Tears Apart escrita por Kyon


Capítulo 2
I - Carmesim


Notas iniciais do capítulo

Eu acho que... Escrevi demais pra um capitulo só. :v



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Sua cabeça estava perdida em devaneios. Deitada em sua cama, passava o resto da tarde perdida em pensamentos, conversando consigo mesma. Não conseguia parar de pensar como seriam seus próximos dias. Em plena segunda-feira, Charlotte não queria saber de mais nada, a não ser sobre o dia que viria a seguir. Levantou-se e não perdeu tempo. Apagou a pequena vela que estava acesa em cima de seu criado mudo, que se mantia firmemente em apenas um toco de vela, já gasto. Abriu o guarda-roupa e deu de cara com as inúmeras fotos do garoto, espalhadas nas portas. Todas coladas, uma em cima da outra, mostravam as diversas faces do menino. Com um sorriso cruel, a morena posicionou-se de forma a dar vários beijinhos em cada um dos sorrisos ou borrões sobre as portas de seu guarda-roupa.

Passou algumas horas procurando algo para vestir no dia seguinte, depois de escolher a combinação perfeita, tratou de cuidar melhor do cabelo e escovar os dentes algumas vezes. Tomou três ou mais banhos naquele dia também. Perdeu as contas da quantia de vezes que refez as unhas ou passou o creme para rugas na pele. Acabou por dormir no sofá, após anoitecer, justamente pensando em como seria o dia seguinte.

***

O dia amanheceu nublado. O céu, que no dia anterior estava azul, dava lugar a nuvens negras de chuva, que pareciam explodir a qualquer momento. Porém, Char não iria se abalar apenas com isso. Trocou-se em sua combinação de roupas, caprichou no perfume e escovou os dentes o melhor que pôde. Ela vestia uma blusa em um tom ciano, juntamente com uma saia cinza. Tratou de colocar os all star de sempre, na cor vermelha, e se encheu de enfeites e acessórios, como brincos, colares, anéis e outros mais. Fez até questão de passar perfume nas roupas e no cabelo antes de sair, para fixar o cheiro. Queria que a impressão causada fosse a melhor.

Ainda faltavam trinta minutos para o horário combinado do dia anterior, mas ela não se importava. Alguns cochichos podiam ser ouvidos em alguns cantos, mas para ela aquilo não era nada. Tratou-se de se manter em pé todo aquele tempo, sem encostar em nada para não se sujar. Colocou também os fones de ouvido, tocando sua banda preferida e um tanto underground. Ela dizia que Maximum the Hormone era seu lema de vida. Olhava para o celular de quinze em quinze segundos, para garantir que o garoto não iria se atrasar. E faltando alguns vinte minutos ele surgiu, com os cabelos jogados para trás, trajando a mesma roupa do dia anterior. Aquela camisa amarrotada e a calça jeans largada não tiravam nem um pouco da beleza do garoto.

Charlotte encarou os belos olhos azuis de William, e quase perdeu as forças quando ele lhe deu bom dia. Iniciaram o dia com um beijo sincero, e entraram na escola de mãos dadas, ambos adiantados no horário. William era tão gentil quanto Charlotte pensava. Ele se preocupou em perguntar para ela como havia sido o dia anterior, se ela havia dormido bem, e tratou de conhecer melhor sua nova namorada, perguntando sobre alguns gostos e dividindo o fone de ouvido com a menina. Também falou sobre sua banda preferida, que ele custou alguns minutos para nomear: Arctic Monkeys. E dizia para ela o quão bom estava sendo tê-la ao seu lado, mesmo que por alguns minutos.

Ela, por sua vez, se encantava a cada jogada de cabelo ou sorriso que o menino dava. A devoção por ele realmente havia dado certo. E logo que eles começaram a conversar ela via que ele ficava cada vez mais perfeito. Seus gostos eram completamente iguais, tanto para música quanto para literatura. Ela até mostrou para ele alguns poemas que ela tanto gostava de escrever, e recebeu alguns elogios, seguidos de um comentário em que ambos riram. E ela logo estava perdida em pensamentos, quando o sinal bateu. Eles não estudavam em salas iguais, pois ele estava um ano acima da garota. Como ele era um terceiranista, Charlotte tinha desenvolvido um certo tipo de grupo de meninas, cujo objetivo era simplesmente separar os dois. As meninas daquela escola eram realmente atraídas pelo seu príncipe, e ela não gostava nada disso. Apalpou a mochila do lado e percebei que seu canivete continuava ali.

“Ótimo” — Pensou consigo mesma — “Se alguma delas quiser arranjar briga, vai ter o que merece”.

E assim partiu para sua sala, esperando que os tempos passassem rápido para que ela pudesse encontrar seu amor novamente.

No intervalo, sem pressa, os dois se encontraram e passaram mais tempo conversando. Dessa vez Char tomou as rédeas da situação, e fez uma quase-entrevista com o loiro, que respondeu com muito prazer as perguntas da menina.

— Will, qual seu prato favorito?

— Acho que... Macarrão com queijo. E o seu, Char?

— Bom... Eu gosto de tomar sorvete. Isso serve? — Disse a garota, rindo.

— Acho que sim! Então, acho justo eu te levar para tomar sorvete hoje, que tal? Após as aulas você está livre?

A garota corou levemente, o abraçando. Repousou a cabeça sobre o tórax dele e sorriu levemente, assentindo. Era o primeiro encontro dos dois. Ela se sentia estonteante.

***

Meio-dia era o horário em que eles saiam. Ela dirigiu-se até a entrada, juntamente com o William. De mãos dadas no meio da multidão, antes de saírem, Will parou para falar com várias garota de sua sala, que lhe entregavam alguns doces. Char perguntou-se se algo estava acontecendo, e Will, preventivamente, disse que eram apenas algumas amigas. Ela percebeu que ele queria se livrar de contar o que ocorria, mas tentou não se prender à isso, apesar de estar visivelmente incomodada.

No caminho para a sorveteria, pararam mais algumas vezes. William encontrou mais garotas que o abordaram. Dessa vez a desculpa era de que não as encontrava fazia algum tempo. Charlotte se incomodou ainda mais com isso, e estava irritada com aquilo. “Como assim... Eu deveria ser a única garota para ele, não?!”. Mesmo assim, continuou com ele. Agora, sem segurar as mãos. Para ela, aquilo era quase um crime. Sentiu-se insegura novamente, enquanto caminhavam. Cinco minutos depois estavam na sorveteria.

Após pegarem o sorvete, sentaram-se em uma mesa, com um silencio pesado no ar. Char movimentava-se ao lado dele, mantendo o corpo próximo. Will a envolveu em um abraço e tentou explicar o ocorrido.

— Não se sinta mal, Char. As garotas que passamos são apenas algumas amigas. Você sabe disso, não é? — O loiro disse, apertando a garota contra si.

— Eu acho... Que entendo. Mas ainda sim... Não me sinto segura contigo fazendo esse tipo de coisa. É quase como... — Charlotte não teve tempo de terminar a frase.

Uma figura vermelha sentou-se de frente para eles, numa cadeira à frente. Uma jovem ruiva, de pele clara e vestindo tanto a blusa quanto a calça vermelha sentara ali, com um sorriso quase-malévolo. Ela levou uma das mãos ao queixo e começou a falar, numa voz fina e irritante.

— Parece que o jovem Will não cansa de ficar com as garotas. Finalmente arranjou uma namorada, ou ainda está colhendo migalhas?

Will olhou incrédulo para a garota e rapidamente soltou Charlotte do abraço em que estavam. A ruiva levantou-se e foi até o loiro, o abraçando levemente e apreciando o cheiro de perfume do rapaz. Colocou-se rapidamente próxima à Charlotte e deu um sorriso.

— Quem você pensa que é, garota? — Disse Char, sem medo daquela menina.

— Eu sou a namorada do Will, oras. E quem é você? — Respondeu a ruiva, de prontidão.

Ex-namorada, Victoria. Não temos mais nada faz um ano. Não venha causar onde você não foi chamada. — O loiro interviu, olhando diretamente para Charlotte, que estava visivelmente com raiva.

— Então você criou coragem desses tempos pra cá, não é? Tenho saudades do tempo em que você comia na minha mão. — A ruiva deu uma risada curta e começou a andar para longe com uma breve despedida, acenando a mão e sumindo de vista.

Charlotte não sabia como se sentir. Pensara que William era um garoto simples, mas parecia que aquele namoro seria transtornado demais para si. Levantou-se de prontidão e pegou sua bolsa. William, por sua vez, segurou a garota.

— Não se deixe enganar por aquela menina, Char. Não nos falamos a muito tempo, e demos o azar de encontrar ela aqui. Por favor, não fique triste comigo. — Ele fez uma pausa dramática e voltou a falar depois que a morena se sentou novamente — Victória e eu namoramos a um ano atrás. Eu realmente não sei porque fiz aquilo. Ela realmente não tem nada de bom. Não me leve a mal. Não sou nenhum tipo de cafajeste como ela disse... Sou apenas... Seu namorado. Pense em mim assim, pode ser?

Charlotte via aqueles olhos e simplesmente não conseguia ficar brava com o garoto. Porém, ficou brava com Victória. Aquela garota sim, merecia levar uma boa surra. Pensou bem em como poderia torturar aquela menina... Mas logo pegou-se imaginando esse tipo de coisas... E não teve lá uma boa reação. Logo havia esquecido aquilo e já estavam no caminho de casa.

William levou-a até sua casa, e de lá foi para a sua. Despediram-se com alguns beijos e um breve pedido de desculpas do moço, que ainda sentia alguma culpa por causa de Victória.

Charlotte estava exausta. Deitou-se no sofá, encarando o teto e pensando naquela garota. Como ela podia ser presunçosa a ponto de vir e dizer aquilo para seu namorado, sem nem sentir vergonha? Pessoas assim deveriam morrer, e Charlotte tinha uma opinião bem formada sobre. Ela correu para abrir seu notebook e procurar sobre aquela... garota. Conseguiu informações concretas e viu que não se tratava de nada mais que uma patricinha mimada. Ela realmente merecia um tratamento especial.

Devaneios corriam pela mente de Charlotte, e as vozes começavam a cochichar. Os sussurros eram sombrios e intensos, mas a morena já estava acostumada com aquilo. Desde pequena ouvia essas vozes dizendo o que fazer. Foi assim que ela começou sua jornada nas drogas alguns anos antes, ou que matou seu hamster quando era criança. Porém, agora ela tinha total controle sobre aquilo, e os sentimentos apenas aumentavam. As vozes lhe diziam coisas desconexas, porém sinceras. Ela gargalhava a cada segundo, pensando que ela poderia ser a garota que corrigiria William. Sim... Charlotte estava decidida. Eliminar as garotas que afrontavam William era o mais obvio a se fazer.

— Eu devo, deliberadamente, impedir qualquer uma que entrar no meu caminho. Eu serei feliz com Will, e nada pode me impedir. Essas garotas devem ficar longe dele. – Ela dizia para si mesmo, em voz alta, gargalhando junto com os sussurros.

Deitada em sua cama, agarrou o travesseiro e encarou o teto novamente. Com um sorriso demoníaco no rosto, imaginou que deveria ser forte para manter seu amado junto de si, e que deveria ser persistente para que o namoro persistisse. Acima de tudo, Charlotte pensava que para ser feliz, primeiramente ela tinha que mostrar para os outros que ela estava feliz.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por não lerem.



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