Zeke

Era uma quarta feira. Eu estava jogado no sofá, ao lado de Shauna. Nós dois evitávamos nos olhar, para não cair na risada. Meu melhor amigo, cliente, presidente e herdeiro da maior rede de empresas de Chicago estava de pé, encostado na soleira da porta da cozinha, amaldiçoando o pai, com todos os palavrões e em todas as línguas que ele conhecia.

Marcus, o pai de Quatro, havia feito um ultimato a ele. Ou ele casava logo, ou a empresa que ele tanto amava ficaria para o insuportável do primo dele, o Eric. Quatro estava surtado. Ele não tinha interesse nenhum em sair com ninguém agora, não estava interessado em conhecer ninguém ou muito menos em casar. Ele tinha apenas 23 anos de idade, e tudo o que interessava pra ele, era a Eaton’s Company. Ele amava aquela empresa mais do que qualquer coisa.

Infelizmente, o pai ainda era o dono, e embora ele fosse o presidente mais novo e mais brilhante que aquela empresa tinha tido, Marcus ainda podia deixa-la para quem ele bem quisesse. Nas mãos de Quatro, as ações haviam subido quase o dobro. O valor total da empresa havia aumentado, e a empresa era uma das maiores do país e fora dele também. A capacidade de Quatro para gerenciar era enorme. Ele era brilhante.

As reclamações dele foram interrompidas pela campainha tocando insistentemente. Shauna se levantou para abrir. Eu e Quatro observamos a porta.

_Shauna, graças a Deus você está em casa - Beatrice Prior passou tempestuosamente pela porta, com seus saltos finos batendo no chão de madeira e seu cabelo loiro esvoaçando por trás dela. - Preciso de ajuda. Eu estou ferrada.

Ela se jogou no sofá, fechou os olhos e balançou a cabeça. Tris era uma das melhores amigas de Shauna, e também era a rainha do drama. Ela era bonita, muito bonita mesmo, carismática, tinha um futuro promissor, era herdeira de uma fortuna enorme e era encrenqueira, mimada e tratada como uma princesinha, por todos que a cercavam. Beatrice era modelo. Ela posava para marcas famosas, inclusive para a Prior’s & Co, a marca da família dela.

_Não vai me dizer que você tá gravida, Tris - Shauna brincou.

_Não…. não é isso. É pior. Mil vezes pior.

_Qual unha você quebrou? - Perguntei, fazendo cara de dó. Ela me ignorou.

_Shauna, meu pai resolveu dar um jantar, para a família toda, amigos, acionistas e derivados. Para apresentar meu namorado.

_Qual namorado?

_Aquele que eu inventei que eu tinha, quando ele me disse que esperava que uma das futuras donas da maior marca de roupas da cidade, fosse responsável. Você se lembra que eu falei que eu tinha arranjado um namorado, que estava pensando no meu futuro e todo aquele blá blá blá que eu digo, só pro meu pai parar de me encher a paciência? Pois é, me ferrei.

_E seu pai nem desconfiou disso? Digo, você não é a pessoa mais fácil do mundo, Tris. Namorar você não deve ser fácil.

_Cala a boca, Zeke. - ela suspirou - O problema é que, eu não posso falar que menti, nem dizer que terminei o namoro, já que ele desconfiaria que eu menti. Eu preciso de um namorado, até sexta.

_Pra que tanta pressa? Tenho certeza que sei pai acreditaria se você dissesse que o bofe não aguentou a sua… personalidade forte.

_Meu pai anunciou a corrida pelos 51% das ações da Prior’s & Co. Quem provar pra ele, até o fim do ano que vem, que é o mais responsável e mais competente para gerenciar a empresa no futuro, leva a melhor. Estamos em Setembro, o que me dá um ano e três meses para provar. Se eu aparecer lá sem um namorado, Caleb vai estar tipo, um continente na minha frente. Meu pai vai achar que eu sou imatura e irresponsável. Caleb é um tapado, mas colocar as mãos na empresa, é tudo que aquela bruxa da esposa dele quer. Eu já disse que odeio a Nita?

_Já, varias vezes.

_ Preciso de alguém que seja inteligente, bonito, atraente, com um futuro promissor. Alguém que impressione. Alguém com um sobrenome importante, marcante.

_Que tal o príncipe Harry? - perguntei, ironico.

_Seria ótimo, mas eu não tenho o telefone dele, você não tem, Shauna não tem, ele não tem - ela finalizou, apontando pra Quatro.

Eu e Shauna trocamos um olhar. Mataríamos dois coelhos com uma cajadada só. Era muita sorte pra gente ignorar. Duas pessoas desesperadas. Uma salvaria a outra.

_Sabe, bonequinha de porcelana, acho que eu tenho a solução para os seus problemas! - eu exclamei.

_Zeke, na boa, se for mais uma das suas ironias, me poupe. - ela disse, suspirando alto. Eu e Tris até tínhamos um bom comportamento um para com o outro, quando estávamos na frente de outras pessoas. Quando não, nós sempre nos provocávamos e sempre dávamos um jeito de um envergonhar o outro.

_Não é, te garanto. Quatro é a solução que você precisa, e você é a solução que ele precisa.

_Ah, sim, até porque vou apresentar um número para o meu pai, ele vai ficar muito feliz. Obrigada, ajudou muito, Zeke. - ela me fez uma careta - Eu to falando sério. Não sei como vai estar minha carreira daqui a dez anos. Tenho 21 anos hoje, mas tenho que pensar no meu futuro. Isso é importante pra mim.

_Eu posso saber como eu entrou nessa história? - Quatro perguntou me olhando. Eu achava que ele não tinha prestado muita atenção na nossa conversa. Devia estar pensando em como conseguir a empresa e não ter que se casar - E eu não sou um número, é só um apelido.

_Você é o Quatro? - Tris perguntou, e ele afirmou com a cabeça - Bom, o Quatro é gato, prossiga, Zeke. Como posso resolver o problema do bonitão aí?

Eu comecei a rir, e Shauna aproveitou para tomar a palavra. Ela sabia explicar melhor as coisas, quando se tratava da cabeça dura da amiga dela.

_Quatro precisa de uma noiva. Ele vai perder a empresa da família se não se casar. Você precisa de um namorado, para garantir que vai estar na briga pela empresa. Vocês podem quebrar o galho um do outro.

_Tá, mas eu preciso de um namorado, não de um marido. - Tris retrucou, enquanto avaliava Quatro de baixo pra cima. Ele avaliava o corpo dela com uma cara estranha. Um sorriso no canto da boca dele se formou. Tris causava essa reação nas pessoas. Até de calça jeans e camisa branca ela conseguia chamar atenção.

_Tris, você ganharia muitos pontos com seu pai se anunciasse que está noiva. Isso prova que você realmente está levando as coisas a sério. Você ficaria tipo, um continente e meio na frente de Nita.

_Caleb e Nita são casados. Isso não me da tanta vantagem assim.

_Até você dizer o sobrenome dele. Quando disser, os 51% são seus.

Ela olhou para o rosto de Quatro, tentando puxar na memória quem era ele. Beatrice nunca foi muito boa de memória, mas pareceu reconhecê-lo.

_Você é o Eaton, não é? - ele abriu um sorriso - O mega milionário, o empresário mais sexy dos últimos dois anos... como não te reconheci? Acho que eu tenho que começar a prestar mais atenção nas pessoas. Sou um pouquinho desatenta.

_Sim, o cara é um gênio, um mega empreendedor, e ela só lembra que ele foi eleito o empresário mais sexy dos últimos anos.

_Bom, agora eu sei porque ele ganhou. Devo acrescentar que você é bem mais impressionante de perto. E olha que você quase me deixou de quatro, se me permite o trocadilho, só com aquela sua foto sem camisa, na revista de verão. - Eu quase engasguei com o que ela disse. Beatrice sempre foi o tipo de pessoa que falava o que queria, mas dessa vez ela havia se superado. - Se é pra casar com ele topo até ter filhos. Quantos você vai querer? - ela disse sorrindo. Para a minha surpresa, Quatro riu, e respondeu:

_Não muitos. Não quero te deixar… hum, inativa muitas vezes. - ele disse, com um sorriso descarado no rosto. Era impressão minha ou ele estava fazendo insinuações sexuais?

Eu não consegui rir, de tão espantado que fiquei. Quatro não costumava fazer esse tipo de brincadeiras nem com conhecidos, imagina com desconhecidos, principalmente nos dias que ele estava irritado. Dias como hoje.

_Adorei.

Ela olhou pra ele, fixamente. Ele correspondeu.

_Se quiserem transar, eu e Shauna vamos para outro cômodo, sem problemas.

_Zeke, cala a boca - Quatro disse.

_Finalmente alguém mais pra dizer isso pra ele - Beatrice sorriu.

_Bom, continuo sem gostar da ideia de me casar, mas me caso com Beatrice, se ela aceitar, é claro. Vai ser bom para os dois, e como o meu advogado não consegue me garantir como herdeiro, independentemente de eu me casar ou não, acho melhor eu garantir. E ninguém melhor do que ela. Ela é influente, bonita, interessante. Vai ser melhor assim.

Beatrice ficou em silêncio por alguns instantes. Eu não me lembrava de tê-la visto tão séria, em todos esses anos que eu a conhecia.

_Eu vou me casar com você, Quatro. Mas já vou avisando, quero o anel de noivado perfeito, para poder esfregar na cara de todas as invejosas, tanto as inúteis da época do ensino médio, quanto as da academia, quanto as da agência. Ah, e quero que o anúncio do nosso noivado seja bombástico. Não gosto de discrição, então, nem me venha com coisinhas simples para o casamento. Quero algo estrondoso. - Beatrice disse.

_Plenamente de acordo. Você é quem manda nas coisas do casamento. Pode fazer da maneira que achar melhor. É bom que seja algo grande, para provar que nos amamos e queremos espalhar isso para os quatro cantos. E nosso relacionamento vai ser sério. Sem confusões, sem escândalos, sem supostas traições. Vamos morar juntos, mas cada um segue sua vida. Depois que ambos conseguirmos o que queríamos, podemos anunciar o divórcio, desde que nenhum dos dois sai como o ruim da história. - Quatro completou.

Eu realmente não conseguia acreditar que eles estavam discutindo o casamento deles, e o futuro também, tão friamente. Dinheiro realmente move as pessoas. Elas realmente são capazes de fazer qualquer coisa para conseguir o que querem, até mesmo se casar com um desconhecido.

_Quando nos divorciarmos, eu fico com minha empresa, você com a sua, e Zeke nem vai ter problemas com a coisa chamada “Comunhão de Bens”.

_Vocês querem que eu faça um contrato, para que vocês assinem? - eu não achava uma boa ideia, já que se isso caísse na mídia, não seria bom para nenhum dos dois. Tanto na briga pelas empresas, quando na mídia.

_Pra mim, não é necessário, mas se Quatro quiser um contrato, não vou me opor. Não acho seguro deixar papéis como esses existirem.

_Eu concordo. Vocês são nossa testemunha, e isso basta. Mas confio em você, Beatrice.

Ela sorriu e foi para o lado dele. Eles ficavam lindos juntos. Estonteantes, na verdade. Eu tinha a impressão que essa relação significaria fogo, em todos os sentidos. Os dois eram impulsivos, teimosos, não gostavam de perder, e não levavam desaforo pra casa. Eu tinha a impressão que seria um relacionamento no mínimo interessante, e perigoso.

_Ficamos perfeitos juntos. Depois temos que ver qual o nosso melhor ângulo, para a capa das revistas que vão anunciar o namoro.

Ele concordou. Beatrice e Quatro. Isso daria notícia para um mês inteiro. Quatro olhou para o relógio.

_Eu preciso ir. Tenho um jantar de família, hoje ainda. Preciso me preparar psicologicamente.

_Pode aproveitar e me deixar em casa, então. Vim de taxi pra cá. Estava abalada demais para dirigir. É bom que posso saber um pouquinho mais sobre meu namorado, e você pode aprender o caminho da minha casa, já que vai jantar lá na sexta.

Quatro concordou com a cabeça.

_Devo usar algum traje em especial?

_O mais elegante que você conseguir. Além da minha insuportável família, vão estar os insuportáveis acionistas, com as insuportáveis famílias deles e ai vai uma dica: se mantenha longe de Peter, meu odiado primo. Ele é um saco. O pior de todos, sem dúvidas.

Os dois se despediram, e saíram porta a fora. Eu e Shauna nos encaramos.

_Todos os meus perigos gritam alerta. - Shauna me disse.

_Os meus também. Tenho a impressão que esse relacionamento vai pegar fogo.

_Ou eles se amam, ou eles se matam.

_Prefiro a opção que eu não tenha que tirar nenhum deles da cadeia.