A cidade de Storybrooke já começava a se enfeitar para o Halloween. Após tudo o que já haviam passado, comemorar essa data chegava a ser cômico, mas era algo que lhes trazia alegria e os fazia se lembrar de que tudo já havia passado e que agora todos estavam bem e felizes. Todos.

Porém algo incomodava Emma, pelo segundo ano seguido, a mansão de Regina havia ganhado um tom mais sombrio e gélido á uma semana do Halloween. No ano anterior, a loira achara que era apenas um disfarce ou uma decoração um tanto real para a data em questão, mas tudo estava se repetindo de novo, principalmente o sumiço da morena e o comportamento distante e estranho.

No Halloween do ano passado, nessa mesma época, Regina quase não saíra de casa e parecia diferente, mas ninguém notara afinal era Halloween, porém em mais um ano seguido, a loira começara a se perguntar se algo realmente não estaria acontecendo com a morena. Talvez ela estivesse chateada por comemorarem uma data que para ela não deveria lhe trazer muitas lembranças boas.

Foi pensando em tudo isso, e vendo Henry triste pelos cantos por não ter sua mãe o ajudando com as decorações daquela data que ele tanto esperava o ano todo, que Emma resolveu ir até a mansão da morena, ver se estava tudo bem. No fundo, uma pitada de preocupação havia se instalado nela.

Após acabado o seu expediente na Delegacia, Emma pegou seu Fusca e dirigiu até a mansão de Regina. No caminho passou em frente a Prefeitura e percebeu que ela estava igual a sua mansão. A morena por certo não estava trabalhando também, o quê só fez aumentar a sua preocupação.

Estacionou o carro e a passos lentos entrou na mansão. Percorreu o jardim olhando atentamente para tudo e por fim, ao chegar na porta, bateu como era acostumada a fazer. Nada. Parecia que a casa estava vazia, mas Regina tinha de estar ali, ou então para onde havia ido ? Mais uma batida na porta e nada. Pensou em chamar pelo nome da morena, mas desistiu. Se Regina queria paz e sossego, era isso que ela teria, mas antes Emma sabia que precisava descobrir se era realmente isso que estava acontecendo com ela. E quem poderia lhe dar as respostas que tanto precisava ? Henry.

***

A loira entrou no apartamento, jogou as chaves do carro em cima da mesinha de centro e se deixou cair no sofá. Havia sido um dia cansativo e quando sua mente começou a se voltar para aquela pessoa, ela ouviu passos rápidos descerem a escada. Henry. Hora das respostas.

–Mãe .. –ele disse animado vindo até ela e lhe dando um beijo no rosto. – .. como foi seu dia ? –perguntou como já estavam acostumados a fazer quando ele ia dormir em sua casa. Aproveitavam para ter um momento juntos, de mãe e filho.

–Cansativo. –ela sabia bem porquê. –E o seu ?

–Foi legal .. –sua voz soou desanimada e Emma o encarou esperando a verdade. – .. bom, teria sido mais legal se a minha outra mãe estivesse me ajudando com as decorações e fantasias de Halloween, mas parece que ela não se importa com isso. É o segundo ano em que ela some nessa época, e sempre que eu vou atrás dela, ela finge ter algo importante pra não ter que ficar comigo, tanto que já até colocou algumas roupas minhas na mochila pra quê eu fique aqui nesses dias. –completou com uma carinha triste.

–Henry, ela sempre agiu assim no Halloween ? É por quê eu já percebi a mudança de comportamento dela nessa época, e eu fico me perguntando se essa coisa de Dia das Bruxas não faz ela se sentir mal.

–Eu já pensei nisso também, mas nós só estamos comemorando o Halloween a pouco tempo, desde que tudo ficou bem em Storybrooke, antes nós nem tocávamos no assunto, e eu acho que ela só ficou sabendo que existia essa data, porquê eu devo ter falado nos meus momentos de idiotice do passado. –ele se sentou no sofá e cruzou os braços, no rosto um misto de tristeza e arrependimento. Emma se aproximou dele e o puxou para junto de si, beijando sua cabeça.

–Hey, ta tudo bem agora, entre vocês.

–Eu sei, e é por isso que eu não entendo porquê ela ta agindo assim. Se todo mundo ainda acusasse ela de algo, aí eu entenderia o porquê dela sumir nessa data, afinal estaríamos comemorando algo que a machuca, mas nós todos estamos de bem com ela. Eu não sei o quê está acontecendo.

–Você disse que ela te mandou pra cá com roupas, pra você ficar aqui ? –ele assentiu. –Então ela não está em casa esses dias ?

–Sim, ela está. Eu fui lá ver ela esses dias, mas ela logo arrumou uma desculpa pra que eu tivesse de ir embora. Parece que ela se isolou.

–Olha, não fica assim. Amanhã eu vou lá tentar conversar com ela, ta bom ?

–Posso ir com você ? –ele perguntou animado. O apoio de Emma certamente o ajudaria.

–Não. –ele murchou no mesmo instante. –Se algo estiver acontecendo com a Regina, e ela se afastou de você, é porquê não quer que você saiba, então te levar junto só pioraria as coisas. Te prometo que vou descobrir tudo por nós dois, e com o meu super poder ela não vai poder mentir. –completou piscando para o garoto.

–Boa ideia, você pensa em tudo. –ele ergueu a mão para que a loira tocasse e ela assim o fez. –Vamos descobrir o que está acontecendo com a minha mãe. –ele enlaçou a cintura da loira a abraçando e ela retribuiu ao toque. –É muito bom ver você querendo ajudar ela. –ergueu o olhar e sorriu para ela, e Emma sem saber porquê, sorriu também sentindo algo se manifestar dentro de si. Ela se preocupava com Regina. –Vamos batizar isso de Operação R.R.

–Operação R.R ? –perguntou confusa. –O quê significa R.R ?

–Resgatar Regina. –ele se ajeitou no lugar enquanto a loira ria. –Estamos juntos nessa ? –estendeu a mão para ela.

–Estamos juntos nessa ! –respondeu selando o acordo, ou Operação, com um aperto de mãos que se tornou um abraço e risadas, quando ela o puxou para perto de si novamente.

***

Na manhã seguinte, Emma deixou Henry na escola garantindo que iria tentar conversar com Regina, descobrir o que estava acontecendo com ela e que depois contaria tudo para ele. Passou na Delegacia e se certificou de que tudo estava bem, David cuidava de tudo e ela saiu para uma suposta ronda matinal. Mais uma vez viu que a Prefeitura estava escura e silenciosa, portanto nem desceu do carro para ver se a morena estava ali, pois certamente não estava.

Por fim chegou na mansão, foi até o portão e parou sentindo uma sensação estranha lhe invadir o peito. Será que ninguém havia sentido falta de Regina durante esses dias ? Será que ninguém havia percebido que em mais um ano ela se tornara distante e se isolara na escuridão ? Por uns instante a loira ficou pensando no quão triste e solitária deveria ser a vida da morena, e sem saber ao certo porquê, admitiu dentro de si que queria mudar isso. Se Regina permitisse.

Respirou fundo e entrou, começou a caminhar tranquilamente pelo corredor e conforme ia sentindo a solidão presente no local, apertou o passo como se precisasse desesperadamente salvar Regina de algo. Parou em frente a porta e sem esperar mais, bateu. Nada. Mais uma batida sem resposta e dessa vez ela resolveu chamar pelo nome de Regina.

–Regina ? –chamou pela morena sem saber se ela estava ali ou não. Só de imaginar que a morena não estivesse, seu coração se apertou dentro do peito. Como saberia o que aconteceu com ela ? Onde a encontraria ? –Regina ?

Se distanciou da porta e deu uma olhada na janela, porém tudo estava quieto e escuro. Deu a volta na casa e bateu na porta dos fundos chamando por ela mais uma vez.

–Regina, por favor, se você estiver aqui me responda. –respirou fundo antes de continuar. –Se não quiser abrir por mim, tudo bem, abra pelo Henry então, ele está preocupado com você. –mais um instante de silêncio e quando não obteve resposta, começou a caminhar lentamente e de cabeça baixa para a frente da casa novamente.

Regina que estava dentro da mansão, ouvindo a loira chamar por ela, sentiu uma súbita vontade de chorar. Não queria se isolar, não queria preocupar seu filho, queria estar lá junto dele, se preparando para festejar já que enfim tudo estava bem. Por enquanto. E era isso que lhe obrigava a fazer o quê estava fazendo, a se distanciar e evitar a todos. Não podia simplesmente expor todos eles ao sofrimento de novo. Tudo havia mudado, todos, inclusive ela.

Porém a voz calma da loira demonstrando preocupação e vontade de ajudá-la, despertou dentro de si algo diferente. Ela sabia que precisava de ajuda, mas não podia pedir isso a ninguém, não podia arriscar a vida de mais ninguém, mas era Emma, era a Salvadora e Regina tinha, sem nem saber como e quando isso começou, total confiança nela.

Emma ia saindo da mansão, mas ao passar em frente a porta de entrada, tentou mais uma última vez, pois desistir estava fora de cogitação. Ela havia prometido isso á Henry.

–Regina ? Eu não sei o quê está acontecendo, mas seja lá o que for, você sabe onde me encontrar e sabe que pode .. que pode contar comigo. Prometo não dizer nada ao Henry, se isso te incomoda.

Ia saindo pensativa e cabisbaixa, quando o som de um ranger de porta a fez sorrir sem nem mesmo se virar. Ela sabia que era Regina, de portas abertas. Para ela.

–Emma. –a morena sentiu algo entalado em sua garganta.

–Ah, você está aí, ainda bem. –a loira se virou e caminhou com passos rápidos até Regina que estava na varanda. –Regina, aconteceu alguma coisa ? Eu tenho tanta coisa pra te perguntar, eu e o Henry ..

–Entra, por favor. –a morena parecia apreensiva. –E nós podemos conversar. –a loira apenas assentiu com a cabeça e entraram. Se dirigiram a sala e sentaram em sofás uma em frente da outra. –O quê ta acontecendo, hein ?

–Por quê você acha que tem algo acontecendo ?

–Porquê em mais um ano seguido, no Halloween, você tem se isolado de todo mundo, tem trazido a escuridão e a solidão pra perto de si. Ano passado eu achei que fosse por causa da data, mas ta acontecendo de novo, e até o Henry percebeu esse seu distanciamento e está preocupado e chateado. Você tem evitado ele e até o mandou com mala e tudo pra minha casa.

–Eu sei, eu sei que eu fiz tudo isso, mas é quê .. –não sabia o quê poderia dizer.

–Regina, o fato de todos nós querermos comemorar essa data, te magoa ? Te traz lembranças ruins ? Porquê se for isso, eu te peço desculpas e converso com todo mundo pra que nós não façamos isso de novo. É que parece apenas uma brincadeira, mas não sei o quê significa pra você.

–Sim, essa data me deixa um pouco depressiva .. –mentiu com um riso fraco. – .. mas todo mundo gosta, principalmente o Henry, e é apenas uma grande brincadeira mesmo, então eu prefiro me isolar e deixar todo mundo comemorar.

–Não, de jeito nenhum. Storybrooke é como uma grande família, da qual você faz parte, e famílias comemoram tudo juntas. Se isso te faz mal, nós não podemos fingir que não tem nada acontecendo. –Emma fixou seu olhar no da morena e sorriu de lado.

–Eu vou buscar uma água, porquê .. porquê isso me deixa um pouco nervosa. Você aceita algo ?

–Não, Obrigada. Eu te espero.

Regina se levantou e correu para a cozinha. Precisava pensar em como sairia disso sem machucar ninguém. Minutos atrás havia pensado que poderia pedir ajuda á Emma, mas ao perceber a loira tão preocupada com ela, acendeu uma chama dentro de si, e ela passou a se preocupar com Emma, portanto não poderia colocá-la nisso tudo.

Enquanto isso, a loira se levantou e começou a caminhar pela sala, um pouco mais calma por perceber que não era nada grave. A casa estava com todas as luzes apagadas, mas algo brilhante em cima de uma estante lhe chamou a atenção. Emma foi até lá e percebeu que se tratava de um envelope com detalhes em um dourado vívido, lacrada por um selo negro com um desenho de algum brasão, ou algo do tipo, porém a loira não conseguiu identificar bem ao certo o quê era.

Virou o envelope para ver se havia remetente, mas não tinha nada escrito. Algo naquele envelope lhe trazia uma sensação ruim. E ao virá-lo novamente, percebeu que ele já havia sido aberto, um pedaço do papel que havia dentro apareceu e Emma conseguiu ler: “Convenção das Bruxas”. Foi o bastante para ela retirar o papel que havia dentro e ler em letras pequenas, porém cheia de detalhes:

“Convenção das Bruxas.

Encontro anual do retorno ás origens e ao poder.

Em mais um Halloween, nós irmãs nos reuniremos para enfim concretizarmos o nosso retorno a nossa terra mãe, ao qual viemos buscando durante muito tempo. Mas o dia enfim chegou. Juntando nossas forças, retomaremos o poder que jamais deveria ter sido tirado de nós. Dessa vez, o mal prevalecerá. No dia das Bruxas, reinaremos verdadeiramente.

Reunião na Mansão 108, Rua Mifflin, lar da nossa irmã e líder, Rainha Má.”

Emma terminou de ler e sentiu o sangue ferver em suas veias, instintivamente amassou o papel deixando o nervoso transparecer. Regina estava mentindo durante todo esse tempo. Mentiu que havia mudado, mentiu que estava do lado deles e acabara de mentir para ela também. E o pior, mentiu para Henry. Por alguns segundos ficou se perguntando se a morena não havia mentido durante todo aquele tempo, inclusive sobre o que sentia pelo filho. Seria ela capaz de amar ? Emma já não tinha certeza disso, não depois de ler o que havia no envelope.

Regina voltava tranquilamente da cozinha, com um sorriso no rosto pronta para garantir para a loira que ficaria bem e que todos poderiam festejar.

–Demorei .. –ela franziu o cenho ao ver a loira apoiada na estante e de cabeça baixa. – .. tudo bem com você Emma ?

–Há quanto tempo isso está acontecendo ? –perguntou na posição que estava, antes de erguer o olhar para a morena e lhe mostrar o envelope que estava em suas mãos. O sorriso sumiu do rosto de Regina no mesmo instante. No olhar da loira havia um misto de raiva e magoa.

–Emma, me dê isso. –ela foi até Emma que não deixou que ela pegasse o envelope.

–Não, agora você vai me explicar tudo isso, vai me explicar o quê está acontecendo e desde quando está. Não me venha mais com essa história de que o Halloween te deprimi.

–Emma, por favor, fique fora disso e me entregue esse envelope agora.

–Ficar de fora disso ? Então realmente tem algo acontecendo. –ela balançou a cabeça incrédula e aumentou o tom de voz. –E eu me preocupei com você, achei que você estava mal, e era tudo ilusão. Você não mudou nada. Vai acontecer uma conspiração do mal que sabe se lá no que vai dar, quem está junto de você nisso e o que pretendem fazer com todos nós, e você quer que eu fique fora disso. Então não, eu não vou embora daqui sem saber de tudo, e se você quiser pode me matar aqui e agora. Eu já não duvido mais do que você é capaz.

As palavras de Emma atingiram Regina em cheio, foi como receber uma facada no peito. Não poderia culpar a loira dada a situação em que se encontravam, mas as palavras tão duras vindas de tal pessoa, lhe entristeceram mais do que poderia imaginar.

Sem saber o quê fazer e sem saída, tudo o quê conseguiu fazer foi chorar. Deixou que as lágrimas lhe escorressem pelo rosto livremente, um choro tão cheio de dor, que parecia que todo seu corpo havia sido anestesiado e ela perdera a força. Se deixou cair no chão enquanto colocava todo aquele sofrimento para fora.

Emma estava perplexa com a cena, andando de um lado para o outro, pensando que era tudo um teatro de Regina, mas conforme a morena se acabara aos poucos se desmanchando em lágrimas, a loira começou a perceber que não era um teatro, que era um choro real e sofrido. Passou a mão pelos cabelos em sinal de nervoso e então se abaixou ao lado da morena.

–Regina, o quê ta acontecendo ? –perguntou agora com um tom mais calmo, e com receio colocou a mão no ombro da morena e o apertou.

–Vai embora Emma .. –Regina ergueu o olhar para a loira e encontrou os olhos verdes nos quais se fixou. – .. eu não quero que você se machuque.

–Não, eu já falei que eu não vou embora. –a loira se sentou no chão ao lado da morena que agora havia parado de chorar. O silêncio se estendeu por alguns minutos, e a loira tornou a passar a mão nos cabelos em sinal de nervoso. –Regina, me explica o quê é isso. –ergueu o envelope, mas Regina dessa vez não quis pegá-lo. –Eu cheguei aqui cheia de dúvidas, e agora parece que elas triplicaram.

Regina olhou em seus olhos e respirou fundo. Precisava de ajuda, precisava confiar em alguém, e por mais que não quisesse envolver Emma nisso tudo para não machucá-la, era a única pessoa em quem ela confiava plenamente. E ela sabia que não importava o que acontecesse, ela protegeria a loira com a própria vida se preciso.

–Você deve estar pensando que eu voltei a ser um monstro, e que eu quero acabar com todo mundo, não é mesmo ? –perguntou olhando para os lados, não conseguia encará-la.

–Sim, eu não vou mentir pra você, eu fiquei tão nervosa quando li esse papel e percebi que você tinha mentido, que eu achei que você não tinha mudado nada, nunca.

–Era o quê eu esperava, é o quê eu sempre espero das pessoas. –balançou a cabeça em concordância, porém cabisbaixa, e deixou um riso irônico lhe escapar pelos lábios.

–Mas fique sabendo, que mesmo assim, eu teria ficado aqui pra te escutar e te ajudar. Eu não percebi que você havia mentido antes, porquê eu sabia que você não estava bem e eu me preocupei com você, aí tocamos em um assunto que te deixa mal, e eu só pensei em poder te ajudar que meu super poder não serviu de nada. –Emma completou e as duas acabaram soltando um riso fraco. –Mas agora eu percebi que talvez eu possa estar errada e tenha tirado conclusões precipitadas. Anda .. –ela olhou para a morena com um sorriso bobo no rosto. – .. pode jogar isso na minha cara.

–Não. –Regina riu enquanto franzia o cenho. –Você não tem culpa, olha só o quê você acabou de ler. –apontou para o envelope nas mãos da loira.

–Agora você vai me contar tudo, ou então quem vai ficar má sou eu. –lhe lançou um olhar intimador, porém o sorriso denunciava a brincadeira. –Me deixa te ajudar, e outra, nós estamos perdendo tempo sentadas aqui nesse chão, enquanto uma “conspiração do mal” está prestes a acontecer. –ela fez aspas ao mencionar o que estava no papel.

Terminou de falar e se levantou, olhou para a morena e lhe estendeu a mão. Regina por alguns segundos criou a coragem necessária para contar tudo á Emma, e então pegou em sua mão e se levantou.

–Você tem razão, nós estamos perdendo tempo. –seu olhar estava cheio de preocupação e o seu tom de voz havia ficado mais baixo. Emma franziu o cenho frente ao assunto sério. –Tudo o quê você leu aí é verdade e sim, eu faço parte de tudo isso .. mas eu posso explicar. –emendou antes que fosse questionada, e a loira riu. Regina então apontou para o seu escritório e foram até lá, ela trancou as portas como se quisesse se isolar completamente de tudo, as duas se sentaram e a morena começou a contar. –Logo depois que a maldição foi quebrada, assim que todas essas “vilãs” .. –ela fez aspas com as mãos. – .. se lembraram de tudo, se revoltaram contra mim e vieram me procurar exigindo explicações e o porquê de eu ter feito inclusive elas caírem na maldição. Nós brigamos demais e então chegamos juntas a conclusão de quê como tudo havia acabado para nós, precisávamos nos reunir para vencer de novo. Naquela época você sabe que eu ainda era uma pessoa muito ruim, e nós resolvemos começar a fazer reuniões para encontrarmos uma solução e retomarmos o reino para nós. Elas se isolaram em um local, por isso vocês nunca as viram, com certeza tentariam matar a todas nós se soubessem que estávamos unidas e então tudo daria errado. –Regina ia contando e Emma prestava atenção em tudo, sem interrompê-la em momento algum. –Elas descobriram que aqui no mundo real, se comemorava o “Dia das Bruxas”, e nós acabamos escolhendo esse dia para as nossas reuniões anuais e nos outros dias do ano, trabalhávamos sozinhas na nossa tentativa de retorno. Abrir um portal não era fácil, até que apareceram os feijões mágicos.

–Mas naquela época as coisas haviam começado a mudar, pelo menos um pouco.

–Sim, mas eu me revoltei de novo e estava tão focada nesse projeto, que eu queria concretizá-lo e depois daria um jeito de explicar tudo ao Henry. –sua expressão se tornou triste. –Eu sabia que ele ia me odiar, mas eu daria um jeito, nem que eu precisasse usar magia pra isso. Eu não contei nada pra ninguém, nem mesmo para a minha mãe quando ela apareceu, eu sabia que ela iria querer tomar a frente de tudo e eu não podia deixar. Para o Rumplestiltskin muito menos, todas nós odiávamos ele e o conhecíamos bem para saber que precisávamos mantê-lo longe, ele e os seus acordos traiçoeiros.

–Mas pelo que eu me lembre, nós usamos o último feijão mágico que você havia guardado.

–Eu fiz vocês pensarem que era o último, porquê o outro que eu mantive secreto para o nosso projeto, estava com elas. É claro que nós não iríamos abrir um portal logo de cara, precisávamos pensar no que íamos fazer com todos vocês e quando chegássemos em casa, por isso as reuniões continuaram. Todas elas desde então, tem treinado magia, umas com as outras e comigo, e estão mais poderosas do que nunca. Mas aí tudo começou a mudar pra mim, eu pensei que ia perder o Henry e isso me fez repensar a minha vida toda, porquê ele é o maior amor da minha vida .. –seus olhos se encheram de lágrimas. – .. e aí tudo começou a mudar de verdade, inclusive eu, e vocês passaram a me incluir na família e eu percebi que queria fazer parte de tudo isso, que queria ser uma pessoa melhor pelo Henry e não queria mais machucar ninguém e nem concretizar o nosso projeto do mal, mas como eu ia dizer isso para elas ? Elas iam destruir tudo e todos. Eu não podia deixar isso acontecer, eu tinha que proteger Storybrooke, pois fui eu que criei essa cidade pra ser feliz, e tinha que proteger vocês que nos últimos tempos sempre me protegeram também. –um sorriso se formou em seus lábios por entre as lágrimas que ela derramava novamente.

Emma respirou fundo e começou a se culpar por ter pensado coisas tão ruins a respeito de Regina, quando a morena só estava tentando salvar a todos. De novo.

–Regina, me .. me perdoa pelas coisas que eu te disse lá na sala, depois de ler aquele papel ou convite, que seja ? Eu não sabia ..

–Isso, você não sabia, por isso não precisar pedir perdão.

–Preciso sim, porquê eu fui idiota e precipitada te culpando de algo que eu nem sabia o que era, e você só estava tentando proteger a todos nós. –ela sorriu para Regina. –Inclusive a mim. Então, me perdoa ? –sua mão escorregou por cima da mesa, mas ela não ousou tocar na mão de Regina, que acompanhou o movimento com os olhos.

–Sim .. –ela sorriu. – .. eu te perdoo. –completou pegando na mão da loira, antes que desistisse de fazer isso, e Emma retribuiu ao toque enquanto também sorria pra ela.

–Mas então, continue me contando. Pelo jeito nós teremos um problemão pra resolver. –ela descontraiu as fazendo rir, porém as expressões já se tornaram sérias de novo, quando Regina continuou a contar.

–Então, eu continuei me reunindo com elas, mas agora eu estou mentindo pra elas, e como eu sou a líder tudo se tornou mais fácil. Acontece que eu não pude mexer muito nas coisas, eu só pedi para que o feijão mágico ficasse comigo, lá na Prefeitura, por isso eu não estou indo pra lá, pra que ninguém veja nada. Eu ia sumir com ele, mas elas com certeza se revoltariam e acabariam com tudo, machucariam todos vocês e destruiriam a cidade. Então eu só tenho mentido que estou do lado delas, mas durante todo esse tempo venho pensando no quê fazer para pará-las. Elas já estão prontas para retomarem tudo, a magia delas já é forte o bastante pra acabarem com tudo e todos se quiserem, por isso escolheram o Halloween desse ano pra concretizar tudo.

–E por isso você se isolou, distanciou a todos, principalmente o Henry ? –agora tudo fazia sentido para a loira.

–Sim, como o dia tem se aproximado, eu me isolei pra não correr o risco de machucar ninguém, principalmente o Henry. Por isso eu o mandei com mala e tudo para a sua casa, porquê eu sabia que você cuidaria dele e porquê eu precisava dele longe, precisava protegê-lo. E eu não posso nem sonhar em contar nada pra ele, porquê você o conhece bem o bastante e deve me entender, né ?

–Sim, perfeitamente. –as duas acabaram rindo. –Eu disse a ele que viria aqui ver o que estava acontecendo com você e que depois contaria tudo pra ele, mas então vamos dizer que o Halloween te deixa depressiva e eu dou um jeito de segurá-lo em casa.

–Obrigada ! Me parte o coração ter de fazer isso com ele, mas eu não tenho escolha. A nossa convenção acontece em todo Halloween, mas como antes eu era sempre a excluída, ninguém sentiu a minha falta, mas agora que eu faço parte da família, pelo menos você e o Henry notaram isso, sentiram a minha falta e se preocuparam comigo. Obrigada ! –agora foi a vez de Emma pegar a mão da morena e apertá-la, enquanto sorriam uma para a outra.

–Mas então, o quê você pretende fazer para pará-las ? Estamos em cima da hora.

–Eu não sei, venho pensando nisso a muito tempo, mas não sei. Elas estão em maior número, todas contra mim com certeza venceriam. Eu me isolei pra pensar nisso e também pra ver se o Henry .. se ele se acostumava com a minha ausência caso fosse necessário ..

–Não termina, por favor. –Emma a interrompeu sabendo o que ela diria. –Isso não vai acontecer.

–Emma, isso vai se tornar uma tragédia, vai ser inevitável e como fui eu que comecei tudo isso, sou eu que tenho que parar, nem que seja a última coisa que eu faça.

–Regina .. –a morena não deixou ela continuar.

–Eu pensei em dar o feijão para elas irem embora daqui sozinhas, mas elas não vão querer, elas querem que todo mundo vá junto pra sofrer, e eu pensei em abrir o portal e lutar com elas até que eu tenha conseguido mandá-las embora daqui, mas com certeza eu não vou resistir até o fim, eu posso conseguir jogá-las no portal, mas minha energia vai se esgotar até lá. Eu vou ter que me sacrificar Emma, eu não posso deixar que elas machuquem a todos, o Henry .. você .. que precisa cuidar dele. –emendou rapidamente a frase. –E que é quem cuida melhor do que ninguém de toda a cidade e de todos.

–E é exatamente por isso, que eu não vou deixar que você faça isso. Eu sou a Salvadora e isso inclui proteger a todos, inclusive você, não importa o que aconteça.

–Emma, pelo amor de Deus, você não pode se meter nisso.

–Tanto posso, como vou. Na verdade eu já me meti nisso desde que você começou a me contar tudo. Eu vou te ajudar a acabar com tudo isso, e não importa o quanto você tente me afastar, eu não vou a lugar algum. –a morena soltou uma longa respiração, por dentro admitindo pra si mesmo que ouvir tudo aquilo de Emma, lhe deixava feliz e aliviada. –Eu vou repetir pra você algo que eu falei no dia em que você também queria se sacrificar e pensou que não haveria outro jeito, mas havia. –ela fixou seu olhar no de Regina. –Você pode não ser forte o suficiente, mas talvez nós sejamos. Talvez não, nós somos fortes juntas e já provamos isso diversas vezes. –Regina sorriu se lembrando do dia em que pararam o dispositivo juntas, o dia em que Emma havia lhe dito aquilo e juntas haviam salvado a cidade e a todos. –Nós vamos repetir isso de novo, juntas. Certo ? E embora eu esteja pedindo sua confirmação, fique sabendo que eu vou te ajudar, mesmo que você diga não.

–Você é louca. –Regina riu junto da loira, depois parou a olhando e pensando em tudo e por fim falou o quê o seu coração pedia. –Ta certo, eu aceito a sua ajuda, na realidade eu preciso dela, mas fique sabendo que se alguém tiver que se sacrificar, esse alguém será eu, me ouviu ? Eu tenho que acabar com o quê eu comecei, e você tem que ficar aqui para proteger a todos e cuidar do Henry.

–Isso não vai ser necessário, eu te prometo. –Emma falou com convicção e a morena assentiu sabendo que se fosse necessário, ela protegeria a loira com sua vida. –Então esse será o nosso segredo ?

–Isso, ninguém pode saber e você vai ter que encontrar um jeito de escapar da festa de Halloween se for preciso e sem que o Henry te veja. Nós precisamos aproveitar esses dias que ainda temos antes da comemoração, pra combinarmos o que vamos fazer. E você vai ter que mentir pro Henry também.

–Você quem manda. –Emma ergueu as duas mãos e ambas riram. –Pode deixar, eu cuido disso como você quiser. -parou por alguns segundos pensando e continuou com um sorriso no rosto. –Sabe, quando eu disse para o Henry que viria aqui, ele estava tão preocupado com você que até deu um nome para esse momento, batizou de Operação R.R.

–O Henry e suas operações. –Regina riu junto da loira, mas seu coração se apertou ao pensar que o filho estava preocupado com ela e ela não podia dizer nada a ele. –Mas o quê significa R.R ? –ela perguntou e Emma só a olhou por alguns segundos antes de dizer:

–Resgatar Regina. –completou sorrindo para a morena que baixou o olhar sentindo seu peito se apertar por causa do filho. –Hey .. –Emma segurou em sua mão de novo a fazendo olhar para ela. – .. é pra isso que eu estou aqui. –fixaram seus olhares e assim ficaram por alguns segundos.

–Vamos trabalhar então, antes que mais pessoas tenham que ser resgatas. –a morena brincou para descontrair, enquanto enxugava as lágrimas que estavam em seu rosto.

Naquele mesmo dia, combinaram que iriam se encontrar escondidas nos próximos dias para elaborarem melhor o plano, mas Regina fez Emma prometer que faria tudo do jeito que ela estava mandando. Emma prometeu, porém sabia que não iria cumprir. Ela já estava bolando algo em sua mente e esse seria um segredo só seu.