23:59

A noite havia sido boa, é inegável. Beber e rever velhos amigos, coisas simples a que não podemos nos privar, ao meu ver. Largo o meu casaco no cabideiro e sigo corredor a dentro. Está escuro, as luzes não funcionam direito. Pra falar a verdade, nunca funcionaram, mas o maldito síndico não se importa com isso. O aluguel é barato demais para se importar. O horário exibido pelo despertador me deixa aliviado. "Cheguei em casa cedo, finalmente", é o meu único pensamento neste instante.

23:59

Abro a porta do quarto e me vejo novamente no corredor. "Puta merda, como eu bebi!", reflito. "Maldito déjà vu, devem ter colocado algo na minha bebida, talvez...". O relógio continua marcando 23:59. Mas que diabos? Ouço uma porta se abrir atrás de mim quando já estava fechando a do quar-...?! "Mas que porra é essa?!"

00:00

Estou no corredor de novo! Ando à passos largos pelo maldito lugar. "Relógio filho da puta! Até que enfim andou!", xingo-o mentalmente ao deduzir que estava quebrado. Pressiono as têmporas. "Como eu fui ficar tão bêbado?", era minha principal preocupação neste momento. Quando estou prestes à possivelmente entrar no meu quarto, esperando não voltar pro corredor, escuto passos atrás de mim. Passos pesados, rápidos, uma corrida, eu diria. Tento fugir sem olhar para trás, mas minhas pernas não reagiram tão rápido quanto meu cérebro. Seja lá o que for, tapou a minha boca para evitar que eu gritasse enquanto arrancava meus olhos como um par de amoras podres.

23:59

Acordo. Estava no corredor, minha cabeça doía. Tudo não passava de um pesadelo, pelo que parecia. "Nunca mais vou beber assim", pensei, enquanto me dirigia definitivamente ao quarto, em busca de uma boa noite de sono. O alívio tomava conta de mim, até mesmo ri de ter tido um sonho tão bizarro assim, justo eu. Giro a maçaneta, e o relógio apita, indicando a mudança de horário. A porta range. Ouço os passos atrás de mim.