Aquele Que Venceu a Morte escrita por Ri Naldo


Capítulo 21
Breu




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/558902/chapter/21

Depois de andar uma hora, e depois que uma placa “Columbus - Volte sempre”, avistamos um casarão de aparência abandonada. Era no estilo antigo, com uma sacada na entrada sustentada por pilares. Tinha a pintura preta e detalhes azul-escuro. As paredes, erodidas pela ação do vento e da chuva, estavam talhadas, como se um gigante a tivesse espetado com uma faca. Parecia que, a qualquer momento, a casa iria desabar em cima de qualquer um que vivesse lá. Se é que alguém vivia lá. Mas por que guardar uma das partes do berrante lá dentro? E por que tinha um casarão no meio do nada, em área rural?

— Mina, você tem certeza que isso é seguro? Digo, tem certeza que isso é real? Na última vez que viemos para Columbus, uma bruxa nos enganou…

Ela olhou para mim como se eu tivesse dito algo absurdo.

— Você consegue ver a casa?

— Hã… Sim?

— Então é real para você. Cale a boca.

Lucas pôs a mão na frente da boca para abafar uma risadinha. Eu dei um tapa nas costas dele.

— Bom… — Mina continuou. — Eu já os trouxe até o destino. Minhas ordens dizem que devo devolver minha dona a vocês.

Hellen juntou as mãos em súplica.

— Não pode ficar com a gente até completarmos essa parte da missão, por favor? Ninguém quer a Anne aqui.

— Bem… — Lucas começou, mas Hellen o fuzilou com o olhar, ele assentiu, de cara feia.

— Ordens são ordens. Mas não se preocupe, semideusa. Voltaremos a nos ver. Isto é, se você sair com vida do breu eterno. — Mina concluiu.

Hellen olhou para mim. Eu dei de ombros. Olhos de Anne ficaram dourados, e o mesmo brilho saiu da boca dela, entrando de volta à chave de fenda. Depois de um tempo, ela caiu, apenas para Lucas segurá-la mais uma vez.

Quando abriu os olhos, eles estavam com uma expressão animalesca, furiosa. Ela se levantou e tentou pegar a chave de fenda, mas Lucas a protegeu nas costas.

— Aquela filha da… Como ela ousa? Da próxima vez…

— Ei, ei… Tenha calma — Lucas sugeriu.

— Calma?! Como você quer que eu tenha calma? Eu fui possuída por uma chave de fenda! Aquela…

Lucas suspirou. Olhou com pena para Anne, como se relutasse em fazer o que faria a seguir. Levantou o cajado, e a boca dela se tapou imediatamente, deixando sair apenas murmúrios.

— Cara! — exclamei. — Por que você não disse que poderia fazer isso antes? Seria muito útil.

Anne tentou me chutar, mas, com outro movimento do cajado, Lucas prendeu as pernas dela também. Hellen não parecia surpresa.

— Vai ficar calma agora? — Lucas perguntou calmamente.

Anne soltou mais murmúrios de raiva, mas, depois de algum tempo, ela se acalmou e assentiu. Lucas baixou o cajado, e ela voltou ao normal.

— O que aquela negligente fez com o meu corpo?

— Negligente? — Hellen agora parecia surpresa. — Desde quando você usa palavras assim?

— Não faço ideia. Devem ser vestígios daquela energúmena. Que canecas! O que ela fez comigo?

— Hã… Acho melhor entrarmos lá — eu apontei para o casarão.

— Ideia estupenda — Anne concordou, tapando a boca assim que disse.

Nós nos aproximamos da casa com cautela, verificando as janelas. Além de móveis velhos e cortinas empoeiradas, não vimos nada demais. Mas, numa última janela, eu tive a impressão de ter visto um par de olhos me encarando, que sumiu assim que foquei o olhar nele.

— Tem certeza que devemos entrar? — Hellen perguntou.

— Não é como se tivéssemos escolha.

Lucas engoliu em seco.

— Poderíamos voltar para o Acampam…

Ele caiu no chão, apertando a barriga e urrando de dor. Anne foi até ele imediatamente.

— O que aconteceu? — ela perguntou, ajudando-o a se levantar.

— Nada. Só senti uma pontada forte, de repente. Deve ser a aura maligna dessa casa. — ele tentou dar um sorriso, mas saiu uma careta de dor.

Olhei para Hellen. Ela entendeu o recado e se postou ao lado da porta. Eu pus a mão na maçaneta e contei até três com os dedos. Ao final da contagem, eu abri a porta com um solavanco, e Hellen avançou rapidamente, pronta para qualquer perigo que estivesse nos espreitando. Quando viu que não tinha nada, ela sinalizou para nós entrarmos.

O lugar era escuro. Lá dentro, mal dava para diferenciar móveis de parede. Estávamos no que parecia ser a sala de estar. Através da escuridão, eu podia ver um sofá poeirento coberto por um pano sujo. Ao lado, um criado mudo guardava flores há muito murchas. O piso era de um carpete mofado e rasgado em algumas partes. No teto, um lustre era uma das poucas fontes de luz do ambiente. Aos nossos lados, estavam aberturas onde um dia existiram portas, que levavam para as supostas cozinha e sala de jantar. Uma escada de madeira podre se destacava à nossa frente.

— Para onde nós vamos? — perguntei.

— Não sei ao certo, mas algo me diz que o primeiro guardião de Atena está no primeiro quarto de segundo andar a nossa espera.

— Naturalmente. — Lucas comentou, subindo as escadas primeiro.

— Espere — chamei, e subi as escadas também, acompanhado das outras duas.

A primeiro quarto do segundo andar era o único que tinha porta em todo o corredor. Ao abrirmos, nos deparamos com um homem vestindo uma capa, sentado em uma cadeira com os pés no sofá. Ele tinha cabelos médios pretos, orelhas pontudas e pernas largas. A capa era também preta com detalhes vermelhos. Sua pele ela tão pálida que parecia um verde doentio. Parecia o Drácula em pessoa, só que sem os dentes de vampiro.

Ele sorriu ao nos ver. Guardava consigo uma caixa preta brilhante. Saquei minha espada, mas, se ele notou, não demonstrou.

— Olá! Eu estava esperando vocês — o sorriso dele se alargou ainda mais. — Eu sou Conde Teon, Lorde do Passado, discípulo de Atena. Há tempos eu não recebia jovens tão corajosos, ou tão estúpidos, que viessem me desafiar. Sua presença aqui me lisonjeia.

Ele se levantou e fez uma reverência perfeita.

— Que tal vermos o que vocês guardam? — ele disse, ainda, curvado.

Minha visão ficou turva e branca. Antes de eu ficar inconsciente, vi Lucas cair à minha frente.

Ψ


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aquele Que Venceu a Morte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.