Desligo meu despertador assim que soa o primeiro toque. Podia não ser ano novo, mas para mim era uma vida nova, dia de um novo começo. Mal consegui dormir, mas também como poderia? Confesso que tive sonhos com German, mas fala sério será que esse homem não ia sair de minha mente. Calma Angie, vai com calma, dizia minha consciência. Me esqueci de German por um momento e fui para meu banho.
Depois de tomar banho e passar meus hidratantes e cremes, vou até o meu roupeiro e pego uma roupa simples, la na gravadora não tem uniforme, você vai de acordo com seu estilo, coloquei roupas leves que nem eu usava para ir ao Studio.
Corro até o banheiro e passo rímel, um pouco de blush e gloss. Na gravadora não se proibe usar maquiagem, mas não é por que isso que irei ir trabalhar parecendo uma palhaça de circo, nada contra eles. Meu cabelo loira meio liso e ondulado vai até metade das minhas costas, decido deixar ele solto e com a minha franja solta. Meu chefe diz que de cabelo solto pareço mais madura, não acreditei quando ele disse isso, afinal, quer dizer então que meus belos penteados me deixava criança, fiz a mesma cara que fazia para Marotti quando ele era folgado demais, me mandando sair da sala, quando é que as pessoas serão mais simpáticas?
Eu sempre coloco meu despertador para tocar 10 minutos antes do horário que sempre acordo, porém eu sempre me atraso, do mesmo jeito que fazi quando morava na mansão, quando acordava German já estava a mesa e me olhava de um jeito que... Para Angie, vida nova, começo novo. Eu tinha que repitir isso pra mim várias vezes, e eu ia conseguir tirar ele dos meus pensamentos, só não garanto coração, talvez ele fique la no fundo, esquecido por um tempo.
É óbvio que não daria tempo de tomar café da manhã em casa, eu nem havia preparado nada, e quando preparava deixava queimar minhas torradas e panquecas, eu não era lá uma boa cozinheira, sabia fazer mas esquecia tudo no fogo e deixava queimar, nem vou falar o motivo. Peguei minhas partituras, enfiei tudo na pasta, peguei minha bolsa e sai. No caminho comprei um café expresso e quando olhei no relógio já eram 8:56, eu entrava as 9:00 e faltava mais 2 quadras pra chegar, é hoje que eu levo xingo. Apressei o passo, e parei quando falta um quadra pra tomar meu café, já que lá dentro não podia porque se danifica-se algum equipamento eu teria que pagar, e eu não estava em condições de pagar equipamentos tão caro, tinha o aluguel do apartamento, conta de água, luz, acabei queimando a boca, olhei no relógio 9:01, tenho que voltar a caminhar, estou perdendo a forma.
Corri pra minha sala, e meu Chefe, Roger, já estava lá me esperando, sentado na minha cadeira, aqui eu era muito sozinha, eu era um xodó com minha sala, principalmente com minha cadeira, quem diria, Angie amando uma cadeira, que evolução, ri da minha própria observação.
–Bom dia Roger! - Disse na maior cara de pau, como se eu nem tivesse chegado atrasada, estava torcendo para ele não olhar no relógio mais foi em vão.
–9:02, senhorita Angeles -Aqui todos me chamavam de Angeles, eu até estranhava quando em chamavam de Angie, é como se Angie fosse só para os íntimos, resumindo em Buenos Aires.
–Sabe como é o trânsito né - Tentei ser engraçada, mas só tentei
– Você vem de a pé - Disse ele sem expressão nenhuma
– Eu cheguei 8:59, mas fiquei conversando com uma conhecida aqui em frente, e me atrasei 2 minutinhos, perdão - Diz sarcasticamente, e ele ri no mesmo tom de irônia.
– Quero lhe lembrar, que você tem 6 meses para compor as músicas do primeiro CD, se não ... -Pensei comigo mesma, fudeu.- Se não terei de procurar outra pessoa mais interessada na proposta, pense Angie é uma ótima oportunidade, te trouxe pra cá porque sei que é capaz, mas seus pensamentos estão longes, e eu não faço a mínima ideia de como te ajudar.
–Pode deixar, eu estou muito interessada, antes de 6 meses te entrego todas as músicas do primeiro CD, serão as melhores que você já escuto em toda a face da terra - Disse eu, sem ao menos ter a certeza disso
– Eu espero Angeles, não quero me arrepender
– E não vai
Ele sai e eu me sento, jogada na minha linda cadeira de couro, até parecia aquelas de presidente. Eu tenho 6 meses, só 6 meses Angie, não desperdice essa oportunidade Angie, ela é única. Peguei firme no trabalho o resto do dia, corrigi partituras de pessoas que traziam suas composições, eu fazia praticamente a mesma coisa que no Studio, porém lá eu ensinava e aqui eu sou a ensinada. Me veio uma melodia na cabeça, corri pro piano e dei continuidade, eu nem sei como consegui metade de uma melodia de uma hora pra outra, ela tinha um ritmo animado mas ao mesmo tempo calmo, quando terminei Roger estava me olhando do outro lado do vidro, e tinha outras pessoas com ele, e nem percebi que tinha vindo a sala de gravação, espero que eles não tenha gravado isso. Era algo pessoal, não queria que ninguém ouvisse ainda. Corei ao ver as pessoas batendo palma, agradeci sussurrando um obrigada, voltei pra sala e comecei a pensar um pouco. Meu chefe era muito bonito, não que eu tenha intenções com ele, com ele era bonito, um pouco mais alto que eu, cabelos loiros, tinha por volta dos 30 anos, e tinha uma boa forma, não era do tipo de tanquinho com gominhos na barriga, mas era algo bonito de se ver, só a simpatia que ele não dominava muito, acho que é só no trabalho, uma outra vez, eu estava saindo pra almoçar e ele se ofereceu pra ir junto, conversamos sobre a música, ele tinha papo, contou de suas faculdades e de como resolveu abrir uma gravadora, por mais que ele já tivesse tentado coisas comigo, ele não faz meu tipo. Quando bateu 13:30 no relógio sai pra almoça, eu tinha direito a 2 horas de almoço, quando estava saindo, Roger se ofereceu pra vir junto, eu deixei, mesmo estando um tanto receosa pela conversa que tivemos mais cedo, mas cedi, afinal é só uma almoço.
Durante o almoço correu tudo bem, porém na hora da sobremesa ele me veio com um assunto que eu não gostei muito, sobre a melodia que havia tocado hoje cedo.
–Gostei daquela melodia, ela soava um pouco melhor que as outras -Disse ele dando um sorriso
–Me veio na cabeça e eu resolvi ver como ficava no piano, nem me toquei que tinha entrado na sala de gravação
–Magina, todos gostaram, sei que posso confiar em você, essa melodia me fez ver que você está mesmo trabalhando duro nisso - Estranhei seu elogio, mas fiquei quieta
–Ninguem gravou né? - Ele me olhou meio desconfiado
–Porque?
– Porque é algo pessoal, não tenho nada pronto ainda, não quero que ninguém veja ou escute nada agora
–Magina, ninguém gravou não - Senti um tom de mentira em sua voz, mas dei de ombros.