Beyond the Vengeance escrita por Mello


Capítulo 16
Assassina e Monstros Mutantes


Notas iniciais do capítulo

E aí galera, tudo certo?
Hoje o capítulo saiu tarde porque eu pensei que estávamos na terça XD
Hey! acontece tá?

Boa leitura



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No breve cochilo que tive eu sonhei com Liza. Ela estava sentada ao pé da nossa árvore (gosto de pensar que posso chamar a árvore de “nossa”), com a cabeça baixa, os cabelos caindo por cima do rosto. Tinha algo nas mãos, mas eu não pude ver o que era. Esperava ser o meu bilhete. Ela ajeitou uma mecha dos cabelos atrás da orelha e eu pude ver seu rosto. Os olhos verdes brilhando, úmidos. Sua boca se moveu várias vezes antes de emitir algum som.

— Terry…

Acordei num sobressalto. Não sabia o que havia me acordado, mas o vento havia parado de soprar e no horizonte, ao norte, uma ilha tinha surgido. Ela era definitivamente maior que a ilha de Atena. Mesmo de longe isso era bem visível. Ainda faltava um bom pedaço de mar antes que eu pudesse desembarcar, mas ao menos já podia ver a ilha. Não obstante, percebi que o sol já estava se pondo. Quanto tempo eu tinha dormido? Tenho que parar de dormir em alto-mar.

Apanhei os remos e me pus a trabalhar. Minha maior frustação era o pôr-do-sol. Era impossível vê-lo sem me lembrar de Liza e nos momentos em que passamos juntos. Ultimamente eu estava pensando demais em Liza. Mais ainda que o normal. Aquele sonho tinha me perturbado. Será que ela realmente estava sentada ao pé de nossa árvore, chorando com o meu bilhete nas mãos? Pensando bem isso era bem possível. Liza teria feito o impossível para me seguir se eu tivesse dado chance. Eu não queria que ela se machucasse, mas também não queria que ela ficasse magoada comigo. Acho que só agora tinha percebido o quanto isso tem sido difícil pra ela. E o pior: eu era o culpado.

Quando desembarquei na ilha percebi que tinha estimado mal sua dimensão, ela era muito maior que a ilha de Atena. A praia era extensa e parecia dar a volta em toda ilha. Além da praia havia uma densa floresta. Os pássaros cantavam em seu interior. Ainda mais além, atravessando a floresta, havia um imenso penhasco que parecia se erguer do meio da ilha. Poderia ter facilmente uns trezentos metros de altura e parecia ser bem acidentado, do tipo que nenhum louco iria tentar escalar. Atena tinha dito que a ilha era perigosa, mas pra mim parecia apenas uma ilha comum. Havia uma floresta cheia de vida que me proveria comida e madeira o suficiente para me abastecer até a próxima vez em que eu fosse navegar. Esse era outro problema, eu não fazia ideia de pra onde ir em seguida.

Antes de qualquer coisa puxei o barco até a areia para ter certeza que as ondas não o levassem embora. Depois iria arranjar uma maneira de amarrá-lo a alguma árvore ou coisa parecida. O sol já estava se pondo então achei prudente procurar alguns gravetos para fazer uma fogueira. Por sorte havia trazido um isqueiro dentro da mochila.

A floresta não facilitava meu trabalho. As árvores pareciam se curvar na direção uma das outras. Nem mesmo a luz do sol passava pela densa camada de folhas no alto das árvores. Por várias vezes tive que usar minha adaga para poder abrir caminho pela vegetação. Acho que passei meia hora procurando gravetos até me dar por satisfeito. Pelo menos eu teria uma boa fonte de calor na noite fria que viria. Também havia uma jaqueta cinza na mochila. Com certeza eu iria precisar dela hoje. Estava voltando para a praia quando ouvi um barulho. Alguma coisa estava se movendo perto de mim. Cuidadosamente coloquei a pilha de gravetos no chão e esperei. Fosse o que fosse poderia me atacar a qualquer momento. Estava pronto para sacar a espada quando outro barulho me fez virar de costas.

A floresta acabou me salvando. Se não houvesse tantas folhas eu nunca teria notado o movimento. Quando me virei também saquei a espada. Uma lâmina a atingiu e pegou nós dois de surpresa. Eu e o meu atacante nos embrenhamos no chão da floresta tentando um se livrar do outro. Consegui agarrar seu pulso e impedir que atacasse, mas ele usou a mesma estratégia. Rolamos por mais alguns segundos antes de eu conseguir mandá-lo para longe com um chute. Rapidamente me pus de pé. Olhamos nos olhos um do outro.

Era uma menina! Provavelmente três ou quatro anos mais velha do eu. Ela era alta, tinha cabelos vermelho-vivos e um olhar cruel. Na mão trazia uma espada muito bem afiada. Vestia uma calça jeans e uma baby-look preta. Até era bonita. Assim… de um jeito meio assassina psicótica. Eu não fazia ideia do por que tinha me atacado, mas é claro que ela não estava disposta a discutir o assunto.

Ela investiu contra mim, brandindo a espada. Aparei o golpe precariamente e tentei me recompor. Ela era mais rápida do que eu imaginava. Tive que bloquear mais três golpes antes que pudesse sequer pensar em algo. A floresta limitava muito nosso espaço por isso, assim que ela ofereceu uma brecha, corri para um lado aleatório. Tinha perdido a noção de onde ficava o mar.

Aquela floresta era uma caixinha de surpresas. Tentei correr por um lado em que houvesse menos vegetação já que eu não tinha tempo para abrir caminho com a adaga. Parecia que eu estava apenas me embrenhando ainda mais na densa floresta, mas de repente eu me vi diante de uma pequena clareira. Se houvesse uma luta teria que ser ali.

Acionei o anel que Atena me dera e senti o peso bem balanceado do escudo. Quando parei no meio da clareira e me virei, a menina despontou do meio das árvores. Tentei controlar minha respiração, ela parecia não ter sequer notado a corrida.

— O que você quer? Por que está me atacando? — Por um momento achei que ela ia responder as minhas perguntas, mas então ela correu em minha direção com a espada pronta para matar.

Levantei meu escudo bem a tempo de receber o golpe. Aproveitei também para tentar golpeá-la. Achei que seria moleza já que eu tinha a vantagem de um escudo, mas ela simplesmente se esquivou do meu golpe como se estivesse em Matrix e chutou meu escudo com força. Fui obrigado a recuar alguns passos para manter o equilíbrio. Uma vaga lembrança me levou de volta ao meu primeiro treino com Quíron. Eu nunca fui bom em me defender com um escudo. Uma ideia surgiu em minha mente: se não posso me defender… Um golpe quase arrancou minha cabeça. Dessa vez me defendi com a espada mesmo. O escudo serviria para outra coisa.

Rapidamente fique na posição que desejava: com o escudo a frente e a ponta da espada se projetando um pouco além dele. E avancei. Em vez de recuar ela tentou se esquivar para o lado para me atacar, mas escolheu o lado da espada pensando que eu estaria mais vulnerável deste lado. Antes que ela pudesse me atacar desferi um golpe em sua espada. Girei rapidamente e, aproveitando a borda cortante do escudo, desferi mais um golpe. O peso do escudo fez com que o golpe fosse bem mais forte do que o de uma espada. Como resultado a espada da garota quase saiu voando de suas mãos, mas ela a segurava firme. Antes que pudesse se recuperar do golpe eu a chutei no estômago. Ela cambaleou alguns passos, o que me deu tempo para fazer um pequeno ajuste no escudo.

Ela me fuzilou com o olhar, pronta para atacar novamente, mas não dei chance. Antes que pudesse avançar lancei o escudo com toda minha força em sua direção (coisa que eu havia treinado antes no acampamento). O escudo estava na direção certa, um disco mortalmente afiado indo em direção à garota, mas então algo deu errado.

Como se não fosse grande coisa a garota fez um movimento com a espada, como se fosse rebater o escudo para sua direita. Mas ela nem chegou a tocar no escudo. Ele simplesmente fez uma curva impossivelmente fechada e entrou na floresta. Eu assisti boquiaberto meu escudo desaparecer e reaparecer no meio das árvores enquanto voava sem bater em nenhuma delas. Ele fez uma curva para o outro lado, mais impossível ainda, e quando chegou novamente a clareira estava vindo na minha direção. Eu estava a um segundo de perder a cabeça quando me joguei no chão. Ouvi o baque do escudo quando finalmente colidiu com uma árvore, se enterrando vários centímetros dentro da madeira.

Com o canto do olho vi a garota vir na minha direção com um sorriso cruel nos lábios carnudos. Num momento desesperador percebi que havia deixado a espada cair. Saquei a adaga o mais rápido possível e arremessei em sua direção sem nem mesmo olhar se tinha acertado o alvo. Recuperei minha espada e me pus de pé novamente. Com pesar notei que a adaga só a havia atrasado. Ela me encarou furiosa.

— Já chega! — gritou — Cansei de joguinhos.

Ela desferiu dois golpes rápidos no ar. Embora estivesse longe demais para me acertar institivamente me esquivei para o lado. Uma ventania violenta passou ao meu lado, aparentemente vinda do nada. De repente vários galhos de uma árvore atrás de onde eu estava caíram no chão como se alguém os tivesse arrancado ou… Cortado! Ela tinha acabado de cortar aqueles galhos com o vento! Olhei para ela, agora realmente apavorado. Seu sorriso pareceu dobrar de tamanho. Como eu poderia me defender do vento? Aquilo era surreal. Nunca tinha ouvido falar que alguém poderia controlar o vento dessa forma. Nem mesmos os filhos de Zeus.

Ela desferiu mais um golpe no ar e eu mergulhei para o lado. Dei uma cambalhota e fiquei em pé novamente. Agarrei o escudo que se transformou novamente em um anel e corri para floresta. O vento passou perigosamente perto de mim. Ele atingiu uma árvore fazendo com que um enorme sulco aparecesse na madeira como num passe de mágica. Forcei as minhas pernas a irem mais rápido, mas a floresta não era um bom lugar pra correr. Os arbustos me atrasavam, alguns me arranhavam, as árvores pareciam surgir do nada à minha frente, mas o pior era o sol, ele devia estar quase desaparecendo e sua luz, tão difícil de encontrar ali, também estava acabando. A última coisa que eu queria era ficar perdido no meio daquela floresta no escuro com uma assassina me perseguindo.

A floresta acabou de repente. O chão, antes de grama, deu lugar a um chão feito de pedra irregular, mas antes que eu pudesse registrar o fato tropecei e caí vários metros a frente. Estava exausto, ofegante. Meu coração parecia querer sair por conta própria do meu peito. Fiquei vários minutos estendido no chão antes de me levantar. O terreno pedregoso subia um pouco até a parede sólida do enorme penhasco. Só então percebi o quanto eu estava longe da praia.

Daquela posição, olhando pra cima o penhasco parecia não ter fim. Seu cume estava além da minha visão. Fora isso o lugar não tinha nada de especial. Tirando aquele terreno de pedra o resto era composto apenas pelas árvores, a mesma mata fechada de sempre. Isso poderia ser tanto uma vantagem como uma desvantagem. Não me agradava ficar em um lugar desconhecido com uma assassina me procurando, mas eu não via escolha. Não me arriscaria a entrar novamente na floresta, lá ela poderia me achar facilmente se estivesse perto o suficiente para me ouvir passar pelo meio da vegetação. Pelo menos naquele lugar eu poderia me manter em silêncio. Se ela viesse eu provavelmente ouviria algum barulho. É o melhor que posso fazer.

Quando o vento soprou de cima das árvores e me atingiu eu quase pulei de susto achando que de alguma forma fosse ela, mas era apenas um vento normal. Praguejei em silêncio. Um vento normal e frio. Na situação em que estava eu não poderia acender uma fogueira para me aquecer. Teria que passar a noite com frio, ou talvez minha jaqueta fosse o suficiente. Provavelmente não. Quando a vesti tive certeza que não.

Com os últimos raios de sol se extinguindo aos poucos resolvi descansar perto da parede do penhasco, usando minha mochila como encosto. Enquanto pensava no que faria naquela noite notei que o pingente da adaga havia voltado. Foi quando eu ouvi um barulho vindo à minha esquerda. Isso são passos? Ela já está aqui? Fiquei sabendo da forma mais horripilante. Um rugido descomunal quebrou o silêncio da floresta. Poucos segundos depois a criatura emergiu das sombras.

Aquele era com certeza o monstro mais estranho que eu já havia visto na vida. Num primeiro momento parecia um leão, mas leões não deveriam ter asas. E com certeza leões não tinham presas de tigre-dente-de-sabre. Ele era imenso. Sua juba passava facilmente da minha altura, era robusto, um verdadeiro rei da selva. E seus olhos amarelos deixavam claro que não estava gostando da minha presença em seu território.

Tentei não entrar em pânico. Saquei minha espada e continuei a encará-lo na esperança de que fosse embora. Leões costuma caçar usando o elemento surpresa, se eu deixasse claro que o estava vendo talvez ele fosse embora. Porém aquilo não era uma caça, era uma disputa por território e ele não iria embora tão facilmente. Ele rugiu mais alto dessa vez e veio em minha direção, correndo.

Para uma criatura com várias vezes o meu peso ele se movia bem rápido. Tive que dar um grande salto para o lado para não ser atingido por sua pata mortífera. Ele tentou de novo. Percebi que minha espada não era a arma ideal para combater aquela coisa, mas percebi tarde demais. A espada foi inútil contra a força e as garras dele. Em um piscar de olhos ela estava voando de minhas mãos enquanto as garras do leão abriam minha camiseta em diagonal deixando ela em frangalhos e expondo o sangue de três belos arranhões no peito. Cambaleei para trás, tentando me afastar. O leão investiu novamente e eu pulei para o lado, mas ainda estava atordoado pelo golpe e acabei caindo. Ele estava pronto para me morder com suas presas enormes quando, por reflexo, saquei a adaga e com um movimento rápido abri um talho em sua bochecha.

O rugido da criatura devia ter sido ouvido por toda ilha. O golpe me deu tempo para ficar em pé, mas isso não chegava a ser uma boa notícia. O leão estava mais enfurecido do que nunca. Eu não podia deixá-lo se aproximar. Do contrário seria atingido de novo. Em vez disso lancei a adaga em sua direção e saquei a lança. Ele se esquivou com agilidade da adaga e fez algo que até agora eu não tinha considerado. Ele começou a voar!

Suas asas se abriram e bateram ritmicamente enquanto ele ganhava altitude. Ele mergulhou no ar tentando me acertar, mas dessa vez fui mais rápido e consegui me esquivar. Algumas tentativas depois ele fez outros três arranhões no braço direito. Esses eram mais profundos. E eu não tinha conseguido acertar um único golpe nele com a lança. Vendo-me em desvantagem ele tentou um golpe final, vindo em minha direção com as patas esticadas prontas para me agarrar, suas presas prontas para me morder. Ele iria se jogar contra mim. Estava perto demais. Eu não conseguiria me esquivar. Se seu peso não me matasse as garras e as presas iriam. Sem opção fiz a única coisa que me restou a fazer. Levantei a lança.

Foi como se eu tivesse sido atropelado por uma locomotiva a todo o vapor. Em menos de um segundo fui empurrado ao chão com violência e arrastado alguns metros com todo o peso em cima de mim. A lança havia entrado quase toda no peito do leão, matando-o instantaneamente. Mas era exatamente isso que havia me condenado. Com o impacto da queda uma das minhas pernas devia ter se quebrado, e eu deveria ter gritado de dor se não estivesse sufocando debaixo do leão morto. Ele era pesado demais para ser sequer movido. Empurrei-o com toda a minha força e tentei gritar, mas o som foi abafado pela grossa pelagem do leão. Meus pulmões gritavam por ar. A queda tinha tirado todo o ar deles. Eu tentava desesperadamente mover o leão, mas não produzia nenhum resultado. Eu precisava respirar. Não podia morrer daquela forma, sem completar a minha promessa. Não. Não!

Senti o leão se mover! Foi pouco, mas perceptível. Imediatamente voltei a empurrá-lo usando todas as minhas forças para tirá-lo de cima de mim. Aos pouco o senti tombando para a direita. Só mais um pouco. Só mais um pouco.

O ar invadiu meus pulmões. Meu peito gritava de dor enquanto eu arfava desesperado por ar, mas eu estava respirando. Eu estava vivo afinal. Minha visão estava turva. Havia alguma coisa parada em pé ao meu lado: um vulto negro disforme. Em outras ocasiões aquilo me teria deixado assustado, mas de alguma forma eu sabia que ele tinha me salvado. Ele moveu o leão. Tentei murmurar um agradecimento, mas minha voz não saiu. Senti-me completamente esgotado. Minha cabeça tombou para o lado e tudo a minha volta sumiu como se o mundo tivesse sido engolido pela escuridão.


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Notas finais do capítulo

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