O Ministério escrita por Vendetta23


Capítulo 2
A Batalha de Sombras




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Na volta para a academia, um prédio separado do Ministério embora sirva para treinar alunos para servi-lo, as mãos de Adam tremiam incontrolavelmente. Exaustivos anos de treinamento haviam servido para fazê-lo chegar até esse ponto, e agora ele não estava preparado.

“O que deu em você?” perguntou Cory, seu colega de quarto, ao se deparar com Adam sentado em sua cama, suando frio. A resposta foi o silêncio. Cory então pegou suas coisas para a aula, se virando uma última vez antes de sair pela porta “Eu estou aqui, ok? Qualquer coisa...”. Quando seu colega saiu, Adam se levantou com dificuldade, enjoado pelo nervosismo, começou a reunir todos os livros sobre os Seyas que possuía em suas muitas estantes, acabou com uma pilha de 16 livros sobre a mesa na qual depois se debruçou e começou a rever tudo o que havia lido um dia enquanto se preparava para os testes ou por interesse próprio. O medo subindo por sua garganta enquanto encarava as ilustrações daquelas criaturas que povoam os pesadelos de toda a humanidade. Ele repousou a cabeça nos braços e começou a chorar.

A Batalha de Sombras havia aterrorizado os humanos muitas décadas atrás, quando homens e Seyas compartilhavam da mesma vasta floresta que cobria toda a terra até onde se podia enxergar, as diferenças entre as raças – não havia essa distinção na época - eram pequenas e não havia motivos para teme-los, só se sabia que uma pequena parte da população nascia com uma coloração de pele que ia escurecendo à medida que se aproximava das extremidades do corpo e essa característica era passada para os descendentes se ambos os pais a possuíssem. Naquele tempo eram chamados Quenyo, que na Língua Mãe significava “de mãos negras”.

Então veio a doença que acreditam até hoje ter sido mandada por deuses carregados de ira, que, com sua febre delirante e vômitos de sangue, ceifou um terço das vidas da população da floresta até que fosse encontrada uma flor, Endara, cujo chá curasse os homens de todos os sintomas. Os Quenyo permaneceram sem cura não se sabe por que, o chá não surtia o mínimo efeito em suas crianças agonizantes, em seus jovens enlouquecidos ou em seus velhos cansados de lutar. Foram arrastados de suas casas e isolados do resto para que não contaminassem mais ninguém, deixados para morrer.

Foi então que um homem, Azalen, se sobressaiu na multidão de moribundos, e por meio de simples palavras, deu força para que todos os Quenyo continuassem a busca por uma cura. Foram semanas se arrastando por uma floresta agora desconhecida, uma Mãe que havia abandonado seus filhos, recusado lhes dar ajuda, todas as plantas e orações que haviam utilizado durante toda a sua vida não serviam para mais nada a não ser lhes dar falsas esperanças. Azalen então, na madrugada que traria o frio do inverno, se colocou no meio do acampamento Quenyo, gritando a todos que havia escutado a voz da Mãe em seus sonhos e que seu sacrifício iria trazer a todos eles a força para sobreviverem e se reerguerem. Logo depois, a quilômetros de distância, podiam ser ouvidos os gritos e lamentos do acampamento cuja terra agora estava manchada com o sangue de Azalen. Não há registros a partir desse ponto, de nenhum Quenyo.

Porém, aos livros de história não faltam detalhes pavorosos do que aconteceu semanas depois, na aldeia humana. A Batalha das Sombras se iniciou no meio da noite, com todos ainda dormindo, quando alguns homens conseguiram avisar por seus gritos que algo estava os atacando já era tarde demais, os Quenyo estavam dentro da aldeia. O que se seguiu foi um derramamento de sangue que inutilizou toda a terra daquele território, onde até hoje nada floresce – são chamadas Planícies da Morte pelos humanos. Os relatos no livro ‘Quenyo, O Momento de Ruptura’, dedicado a deixar esse dia vivo na memória de todos, são desconcertantes, passagens como ‘Não conseguimos ver o que nos atacou, eram sombras, mas sabíamos que possuíam um nome que conhecíamos bem’, ‘Eles eram muito mais fortes que nós, vi homens arremessados a metros de distância’ ou ‘Cores brilhantes encheram a planície, elas davam forma a lanças, espadas, arcos e flechas, elas se formavam e se dissipavam no ar, brilhantes como as mãos dos que nos atacavam’ fomentam o imaginário das crianças para as histórias de terror e os medos dos mais velhos que eram escolhidos pelo Ministério para caçar as criaturas. Agora, eles eram chamados de Seyas, da Língua Mãe, “das sombras”.

Adam ergueu a cabeça das mãos e limpou a página no livro de suas lágrimas. “Eu não vou desapontá-los” ele repetia em sua cabeça. Pegou uma grande mala marrom do armário e começou a enfiar nela as coisas que achou que fosse precisar no Ministério, mas depois teve que tirar algumas para dar espaço aos livros. O garoto saiu arrastando a mala da Academia, sem se despedir de ninguém.


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