Aquele Que Venceu a Morte escrita por Ri Naldo


Capítulo 15
Bombeira




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Peguei um pacote de salgadinhos da mochila, abri, e comecei a comer. Depois dessa experiência no Olimpo, uma fome enorme chegou. Eu queria comer tudo, mas eu sabia que teria que dividir para os outros dias.

Hellen não tinha comido nada ainda. Parece que conhecer a mãe não foi lá uma das mais exuberantes experiências. Mas será que ela tinha acabado de conhecer a mãe mesmo? Quando Atena apareceu, Hellen não demonstrou surpresa, e falou com ela de um modo muito natural. Será que Hellen já a conhecia antes? Que segredos ela escondia de mim?

Eu estava encarando ela inconscientemente, e ela percebeu, já que me chamou.

— E agora? — perguntou.

— E agora o quê? — perguntei, com a boca cheia de salgadinhos.

— O que vamos fazer? — aparentemente, ela estava com um pouco de nojo.

— O cara do capuz disse que ia entrar em contato quando conseguíssemos o segredo, não foi? Então vamos esperar. — enquanto eu falava, bati na mochila, produzindo um som oco na caixa que Atena me dera.

— Estamos no meio de Nova York, sentados em um banquinho de praça perto do Empire State, com um tráfego intenso e centenas de pessoas indo e vindo ao nosso redor. Acha mesmo que aquele cara vai deixar um holograma gritante bem aqui?

— Uau. Qual bicho te mordeu?

Ela mordeu o lábio.

— Desculpe. É que encontrar com a minha mãe dá um certo desconforto. Eu não deveria estar descontando em você.

— Relaxe. Mas então você já encontrou com ela antes?

— Sim, há um tempo.

— Gostaria de me contar?

— Não.

Suspirei.

— Entendo.

— Digo, hoje não. Eu vou te contar, mas nesse exato momento temos coisas mais importantes para fazermos.

Olhei para ela, desconfiado. Será que eu conhecia mesmo a Hellen, ou aquela era só uma máscara? Depois das minhas experiências pessoais, eu aprendi a reconhecer quando uma pessoa estava fingindo.

— Certo… Eu sei que você tá desconfiando de mim, mas não é nada disso. Atena é muito grossa. Para você ter uma ideia, ela quase não me reconheceu como filha.

— Então depois você me conta?

— Se você quiser, prometo que sim.

— Você está certa.

— Sobre que parte?

— Sobre os nossos arredores. Tá na cara que ele não vai aparecer aqui. Para onde você sugere que a gente vá?

Hellen tirou a mochila das costas e abriu o zíper, revelando vários livros e anotações. Ela enfiou a mão lá dentro e remexeu até tirar um mapa e uma caneta.

— Você se preparou mesmo, não foi? — observei.

— Você iria acabar se perdendo sozinho.

Deixei ela trabalhar no mapa até que ela veio até mim e circulou uma colina longe da cidade, onde se dizia ter uma fazenda.

— É o lugar mais perto?

Ela assentiu.

— E também podemos abastecer nosso estoque de comida, já que você parece comer tudo.

Bufei.

— Ei! Eu estou tentando dividir, mas minha fome é maior que eu. E o que podemos conseguir numa fazenda? Leite de vaca e frutas?

— Você saiu do Acampamento pensando que iria comer filé a parmegiana?

Calei a boca, levantei e comecei a andar.

Ψ

Finalmente descansei quando a goiaba que eu cogitava caiu no chão, depois de várias batidas com um galho quebrado. Sentei e a mordisquei.

A fazenda, afinal, vazia. Nenhuma placa, nenhum aumento nas cercas, e nenhum cadeado enorme nas portas. Ninguém estava lá. Provavelmente deveriam ter saído de férias ou coisa desse tipo. Como somos “bons cidadãos”, não invadimos a casa, apenas ficamos do lado de fora, esperando algo que provavelmente não iria acontecer tão cedo assim.

— Você para de comer alguma vez? — Hellen perguntou, analisando o mapa mais uma vez. Provavelmente decorando o nome de cada rua para sabermos onde ir logo de cara.

— Só quando estou dormindo. Ou na esgrima. Se eu não comer, morro de tédio.

— Se não comer, morre de fome.

— E de tédio.

Ela levantou a mão.

— O que foi? — perguntei.

— O que é isso?

Ela apontou para uma pequena poça de água ao meu lado.

— Hã… — olhei para ela, confuso. — Uma poça de água?

— Choveu?

— Não.

— Então de onde ela veio?

Joguei o resto da goiaba lá. No momento, pareceu uma reação normal: a goiaba espalhou água para todos os lados. Mas, depois de algum tempo, a água espalhada voltou para a poça, como se estivesse sendo atraída por um ímã. A goiaba sumiu, como se alguém a tivesse comido. Como se a poça a tivesse comido.

Levantei imediatamente e saquei a espada — por “sacar”, entenda como “peguei o MP3 no bolso, peguei os fones, conectei-os à entrada e transformei” —, apontando para a poça.

— Por que estou apontando minha espada para uma poça?

— Porque pode não ser uma poça.

— E o que poderia ser?

Assim que eu falei, a poça desapareceu, como se tivesse escorrido no solo. A próxima coisa que ouvi foi o grito de Hellen. Virei imediatamente e vi que a poça tinha ido para trás dela.

Não só ido para trás dela, mas ela tinha incorporado uma forma.

Ela tomou uma forma quase humana, mas totalmente feita de água, sem rosto, e segurava uma espada também líquida, mas que conseguiu perfurar Hellen. O sangue dela se misturava, deixando a poça humana em uma tonalidade vermelha.

Entrei em ação. Com um passo eu já estava atrás da poça. Golpeei antes que ela pudesse ter alguma reação, mas a espada passou direto, ficando cravada a árvore. Ela revidou o golpe, que pegou na parte direita no meu peito, deixando um corte que parecia muito feio.

Depois disso, ele me ignorou totalmente, e voltou a atenção para Hellen, que ele tinha soltado quando foi desferir o golpe em mim. Mas o que ele queria com ela? Seja o que fosse, não iria conseguir enquanto eu estivesse vivo.

Ela estava inconsciente, incapaz de se defender. A poça humana levantou a espada para matá-la, mas eu me joguei na frente. Fechei os olhos, esperando o golpe vir direto no meu peito e me matar de vez, mas um barulho estranho soou. Um barulho de spray.

Quando abri os olhos, Anne estava lá, segurando um extintor de incêndios aberto, liberando puro hidrogênio bem em cima da poça, congelando-a inteira, e gritando:

— Quem é que manda agora, hein?

Depois, Lucas apareceu, com um cajado que eu nunca o tinha visto usar. Apontou o cajado para a poça, agora congelada. Segundos depois, um raio de fogo que Lucas invocou fez a água sublimar. Mas, ao invés de virar vapor, ela virou areia.

Olhei para os dois, perplexo.

— O que você tá olhando? — Anne disse, amarrando a cara. — A imbecil aí tá morta? — ela pergutou, apontando para Hellen.

Eu estava muito estupefato para responder. Lucas riu.

— Então você sentiu mesmo a nossa falta.

Ψ





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