Beyond the Vengeance escrita por Mello


Capítulo 44
Uma Questão de Força


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de dizer que esse capítulo não foi uma grande interrogação e que eu não fiquei horas olhando pra ele pensando se realmente estava bom... mas foi exatamente isso que aconteceu. Isso sempre acaba acontecendo quando tenho algo "novo" para mostrar pra vocês. Enfim, espero que gostem.

Boa leitura.

P.S: Já que o capítulo anterior (onde eu mudei drasticamente o modo de narração) não teve nenhum comentário reclamando, vou tomar como um bom sinal e continuar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/559457/chapter/44

Um pouco antes de entrar na sala do altar, Terry percebeu que muito provavelmente alguém da Ordem estava ali. Após tantas derrotas, tantas falhas, ele ansiava por uma vitória.  Estava com raiva por terem-no feito enfrentar seus pesadelos daquela forma. Especialmente com raiva por terem usado as pessoas que ele amou para tentar atingi-lo. Eles não tinham esse direito.

Quando subitamente foi atacado por Kin e parou o ataque, se surpreendeu por quase ter direcionado a raiva para ela. Isso o ajudou a se focar em seus objetivos: conseguir informações sobre a Ordem e proteger Kin e Tsukino de qualquer ameaça deles. Foi com esse pensamento que ele impediu Kin de se aproximar pela primeira vez, e embora não tenha impedido a segunda, teve certeza de que ela estava bem após ser jogada pela sala. Pretendia mantê-la longe enquanto lutava com Rick, deixando-o o falar por esperar que ele de alguma forma revela-se algo sobre a Ordem.

No entanto, ele não contava que Rick seria Richard, o líder da Ordem, nem que esse mesmo Rick fosse o assassino de Liza.

— E agora? — Rick disse com um sorriso afetado no rosto. — Reconhece a pessoa que matou sua namorada?

Richard não precisava ter dito nada. Por mais que dissesse, Terry não o ouviria. A imagem daquela noite ainda era muito clara em sua mente. O vislumbre da capa preta que o cobria dos pés a cabeça foi como uma faísca caída sobre seu sentimento mais inflamável, a raiva.

Terry nunca sentiu a raiva eclodir tão rápido dentro de si. Antes mesmo que seu cérebro compreendesse as palavras, seu corpo já se movia, invocando as correntes, ativando suas lâminas, correndo na direção do assassino de sua namorada.

Usando toda sua força, ele impulsionou as correntes num arco descendente, acertando em cheio toda extensão do altar em que Rick estava sentado, porém ele já não estava mais lá.

— Essa foi por pouco. — ele disse do outro lado da sala.

Terry ativou o anel e jogou o escudo ainda crescendo em direção a ele, mas antes de atingi-lo, Rick se cobriu totalmente com a capa preta e desapareceu, como se engolido pela escuridão do manto. O escudo bateu na parede de madeira, quebrou o local onde havia batido e ficou preso lá. O líder da Ordem reapareceu um pouco mais próximo de Terry.

— Muito legal, não é? — ele disse, mostrando sua capa, como uma criança mostrando um brinquedo novo. — Funciona tão bem quanto o poder de um filho de Hades, posso viajar nas sombras à vontade. Aliás, foi assim que fugi depois que a matei.

— Cale a boca! — Terry gritou, tirando a espada da pulseira e correndo em sua direção.

Rick desapareceu novamente no momento em que ia receber o golpe.

— Aqui — disse tocando Terry no ombro.

Ele se virou desferindo um golpe com a espada. A lâmina quase acertou Kin que naquele momento tentava arrastar Tsukino para longe da batalha. Terry ignorou completamente os dois e olhou em volta a procura de Rick.

— Você chega a dar medo — ele debochou de volta sobre o altar, agora semidestruído — Vamos ver como se sai com um oponente que realmente queira lutar.

Ele jogou a capa sobre o chão, ela pareceu se espalhar por uma área muito maior do que o pano parecia ter de tamanho. Terry novamente ignorou qualquer coisa que não fosse seu alvo e avançou, porém quando estava próximo algo debaixo do pano começou a crescer e o atingiu, jogando-o para trás.

Quanto Terry olhou novamente, um imenso ciclope havia surgido por baixo da capa e agora a atirava para fora do rosto furioso. Os olhos de Terry caíram direto sobre a clava com espinhos que o monstro carregava, grande o bastante para matar uma pessoa com um só golpe, mesmo que não tivesse espinhos. Terry desconfiou que os grossos braços e mãos do monstro fizessem um trabalho quase tão bom quanto a arma que carregava. Os quase três metros de altura faziam com que sua cabeça quase chegasse ao teto, o corpo largo bloqueava completamente o caminho à frente. Seu único olho focou em Terry, que imediatamente rolou para trás pouco antes da clava mortal descer sobre ele, destruindo o chão com uma facilidade alarmante.

Ainda tomado pela raiva, Terry partiu pra cima do ciclope, empunhando apenas a espada. A clava desceu novamente. Terry desviou apenas o suficiente para não ser atingido, já preparando a espada para um golpe, porém um pedaço do chão de madeira destruído voou com a pancada do monstro, atingindo Terry no rosto, bloqueando sua visão momentos antes do ataque. Compelido pela inércia do movimento anterior, ele continuou sua investida e atingiu o ciclope no joelho, porém, ainda confuso pelo golpe inesperado no rosto, Terry foi literalmente chutado para o alto. Ele mal teve chance de sentir a dor da queda e foi agarrado pelo ciclope, que fechou sua mão esquerda sobre seu corpo, prendendo-o. Seu braço esquerdo conseguiu escapar dos dedos do ciclope, porém o direito, onde estava a corrente e também a espada em sua mão, ficou completamente imobilizado pelo aperto do monstro. Sem poder atacar, Terry sentiu toda sua cabeça vibrar ao encara o rugido do ciclope cara a cara. O mau hálito do monstro o fez prender a respiração.

— Parece que as coisas estão esquentando. — Terry ouviu a voz irritante de Rick se entrepor entre os rugidos da criatura que o segurava. Pelo canto do olho ele notou uma luz diferente no ambiente, mas foi um leve cheiro de fumaça que o fez notar que o líder da Ordem estava falando literalmente.

Por um momento o ciclope pareceu pensar em como o mataria. Pareceu se decidir em usar os próprios dentes, aproximando a cabeça do semideus de sua boca horrorosa. Para Terry, seria uma das piores formas de se morrer, mas isso acabou dando uma ideia a ele.

Levando o pulso esquerdo até a boca, ele mordeu um dos pingentes da pulseira com força e puxou. O cabo da faca cresceu entre seus dentes. Ele quase a deixou cair, mas segurou tempo o suficiente para que a mão esquerda a apanhasse. Girando a faca para direcionar a lâmina para frente, ele golpeou o ciclope, cortando seu lábio inferior com o máximo de força que seu braço esquerdo tinha.

O monstro urrou de dor. Ele largou sua presa para levar a mão à boca ferida e cambaleou pra trás. O movimento rápido fez com que sua mão atingisse Terry logo depois de larga-lo, fazendo o corpo do semideus girar inesperadamente. Terry não conseguiu controlar sua queda e caiu por cima do braço esquerdo. Uma dor aguda o fez gritar e largar a faca, mas logo em seguida a adrenalina da batalha o fez rolar e evitar a crava que caia sobre ele.

Terry rolou novamente e se pôs de pé, ignorando a dor no braço esquerdo. Teve uma visão rápida de todo o local. Havia pequenos focos de incêndio por toda a parte, o fogo perto do altar formava um círculo em volta de Rick que parecia estar se divertindo. Sob os pés do ciclope o fogo queimava livremente, mas o monstro parecia sequer notar. Metade de seu lábio inferior estava cortado, pendurado, quase caindo do resto de sua boca. O sangue escorria livremente e ao cair fazia o fogo chiar e soltar fumaça.

O ciclope desferiu outro golpe com a clava a esmo, passando longe de qualquer coisa se não o chão. Terry se aproveitou que seu lado direito era mais lento por ter que manusear a clava pesada e, fazendo uma finta para enganar o monstro, conseguiu passar de baixo do braço dele, pulando para passar direto pelas chamas e se posicionando de frente para suas costas. Ao mesmo tempo, liberou as correntes e girou a espada para que as correntes se enrolassem por toda sua lâmina. Ele acionou as lâminas das correntes ao mesmo tempo em que saltava para enfiar a espada nas costas do ciclope. As lâminas de ambas as armas entraram cortando a carne do monstro, e fincaram-se fundo em suas costas.

A dor do golpe fez o ciclope urrar e se debater. Sua clava acertou a parede do lado direito e a pancada abriu um buraco quase do tamanho de uma porta. Terry, que ainda mantinha a ponta da corrente firme em seu pulso, teve que se manter perto o suficiente para que um movimento da besta não puxasse o seu braço e o fizesse desequilibrar ou até mesmo arrancar seu pulso fora. Quando ele percebeu que o ciclope tinha cessado com os movimentos mais violentos e agora tentava alcançar a espada em suas costas, Terry fez a corrente dar mais uma volta em seu braço e puxou com toda a sua força. Por um momento a espada e a corrente pareceram totalmente presas às costas do monstro, mas então, com um grito ensurdecedor de sua vítima, as lâminas saíram de onde estavam. Terry caiu de costas no chão e observou o estrago que tinha feito. As lâminas da corrente saindo fizeram o mesmo estrago que a ponta farpada de uma flecha ao ser retirada. Um buraco enorme tinha se formado onde antes estava a espada enrolada na corrente. O ciclope urrou, enlouquecido pela dor, até finalmente cair para frente e parar de se debater.

Terry sentiu seu corpo ficar pesado com o fim da batalha contra o ciclope. Enquanto tentava se levantar, após o calor da luta, todo seu corpo, especialmente seu braço, doía como nunca. Ele se sentou e se apoiando a mão direita no chão conseguiu se levantar. A corrente havia se desprendido da espada, que agora jazia caída no chão. Com a adrenalina acabando, ele sentiu o cansaço abater sobre ele, mas três palmas o fizeram se lembrar de que a batalha principal ainda não havia acabado.

— Muito bom. — Rick parabenizou enquanto batia mais duas palmas. — Quase me impressionou.

Terry tentou ataca-lo com as correntes, mas novamente só acertou o vento.

— O que foi?  — Ele disse em tom de deboche. — Você está mais lento agora. Talvez eu tenha me enganado… — Rick parou de falar quando foi atacado novamente, porém novamente ele simplesmente desapareceu antes de ser atingido.  — Acho que você não é tão forte assim.

— Morra! — Terry gritou, atacando e falhando novamente.

— Na verdade, você é fraco — ele sussurrou no ouvido de Terry antes de desaparecer.

Rick apareceu perto do buraco na parede que o ciclope tinha feito, fora do alcance da corrente. Terry no mesmo momento dispensou a corrente e sacou a lança, atirando-a em seguida. Porém dessa vez seu inimigo nem precisou desaparecer. A lança de fincou na parede, errando completamente o alvo.

— Acho que te superestimei. Com a força que você tem agora não merece o meu interesse. Nem vale a pena te matar. Então, se me der licença, tenho coisas mais importantes pra fazer.

Dizendo isso Rick passou pelo buraco na parede. Chamas próximas se juntaram e formaram uma coluna de fogo em frente ao buraco, impedindo a passagem. Por um segundo torturante, Terry não soube o que fazer. Então, gritou. Simplesmente gritou, exalando toda sua fúria e frustação. Ele encarou a coluna de chamas e o buraco por trás dela, por onde Rick havia escapado. Tremendo de raiva, chegando ao seu limite, ele não pensou no que estava fazendo. Alheio a tudo ao seu redor, ele simplesmente avançou na direção do fogo. Porém, ao chegar próximo à coluna de fogo, foi agarrado. Só a dor no seu braço esquerdo o fez parar por um momento e perceber que Kin o estava segurando.

—O que está fazendo?! Temos que sair daqui!

— ME LARGUE! EU VOU ATRÁS DELE! — Terry se debateu, tentando se libertar, sem nem mesmo compreender o que Kin havia falado pra ele.

Kin abriu a boca, mas foi interrompida quando um pedaço do teto ruiu e caiu ao lado deles.

— Ele se foi! O lugar vai desmoronar, temos que sair!

— NÃO! EU TENHO QUE ALCAÇAR ELE! ELE…!

— Terry!

Por um breve momento, Terry desviou o olhar do buraco na parede e a olhou nos olhos. A face assustada de Kin, a pele pálida e os olhos cheios de preocupação o fizeram lembrar de Liza. A forma como ela o olhava era a mesma de Liza quando estava tentando impedir que ele fizesse alguma besteira. Isso o fez parar de resistir. Teria permanecido no lugar por horas se Kin não fosse forte o suficiente para tirá-lo do lugar. Antes que pudesse perceber estava se deixando levar pelo puxão de Kin, enquanto ainda olhava tristemente para o buraco na parede que pouco a pouco ia ficando maior conforme o fogo consumia suas bordas. O tempo pareceu se tornar irrelevante. Poderia ter se passado minutos ou horas que ele não perceberia. Terry mal notou quando eles saíram do santuário em chamas. Kin havia trazido Tsukino, ainda inconsciente, para fora e o deixado encostado em uma árvore, a uma distância segura do santuário.

Kin levou Terry até a árvore onde Tsukino estava encostado. Só depois de se deixar cair de joelhos na grama foi que toda a raiva e a frustação voltaram para atormentá-lo. Ele cerrou os punhos, tentando se controlar, mas não pôde impedir a lágrimas de caírem.

— Me deculpe…

Kin abriu a boca para responder, mas logo percebeu que não era pra ela a quem aquelas palavras se dirigiam. Todo o corpo de Terry tremia com sua tentativa inútil de controlar o choro, enquanto ele dizia as palavras que jamais imaginou dizer.

— Me desculpe… — ele fechou a mão direita sobre o braço esquerdo, sobre a marca de cinzas que havia ganhado — …Liza. Eu… mesmo depois do que aconteceu com você… mesmo depois de tudo isso… Eu não pude fazer nada! — Ele socou o chão, o que só o fez ficar pior ao ter lembranças de Liza, da primeira vez que ela o ajudou após a morte de Marie — Eu… estraguei tudo que tudo que era importante pra mim! Por minha culpa… você morreu… E mesmo depois disso… eu ainda sou tão fraco como naquela época. Por minha culpa…

Ele não conseguiu terminar de falar, simplesmente permitiu que o soluço preso em sua garganta o interrompesse. Não porque era a opção mais fácil, mas sim porque ele já não tinha certeza se poderia se controlar. Pela primeira vez desde a morte de Liza, Terry chorou tanto na frente de alguém. E, mesmo passando por todos os tipos de dificuldades, enfrentando diariamente seus defeitos e limitações, mesmo em seus momentos mais sombrios, naquele momento, pela primeira vez em toda sua vida, ele se sentiu completamente derrotado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A menos que algo muito urgente tome meu tempo, é quase certo que vou postar mais um capítulo na semana que vem.

Obrigado por lerem e até a próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Beyond the Vengeance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.