Digimon Champloo escrita por Shen


Capítulo 5
Capítulo 4 - Hanami, a cidade das flores.




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O som de metal sendo golpeado retumbava por toda forja. As faíscas saltavam como se fossem estrelas, e á cada martelada ecoava uma nota musical diferente, como em uma sinfonia construída de fogo e aço.

Um BanchoLeomon - um Digimon leão humanoide com forte senso de justiça - escolheu por viver sozinho em sua forja nas montanhas, sendo considerado um eremita pelos que conheciam sua fama como artífice de poderosas armas e adornos em geral. Existia a lenda acerca do Digimon que quando este deixava sua morada, era por questões de grande importância... Os mais imaginativos – inclusive - diziam que BanchoLeomon recolhe guerreiros derrotados em combate, e então os leva até sua forja, numa tentativa de dá-los a chance de iniciar uma nova maneira de levar a vida. Ainda que um boato – inicialmente – sem bases ou precedentes; Bancho havia deixado seu lar para encontrar um samurai derrotado: Gaioumon. E aquela fora a exceção que plantou a verdade sobre os rumores.

Uma semana havia se passado desde que Gaioumon havia sido derrotado por Wargreymon X. O paradeiro atual de seu mestre – e dos demais moradores do castelo Zanza - era desconhecido; Tanto para o próprio guerreiro desacordado, quanto para BanchoLeomon. O samurai havia acordado quatro dias após ter sido derrotado, e em meio a várias tentativas de obter informações sobre os demais servos de Zambamon e do próprio; Mais o ferreiro se recusava a entrar naquele assunto:

Vá repousar moleque. Você não está em condições para pensar nisso agora. Concentre-se em apenas melhorar e curar suas feridas. – Anunciava sempre arredio.

Apesar de Bancho evitar o assunto com a desculpa de que seu convidado deveria se reter á recuperar a saúde, ele não tentava impedir que o samurai cortasse lenha ou fizesse qualquer outro tipo de esforço físico, o que revelava ao próprio Gaioumon que suas feridas já estavam quase que completamente curadas.

Na manhã do sétimo dia, Gaioumon resolvia tentar conversar com o Digimon que o acolheu, abordando um tópico diferente:

– BanchoLeomon-sama, por que escolheu viver longe de outros Digimon?

– Eles só iriam vir encher meu saco, implorando para que eu arrume suas ferramentas e coisas assim.

– ... Mas isso seria uma forma de garantir seu lucro, não?

– Não ligo para dinheiro, apenas decidi por mim mesmo que iria forjar armas. ... Além disso, construí minha forja no alto desta colina somente porque aqui perto existe uma caverna cheia de minérios raros.

– Ninguém teve alguma ideia parecida? – Prosseguiu Gaiou curioso.

– Não, pois a caverna esta lotada de Digimons agressivos que, assim como eu, não ligam para dinheiro. Apenas fazem aquilo que suas almas dizem que devem fazer. Eles se alimentam dos mais fracos, e eu encho eles de porrada e forjo armas. Só.

– O que faz com as armas?

BanchoLeomon parava de malhar o ferro por alguns instantes, pousando o martelo sobre a bigorna e o metal ainda quente. Parecia pensativo por alguns segundos, dando a melhor resposta que havia conseguido formular para aquele momento:

– De vez em quando, algum andarilho ou aventureiro passa por aqui. Eu acabo os deixando levarem alguma arma ou escudo para se protegerem em suas viagens. No final, eu me dou ao trabalho de fazer estas armas e acabo as passando por um preço baixo ou simplesmente de graça.

Heh, uma atitude que combina com alguém que não liga para dinheiro. – Gaioumon se virava na direção da saída. – Vou ir correr um pouco.

Espere! – Falou alto e firme. – Como estão suas feridas?

– Estão bem, acredito. Elas já estão quase que completamente cicatrizadas... Obrigada por se preocupar.

Gaioumon começava a correr. Podia estar sem suas espadas, mas achava que era bom para sua recuperação fazer alguns exercícios, afinal; Ficou quatro dias deitado, procrastinando... E quando enfim conseguisse um par de espadas novas, iria dar início á um treino mais pesado que o habitual, desbravando alcançar a força necessária para superar Wargreymon X. E seu foco estava todo voltado para isso.

Quando BanchoLeomon era deixado sozinho dentro da forja, alguns pensamentos perturbavam sua mente:

– Ele ainda não notou de quais feridas estou falando, moleque burro...

***

Última parada! Por favor, desembarquem todos! Não irei prestar serviços pelo resto do dia!

Era o que o Trailmon dizia enquanto abria as portas de todos seus vagões e esperava seus passageiros descerem, impacientemente. Metalmamemon finalmente havia chegado ao seu destino, à pequena cidade de Hanami.

Hanami foi fundada por uma Lillymon e uma Lilamon, embora essa não tenha sido a intenção inicial de ambas. Haviam apenas construído um entreposto comercial no meio daquela região, esperando poder ajudar os viajantes que passavam por aquela rota, mas devido ao fato do local estar cheio de Digimons selvagens, e da dupla ser forte o bastante para mantê-los longe alguns viajantes; Resolviam ficar e estabelecer moradia aos arredores, e foi assim que a cidade fora construída, sendo nomeada de Hanami - que significa olhar as flores, em homenagem às duas heroínas locais que faziam belas pétalas caírem sobre os espectadores de suas batalhas para defender a cidade.

A pequena cidade em si não era um ponto turístico, onde sua única atração é a estátua das fundadoras da cidadela, que fica na área central da mini metrópole. Seu lucro vinha da venda de mantimentos e de hotelarias com os viajantes que chegam lá. Por ter pouca expressão ela não devia ter recebido uma estação de trem, mas devido ao feudo de Zanbamon não ter aceitado que uma estação fosse construída em suas terras, a melhor opção era tornar Hanami a parada final de alguns trailmons.

Tetsu havia ido até Hanami por ser o local mais próximo da forja do lendário BanchoLeomon. Queria pedir-lhe que melhorasse a resistência de sua armadura e armas metálicas, mas antes tinha que descobrir como chegar a residência do leão humanoide e, talvez o mais importante, comprar um poncho novo, pois o seu havia sido destruído na batalha contra o Deputymon durante a viagem.

O MetalMamemon começava a andar pela cidade procurando uma loja de roupas, sabia que o local estava cheio de Digimons planta e esperava encontrar um Ponchomon - um Digimon cactos que se veste com roupas mexicanas - que estivesse vendendo a veste que necessitava, embora uma loja de tecido também servisse. Era só comprar um pouco de pano e fazer um furo nele, já que fora assim que conseguiu seu primeiro poncho. E enquanto andava pela cidade procurando uma loja de roupas, passava pelo monumento em homenagem às fundadoras da cidade, parando para admirá-lo enquanto imaginava o que havia acontecido com elas:

– Até que elas eram bonitinhas. Imagino o que aconteceu com elas... Será que acabaram perecendo em batalha, ou viveram até uma idade avançada, deixando este mundo de mãos dadas?

– Vejo que você está interessado na estátua...

Tetsu se virava na direção da voz que ecoava, deparando-se com uma Aruraumon - um digimon planta no estágio novato. Tem o tamanho de uma criança de cincos anos. A Arura estava com um crachá dependurado no pescoço que a identificava como guia turística; Mandra:

Fiquei curioso para saber o que aconteceu com elas. ... Essa cidade é pequena, mas já existe há pelo menos 100 anos, não é?

Hanami tem exatamente 300 anos de idade. E sua curiosidade é uma das dúvidas mais frequentes dos nossos turistas. Deixe-me tentar satisfazer sua curiosidade compartilhando meu conhecimento com o senhor. – Sorria. - Dizem que Lilamon e Lillymon eram grandes amigas e sempre estavam lutando lado á lado para defender Hanami. O pensamento mais comum é que as duas se sacrificaram lutando contra um Digimon maligno extremamente poderoso. Elas teriam usado todo seu poder para disparar contra o inimigo a técnica lendária conhecida como “Love Love S2 Marvel Flower cannon”; Mas isso as deixou sem energia, e elas acabaram por reverter a forma de digitama e nunca mais foram vistas. No entanto, eu encontrei documentos que dizem que a história delas termina de uma forma um pouco mais trágica...

Forma trágica? Aquilo invariavelmente fazia Tetsu se lembrar do que aconteceu em sua vila, mas ele conseguiu facilmente se livrar de seu pensamento, e imaginava que Aruraumon iria contar apenas uma variação menos bonitinha da história anterior - provavelmente sem o “Love Love S2 Marvel Flower cannon”. Aruraumon podia notar que seu ouvinte estava curioso com a revelação que ela estava prestes a fazer:

Nos documentos diz que elas sobreviveram ao confronto contra o Digimon que atacou a cidade, mas depois disso a relação delas começou a mudar drasticamente. Começaram a brigar entre si todos os dias... Aparentemente, o motivo é que Lilamon se sentia menos valorizada que Lillymon pela população local, ou seja, basicamente dizem que Lilamon estava com inveja de sua melhor amiga. Lillymon sempre tentava fazer as pazes com sua melhor amiga e por muitas vezes conseguia, mas depois de algum tempo, isso acabou por tornar-se impossível. ... A amizade entre ambas foi se enfraquecendo até o dia em que as duas acabaram lutando; Uma batalha mortal que terminou com a morte de Lillymon. ... Após o falecimento de sua melhor amiga, Lilamon parece ter recuperado seu antigo comportamento, mas ela se exilou nas colinas e desde então ninguém nunca mais a viu.

Que historia pesada para se contar aos turistas. ... Se for verdade o que você falou, acho que até faz sentido a primeira versão que você me contou ser a mais aceita. Ninguém vai querer que um par de heroínas tivesse um fim tão trágico, né? – Comentava enquanto tirava o chapéu da cabeça.

Às vezes eu torço para que aqueles documentos sejam falsos. Mas eles foram escritos por um Jyureimon... Eles vivem muito tempo. Não dúvido nada que aquele senhor tenha visto a luta das duas com os próprios olhos. – Pausa. – Mas sendo verdade ou não, é verídico que esta cidade foi criada pela amizade delas. ... Agora me diga; No que mais eu posso ajudar?

Eu preciso de um poncho. – Respondia em tom sério, afastando o peso que formara-se acerca da história de há pouco.

Aruraumon acabava achando engraçado o olhar e toda a pose que o MetalMamemon fazia e acabava rindo dele, mas logo continha sua risada:

– Desculpe-me, eu não resisti. Por favor, siga-me. Vou te levar até a loja de tecidos de um amigo.

Você não devia rir de quando alguém faz algo legal.

Enquanto Tetsu seguia seu curso para conseguir uma roupa nova; Gaioumon havia terminado de fazer sua corrida matinal, completando o percurso mais rápido do que nos outros dias, retornando seguidamente para a forja mais cedo. Deparava-se com uma cena inesperada; Havia um cliente no local - ou talvez um viajante que acabou passando por lá por acaso -; Era um Kotemon - um Digimon réptil que veste um uniforme para prática de kendô. Ao que parecia, o novo Digimon no ambiente tentava convencer BanchoLeomon a vender-lhe uma arma de verdade:

– Vamos lá ojisan; Me venda uma espada de verdade! Não posso vencer lutas usando uma espada de bamboo!

Já disse para não me chamar de tiozão, pirralho! E como venho lhe dito há uma semana: você só vai acabar se cortando caso esteja com uma espada de verdade.

E-eu andei treinando minhas técnicas de combate, ojisan! – Dizia aquilo em forma de ameaça enquanto apontava o bamboo na direção do ferreiro.

E lá vamos nós de novo... – BanchoLeomon resmungava antes de ser atacado.

Fire men!

A espada de bamboo era encoberta por chamas e Kotemon avançava na direção de BanchoLeomon, dando um salto para tentar atacar a cabeça do leão. O ferreiro apenas contra-atacava com um peteleco contra o capacete do pequeno samurai e o disparava para fora da forja com aquele simples golpe. Kotemon rolava pela superfície, parando com a cabeça no chão e as pernas levantadas para o alto. Este se levantava e voltava ao ataque, agora realizando vários golpes com sua espada:

Men, do, kote! Men, do, kote! – Repetia aquelas palavras enquanto desferia uma sequência de golpes rápidos, que eram desviados facilmente por BanchoLeomon. Os dois iam andando pelo interior da forja e Kotemon acabava derrubando vários objetos no chão, causando uma verdadeira bagunça no decorrer das repartições do cômodo.

– Ei moleque, pare com isso! Está bagunçando minha loja de novo!

O grito de BanchoLeomon era como um rugido. O maior segurava Kotemon pelos chifres em seu capacete e o jogava pro alto como se fosse uma mesinha, fazendo o pequeno samurai girar no ar antes de bater as costas no teto e cair de cara. O leão batia uma mão contra a outra como se tirasse a poeira delas:

Agora arrume essa bagunça que você fez, seu moleque! Mal consegue me acertar com esse pedaço de bamboo e quer uma espada de verdade?! Volte daqui há 10 anos e talvez eu deixe você levar alguma espada!

Tá bom, tá bom, eu arrumo a bagunça. – Dizia já recolhendo algumas coisas do chão e colocando de volta no lugar.

Eu ainda não entendi porque você volta todos os dias e sempre faz toda essa bagunça aqui...!

Quero mostrar pra você que fiquei mais forte desde que nos conhecemos, por isso venho todos os dias tentar acertar você e ganhar minha espada de verdade.

– Você realmente acha que vou te dar uma espada só por ter me acertado?

Sim! – Respondia Kotemon enérgico.

Sinto saudades de quando era um moleque irritante igual á você.

Achei que você sempre tivesse sido velho e chato, ojisan.

BanchoLeomon não dizia nada, apenas encarava o pequeno samurai com o olhar mais severo que tinha, fazendo com que este sentisse um forte arrepio na espinha, a mesma sensação como se estivesse olhando para um demônio que iria o picotar em pedaços se falasse mais alguma besteira. Kotemon começava á recolher os objetos do chão mais rápido e em pouco tempo já havia colocado tudo de volta em seu lugar, saindo da forja correndo:

Tchau Ojisan. Amanhã eu volto pra pegar minha espada!

Você devia é ficar em casa ao invés de vir encher minha paciência. Não volte mais seu moleque insuportável! – Kotemon já estava longe enquanto Bancho berrava. – Heh... Esse garoto... Vou encher ele de porrada quando tiver evoluído, só fica me causando problemas... E você pode sair do seu esconderijo, Gaioumon.

Gaioumon estava escondido observando a discussão entre o ferreiro e o garoto, e adentrava na forja, notando que ela estava mais arrumada do que ele esperava e sentava em um banco perto da mesa na qual o homem leão estava aproveitando para tomar um pouco de água e fazer uma pausa do trabalho:

– ... Ele vem todos os dias?

– Faz uma semana que ele dá às caras por aqui todos os dias. Você não o viu por ter ficado dormindo um bom tempo e depois que despertou, você estava correndo no mesmo horário que ele costuma vir me perturbar. ... Ele é um garoto enérgico e impetuoso, mas é educado. Você nem vai acreditar que ele fazia menos barulho quando eu falava que tinha alguém ferido dormindo na minha casa.

O senhor não pretende mesmo dar uma espada á ele algum dia?

Um moleque daquele é imaturo demais pra carregar uma espada. Ele só ia acabar se cortando.

Por falar em espada... O senhor poderia ceder um par para que este servo possa treinar suas habilidades?

BanchoLeomon ficava em silêncio. Parecia estar pensando sobre o pedido do samurai... Ele abaixava a boina sobre o rosto, de forma que apenas um de seus olhos ficasse visível através de um dos rasgos no chapéu e falava com o mesmo olhar rígido que usou contra Kotemon, mesmo Gaioumon sentia medo daquele Digimon:

– Claro que NÃO! Você só ia acabar estragando um belo par de espadas!

Mas... – Gaioumon era interrompido por outro rugido de Bancho.

Vai querer ser insistente como aquele garoto?! Eu não vou ter remorso de dar uma sova em você!

Ce-certo. Nada de espada.

... Aquele Kotemon podia entender rápido igual você. Agora vai fazer o almoço, eu tô ocupado reformando umas espadas.

Enquanto eu estiver por aqui, vou fazer o que posso pra pagar pela minha estadia.

Gaioumon se levantava e ia em direção à saída da forja, antes que ele pudesse deixar o local, o BanchoLeomon se manifestava:

– Como estão as feridas?

– Bem melhores. Acho que logo posso ir embora e parar de incomodar o senhor.

– Não tenho certeza. Talvez suas feridas sejam mais profundas do que você percebeu até o momento.

– ... O que quer dizer com isso?

Coisa de gente velha. Vá preparar o almoço antes que eu acabe comendo metal!

Gaioumon deixava a forja e ia até a casa de BanchoLeomon que ficava logo ao lado da oficina para preparar o almoço. Ele começava á pensar no motivo do ferreiro sempre o perguntar sobre as feridas quando terminavam uma conversa, por mais breve que fosse. Até o momento ele achava que era apenas uma demonstração de preocupação, mas com os comentários recentes, o samurai finalmente começava a notar que havia algum significado maior por trás daqueles ditos... Tendo isto em mente, Gaiou tentava encontrar a resposta que o ferreiro esperava. Como ele conseguiu as feridas? Lutando contra Wargreymon X e o digiescolhido. Por que eles lutaram? Como um samurai, ele tinha que proteger seu senhor. Seguindo essa mesma lógica de perguntas e respostas feitas para si, o samurai encontrava novas perguntas e contradições, coisas que o faziam refletir sobre o tempo que ele havia servido á Zanbamon. O motivo de ter jurado lealdade áquele Digimon e nunca ter o questionado quando começaram suas mudanças comportamentais de benevolente para gananciosa.

De volta á Hanami; Tetsu finalmente havia comprado seu poncho, ou pelo menos era assim que ela chamava o pedaço de pano que usava para ocultar a maior parte de seu corpo. O Metalmamemon estava com o chapéu ainda em mãos e entregava o dinheiro para o atendente da loja de tecido, com um bônus por este tê-lo ajudado á ajustar o poncho novo ao corpo:

Só precisava disso mesmo? – Questionava Aruraumon.

Sim, Mandra. Eu só vim até Hanami por ela ser a cidade mais próxima da residência de um ótimo ferreiro. Quero pedir para ele melhorar minha armadura.

Mas você sabe onde ele mora?

Não tenho a menor idéia.

Siga em direção ao sul da cidade; Lá você irá encontrar uma área cheia de colinas. A casa dele fica no alto de uma delas. Na dúvida, apenas siga as placas que dizem “perigo: mina abandonada”, “Digimons agressivos”.

Mina abandonada?

Sim. Faz 50 anos que ninguém mais tenta minerar lá. Por algum motivo o local ficou enfestado com Digimons perigosos, e isso forçou o fechamento do local. Atualmente só o BanchoLeomon é maluco o suficiente pra ir pegar material para as armas dele lá.

Interessante. Além de ser um ferreiro, o cara deve ser bem forte. Mal vejo a hora de... !

Tetsu ficava em silêncio quando uma espada atravessava a porta da loja, que era derrubada com um chute. Era um Musyamon acompanhado de mais dois Digimons samurais, que pulavam pela janela da vitrine da loja. O primeiro que entrava ia na direção do balcão e apontava a espada para o pescoço do atendente - um Kokatorimon - que estava assustado demais para ter qualquer reação além de recuar seu corpo alguns passos para trás:

– Estou reclamando todo seu dinheiro em nome do novo xogum, Vajramon! Tentar resistir é inútil!

Ótimo, mais bandidos... – Reclamava Tetsu em voz baixa.

Não nos confunda com bandidos! Somos os soldados do senhor Vajramon! – Esbravejou um dos Musyamons – Você devia ficar feliz por nosso benevolente mestre estar dando a chance de todos nesta pequena cidade se tornarem seus súditos ao invés de tomar o local à força!

Vocês já estão fazendo isso por nos ameaçarem para que entreguemos nosso dinheiro! – Gritou Aruraumon.

Ousa elevar sua voz contra seu superior?! Irei fazê-la de exemplo para...!

Enquanto falava o terceiro Musyamon levantava sua espada pronto para golpear Aruraumon, mas suas palavras ficavam engasgadas na garganta quando uma esfera de energia o acertava, lançando este em cima do samurai que estava ameaçando o dono da loja. Tetsu não queria ficar parado observando aqueles supostos honrados guerreiros atacando alguém que apenas disse o que pensava. O Musyamon que restava em pé atacava o MetalMamemon sem perder tempo. Era um golpe forte segurando a espada com ambas as mãos e usando toda a força de seu tronco; O ataque vinha de cima, mas seu alvo apenas ficava parado, e o samurai já podia ver o resultado de seu ataque, um corte que iria partir aquele anão ao meio, mas sua espada se chocou contra uma superfície metálica extremamente resistente - o capacete de Tetsu - quebrando ao meio por causa da força utilizada no golpe:

– Esse é seu melhor, oh nobre samurai?

Impossível! – O Musyamon dava alguns passos para trás, surpreso. – Fique longe... Fique longe de mim!

O antes destemido Digimon agora estava com medo demais para pensar no porque de seu golpe mortal ter falhado, e em seu temor acabava tropeçando no próprio pé enquanto dava passos para trás, caindo sentado no chão. O MetalMamemon colocava o braço canhão para fora do poncho e ia se aproximando lentamente do temeroso samurai:

Eram apenas vocês três? Onde está o tal de Vajramon?

Vajramon está perto daquelas estátuas... O restante das tropas está espalhada pela cidade cobrando tributos...

Obrigado pela informação. Ao menos, agora, me deixe mandá-lo para o nirvana. – Tetsu dizia aquilo apontando seu canhão na direção do Musyamon, começando a carregar energia neste. O samurai desmaiava amedrontado enquanto tinha certeza de que aquele era seu fim, e o ataque de Tetsu era cancelado por ele mesmo.

Aruraumon e Kokatrimon estavam impressionados com a forma rápida e simples que o pequeno Digimon havia dado conta de três no estágio campeão. Mandra questionava sobre o porquê da armadura de Tetsu precisar de melhorias; Ela havia resistido á um golpe realmente forte dado por um samurai experiente, e ainda por cima quebrou a sua espada. O Metalmamemon colocava o chapéu na cabeça e ia em direção á saída da loja:

Estou indo enfrentar o Vejramon. Derrotando o líder, o restante dos bandidos deve perder a determinação para lutar e fugir da cidade.

É perigoso! Mesmo com sua força, o número de inimigos vai ser maior do que o que você encontrou agora! – Manifestava-se Aruraumon, frustrada.

Não se preocupe, eu dou um jeito nisso. – Tetsu saia da loja, mas segundos depois voltava e falava – Não se esqueçam de amarrar esses três.

Agora Tetsu partia rumo ao monumento em homenagem às fundadoras da cidade para desafiar Vajramon para um duelo. O vitorioso decidiria o destino da pequena Hanami. Aruraumon sabia que não tinha a coragem e a força necessárias para ajudar o MetalMamemon naquela batalha, mas conhecia alguém que possuía isto, e ela apenas torcia em silêncio que esse Digimon aceitasse ajudar a cidade naquele momento de necessidade... Mandra deixava a loja caminhando na direção da forja de BanchoLeomon. Se houvesse alguém forte o bastante para combater aqueles bandidos, sem dúvidas era aquele ferreiro eremita.

Vajramon estava na praça central da cidade sendo guardado por cinco Musyamons. Esperava o restante das tropas retornarem para reportar quanto ao saque e tomada de Hanami. ... A cidade era pequena, mas era um bom começo para fundar seu próprio feudo. Depois da derrota para o digiescolhido e o desaparecimento de seu pai; Vajramon decidiu que iria dar início ao seu próprio império, mas preferiu o fazer em outra cidade, pois sabia que os habitantes do feudo que pertencia á Zanbamon não iriam se render tão facilmente a outro xogum. E acreditando que teria melhores chances com uma cidade pequena cheia de Digimons pouco acostumados com batalhas; Não hesitou em ordenar o pouco que lhe restava do exército para atacar a cidadela.

Enquanto esperava seus soldados retornarem, tinha uma estranha surpresa; Um desafiante de porte pequeno que ele mal conseguia encarar nos olhos sem ter de curvar seu pescoço para baixo. Ele ria internamente enquanto observava as roupas de seu desafiante. Estava apenas esperando aquele praticante de kendô dizer seu desafio em voz alta para gargalhar de sua ousadia e deixar claro, em palavras, a diferença de poder entre eles. O pequeno Kotemon apontava sua espada de bamboo na direção do grande oponente, ousado:

Eu, Momotaro, o Kotemon; O desafio para uma disputa honrada. O primeiro a desarmar ou acertar o outro, vence. Caso eu vença, quero que retire suas tropas e nunca mais volte.

Mestre Vajramon, deixe-me cuidar dele. – Um dos Musyamons se oferecia para o duelo.

A resposta inicial do aspirante á senhor de terras era uma gargalha alta. Ele batia os cascos de suas patas contra o chão enquanto ria de seu desafiante. Quando este parava de rir, limpava uma lágrima de escárnio que escorria de seu olho e cruzava os braços em frente ao corpo:

Um Digimon do seu nível quer desafiar um espadachim do meu calibre? Não sou líder de tantos Musyamons sem um bom motivo. Minha habilidade com a espada supera facilmente a de qualquer um deles, que são samurais bem treinados... Acha que um bushi tem alguma chance contra um guerreiro completo como eu? Não me faça rir! Volte pra sua casa, garoto; E avise seus pais que eles agora tem um senhor!

Não... – Momotaro segurava a espada com ambas às mãos e a levantava na horizontal, até ficar com a proteção da mão próxima de seu capacete. – Alguém como você não tem o direito de me chamar de bushi, seu ronin! ... Não, você é menos que um ronin, mesmo um samurai sem senhor ainda segue o código do guerreiro! Se ser um samurai é se tornar alguém que tira vantagem de sua força, eu prefiro ser um estudante de kendô do que um iniciado no caminho do guerreiro, um bushi! Se prepare, Vajramon!

O espírito de luta de Kotemon havia se elevado ao máximo. Ele não podia aceitar que alguém que se chamava de samurai estivesse tirando vantagem dos mais fracos ao invés de protegê-los incondicionalmente. O pequeno Digimon avançou em direção á Vajramon, que fez um sinal para que nenhum dos Musyamons tentasse parar o avanço de seu desafiante, mas tão rápido quanto fez o sinal, voltou a cruzar os braços. Uma sequência de golpes rápidos eram deferidos contra o corpo do aspirante á xogum, mas este parecia não se mover um único centímetro, e tudo que Momotaro conseguia era fazer barulho enquanto repetia constantemente três palavras “Men, do, kote!”– que significam cabeça, pulso e corpo. - Para finalizar sua chuva de ataques, Kote fazia com que a lâmina de sua espada ficasse coberta de chamas e aplicava um forte golpe contra a cabeça de seu oponente - Fire men. Assim que acertava seu último golpe, Vajramon desaparecia da frente do pequeno espadachim, o deixando desconcertado e confuso. Ele tinha certeza que havia acertado todos os golpes em seu oponente... Mas quando foi que ele se moveu? Vajramon surgia atrás de Kotemon e ainda mantinha seus braços cruzados:

– Um Digimon lento como você demora em notar que eu me movimento. Mas eu não esperava que sua percepção fosse tão ruim á ponto de acreditar que havia me golpeado várias vezes.

Maldito! Lute a sério comigo!

– Se quer tanto assim ter uma morte rápida...

Vajramon sacava seu par de espadas - as Bao Jiàn - tentando acertar um golpe em forma de X contra o seu pequeno oponente, mas Momotaro o surpreendia ao dar um salto para trás, esquivando do ataque. E assim que seu pé tocava o chão, ele saltava para frente aplicando uma estocada com sua espada agora coberta de raios - aquele era seu Thunder Kote. Normalmente seria um soco, mas ele treinou passar a carga elétrica de seu punho para a lâmina da espada e dar um golpe em linha reta. - O deva samurai ainda conseguia superar a esperteza de seu oponente com suas habilidades físicas superiores, cortando a espada do oponente pela metade com um golpe rápido de uma de suas espadas, e então acertava um soco contra Kotemon, o jogando longe. Momotaro rolava pelo chão e ficava caído onde parava. ... Sua força era muito inferior a do oponente, se o golpe que o acertou tivesse sido dado com a espada neste momento, ele já teria regredido ao estado de digitama. Vajramon continuava com as espadas em mãos, imponente:

– Levante, Momotaro; Sei que ainda não foi derrotado. – Ele se virava na direção do musyamons que o acompanhavam – Deem uma espada para ele, não vou lutar com um espadachim desarmado.

Um dos Musyamons jogava sua espada perto do Kotemon caído de forma que ela ficava com a ponta cravada no chão. Momotaro olhou a espada no chão e se sentiu tentado a pegá-la e voltar a lutar contra Vajramon. Ele olhava a shinai quebrada em suas mãos e ponderava. Se lembrava da conversa que teve mais cedo naquele dia com BanchoLeomon:

– “Você só vai acabar se cortando caso esteja com uma espada de verdade”.

Eram as palavras que o leão sempre repetia enquanto Kotemon tentava o convencer de que lhe desse uma espada de verdade. Agora ele finalmente entendia o que o ferreiro queria dizer; Uma espada de verdade é pesada, mais pesada que uma de madeira ou de bamboo... Para alguém que ainda estava aprimorando seu físico, uma espada de ferro seria pesada demais e ele poderia acabar se machucando com ela. Para alguém que ainda estava aprimorando seu espírito e mente, uma espada de ferro seria pesada demais para seu ego e ele poderia a usar como uma ferramenta para impor sua vontade sobre aqueles que julgasse ser fraco, o que indiretamente iria cortar sua própria honra. De uma forma ou de outra; Uma espada de verdade era pesada demais para ele manejar em toda sua primazia em combate. Momotaro se levantou e segurou a shinai quebrada com ambas as mãos, assumindo a postura básica de kendô. Seu corpo estava ferido e seu olhar determinado. Vajramon observava seu pequeno opositor e ainda assim o subestimava:

Acha que uma shinai quebrada pode me derrotar? Pegue logo a espada que lhe foi emprestada. – Mantinha-se em silêncio com o olhar fixo em seu oponente... Aquele olhar começava irritá-lo. - Não quer usar uma arma de verdade? Pois bem, experimente o meu Rodha – Terra Blade!

Rodha – Terra Blade: um dos ataques especiais de Vajramon. Ele pode ser executado tanto usando suas patas frontais quanto uma de suas espadas. Ele acerta o chão com força e faz com que rochas enormes e pontiagudas saiam debaixo da terra por uma extensão de 50 metros á frente de onde o golpe foi dado. Um ataque mortal e perigoso, dado em locais fechados ou estreitos pode significar o fim de seu alvo. - O aspirante xogum atacava aquele aprendiz de guerreiro atrevido por o olhar como se não o temesse sem hesitar por nenhum momento; Mas era neste momento que ele era surpreendido por Momotaro. O pequeno espadachim ao invés de tentar desviar ia em direção ao ataque do inimigo, saltando por entre as rochas que se levantavam do chão como espadas e lanças tentando o estraçalhar. O máximo que o ataque do oponente conseguia fazer era arranhar o Kotemon sem parar o avanço dele. Naquele momento, os Digimons que estavam lá presentes sentiram o espirito de luta de Kotemon brilhar com tanta força, que era certo que ele estava digievoluindo no meio da batalha; E antes mesmo de alcançar um novo nível, ele já demonstrava um pouco de seu poder, e ao invés de esquivar das últimas pedras, ele passava por entre estas girando como se fosse um furacão, as fatiando com sua shinai quebrada. Notando o perigo que Vajramon corria, os Musyamons interferiam no duelo, atacando o Kotemon em conjunto, acertando-o com suas espadas e o derrubando mais uma vez. Momotaro caído no chão parecia um pouco confuso, por um instante ele conseguia sentir apenas seu oponente... Era como se o resto do mundo não importasse e ele conseguia prever cada movimento de seu oponente, mesmo de onde cada uma das pedras iria surgir. Ele queria se levantar e continuar lutando, mas seu corpo já não suportava mais, estava ferido demais... Em sua frustação, ele gritou com algumas lágrimas escapando de seus olhos:

Por que eu sou tão pequeno e fraco?!

–Não diga isso!

Tetsu finalmente havia chegado à praça central para desafiar Vajramon. Havia demorado por ter derrotado todos os Muysamons que encontrou em seu caminho, mas ainda assim fazia uma entrada triunfal, gritando do alto topo do monumento em homenagem ás fundadoras da cidade, tomando toda a atenção dos samurais para si. Ele saltava do alto da estátua e caia curvado para frente, arrumando o chapéu sobre a cabeça quando ficava em pé:

Você lutou bem. Foi incrível enfrentando esse Digimon de estágio evolutivo acima do seu. Se ele estivesse sem guarda-costas, com certeza você teria o vencido no seu último avanço. ... Estou assumindo a luta de onde você parou agora.

Mestre, deixe ele sobre por nossa conta.

Os Musyamons tomavam á frente da batalha para proteger seu senhor, ficando os cinco como uma muralha enorme contra mais um Digimon de porte pequeno. Eles achavam que aquele era outro Digimon novato com mais coragem do que força, só que desta vez não iriam dar tempo para ele aumentar sua determinação ou força durante o combate. Não queriam correr o risco de um novato evoluir para uma forma que conseguisse superar a força deles ou até mesmo a de Vajramon.


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