Beyond the Vengeance escrita por Mello


Capítulo 36
A chave para o futuro


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoal, tudo bem com vocês?
Demorei um pouco mais do que pretendia, mas aí está. Tive alguns problemas de planejamento e... bem, não posso dar spoiler pra vocês, né? XD
Devo alguns agradecimentos a minha querida amiga bruxinha (sim é apelido e não, ela não gosta dele), ela não tem ideia de como me ajudou, então muito obrigado u.u

Boa leitura.



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A menina e eu seguíamos o caminho em silêncio. Não pude deixar de achar que havia algo além do acaso que a fizera escolher a mim para ser sua dupla, talvez a razão para isso fora o que a motivara a dividir o grupo. Ela caminhava de forma meio artificial, como se tivesse sendo cuidadosa em cada passo. Algo a incomodava. Resolvi quebrar o silêncio.

— O que tem naquele mapa?

— O quê?

— Aquele mapa — repeti — Não é um mapa comum. Ninguém esconderia um mapa comum da forma que você fez. E você disse que entrou em pânico — e usou o charme, completei mentalmente. Apenas mentalmente.

— É… um mapa mágico. Ele vira um mapa perfeito do lugar em que estiver. Pode imaginar que isso pode valer muito para algumas pessoas. E tem havido alguns roubos estranhos de… relíquias mágicas como essa. Por isso entrei em pânico quando vocês chegaram

— Com “relíquias mágicas” você quer dizer coisas que seriam usadas por feiticeiros de Circe, por exemplo? Ou por alguém que mexa com magia.

Ela negou com a cabeça.

— Não. São objetos que qualquer um pode usar. Não… especificamente voltados para quem entende de magia, se foi isso que você me perguntou. Eu mesma não entendo nada de magia. Jason tão pouco.

Imaginei que o outro garoto fosse o Jason.

— O charme não é um tipo de magia?

— Não. É apenas um poder como qualquer outro. Seria como um filho de Zeus controlar raios. É meio como uma coisa que já se nasce com isso, você apenas aprende a controlar. Eu sei que é difícil diferenciar, mas não é a mesma coisa que magia.

— Tudo bem, eu entendi. Só perguntei para ter certeza — disse. Olhei para ela de relance, tentando captar se ela escondia algo — O seu charme funcionou muito bem no Chris — comentei.

— Meu charme sempre funcionou bem — ela disse. Não parecia estar se gabando. Sua voz tinha um tom de aviso… não, algo além do aviso. Funcionou perfeitamente em Chris, mas em mim não.

— Mas…

— Mas não funcionou em você — ela parou. Olhos verdes me fitaram — Eu não entendi no começo, mas agora entendo.

— Entende o quê?

— Existem dois motivos para alguém resistir ao charme: uma paixão muito forte ou… — ela hesitou — ou uma dor muito forte.

Continuamos nos olhando. Olhos verdes. Malditos olhos verdes. Segundos se passaram antes de eu perceber que estava contraindo maxilar. Virei-me e recomecei a andar. A garota fez o mesmo. O silêncio tinha caído entre nós novamente como terra que cobre um túmulo. Mas novamente eu quebrei o silêncio.

— Ainda não me disse o seu nome — dessa vez falei sem olhar para ela, com um ridículo medo de que esse simples ato pudesse fazer ela de alguma forma saber mais sobre mim, como se lesse minha mente. De repente senti-me agradecido por ter ganhado uma proteção mental que pelo menos deixara Chris e outros mentalistas fora da minha cabeça.

— Piper — ela disse — Piper Mclean.

— Terry Rivers — embora meu sobrenome não diga tanto quanto o seu, pensei.

— Olhe, eu não quis te chatear. Só achei que… eu não sei, mas achei que deveria tentar fazer algo.

— Não tem que fazer nada. Seu charme apenas não funcionou em mim. Não chega a ser um problema. Funcionou muito bem em Chris — repeti.

— Como deveria funcionar com todo mundo — ela retrucou.

— Não foi nesse sentido que quis dizer — disse olhando para ela — Nem desse charme.

Suas bochechas ficaram nitidamente avermelhadas. Ela havia entendido muito bem o que eu quis dizer. Dei um riso fraco, sem muito ânimo.

— Pena o Chris não ter notado que você e Jason são namorados. Pra uma filha de Afrodite, você esconde pessimamente o seus sentimentos. E o dos outros também.

Dessa vez ela me encarou com severidade.

— E qual o problema em mostrá-los? — ela disse num tom enérgico. Era mais uma ataque do que uma pergunta.

— Porque não há razão alguma para fazer isso — respondi encarando de volta.

— Às vezes é preciso mostrá-los — ela rebateu

— Chegamos — anunciei.

— Você precisa…

Chegamos — repeti veementemente.

Uma porta simples bloqueava nosso caminho. Torci para que estivesse destrancada. E estava. Girei a maçaneta.

— Uau! — Piper exclamou.

Não fora sem motivo. O lugar era com certeza impressionante. O chão parecia ser feito de um único e imenso bloco de mármore escuro polido. Colunas gregas estavam dispostas em círculo, sustentando o teto do salão. O teto em si era de um azul escuro, como o céu ao anoitecer. E havia pedras brilhantes encravadas nele formando um padrão de estrelas no céu artificial. No centro do círculo formado pelas colunas o piso era um degrau mais baixo, o que deixava o local um pouco com cara de piscina. Só se for uma piscina infantil para anões, pensei. Acima desse piso mais baixo, no teto, se prestasse atenção, podia-se ver as pedras mais brilhantes formarem a letra grega “Psi”. De frente para a “piscina”, num lugar onde o círculo de colunas gregas falhava, havia uma espécie de tablado enorme de mármore (o mesmo do piso, quase como se crescesse naturalmente dele) que sustentava uma estátua de Psique.

A deusa estava sentada sobre os joelhos. Uma das mãos se apoiando no tablado, a outra a frente do rosto, erguida com delicadeza para a borboleta pousada em seus dedos. Ela olhava para frente, de forma que era impossível saber se a estatua olhava para a borboleta ou para mim que estava no círculo de piso baixo. Talvez para os dois. Percebendo melhor, o próprio lugar era um círculo. As paredes faziam uma leve e constante curva, delimitando o salão. Corri os olhos pela parede e avistei uma porta, do lado oposto ao que tínhamos entrado.

— Aquela deve ser a porta que leva a sala que falei — eu disse — A sala com duas portas, umas pra cada lado. Da outra vez que estive aqui escolhi a da esquerda. Aquela deve ser a porta da direita — então era para aqui que eu iria se não tivesse escolhido salvar Chris, pensei.

— Com certeza há muito que catalogar aqui — Piper disse — Mas acho que seria bom darmos uma olhada pra ver se os dois já estão esperando por nós.

— Como quiser. Veja se a porta está aberta.

Ela girou a maçaneta e a porta se abriu. Fazia tempo desde que pusera os pés ali, mas a visão do quadro rasgado era inconfundível. Estávamos no caminho certo. Piper passou pela porta e olhou para o quadro, curiosa.

— O que aconteceu com esse…

A pergunta de Piper se perdeu no ruído de baque que a porta fez ao se fechar, pouco antes de eu poder atravessá-la. Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Comecei a esmurrar a madeira.

— Terry! — ouvi Piper chamar.

Olhei em volta. O salão estava mortalmente silencioso. Não havia nada ali. Nada que pudesse ter fechado a porta daquela maneira.

— Terry! — ela repetiu, fazendo-me perceber que deveria responder.

— Estou bem — falei alto para ser ouvido através da porta que abafava os sons — Fique aí. Espere pelos outros. Vou tentar voltar ou ver se consigo abrir essa porta de alguma maneira.

Ouvi um som abafado que provavelmente estaria concordando, mas já estava me afastando da porta. Cruzei o salão e tentei a outra porta. Também trancada. Algo me trancara ali por algum motivo. A primeira coisa que pensei foi que algo queria nos separar. Dividir e conquistar.

— Droga!

Cruzei o salão de volta, temendo chamar por Piper e não obter resposta. Mas então parei no centro exato do salão, no círculo de piso baixo. Meu olhar foi atraído para cima. A inicial de Psique parecia estar brilhando mais intensamente. Olhei para a estátua da deusa. No ar parecia que uma leve neblina começava a se formar. O ar em si estava mais leve. Não mais leve como se estivesse ficando rarefeito, estava mais leve como se por todo aquele momento eu estivesse num ar pesado, denso, e de repente aquilo havia acabado, substituído por um ar que eu chamaria de normal, limpo.

Meus olhos se voltaram para a porta onde Piper havia passado. Por um momento havia esquecido de que ela podia estar em perigo. Dei mais um passo na direção da porta e… voltei meu olhar para a estátua. Podia jurar que tinha visto a borboleta bater as asas uma vez. Segundos se passaram. A estátua continuava imóvel, mas ainda assim me peguei indo em sua direção. Cheguei bem perto dela, observando a borboleta. Um tanto inconscientemente estiquei a mão para ela e toquei os dedos da deusa antes de chegar à borboleta. Mas agora já não olhava para uma borboleta de pedra, mas sim para uma real, que se levantava em seu voo leve e se dirigia para o centro do salão. Quando me virei já não havia mais estátua. A própria deusa estava sentada sobre o tablado, contemplando distraidamente o voo da borboleta. Não pude evitar dar um passo para trás, assustado com a aparição repentina.

— Já faz um tempo desde a última vez em que conversamos. Espero que não acabe com nada aqui dessa vez — a deusa disse.

Não respondi. Não havia nada para dizer sobre aquilo. Não iria pedir desculpas, muito menos prometeria que não quebraria nada, embora tivesse a intenção de me controlar ao máximo.

— O que quer comigo, Psique? — De repente pareceu extremamente inapropriado tratar a deusa por seu nome tão diretamente, mas já estava feito.

— Ora, mas não seria o contrário? Você veio a mim. É você que quer algo. De fato, você merece algo.

Pensei um minuto.

— Não entendo — disse por fim.

— Eu não digo mentiras, muito menos brincadeiras. Tudo que eu digo tem um propósito. Quando disse que ganhou pontos comigo me referia a esse dia. Você merece uma recompensa, embora não apenas por te escolhido salvar uma vida. Hoje será minha vez de fazer uma escolha. E eu escolho você.

A deusa se levantou. Desceu do tablado e caminhou em minha direção. Quando estava perto estendeu suas mãos. Seus dedos tocaram minhas têmporas, pressionando-as levemente. Ela me olhos nos olhos. Seus olhos eram coloridos com um padrão estranho, como asas de uma borboleta.

— Novamente precisamos cruzar nossos caminhos. O que eu vou te dar hoje não é apenas um presente, mas também uma missão.

A deusa deu um passo para trás, me soltando. Um enxame de borboletas voou até sua mão e quando saíram deixaram algo para trás. Ela a entendeu para mim.

— Uma chave? — era uma chave de ouro, com um padrão antigo embora parecesse nova.

— Para o bem de todos nós é melhor que você não saiba o que é isso. Tudo que você precisa saber é que isso foi perdido, encontrado e agora precisa ser devolvido. Realmente não gostaria de colocar isso nas mãos de ninguém, mas precisa ser feito e você é o mais qualificado.

Eu simplesmente não estava entendendo nada.

— Como isso pode ser um presente?

— Não é, mas pode conseguir algo para você. Na verdade, acho que é a única coisa que pode lhe dar o que você mais busca.

— E o que seria?

— Paz.

— O que você quer dizer?

— É hora de ir. Lembre-se de usá-la bem, só terá uma chance.

Abri a boca para protestar, mas nesse momento Psique tocou minha cabeça e tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Não esqueçam de comentar. Sério, comentem. Ou Zeus vai deixar cair um raio na sua cabeça "por engano".

Obrigado por lerem e até a próxima!



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