Trilha sonora: http://www.youtube.com/watch?v=QgaTQ5-XfMM

Simplesmente sai correndo, mais nada interessava para mim agora, nem o próprio vestido da minha mãe, só não poderia acreditar que aquilo estava acontecendo. Desci do carro às pressas arrastando o vestido pelo meio da rua. Comecei a sentir meu rosto desabando e as primeiras lágrimas escorrendo, podia ouvir meu próprio coração batendo mais forte. Foi quando eu vi. O carro dele estava em chamas.

Entrei em choque, aquilo não poderia estar acontecendo, ele tinha que estar bem, afinal das contas, aquele era para ser nosso “dia perfeito”. Desci o barranco às pressas e comecei a lutar contra as chamas, mesmo sabendo que era um ato inútil não poderia ficar sem fazer nada só vendo o amor da minha vida morrer na minha frente, as vésperas do nosso casamento.

Ao fundo podia ouvir as vozes de Ryan e Esposito, gritando para mim me afastar do carro, sabia que de certo modo eles só queriam meu bem, mas quando tentava me mexer parecia que minhas pernas empurravam meu corpo para mais perto do carro, para mais perto dele. Estava tentado me levantar quando senti as primeiras gotas, sim gotas de chuva. Mas... Chuva?

Olho para cima com os olhos ainda lacrimejando e vejo as primeiras equipes de bombeiros se aproximando, tento levantar e me direcionar ao carro, mas não tenho coragem. Eu estava sem coragem? Pela segunda vez em anos eu não teria forças de lidar com aquilo.

– Cerca de 20 minutos depois –
Agora estava sentada no “meio fio” da estrada. Uma noiva com o vestido chamuscado, chorando e com a maquiagem toda borrada, é aquilo com certeza não fazia parte do final feliz dos filmes da Disney, solto uma risada pela primeira vez em quase 1 hora. Preocupar-me com algo assim me fez voltar a minha época de adolescente. Sinto alguém se aproximando e colocando a mão no meu ombro, ahh... Esse toque é ele. SÓ PODE SER ELE! Viro-me, mas não encontro Rick, pelo contrário olhando para mim com um par de tristes olhos escuros está Lanie.

– Oi girlfriend. - diz ela colocando a mão ao lado da minha.

– Oi Lanie. - respondo sem animo, quase como se eu estivesse morta. Mas eu estava morta, não? Pelo menos parte de mim sentia como de estivesse.

– Eu sinto muito amiga. - diz ela olhando para mim e me envolvendo em um abraço. - Sinto muito mesmo-.

– A culpa não é sua. - digo abraçando ela de volta, claro que não eram os braços dele, mas pelo menos alguém estava ali para me apoiar.

– Nós vamos descobrir o que aconteceu. Eu prometo. - diz ela.

– Lanie, não faça isso, por favor. Não prometa algo que nem eu mesma posso cumprir. - olho nos olhos dela e dou um pequeno sorriso. - Lanie, se não se importa, só queria ficar um pouco sozinha. - digo. -Não que eu não goste da presença dela ao meu lado, na realidade eu adorava, mas agora prefiro voltar "ao meu mundo".

–Claro. Mas qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo. Chama-me - ela disse se levantando.

–Pode deixar. - sorrio para ela.

Aos poucos a equipe de bombeiros vai abandonando o local, já eu continuo ali, tão fraca que não consigo nem ao menos me levantar. O que aconteceu? Será que eu não posso ser feliz pelo menos em um dia da minha vida?

Como se para me alto responder começo a me lembrar dos nossos momentos, da nossa parceria e do nosso relacionamento principalmente. Penso em quantas vezes ao longo desses anos os meus "eu te amo" ficaram trancados na garganta, ou quantos beijos a gente não poderá trocar a partir de agora e todos os momentos que não iremos passar juntos. Pensar naquilo me aflige mais, e as lágrimas mais uma vez começam a dominar meu rosto.

– I will be happy to let you spank me.

– My safe word is apples.

– Never, ever call me kitten.
– Your killer is a vampire.

– Time travel killer.

– That will be cool, if was actually a ghost.

– It’s a spy.

– Your killer is a zombie.

Trilha Sonora: http://www.youtube.com/watch?v=BFZLEnVkdwM

Solto um sorriso em meio às lágrimas, o fato de Rick ser 99,9% uma criança foi uma das coisas que mais me fez ficar apaixonada por ele, nada poderia ser levado 100% a sério quando se trata dele. Isso, na realidade, fez meu trabalho se tornar mais fácil, tê-lo ao meu lado todo dia aliviava a pressão de ser detetive, e depois de um tempo esse jeito de criança começou a ser minha motivação para levantar e rir da vida ou até mesmo de realizar coisas estúpidas por amor.

Tento sair dos meus pensamentos, mas parece que cada vez que tento a voz dele grita dentro da minha cabeça, me chamando de volta a eles.

Volto a me relembrar os momentos das nossas ótimas teorias, nós completávamos um a outro mesmo não estando juntos ainda, só que naquela época éramos cegos para o que estava acontecendo a nossa volta. Isso que as pessoas me avisaram, acreditem foram muitas, a Agente Jordan, Kyra, Natalie Rhodes e até mesmo Gates. – sinto uma lágrima molhando meu peito novamente ao me lembrar desses momentos. – As falas sincronizadas: “There”!”“ What?” “I know who the killer is” “The con is still on!” Nossas brincadeiras provocativas que levavam o outro a loucura: “Next time let’s do without the tiger” “I do this one thing, with ice cubes”. – um sorriso bobo surge novamente no meu rosto com esses pensamentos e não posso evitar colocar a mão sobre meus lábios.

Já não consigo perceber a quanto tempo estava sentada ali, será que já fazia horas? Olho em volta e vejo Martha e Alexis apoiadas ao lado do carro, a garotinha, que agora é quase uma mulher esta com a cabeça no ombro da vó chorando. Ao olhar aquela cena sinto uma dor no meu coração e me forço a levantar, não por mim claro, poderia ficar ali o resto da minha vida, mas por elas, e principalmente por ele.

Aproximo-me das duas discretamente, ou o mais discreto que uma noiva chorando pode ser, encosto a mão no ombro de Alexis que lentamente abri os olhos e olha em minha direção.

– Ka..ate – diz ela fungando.

– Oi. – respondo com o maior sorriso que consigo formar no momento.

– Isso está realmente acontecendo?- pergunta ela me olhando com aquelas enormes olhos azuis, e só por esse simples gesto já me lembro dele, as nossas trocas de olhares interrompidas, não precisávamos falar nada, um simples olhar poderia dizer o que estávamos sentindo no momento. Muitas vezes me pegava perdida dentro dos olhos dele, aquele azul profundo, como um oceano.

– Kate? – Alexis pergunta me trazendo de volta ao mundo real.

– Infelizmente está. – digo chorando.

– Não acredito que ele nos deixou Kate. Não acredito. – nesse momento Alexis olha em direção ao barranco, onde momentos mais tarde estava o carro de Castle.

–Acho que ele não teve muita escolha Alexis, mas nós vamos achar quem fez isso com ele. Te prometo. – sabia que não deveria falar isso, mas sentia que era necessário no momento.

– Obrigada Kate, você... – sabia o que ela iria falar então a interrompo.

– Tudo bem Alexis, vou ficar um pouco mais aqui, depois vou para o loft.

– Se você acha melhor. – ela me diz com um sorriso no rosto.

Trilha Sonora: http://www.youtube.com/watch?v=Ffp5vPyU2cI

Despeço-me das duas e novamente vou ao encontro de Lanie, no momento preciso da ajuda dela, do apoio dela. Enxergo-a sentada com o Javi e acho melhor não atrapalhar aquele momento, sei bem como o relacionamento deles é difícil. Em função disso sigo para o lado oposto e encosto-me a uma árvore deslizando até a grama, mais uma vez, um turbilhão de pensamentos me atinge em cheio, me levando de volta a ele.

“That’s what partners are for” – isso mesmo, antes de tudo que vivemos ele ainda era meu parceiro, aquele que estaria lá para enfrentar qualquer coisa, desde grandes psicopatas até mesmo um tigre em cima de um refrigerador. Ele era o “meu escritor”, assim como exatamente 3 anos atrás havia prometido para ele que seria somente sua musa. Ele era uma parte de mim, aquela parte que me coloca em equilibro, literalmente ele era o Ying e eu o Yang, era aquela parte que fez as músicas fazerem sentido, aquela parte que conseguiu me convencer que a minha “uma e única vez” deveria ser ao lado dele, ele era aquele que estaria disposto a me esperar qual quer fosse o tempo, aquele que me mostrou que mesmo nos piores dias a gente tem a possibilidade de alegrias e principalmente aquele que me mostrou o que era realmente amar alguém, e se entregar a esse sentimento como se sua vida dependesse dele. – não consigo controlar as lágrimas e começo a chorar de novo. – Daria tudo para ter ele aqui do meu lado, me abraçando e me levando para nossa lua de mel, me dizendo que sempre estaria aqui, ele não estava mais aqui ao meu lado, mesmo tendo prometido que “never, never” eu iria perder ele, e cá estou eu sentada no chão, com as costas apoiadas em uma árvore chorando como uma pequena garotinha.

Sinto a minha cicatriz doendo, pela primeira vez após dois anos da cirurgia, imagino que seja pela força com que as lágrimas estão caindo pelo meu rosto e pelo meu peito. Toco com as pontas dos dedos a pequena marca vermelha que tenho no meio dos seios e simplesmente sou transportada para o cemitério no qual ouvi dizer aquelas quatro especiais palavras para mim “I love you Kate”. – agora desabo, não tenho como me segurar, como se tivesse tentando gritar para o nada eu solto pequenos “gemidos” de dor em meio ao choro.

Fecho os olhos por um momento, forçando as pálpebras, no intuito de que se abrisse aquilo seria apenas um terrível pesadelo, que ele estaria ao meu lado novamente, que eu estaria apenas caminhando em sua direção, em direção ao altar, em direção ao nosso futuro. Mas ao abrir os olhos simplesmente vejo a estrada e as árvores ao meu redor, nesse momento olho para o céu, esta azul, assim como os olhos dele, e única coisa que consigo fazer é dizer em direção ao “nada”: “ I love you too, Always.”