Ao decair do último floco de neve... escrita por Cameron Fracktallya Scare


Capítulo 6
❄ Capitulo 6 - Estilhaços ❄


Notas iniciais do capítulo

Trilha Sonora:
Papaoutai - Pentatonix



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— Oi! Meu nomi é Camelun e...

— Não, meu jovem. Sua pronúncia esta incorreta.

O pequenino bufou. Ele não entendia como era esperado que uma criança de três anos e alguns meses tivesse uma pronuncia correta de todas as palavras. Havia pouco tempo que ele já andava sem tropeçar e agora estava sendo submetido a conhecer diversas pessoas ao longo dos dias. Pessoas essas que lhe davam um apanhado de aulas que ele viria a ter. Distintos professores de filosofia, artes, música, patinação e muitas outras matérias... Coisas que não faziam sentido para o pequeno garoto cheio de energia.

— Modos, jovem senhor, nada de bufar. Agora repita a frase como ela deve ser dita.

A voz imponente de madame Marriet fazia com que Cameron se sentisse desconfortável e muito menor do que já era. Ele estava sentado em uma pequena cadeira na biblioteca de Bóreas e havia um quadro liso à sua frente com uma frase escrita com tinta negra como seu cabelo. "Olá, meu nome é Cameron e é um prazer conhece-lo." As palavras se embaralhavam e ele não fazia ideia do que estava escrito ali, pelo menos não muito. Sempre esperava que sua tutora de boas maneiras repetisse a frase pra ele tentar falar, já era a décima tentativa. Ele alternava o olhar entre ela e o quadro.

— Deve se empenhar mais nas aulas de leitura mon seigneur. Diga "Olá, meu nome é Cameron e é um prazer conhece-lo.".

— Pu que não podi dizê só "oi"?

— Por que esta é uma saudação um tanto quanto informal demais, agora, por favor, diga a frase escrita no quadro.

Ele suspirou e se remexeu na cadeirinha. Em sua mente um "oi" já seria uma coisa muito muito boa de se dizer mas como ainda estava aprendendo não questionou a ordem. Fez um pequeno esforço pra relembrar a frase dessa fez e então tentou mais uma vez.

— Oiá, meu...

A mulher que encava a criança por detrás de seus óculos suspirou. Ela era uma simples serva antes de ter sido promovida ao cargo de tutora em etiqueta e boas maneiras. Já fazia alguns que servia ao boréades. Tudo havia havia começado na época da caça as bruxas em meados do século quinze na Normandia. Ela era um mulher inteligente e trabalhava como professora, auxiliando uma princesa antiga na arte das boas maneiras e etiqueta. Era o tipo de mulher que presava muito seu ofício e a arte que o julgava, porém lia muitos livros e um dia uma das servas da princesa a viu com um livro suspeito e correu até um membro da família real avisa-lo. A sorte de Marriet foi ouvir um conversa na saída do castelo onde diziam que a investigariam. Ela apenas fugiu para o mais longe que conseguiu, gastou todo o dinheiro que tinha guardado para comprar um cavalo e rumou para o norte. O inverno era algo traiçoeiro e seu cavalo acabou morrendo, e mesmo assim ela continuou a ser perseguida pela coroa sendo acusada de ser bruxa.

Quando já estava à beira da morte ela implorou para os céus que lhe mandassem alguma ajuda. Foi nesse momento que uma brisa fria surgiu e trouxe consigo a figura de uma bela mulher de cabelos loiros tão claros que pareciam brancos, ela estava deslumbrante em meio a neve, era a deusa Aura. Aura possuía um bom coração e, por vezes, se apiedava dos mortais que encontrava em suas missões para seu pai. Ela ofereceu a mão à Marriet e disse que poderia ajudar com o sofrimento dela mas que esta opção não teria mais volta, Marriet sendo uma mulher solitária e sem família aceitara a ajuda e passou a servir a família dos boréades.

— Por hoje é o suficiente, espero que treine mais pois quero uma pronuncia perfeita para a próxima aula, estamos entendidos?

— Sim... Dicupa...

— Já pode se retirar.

Cameron não sabia ao certo o que sentir, por um lado estava aliviado de estar livre até a próxima aula, mas por outro estava um pouco frustrado por não ter completado a frase nenhuma vez. Seu ânimo retornou apenas quando ele se viu livre para correr pelos corredores do palácio, ele adorava aquela sensação de estar em um lugar tão grande. O sorriso percorria seu rosto mas logo a frente ele ouviu um barulho de passos e então entrou no primeiro lugar que avistou, por sorte a porta estava aberta. Ele encostou nela e esperou em silêncio até que o barulho se distanciasse, soltou um suspiro de alívio e então olhou ao redor para ter uma ideia de onde tinha entrado. Ele estava agora em um quarto com uma cama enorme e um tapete também, tinha muitas flores e um móvel com um espelho, era um lugar muito bonito. A luz da tarde entrava pelas janelas e banhava todo o lugar, foi então que lhe surgiu a ideia... Se ninguém o visse ele poderia brincar um pouquinho ali! A mão gordinha conteve uma risada e ele correu até a cama e começou a escala-la.

Os lençóis se espalhavam enquanto ele pulava no macio colchão. Cameron abria os braços e se imaginava voando como os pássaros e aquelas coisas grandes com asas que transportavam gente, tudo que ele aprendia nas aulas era útil pra faze-lo sonhar mais e mais. Ele rolava e caia e ria como se estivesse recebendo cócegas, em dado momento saltou diretamente da cama e começou a correr pelo chão com os braços abertos rindo e se imaginando com asas como as dos homens que diziam ser seus tios... Foi ai que as coisas mudaram. No meio da brincadeira, no qual ele estava de olhos fechados, sua mão bateu em alguma coisa. Essa coisa era a base de uma mesinha e a pancada foi forte o suficiente pra faze-la balançar e cair. Em cima dessa mesa havia uma caixinha feita de algo que parecia ser vidro, e assim que a base atingiu o solo milhares de cacos de cristal voaram pelo ar, Cameron abriu o olhos e pareceu congelar de medo olhando para os destroços brilhantes.

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— Cameron Fracktallya...

Dizia Quione com sua voz severa. A criança agora estava ajoelhada diante do trono da deusa no salão e ela parecia mais frigida do que nunca. A cabeça dele estava abaixada e as lágrimas vertiam silenciosamente. Assim que o barulho foi ouvido, Calais encontrou a criança no quarto de sua irmã e o levou até o grande salão dos tronos. O coração do pequeno bati aceleradamente pelo medo e pela culpa.

— Por invadir meus aposentos e quebrar um de meus bens, além de bagunçar meus pertences, eu o sentencio a cuidar de meu jardim de inverno particular, porém não é apenas isso.

Ele sabia que não.

— Se eu encontrar um hortênsia ou rosa fora do lugar, será o fim de sua vidinha frágil e delicada, e usarei os restos de seu corpo para construir uma nova mesa. Como alternativa só tem o sucesso, em caso de falha cerá seu fim, me fiz clara?

A voz da deusa era calma mas carregada, como um deslizamento de toneladas de neve na montanha, seu filho senti isso. Ele assentiu com cuidado e permaneceu encolhido e tristonho, sabia bem o que aconteceria se ele falhasse naquela tarefa. Seus primeiros ensinamentos foram sobre a brevidades das coisas e ele via o rosto assutado nas estatuas do salão, não queria se tornar parte daquele acervo.

— Perfeito, agora retire-se imediatamente para os jardins e vou garantir que seu treinamento seja bem mais rigoroso daqui em diante, você anda com muito tempo livre.

E assim, Cameron se levantou e ajeitou os cabelos negros, limpou as lágrimas que escorriam dos inchados olhos azuis e então se abaixou diante dela como haviam lhe ensinado. E então foi escoltado para fora da sala enquanto sua mão o fitava com certa ira. Quando já estava sozinha novamente, ela abriu o punho que se encontrava fechado sobre o descanso do trono e fitou as duas figuras de cristal que ali se encontravam ocultas, era uma pequena estatua de uma casal... A única coisa que havia permanecido inteira da caixinha de música que Matthew havia dado a ela.


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Notas finais do capítulo

"Uma taça de cristal, ou qualquer coisa semelhante, quando é quebrada, nunca mais volta a ser a mesma. Você pode juntar as peças, colá-las com supercola, mas nunca segurará o mesmo conteúdo. Ele se esparramará devagarzinho pelo chão."

Todo ato gera uma consequência e assim também foi para o pequeno Cameron, será que ele conseguira cumprir a missão até o fim ou morrerá pelas mãos da própria mãe? Isso só saberemos no próximo capítulo...