duas semanas. Na primeira noite, eu estava no apartamento e senti o cheiro de lavanda. Só ignorei. Mas foi aumentando tanto, tanto... Não era possível ser alucinação. Um minuto depois, a janela abriu a ela entrou. O rosto todo maltratado do vento. Eu gastei toda sorte que eu nunca tinha usado na vida naquele dia”. 

— Mas... o que aconteceu? Por que a ANBU...? - a voz do Uchiha preencheu o espaço que Kakashi abriu ao parar para se recompor – Foi outra missão suicida? Eles queriam que ela morresse? 

— Não acho que eles queriam que ela morresse, só que não ligavam se ela morresse, não fazia diferença... Nós éramos descartáveis - respondeu, sem emoção - Shun, que era o comandante do setor de inteligência, via Nana como uma escada pra alcançar o topo. Ele a colocou em missões que ignoravam acordos, leis, jurisdição. A ordem era para que se ela fosse capturada, se matasse. Era completamente ilegal. Os ganhos à vila eram enormes, mas o preço nunca deveria ter sido sequer cogitado em ser pago. Para as estratégias que ele desenhava, só a Nana tinha alguma chance, então ele a escalava porque estava apostando a saúde e a vida dela. É fácil jogar com as fichas dos outros. 

— Mas o que aconteceu, sensei? Como ela voltou? Ela sabia que a tinham dado como morta? 

— Hm... Quando ela chegou na vila e se reapresentou à ANBU, descobriu que tinha sido dada como morta. Ficou um tempo lá resolvendo burocracia, passando por exames, recompondo-se, coisas do tipo, e então foi me ver. Ela já entrou na sala rindo e pedindo desculpas, falando que não sabia, dizendo que ia explicar tudo... 

— E o senhor? - foi a vez de Sakura perguntar – Como o senhor ficou? 

Kakashi corou e agradeceu pelo trabalho meia boca que a Lua e o abajur faziam na sala. Quando viu Nana voltar dos mortos, o impulso o fez correr até ela. Lembrava dos olhos amarelos esbugalharem surpresos uma fração de segundo antes dele a levantar em seus braços e a girar, o corpo não contendo a felicidade de conseguir respirar novamente e extravasando em erupção. Ela reclamou, mas riu em seu ouvindo, abraçando-o de volta, a bochecha gelada e o cabelo ainda úmido dando choque térmico no rosto febril dele. O beijo que ele a envolveu ao finalmente colocá-la no chão manifestou o tamanho do milagre. A memória foi física e o Hatake sentiu os lábios dela nos dele outra vez; o calor do corpo dela o esquentou novamente, como o fizera naquela noite. Mas foi apenas por um segundo e, quando o rebote se dispersou, a tristeza despencou o coração do Hokage. Um nó obstruiu sua garganta e, ao responder, voz vazou fraca: 

— Eu a abracei... Acho que por muito tempo, até, porque ela fez piada depois. 

— Só isso? - Naruto revoltou-se, a voz aguçando, subindo vários tons - Só abraçou? Pra que o senhor lê aqueles livros do Ero-sennin então??? Puta merda, Kakashi-sensei! Aposto que a Nana teve que fazer tudo nesse lance de vocês, dattebayo! 

— Eu leio aqueles livros porque são obras-primas e me ensinaram tu... 

— KAKASHI-SENSEI, PELAMOR DE DEUS, SÓ PARA! 

O Hokage riu da impaciência de Sakura e foi sua vez de desviar da almofada de Naruto. Sasuke continuava sério, entretanto. 

— Qual foi a segunda vez que você perdeu a Nana? 

— Quando ela fugiu da vila... Eu fui o responsável por ir atrás. Ela tem uma cicatriz nas costas da minha espada. E agora ela tem uma no peito da própria espada. Por isso eu sou culpado, entendem? Vocês me olham como se eu estivesse entendendo tudo errado, mas é que vocês só conhecem parte da história... Eu amo a Nana, e eu nunca disse isso a ela. A única coisa que eu poderia fazer por ela era protegê-la, e não fiz. Pelo contrário. Eu sempre estive disposto a sacrificá-la pela Vila. E isso eu fiz... Duas vezes.  

De repente, a sala pareceu muito pequena e o volume de oxigênio disponível caiu pela metade. Kakashi não queria beber mais, mas serviu seus alunos. Então, levantou-se e foi até a janela, escancarando-a tanto quanto pode. Pensou que o vento frio aliviaria a sensação de sufocamento, mas continuava tão difícil respirar quando antes. Queria cortar a garganta e arrancar a bola que a entupia. 

O Hatake não voltou mais ao chão onde estavam sentados e ficou aliviado que a sensibilidade de seus alunos o deu seu momento de silêncio. O que pareceu ser apenas alguns minutos, mas de acordo com o relógio acima da porta transbordou a hora cheia, foi interrompido pelo barulho de alguém se levantando. Kakashi virou-se preparado para proibir os três de saírem da casa, mas viu apenas Sasuke carregando sua namorada adormecida nos braços em direção ao quarto de Aiko. Entendeu que eles não pretendiam partir. O sensei aproveitou a deixa e, catando a manta deixada para trás, jogou-a sobre os ombros de Naruto que, agora ele notava, roncava sonoramente, a cabeça balançando para frente numa posição na qual qualquer pessoa um pouco mais velha se arrependeria por dias. Observando o jovem por um minuto, a empatia falou mais alto e ele ergueu o rapaz e deitou-o no sofá. Ouviu-o murmurar coisas sem nexo, pedir um lámen e chamar por Hinata. Rindo, colocava a coberta novamente sobre o aluno bêbado quando o Uchiha reapareceu na sala, piscando forte os olhos. 

— Tenho um futon no meu quarto, vou buscar pra você... 

— Não precisa, peguei um cobertor no quarto da Aiko... 

Kakashi olhou de novo o aluno e viu que ele segurava um pano enrolado embaixo do braço. A janela ainda aberta deixava entrar o frio que certamente venceria as mantas finas de Sasuke e Naruto, mas fechando-a, o aquecedor faria sua parte e eles ficariam bem, avaliou o sensei. Com cuidado para não fazer barulho, correu a janela pelo trilho e travou em sua outra metade. Mas mal encostara as duas partes, teve que abrir de novo. Shouri voltava da caça e, arranhando o vidro, pediu para entrar. 

— Você não tem caçado nos sítios aqui perto, né, Shouri? - perguntou afagando as orelhas da loba - Você tem a floresta toda pra isso! A Aiko tá no quarto, pode ir. 

O animal obedeceu e seguiu para Aiko, mas não sem antes deixar-se ser acariciada por Sasuke, que apenas bagunçou seu pelo. Os dois ninjas viram a loba negra sumir no corredor e continuaram olhando o vazio por um momento. Kakashi lembrou-se de Ihai e como se detestavam. Pelo menos no passado. A loba agora era sua credora, desde que salvara Sasuke. 

— Onde está o resto da alcateia? - o Uchiha perguntou, colocando-se ao lado do Hokage. 

— Na floresta, bem afastada... Perto de onde era o distrito dos Hikari. Pedi pros Inuzaki me ajudarem a acomodar os lobos, mas Nana já tinha deixado pronto. Eles se cuidam sozinhos, de qualquer forma. 

— Não precisam de treinamento ou algo do tipo? 

— É, precisam... A Aiko deve herdar essa função. Tenho que buscar livros ou pergaminhos sobre isso nas coisas da Nana para ajudar e... 

— A Nana não morreu, Kakashi – Sasuke interrompeu, sério - A Sakura vai fazer o que pode pra salvar ela, a Godaime também. Você pode... não sei... acreditar. Um pouco. 

A expressão sempre impenetrável do Uchiha mudou e a tensão que geralmente deixava as feições do rapaz duras esvaziou, dando lugar a um misto de exaspero e melancolia. Kakashi não sabia o que falar. Sequer tinha certeza se havia algo a ser dito. Sentiu que os olhos do aluno sobre si pesavam além do que conseguia suportar e voltou-se, mais uma vez, à janela e ao que se via além dela. Seus companheiros tentaram, naquela noite, acender algo de esperança nele, fazê-lo encarar os próprios sentimentos, digerir a própria história. Passar por algum tipo de catarse. Eles eram novos demais para entender que não funcionava daquela forma. Não com ele. Mesmo que houvesse esperança - e havia, em medida ínfima sufocada pela racionalidade autoimposta - ele não se permitiria desfrutá-la, porque se conhecia o suficiente para saber o tamanho que a dor teria. Mesmo que não fosse sua culpa, ele a sentiria, porque estava acostumado à parceira de longa data e merecia a angústia que a acompanhava. Sabia lidar com o sofrimento da penitência, mas não com o da perda. Nunca aprendeu ou se acostumou a ele. Se permitir algo de fé sustentada em uma possibilidade pequena e guiada a não acontecer o mataria. 

— Quando der errado, Sasuke – a voz de Kakashi saiu rouca e baixa, escapando pelas frestas que o nó em sua garganta não vedava. Ele se esforçava para falar e, por isso, não desperdiçaria dissimulando – quando a Sakura e a Tsunade-sama perceberem que já era, que não há o que fazer... Me diz, o que eu vou fazer com essa esperança que vocês querem que eu tenha? Eu, que não sei lidar nem com as memórias que tenho dela, com as chances que eu perdi, o que eu faço com esperança quando essa se transformar em desespero? Ter esperança não vai fortalecer o corpo da Nana ou aumentar ainda mais as habilidades dos médicos, não terá impacto nenhum na realidade. É só um genjutsu que pode me fazer pular de um penhasco. E eu não posso mais morrer, então também não posso arriscar.


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Notas finais do capítulo

Olá, mina-san!

Eu disse que ia terminar essa história, então aqui vai mais um cap! Não vou sumir dessa vez kkkkkrying

Ei, pessoal, não deixem de comentar, pleaaase!!! Me digam o que estão achando.

Tenho um história sobre o período "blank" em que Sasusaku aconteceu lalala
Se interessam???

Beijoooooos!



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