Digimon Champloo escrita por Shen


Capítulo 1
Capítulo 1 - Gaioumon




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O universo digital chamado Digimundo; Uma realidade paralela á nossa, onde reinam as criaturas conhecidas como Digimons. Este firmamento ao mesmo tempo em que é diferente do nosso, é semelhante em vários aspectos, tais como áreas onde a selvageria impera e apenas os mais fortes sobrevivem, além da forma complexa de organização, criando um conceito todo próprio de sociedade.

Era noite no castelo de Zanza. A construção fora criada em base de fortalezas históricas existentes no Japão feudal, fazendo com que o mesmo seja uma construção digna de um xogum - um imperador militar.

No ultimo andar da torre principal ocorria uma reunião entre o senhor de todas aquelas terras e seus principais guerreiros:

- Vajramon, como foi á cobrança de impostos desta semana?

Perguntava Zanbamon, o Digimon metade homem e metade cavalo. Sua aparência o fazia assemelhar-se á um samurai montado, já que sua parte equina possuía cabeça própria, enquanto que a metade humana fica na parte traseira, não na frontal, como é comum na maioria dos centauros. Vajramon, o outro centauro presente - que segue o padrão normal, apesar de sua cabeça ser de um touro e seu corpo ser completamente negro e ser encoberto por uma armadura vermelha -; Levantava sua taça cheia de sake para o alto, demonstrando animação:

- A coleta de dinheiro foi fraca, pai! Os camponeses disseram não ter condições para pagar o tributo... Então ordenei que minha tropa tomasse a comida como pagamento pela proteção!

- E tomou a vida de alguns camponeses indefesos no processo. – Afirmava Karatenmon, um corvo humanoide que, devido ao seu treinamento; Desenvolveu a habilidade de ver o coração de outros Digimons e os ler como se fossem livros.

- Karatenmon, como ousa me acusar de tal forma perante meu pai, o xogum Zanbamon?! – Retrucava Vajramon, enérgico.

- Vajramon-dono, o senhor sabe que não pode esconder nada dos meus “olhos do coração” e nem do mestre Zambamon...

- Seu servo idiota! Fica se achando importante por causa dessa sua habilidade imbecil, eu vou acabar com você aqui e agora!

Percebendo que o ânimo de seu filho havia se exaltado por conta da bebida, Zanbamon sacava sua espada dourada Ryuzan-maru - uma espada dourada imensa, que apenas um Digimon de tamanho gigante como o xogum conseguiria usar em combate -, e cravava com força sua ponta entre Karatenmon e Vajramon:

- Não haja como um imbecil, filho! ... Todos os presentes nesta sala sabem que você ainda não tem habilidade o suficiente para enfrentar o Karatenmon em combate. Ele é um samurai perfeito que você deve almejar se tornar para substituir meu cargo quando chegar a hora!

- Obrigado pelo elogio, meu senhor. – O corvo aproveitava a deixa para provocar o touro. - Caso seja á vontade de meu senhor, posso mostrar o caminho dos “olhos do coração” para seu impetuoso filho...

- Não preciso de sua ajuda, corvo ousado!

O xogum riu da forma infantil de seu rebento por fim, recolhendo sua arma, dando seguidamente mais um gole em seu sake - bebida que, até então, havia sido “dada” como parte do pagamento dos impostos recolhidos por Vajramon. Visto que a pequena briga havia sido apaziguada, Zanba percebia que um de seus servos mais leais parecia estar preocupado, não havia tocado na comida ou sequer interferido no típico desentendimento entre o corvo e o touro:

- Gaioumon, a comida não esta á seu gosto?

O samurai piscava algumas vezes os olhos quando escutava a voz de seu senhor o chamar, levando os olhos da comida até Zanbamon e Gaioumon. Era uma subespécie do famoso Wargreymon - nesta versão, porém; Sua armadura é semelhante à de um samurai e não possui manoplas com garras, mas em compensação, luta usando duas espadas. O digimon dragão juntava seus pensamentos e respondia polidamente a repreensão do xogum, concentrado:

- Me perdoe meu senhor, mas despertei sem fome hoje. A espada deste servo tem muitas dúvidas...

- Vejo que são questionamentos importantes para ti, Gaioumon. Como seu senhor e companheiro no caminho do guerreiro, eu gostaria de ajudá-lo.

- Obrigado, mas este servo recusa a oferta.

- Eu insisto!

Zanbamon não costumava demonstrar paciência, e se achasse conveniente, tiraria as dúvidas de Gaioumon á força. O samurai não temia a fúria de seu mestre, mas buscava seguir os preceitos de quem assume o titulo de “aquele que serve”:

- Peço teu perdão novamente, meu senhor... Agora como ordenado, este servo irá falar sua dúvida perante ti e aos os generais aqui presentes. – Pausa. - ... O bushido ensina que devemos ser justos e benevolentes com os fracos, ao mesmo tempo diz que devo ser leal ao meu senhor e ser dedicado com meu dever.

Enquanto Gaioumon se explicava, a sala ficava em total silêncio. Alguns já começavam a entender em que ponto o samurai queria chegar. Karatenmon podia ver o coração de seu companheiro tremendo por debaixo da armadura negra, sendo de todos naquela reunião o único que sabia a dedicação de seu companheiro ao bushido. Apenas uma ordem de Zamba e o Gaio cometeria seppuku naquele exato momento. O corvo temia pelo que poderia vir á ocorrer caso seu amigo falasse qual era sua dúvida, assim tentava o interromper:

- Gaioumon-san, seu dever com nosso senhor é o ponto mais importante em seu título.

- Karatenmon, este servo acredita que tu viste meu coração sem malícia em teus pensamentos, mas peço que não se preocupe e permita-me terminar minha linha de raciocínio.

A ansiedade começava a tomar a sala. O que Gaioumon tinha á dizer que fazia o corvo, braço direito de Zanba, tentar o deter? Gaioumon e Karatenmon eram mais do que companheiros no dever, já eram amigos quando ainda estavam no nível novato e treinaram juntos para se tornar os habilidosos guerreiros digitais que são. Gaioumon se voltou novamente ao xogum:

- Este servo não dúvida da sapiência de seu senhor, mas suas lâminas estão inquietas... Mestre Zanbamon, este servo não consegue entender como o uso da violência beneficia na cobrança de impostos do feudo. Qual o sentido em manchar o chão com o sangue de camponeses?

- ... Achei que fosse uma pergunta difícil de responder, Gaioumon. - O xogum dava uma gargalhada e grande parte dos convidados o acompanhava, parando somente quando este cessava o próprio riso. Zanba prosseguia com as próprias palavras em sequência. - Os camponeses nasceram para alimentar os mais fortes em troca de proteção. Usar a violência é uma forma de os lembrar porque precisam de nossos serviços e do porque devem sempre manter seus impostos em dia.

- Este servo não acredita que governar pelo medo irá fazer com que o povo adquira respeito pelo meu senhor. Além disso, matar camponeses causará diminuição na capacidade de produção do feudo, e nesse ritmo os fortes estarão morrendo de fome e os fracos perecendo por falta de proteção.

Uma garrafa de sake era lançada contra o rosto do samurai, sendo quebrada assim que entrava em contato com seus chifres em forma de lâmina. Gaioumon não se feria, mas parecia desacreditado com o ato de seu senhor:

- Matar um ou dois camponeses não é um problema! Eles irão voltar à forma de digitama e reiniciar suas patéticas vidas como fracos incapazes de se proteger! E sempre irá haver digimons dispostos á trabalhar em troca de proteção! ... Samurais devem se preocupar em manter suas espadas afiadas e estômagos forrados de comida! – Pausa dramática. – Gaioumon, deixe esta sala imediatamente antes que eu ordene que limpe sua honra através do seppuku! - Gritava Zanbamon furioso. Sua voz ecoava por todo castelo, chegando até á vila aos arredores dos muros do império. Naquele momento, todos os servos ficavam no mais profundo silêncio, temendo a espada do xogum.

- Com sua licença.

Gaioumon mal se retirava da sala e Vajramon já estava á postos para insultá-lo, apenas não o fazendo por ter vislumbrado o olhar furioso de Karatenmon. O corvo parecia estar pronto para matar qualquer um que ousasse ofender seu amigo ou sua atitude corajosa - até mesmo honrada - de questionar as ações de seu mestre, que iam contra o código de conduta dos samurais. O touro segurou sua língua e fez de tudo para evitar que o nome do amigo fosse citado em qualquer tipo de conversa. Temia por sua própria vida, e manteve essa posição até Karatenmon se retirar da sala.

O samurai havia buscado refúgio na tranquilidade do jardim. Apenas alguns soldados o patrulhavam naquele horário e com certeza não iriam incomodar Gaio. Enquanto observava as plantas que eram cultivadas por Floramons, o guerreiro se lembrou de quando suas dúvidas quanto sua forma de seguir o bushido estavam corretas. ... Há um mês, no final de mais uma tarde quente de trabalho; Os camponeses retornavam para seus lares para descansar ou partiam para restaurantes locais em busca de diversão barata. Nesse dia, um evento inesperado agitava o castelo: Zanbamon iria pessoalmente coletar o imposto semanal, pois queria confirmar os rumores de que seus soldados estavam exigindo uma taxa menor de tributos do que o exigido. Isso obrigou os musyamons – os responsáveis pela guarda do castelo - assumirem a função de tropa móvel, pois os responsáveis por isso não estavam ápostos para a situação, tendo assim Gaioumon no comando da pequena tropa enquanto Karatenmon fora obrigado á ficar protegendo as muralhas do castelo sozinho. Assim que chegavam à vila, a tropa chamava a atenção para a rua principal. Os camponeses, compostos por diversos tipos de Digimons - a maioria de nível campeão e novato -, que estavam nos arredores se aproximavam para descobrir o motivo do xogum por seus pés na vila:

- Povo da vila Sakata, eu, Zanbamon; Vim pessoalmente coletar os impostos. É uma forma de mostrar minha gratidão por efetuarem o pagamento de tributos corretamente.

- Ó senhor Zanbamon, o povo fica honrado com sua benevolência e reconhecimento com nosso trabalho duro, mas temo que o senhor corra perigo fora do seu castelo. – Um Gekkomon - um digimon sapo que possui uma trombeta em torno do pescoço - ancião se manifestava em meio a multidão.

- Entendo sua preocupação ancião, mas infelizmente não estou aqui apenas como forma de agradecimento. ... Recentemente escutei rumores de que os impostos não estão sendo devidamente cobrados por meus súditos, então acho importante confirmar isso, pois posso ter traidores dentro do meu exército... E isso é por demais arriscado. Então peço que tragam o dinheiro e entreguem para meu contador, Vajramon.

O filho do xogum podia ser pouco refinado em seus modos, mas era muito bom em contar moedas, compartilhando assim da ganância desenfreada do pai.Um á um, os camponeses iam colocando suas economias sobre a mesa. Era possível ver o nervosismo nestes. Fossem seus rostos cobertos de suor, nos olhos assustados ou nas mãos tremendo, como se estivessem remoendo alguma coisa. Gaioumon observou tudo em silêncio, trocando por vezes penas olhares com as tropas para se certificar de que estavam em alerta. Acreditava que toda aquela verificação era apenas perda de tempo, e que todos poderiam estar aproveitando suas horas livres para descansar ou treinar suas mentes e almas.

Quando o último digimon entregou seu pagamento, Vajramon contou a porção de moedas minuciosamente como havia feito até o momento, e só então manifestou-se:

- Pai, eu sinto informar que a quantia coletada foi metade do esperado.

- Metade?! ... Você tem certeza?

- Eu refiz minha conta várias e várias vezes, e o resultado deu no mesmo em todas as tentativas.

- Zanbamon-sama, isso é tudo que temos... Se nos desse um mês inteiro para juntar a quantia, poderíamos pagar o esperado e até mais. – apelou o Gekkomon ancião, pois sabia qual seria a atitude do xogum á partir desta informação.

- É bom saber que meu exercito é leal, não roubando uma única moeda dos impostos que coletam. – Suspirou com pesar pela atitude que iria tomar, como real forma de dissimular seus reais sentimentos. – É uma pena, mas vejo-me obrigado á punir a vila por estar pagando o custo de forma incorreta há tanto tempo. ... Gaioumon, dê ordem às tropas.

Foi naquele momento que as dúvidas de Gaioumon criaram raízes. ... Seguir a ordem de seu senhor ou poupar os camponeses por serem mais fracos que a tropa composta por Musyamons? Era natural que a coleta não atingisse a meta estipulada por Zanba, pois a quantia era cobrada no período de uma semana, e isso estimulou o empobrecendo da vila e a riqueza do domínio. O samurai não demorou em ponderar que o erro de contagem pudesse estar vindo do tesoureiro principal do xogum. E se vendo em um dilema interno e silencioso, o guerreiro permaneceu pensativo, sendo repreendido uma segunda vez, porém, agora por Vajramon:

- Gaioumon, não escutou o que teu senhor disse? Comande as tropas!

- Musyamons, punam estes camponeses. Poupem a vida dos que fugirem, eliminem os que resistirem e capture o ancião Gekkomon. Ele deve estar por traz do plano.

Os guerreiros avançavam sobre a população, acertando golpes de espadas em cada Digimon que estava em seu campo de visão, matando alguns camponeses com facilidade em apenas um golpe. Os mais rápidos conseguiam escapar, enquanto os mais corajosos tentavam retorquir para garantir que mais camponeses fugissem, apenas para encontrar seu fim na lâmina de uma espada. Gaio permanecia em silêncio enquanto observava aquilo que conseguia descrever somente como um massacre. Não conseguia entender como Zanbamon, antes benevolente e piedoso, havia se tornado tão ganancioso á ponto de não ter piedade de quem pegasse uma moeda que pertencesse á ele. Um pequeno e bravo Kotemon - Digimon novato, que veste uma armadura usada em treinos de kendo – surgia do meio da confusão e avançava na direção do xogum. Quando estava próximo do suficiente do alvo, saltava e aplicava um golpe na vertical com sua espada de bamboo, mirando a cabeça de Zanbamon:

- Seu desgraçado! Fire men!

- Muito lento.

Dizia sem mover-se o xogum, pois antes mesmo do novato conseguir terminar de cobrir sua arma com chamas, Gaioumon se punha no caminho do ataque e cortava a espada de bamboo com uma de suas katanas, para em seguida chutar o jovem Kotemon, que caia no chão, ainda consciente, porém imóvel devido à dor. O samurai pousava no chão logo á frente do indefeso ser que havia acabado de golpear. Não tinha intenção de matá-lo, pois sentia que teria feito à mesma coisa quando ainda era um pequeno Agumon:

- Irei pou...

- Mate ele, Gaioumon! Que este pequeno Digimon sirva como um exemplo para todos os outros que ousarem ir contra mim! – Zambamon interrompia o servo.

- Meu senhor... – Gaioumon se virava na direção de seu senhor - Ele é apenas uma criança! Não pensa antes de agir! Devemos poupar a vida dele!

- Samurai, não entende que ele vai se rebelar novamente quando descer? Ou você também pretende se revoltar contra seu mestre?

Gaioumon levou os olhos até Kotemon, que continuava no chão, tremendo de dor como provavelmente nunca havia sentido antes. Aquele novato tinha algo que o tornava especial aos olhos do samurai, a coragem, algo que o dava potencial para ir muito além se devidamente treinado, e ele estava prestes a negar isso. A espada tremia na mão do guerreiro, era a segunda vez que hesitava em seguir uma ordem de seu senhor naquele dia, a primeira vez que sua honra se tornava questionável perante o bushido. E quando extirpou a vida daquele Digimon, foi como se tivesse cortado a própria pele e ossos de seu corpo, a dor do arrependimento era mais forte do que qualquer outra sensação que havia experimentado até aquele dia. Quando finalmente o rebuliço cessava, as tropas retornavam para o castelo, cansadas e sujas com o sangue dos inocentes. Após aquele dia, o ancião Gekkomon foi interrogado até denunciar cada participante do plano para enganar o xogum, e acabou por falecer durante a tortura. Os demais participantes do plano, incluindo o tesoureiro do castelo, foram todos executados em praça pública para servirem de alerta aos que tentassem sonegar impostos.

Aquelas memórias estavam frescas na mente de Gaioumon, como uma cicatriz que demoraria á desaparecer. Não esperava que fosse ter muito tempo de vida, pois havia despertado a fúria de seu mestre, o questionando durante a reunião... Iria terminar como o tesoureiro, o Gekkomon e o pequeno Kotemon; A única diferença é que, naquele momento, o samurai desejava ter aquele fim:

- Nem pense nisso, Gaioumon.

- Karatenmon, achei que estivesse na reunião. O que faz aqui?

- Meu amigo é mais importante que o xogum. Você sabe que não sigo o bushido de forma tão rígida.

- O sensei iria ter vergonha de você.

- Ele nunca teve orgulho de mim, para começar. – Karatenmon sentava-se ao lado de seu amigo. Ambos permaneciam mudos por alguns segundo, até iniciarem uma calorosa risada conjunta.

- Este servo sabe que o sensei sempre se orgulhou do guerreiro que aprendeu a usar “os olhos do coração”...

- E enchia a boca quando ia falar bem do seu projeto de samurai.

Karatenmon não precisava de sua famosa habilidade para saber como lidar com aquele samurai. Havia crescido junto dele e se tornado um dos soldados de Zambamon. Imaginava como Gaioumon estava se sentindo naquele momento, pois apesar de dizer que não seguia o bushido á risca, era tão regrado quanto o amigo, embora fosse menos sensível a mudança de conduta do senhor feudal. Iria tentar apaziguar o coração de seu companheiro ou pelo menos o convencer a pedir perdão por ter questionado a autoridade do xogum perante todos os comandantes antes que fosse tarde demais:

- Gaioumon, você sempre foi assim... Sempre carregou um forte senso de certo e errado, e isso sempre te colocou em problemas. E tinha de ser eu para salvar sua pele. ... Você tem que entender que o mundo não é tão preto e branco quanto parece. Tenho certeza que o mestre Zambamon irá perdoá-lo se pedir perdão agora. Irei com você até lá. – O corvo se levantava e esticava a mão para Gaio.

- Não! ...Quero dizer, este servo não pode ficar na frente de seu senhor neste momento. Continuo com dúvidas se mereço continuar vivendo como um samurai honrado... Talvez eu não tenha mais nem honra, afinal de contas.

Karatenmon sabia que aquilo iria terminar daquele jeito, independente do ele falasse, pois quando aceitaram servir aquele xogum, ambos acreditavam que esse fosse um Digimon de boa índole que seguia o caminho do guerreiro, mas em menos de um ano vinha mostrando mudanças drásticas em sua forma de agir... Primeiro foi aumentando os imposto, depois fez a cobrança de cotas deixar de ser bimestral para ser mensal, então quinzenal e por fim, semanal. Mesmo com seus olhos, o corvo não conseguia dizer o que estava provocando tal alteração em Zambamon, mas seu mestre era a menor de suas preocupações até então. Inicialmente tinha de salvar seu amigo, pois julgou que o senhor feudal não iria deixar aquela afronta passar em branco. E antes que pudesse tentar usar sua cartada final, o som de uma explosão podia ser escutada vinda do portão principal do castelo.

... Quem seria louco o suficiente para atacar pela frente? Definitivamente não era um grupo rebelde!

Karatenmon batia no ombro de Gaioumon:

- Gaioumon, vá assumir seu posto dentro do castelo. Posso sentir a força do inimigo daqui. – Karatenmon abria as asas negras e voava em direção à torre principal. – Eu irei fazer meu dever como yojimbo e proteger o xogum! Conto com você, amigo!

Mais uma batalha que Gaioumon iria enfrentar, mais uma vez iria usar sua espada para combater alguém corajoso ou tolo o bastante para se voltar contra o dono de todas aquelas terras. Enquanto corria para a entrada da torre em que Zambamon devia estar no momento da invasão, ele imaginava quantos inimigos e que tipos de guerreiros haviam ultrapassado a muralha, e se fossem tão fortes quanto ousados não iriam demorar em derrubar grande parte das tropas de defesa. Gaioumon se posicionou na frente da porta de acesso a torre. Seus olhos encravavam a calçada feita cuidadosamente com pedras, onde era o caminho mais curto entre a entrada principal e o posto que o samurai havia assumido. Sacou as duas espadas e aguardou em posição de combate qualquer tipo de ataque que pudesse vir a surgir. Não acreditava que o inimigo fosse o dar a oportunidade de se preparar quando o visse.

Musyamon são Digimons nascidos para o confronto. Cada bit do seu corpo contém informações de combate, cada pixel é uma pequena armadura impenetrável. Terríveis em contra-ataque, estes Digimons samurai usam partes de aranhas gigantes como adornos em suas armaduras, se tornando mais ameaçadores do que suas habilidades com a espada... Porém, todo esse preparo para a batalha mostrou-se ineficaz para impedir o invasor, fossem com lanças ou espadas; Os guerreiros digitais eram facilmente derrubados pelo intruso, um único e intrépido Digimon sendo seguido por uma criança humana:

- Wargreymon, eu o Musyamon mais forte deste castelo irei o derrotar! Kirisute Gomem! – Chamas fantasmais azuladas se juntavam sobre a espada do guerreiro e então avançavam por vontade própria na direção do invasor, tomando a forma de um dragão.

- Não diga bobagens! Matador de Dramon!

Wagreymon; Um Digimon de nível extremo. Um dragão humanoide que usa uma armadura dourada em combate. Suas armas principais são as garras em suas manoplas, que são feitas especialmente para combater Digimons do tipo dragão como ele. O invasor não se moveu para evitar o golpe do guerreiro, e apenas golpeou o dragão de chamas com as garras, dispersando as bolas de fogo que o formavam, diminuindo drasticamente a vontade de lutar do inimigo:

- Saiam da minha frente ou logo vão se tornar hitodama do golpe de outro Musyamon! – Quando terminou seu aviso, o Wargreymon avançou por entre as tropas que já não tentavam o parar.

Seguindo o Greymon, vinha uma criança humana. Era menos ameaçador, mas se os rumores fossem verdadeiros, aquele menino era parceiro de combate do poderoso Wargreymon, e mesmo não participando das lutas diretamente, era a fonte de toda a força que o Digimon estava demonstrando em combate. Era um dos lendários Digiescolhidos que apareciam em épocas em que o Digimundo, e o mundo real, se mostravam em perigo:

- Ainda tem coragem de me enfrentar? Então segurem essa, Força Terra!

Wargreymon retirava energia da terra para executar um ataque ainda mais devastador que seus golpes físicos, levantando ambas as mãos acima da cabeça e juntando toda energia que recebia em um único ponto. O invasor criava uma grande esfera de energia do elemento terra e a atirava contra o restante das tropas, mas antes de acertar o alvo, o ataque colidia com duas lâminas de luz e explodia, jogando os musyamons para longe, que sofriam apenas feridas leves:

- Recuem para dentro do castelo e sigam as ordens dos outros comandantes. Eu assumo daqui. – A voz de Gaioumon saia do meio da fumaça levantada pela explosão.

- Mas Gaioumon-sama, este Wargreymon é forte demais! Mesmo o senhor sozinho...

- Não tenha medo de completar sua frase. “Eu não tenho vida ou morte, sou vida e morte”, isso é parte do nosso juramente como samurais. Lembrem-se disto!

- Sim, Gaioumon-sama! – Todos os guerreiros respondiam ao mesmo tempo enquanto recuavam.

Quando finalmente a fumaça desfazia-se, os dois Wargreymon se encaravam. O clássico Wargreymon, e sua variação samurai, Gaioumon; Cada um analisava o outro dos pés á cabeça. Gaio estava tão concentrado em seu inimigo que por pouco acabava ignorando o Digiescolhido que acompanhava o invasor. O garoto parecia estar tão centrado na batalha quanto os Digimons, pois não havia dito uma única palavra para amenizar o clima... E era mais uma vida corajosa que iria ser tomada pelas lâminas do samurai:

- Você parece ser forte, mas recomendo que saia da frente. Meu assunto aqui é com o dono do castelo, Zanbamon.

- Wargreymon-dono, este servo não permitirá que passe. Renda-te agora e posso garantir que o humano viva.

- Não sou apenas um humano, meu nome é Watatsuki e eu sou o parceiro do Wargreymon! Não vamos desistir até que o Zanbamon pare de abusar de sua autoridade para oprimir o povo da vila Sakata!

Gaioumon não respondeu em palavras, apenas se lançou na direção de Wargreymon e o golpeou com uma de suas espadas. O ataque foi aparado por uma das manoplas do invasor, que contra-atacava usando as garras da mão livre, em um golpe que perfuraria a armadura do samurai, que era mais do que o suficiente para incapacitá-lo. Gaio deu um salto para traz e assim evitou a estocada, mas não demorou em retomar a ofensiva. Agora com as espadas Kikurin em mãos, com sua habilidade especial ativada, cada golpe que fosse executado com elas á partir de agora iria deixar um rastro de luz, e esse mesmo rastro iria ficar imóvel no ar e cortaria qualquer coisa que o tocasse:

- Não irei me segurar contra você, Wargreymon!

O samurai aplicava uma série de golpes rápidos enquanto ia espalhando seu Rinkazan. Seu principal objetivo com aquela serie de golpes rápidos era evitar que o oponente tivesse tempo para preparar a força terra ou tentar quebrar a sequência de ataques com um tornado, para então finalizar com seu Rinkageki - golpe onde ele junta as duas katanas e guia todos os rastros de luz deixados pelo Rinkazan em direção a um único alvo. Para Gaioumon o mais importante naquela hora não era vencer a luta, mas destruir o espírito de luta do Digiescolhido. ... Nunca havia enfrentado um Digimon com um parceiro humano antes, mas segundo os registros antigos, essas crianças são capazes de aumentar o poder de um Digimon de forma inesperada e operar milagres que acabam mudando o rumo de qualquer batalha.

Wargreymon evitava cada golpe com maestria, começando a perceber que seu inimigo não estava mirando para acertá-lo, mas propositalmente para força-lo a se defender. Assim que encontrou uma chance, o invasor aplicou um golpe reto com suas manoplas e forçou as espadas do oponente ficarem no meio de suas garras, então as girava para prender as armas de Gaioumon e quebrar o ritmo de ataques:

- Gaioumon, leve esta luta a serio! Eu percebi que você não tinha a intenção de acertar!

- Acho que você não percebeu ainda.

- Perceber o que?!

Completando aquela ultima sentença, o Greymon curvava ambas as pernas e se impulsionava, aplicando um chute enquanto usava as espadas do oponente para girar e aumentar a força do golpe, que acaba por acertar o queixo de Gaio, o jogando para cima. Mal terminava seu giro e já estava preparando seu próximo ataque, pousando com ambos os pés no chão quando o golpe estava quase pronto para ser executado e derrotar o samurai:

- Força Terra!

A grande esfera de energia laranja estava pronta para ser lançada, mas quando o digimon se movimentava para a jogar na direção do alvo, toda energia se dissipava e deixava Wargreymon confuso. Como seu golpe podia ter falhado naquele momento decisivo? Ele estava na melhor condição de luta possível e mesmo assim sua Força Terra falhou? ... Após se fazer todas as perguntas que podia em um minuto, o corpo do invasor pareceu mais pesado, e respirar se tornava difícil, além do simples ato de se mover fazia o seu corpo queimar. Olhou ao seu redor e os rastros de luz estavam em seu lugar:

- Se você não tivesse atacado, este servo teria o empurrado para fora do castelo e terminaria a luta sem o machucar. Mas agora que avançou contra este servo para vencer, então este servo se viu obrigado a responder. – Replicou Gaiou, altivo.

- O-O que... Você fez?

- Wargreymon-dono, tú não percebestes que sou dez vezes mais rápido que ti? Se este servo tivesse a intenção de acertá-lo desde o começo, tú não teria conseguido se defender...

Watatsuki observava pasmo. Tudo que havia visto era que uma hora Gaioumon estava caindo por causa do chute e então estava em pé, atrás do seu companheiro e de costas para ele. Parecia a cena de uma daquelas séries absurdas de tokusatsu, onde os heróis aplicavam seu golpe fatal e ficavam de costas para o vilão, este então explodia dando fim a batalha. ... Felizmente Wargreymon não tinha explodido, mas jatos vermelhos escapavam de seu corpo e alguns pedaços de sua armadura caiam no chão antes mesmo dele o tocar. Quando o sangue parava de jorrar das feridas, o Digiescolhido se aproximava deste:

- Wargreymon! Wargreymon, fala alguma coisa! Não morra! – O Digimon ficava em silêncio por alguns segundos, mas um de seus braços se movia.

- Pare de achar que eu morri toda vez que um oponente me acertar, Watatsuki.

- Wargreymon, que bom. Vamos escapar daqui, o oponente dessa vez é forte demais.

- Watatsuki, quantas vezes você falou isso antes? – Wargreymon levantava do chão e colocava a mão sobre a cabeça do garoto que estava de joelhos ao seu lado. – Não podemos perder! O pessoal da vila está contando com nossa vitória!

Gaioumon se virava na direção da dupla e sacava mais uma vez suas espadas... Eram oponentes formidáveis. Muitos Digimons de nível extremo haviam sido derrotados pela velocidade do samurai, sendo aquele o único que havia sobrevivido e voltado a ficar de pé no mesmo momento. O que fazia Wargreymon superar seu estado físico e voltar para uma luta que não podia vencer? Era o que Gaio queria saber. E iria lutar sem nenhuma piedade agora para chegar a essa resposta. Cruzou as espadas em frente ao corpo:

- Me mostrem tudo que tem Wargreymon-dono e Watatsuki-dono!

- É primeira vez que não refere a si mesmo como servo, Gaioumon... Acho que não está mais lutando por dever.

- Não diga asneiras. Este servo apenas batalha para defender seu senhor!

- Te falar, viu? De qualquer forma, chega de papo furado. Vamos terminar o que começamos! Tornado Bravo!

Wargreymon flutuava á alguns centímetros do chão levantando ambos os braços, começando a girar rapidamente; Se lançando seguidamente na direção do oponente. ... Aquele era seu Tornado Bravo; Um golpe perfurante, capaz de atravessar qualquer escudo como uma broca furando uma parede. Gaioumon não saia de sua posição atual, movendo suas espadas cruzadas em X para ficarem no caminho do ataque e garantir sua defesa, sendo empurrado por alguns metros até restaurar seu balanço e parar o golpe do oponente, jogando o centro da força para o alto. Porém era surpreendido, pois Wargreymon não parava seu ataque e usava a força centrifuga para realizar um chute giratório, acertando agora a lado direto do tronco de Gaio.

Há muito tempo Gaioumon não se sentia daquele jeito... E já não fazia mais questão de vencer a luta. Apenas queria continuar trocando golpes com um guerreiro que ele considerava estar á sua altura. Tinha se esquecido como era se divertir enquanto manejava suas katanas - as Kikurin -, e podia sentir o metal vibrar em excitação a cada golpe que era realizado. Como servo, ainda via Wargreymon como inimigo, mas como Digimon; Tinha a vontade oculta de tornar aquele invasor seu novo rival ou até mesmo um amigo. A luta se seguia com equilíbrio após o chute que havia sido acertado, nenhum outro ataque tocou o corpo de um dos lutadores. Faziam defesas perfeitas e esquivas como o vento. Se continuasse naquele ritmo, a luta iria perder seu antigo sentido e se tornaria apenas diversão de dois camaradas... Contudo, a vida como servo pode ser cruel, e até mesmo seus poucos momentos de diversão podiam ser destruídos facilmente por uma ordem de seu mestre. A voz de Vajramon ecoou pela entrada da torre até os ouvidos dos combatentes:

- Gaioumon-dono, eu trago uma ordem do meu pai! “Mate ele, Gaioumon!”

As mesmas palavras, a ordem que havia causado toda a confusão nos pensamentos de Gaioumon era dada novamente por seu mestre. Podia ser a voz do filho de Zanba, mas o samurai escutou a voz do xogum claramente, como naquele dia em que matou um indefeso Kotemon. Aplicou um golpe com mais força do que havia usado até o momento, fazendo com que Wargreymon se afastasse alguns passos. E os olhos que antes ardiam com emoção, agora pareciam oblíquos:

- Gaioumon, você vai mesmo obedecer ao seu senhor?! Você sabe o que ele tem feito na vila Sakata?! – Questionava Wargreymon.

- Um samurai deve ser leal ao seu senhor e se dedicar ao dever que tem com ele. Este servo se deixou levar pelo calor da batalha, mas agora devo cumprir o dever de um samurai e usar estas espadas em nome de seu senhor. Adeus, Wargreymon-dono... – Juntava as espadas. – Rinkazan!

Os rastros de luz que foram espalhados durante o combate se tornavam lâminas e então apontavam em direção ao seu alvo, Wargreymon, avançado sobre ele impiedosamente. E eram tantos golpes para tentar se esquivar ou defender, quanto o número de estrelas no céu daquela noite, em que mais uma vez o samurai tinha que matar a si para seguir as ordens de seu mestre. Wargreymon tentava se defender da melhor forma possível, mas até mesmo seu Brave Shield era cortado como se fosse papel pelo golpe final de seu oponente. Quando o último corte o acertou, restavam apenas farrapos do que um dia foi uma armadura. O corajoso Digimon dragão foi-se mais uma vez ao chão e agora, provavelmente; Não iria sair de lá até seu Digicodigo regredir a forma de ovo, para dar início a uma nova vida. Gaioumon guardou ambas as espadas em suas bainhas... O som do metal tremulando em suas mãos era extremamente incômodo. Escutou o som das palmas de Vajramon, que se aproximava enquanto comemorava a vitória arrebatadora:

- Bom trabalho, Gaioumon-dono. Nenhum inimigo pode se opor ao meu pai enquanto você estiver do nosso lado. – Quando chegava perto do Digiescolhido, sacava uma de suas grandes espadas. – Pode deixar que deste pequeno cuido eu.

- Vajramon-sama, este servo pede que tenha piedade da vida desta criança. Watatsuki-dono é totalmente indefeso agora que seu parceiro digital foi derrotado.

- Gaioumon, não aprendeu nada com meu pai? Não devemos ter piedade do inimigo, ele pode estar fraco agora, mas quando seu Digimon renascer, quem sabe se ele não irá vir lutar novamente?!

- Mas... - Era interrompido pelo touro antes de tentar interceder a favor do garoto.

- Sem mais palavras, vou acabar com isso!

Enquanto Gaioumon e Vajramon discutiam sobre que fim dar ao Digiescolhido, Watatsuki estava no chão, debruçado sobre o seu companheiro que ia se desfazendo em dados, em lágrimas pesadas como chuva:

- Wargreymon, você não vai levantar e agir da forma confiante de sempre? Falar que não pode perder enquanto eu confio em você?! Droga! Eu confio em você! Você me ensinou que não preciso confiar em mim, pois faria isso por mim se em troca eu acreditasse na sua capacidade. Droga... Droga... Droga... Não podemos perder aqui! Levanta!

O digimon que estava caído mal conseguia se manter consciente, talvez a única coisa que o mantinha acordado era o peso de seu amigo sobre seu peito. Ele viu a lâmina de Vajramon sendo levantada, mirada na direção do pescoço do garoto e então descer lentamente. Naquela fração de segundos, a vontade de proteger seu Digiescolhido se tornava tão desesperadora que suas feridas pareciam apenas aranhões e o gosto da derrota já não era amargo, ele queria profundamente fazer alguma coisa por seu amigo, qualquer coisa para protegê-lo, mesmo abrir a mão de sua existência. Tal determinação era correspondida quando o Digivice de Watatsuki começava a vibrar e no visor aparecia escrito “X-antibody evolution”, e o corpo de Wargreymon era oculto por uma esfera de luz que surgia sem aviso, obrigando Vajramon á interromper seu golpe:

- O que esta acontecendo?! Ele não pode mais Digievoluir! – Indagou Varj.

- ... Então essa é sua determinação em proteger esta criança, Wargreymon?

Quando a luz se apagava, Gaioumon apenas conseguia observar seu oponente mais uma vez em pé, com uma armadura nova e mais robusta, onde suas garras agora não ficavam do lado de fora da manopla e pareciam ser retrateis. Ver Wargreymon com o Digiescolhido nos braços era como se uma página de um livro tivesse sido arrancada e transformada em realidade. Vajramon tentava em vão atacar o novo e mais poderoso oponente pelas costas, mas era rapidamente impedido por um chute que Wargreymon dava para trás e lançava seu atacante para metros de distância:

- Não brinque comigo, seu covarde! – Colocava Watatsuki no chão e encarava Gaioumon. – Eu sou Wargreymon X! A vontade de proteger meu mestre despertou meu X-antibody! Gaioumon, vamos terminar nossa luta!

- Eu sabia que um Digimon acompanhado por uma criança humana é um adversário formidável. Vamos terminar com isso! Rinkazan!

Gaioumon apenas tinha tempo para ativar sua habilidade, pois o Wargreymon X simplesmente sumia de vista, acertando em um segundo o samurai com um Upper Cut, jogando-o para cima com sua força estupenda. Gaioumon conseguia restaurar seu equilíbrio no meio do ar e ficava flutuando. Sentia que seu oponente queria levar a luta para o ar e assim aconteceu.

Por muito pouco o samurai não era acertado pelo Tornado Bravo do invasor - que agora era muito mais rápido e tinha uma área de efeito maior. Ter esquivado daquele golpe dava a chance que Gaio precisava para usar sua velocidade máxima e aplicar uma grande quantidade de golpes em um único instante como tinha feito antes. ... Os golpes eram aplicados com precisão incomparável, mas nenhum conseguia atingir o alvo, pois este estava muito mais veloz, pelo menos dez vezes mais rápido que a velocidade máxima do samurai! - A evolução por X-antibody tornava qualquer Digimon capaz de resistir á ela mais forte do que sua versão normal. ... O próprio Gaioumon era portador de um anticorpo x, mas não havia desenvolvido suas habilidades ao mesmo nível de seu oponente atual.

Agora ele queria vencer aquele combate e ver o limite de sua força, e os lutadores trocavam olhares novamente:

- Gaioumon, agora eu sou cem vezes mais rápido do que antes!

- Estou ansioso para ver qual de nos terminara de pé, Wargreymon-dono.

- Vamos acabar com isso.

Os guerreiros voavam um em direção ao outro. Gaioumon aplicava um golpe em X com ambas às espadas para cortar o oponente dos ombros a cintura, mas o ataque era aparado por uma das garras de Wargreymon, que sucedia um golpe em linha reta mirando o ponto onde as espadas se cruzavam, fazendo com que as lâminas de sua manopla se projetassem para fora, prendendo as Kikurin entre elas e, como antes; Girava o braço para o lado, mas agora sua força era o suficiente para quebrar as katanas de Gaioumon em três pedaços diferentes:

- Acabou, Gaioumon! Grey Fire Zero!

Wargreymon disparava uma poderosa bola de fogo de sua mão livre contra o peito de Gaioumon. O golpe era tão forte que antes de explodir empurrava o samurai até se chocar contra a parede da torre principal do castelo e só então disparar, causando dano o suficiente para deixar o samurai inconsciente e cair no chão. Agora, finalmente Watatsuki e Wargreymon - em sua forma X - podiam continuar seu avanço até o topo do castelo para derrotar o cruel Zanbamon, pois nenhum dos seguidores deste xogum era capaz de fazer frente à nova forma daquele Agumon. Gaioumon havia sido derrotado, mas era a primeira vez que se sentia tão satisfeito em ter participado de uma luta. As dúvidas antigas pareciam pensamentos sem nenhum valor... O erro de não ter sido capaz de se revoltar contra seu senhor para proteger o povo indefeso parecia ter sido compensado com aquela derrota. E enquanto seu corpo descia livremente em direção ao solo, ele começava a desejar ter sido escolhido para ser companheiro de um Digiescolhido e seguido o código bushido sem dúvidas ou arrependimentos em seu coração... Talvez tivesse se tornado amigo do Digimon que havia acabado de derrubá-lo em combate. ... Os cabelos prateados de Gaioumon o faziam parecer uma estrela caindo dos céus em direção ao chão, encontrando a paz no solo úmido.

Enquanto isso Wargreymon e Watatsuki completavam a invasão ao castelo, chegando ao topo sem grande esforço, pois quase nenhum dos comandantes de Zanba se atreveu á entrar no caminho da dupla. O próprio yojimbo, Karatenmon, abriu a porta para a última sala da torre, onde seu mestre estaria esperando os desafiantes... Mas o digimon corvo fazia isso unicamente por saber da verdade por traz daquelas paredes. Quando o Digimon e Digiescolhido entravam na última saleta, Zanbamon não estava lá, havia apenas uma carta deixada sobre o trono do xogum. Watatsuki a lia e falava em voz alta:

- Ele fugiu! Deixou suas tropas lutando para fugir!

- Então o Gaioumon que lutou para protegê-lo foi abandonado como se não valesse nada? – Wargreymon socava um pilar e acabava o quebrando. – Quando encontrarmos esse Zanbamon, ele vai ver!

- Você venceu o Gaioumon e meu senhor abandonou suas tropas para protegerem um castelo vazio. – Karatenmon se intrometia na conversa. – Wargreymon X, eu dispensarei as tropas e deixarei que cada um siga seu caminho. Zanbanmon deve ter levado todo tesouro do castelo com ele, faça o que quiser com esta construção sem dono.

Karatenmon pegava a carta que estava na mão de Watatsuki e descia cada andar da torre avisando as tropas e demais comandantes que haviam sido abandonados pelo Digimon que juraram proteger. Alguns demoravam mais para acreditar na notícia do que outros, e o corvo não conseguia deixar o castelo sem receber alguns golpes ou ser desrespeitado pelos demais soldados. Quando todos os combatentes da fortaleza haviam deixado o local, Karatenmon finalmente podia abrir as asas e partir daquele local que agora só o fazia lembrar-se da perda de seu precioso amigo.

Na manhã seguinte um grupo de camponeses começava a desmantelar a fortificação. Iriam vender o material para juntar dinheiro para vila e começar uma nova vida. E parte dos samurais que antes serviam á Zanbamon se tornaram guardas de Sakatou, em uma tentativa de se redimir de seus atos. Um fato curioso naquele dia foi ver o velho ferreiro, BanchoLeomon, saindo do castelo em uma carroça. Aquele eremita só deixava sua forja quando tinha algo importante á fazer no local que visitava. O que teria levado o artífice até o castelo Zanza?


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