As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 4
Crônica 4 — A loira do banheiro e Ginofobia




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Sarah corria de braços abertos pela floresta, como normalmente uma criança fazia. Sua áurea escura continuava lhe atormentando, apesar da tranquilidade daquele lugar. Sabia que naquela floresta tinha algo a vigiando. E ela sentia que era algo que não podia corromper.

Enquanto passeava, ouviu risadas. Parou.

Duas mulheres que estavam conversando em um banco. Ambas falavam do mesmo homem, no qual uma pretendia se casar. Sarah se aproximou por trás, e percebeu que chegara em uma trilha no meio da floresta. Uma estradinha, pra alguém passar quando precisasse perder uns quilos.

Ao decorrer da conversa, Sarah sentiu a pontada de ciúmes que a outra tinha do pretendente da outra. Não odiava a amiga, mas acreditava que merecia mais o homem. Sarah, ao tomar consciência disso, deu um sorriso e decidiu brincar com elas.

Surgiu das sombras, fingindo estar feliz. O sorriso era tão falso que parecia de plástico, mas mesmo assim, foi respondido com outros dois sorrisos, muito mais verdadeiros, das duas mulheres.

Elas não perceberam o clima obscuro que Sarah trazia junto consigo: O céu parecia mais cinzento, e os pássaros cantavam mais baixo. A maldição da garota fazia efeito mesmo não tocando em nada.

—Olá. - Sarah continuava sorrindo - Estão conversando sobre quem?

—Sobre... - uma se virou para outra - Podemos falar sobre isso? Ela parece tão nova.

—Tenho 17 anos, senhorita, mas minha sapiência deve ser de alguém de 30!

—Ui ui ui. - ela começou a rir. - Essa entende!

—Estamos falando de Ângelo. - a outra mulher corou - Ele é o melhor homem que já existiu na face da terra.

—O mais inteligente, bonito. Sua força pretende chegar até a superfície, mas o espírito consegue chegar até mesmo ao terceiro céu.

—Os cabelos feitos dos raios de sol...

—E os olhos criados a partir da cor do céu...

—E ele parece amar esta aqui. – deu uma risadinha enquanto sacudia a outra.

—Sorte a dele, azar o meu. Não sei o que dizer! – colocou as mãos no rosto.

—Eu não consigo imaginar palavras que se elevem ao nível dele...

 

Sarah teve que aturar as mulheres e seus devaneios por alguns minutos, até que conseguiu se aproximar de uma delas. Ela levantou a mão esquerda sutilmente e tocou o ombro dela.

De repente, os olhos castanhos dela chegaram a um tom cinzento. Seu cabelo preto começou a ganhar listas vermelhas. O vestido azul ficou acinzentado e com manchas vermelhas. Os dentes, corrompidos, pareciam lâminas de tão pontudos.

A outra mulher demorou um pouco até perceber a transformação, mas quando a viu, gritou e pulou de susto, recuando.

SeLiNa... – ela sussurrou, com ênfase no s, e uma voz de cobra.

—O que diabos você fez com ela?! - a mulher virou o rosto para Sarah, numa triste revolta.

—Transformei ela em uma "amiga".— Sarah sorriu - Agora, você pode ser também!

Selina correu tão rápido quanto o vento. Deixada sozinha, a outra mulher virou-se para a protagonista, e a agradeceu. Aquela voz mudou de repente, e Sarah começou a rir:

—Você tem uma voz engraçada - foram as únicas palavras que Sarah conseguiu falar em meio a risada.

Fúria encheu o olhar da mulher restante, e ela começou a transformar-se novamente. Isso assustou Sarah. Seus olhos começaram a escurecer, e seu cabelo clareava, até ficar loiro. Mas, ao invés de atacar a garota, a loira simplesmente começou a chorar, e saiu correndo dali. Sarah ficou muito confusa com aquela situação, e seguiu a mulher atrás de explicações.

O caminho foi longo. Algumas vezes ela sumia de vista, e um rastro ou um barulho serviam para guiar a menina. Depois de muito andar, quando o dia já havia virado noite, viu as luzes da cidade ao longe. Sarah não gostava das cidades. Elas eram iluminadas demais. Luzes demais lhe faziam ter dores de cabeça.

Ela se aproximou um pouco daquelas luzes para saber por onde estava andando e encontrou um banheiro público velho. Ouviu vozes vindo dele. Eram de pessoas da sua idade, mas com a maturidade de dez anos.

Sarah entrou silenciosamente no banheiro, e viu que estavam desafiando um rapaz a fazer o tal ritual para a loira do banheiro. Sarah se sentou em uma parte estratégica e resolveu assistir.

O rapaz, batendo os dentes de medo, fez o ritual: bateu na porta três vezes, deu descarga três vezes, abriu e fechou a torneira três vezes e falou três palavrões. Tudo parecia normal por um tempo, até que um alto som de água surgiu de uma das cabines.

A mesma mulher que tinha amaldiçoado saiu de dentro da cabine, com o rosto cortado, principalmente o nariz. Um algodão encharcado de sangue estava nele, e ela dizia para o rapaz tirá-lo. Todos ficaram desesperados. Sarah sorria com a reação dos rapazes. Cada passo para tentar ajudar ela, eram outros dois para se afastar.

Ela se impacientou, e seus olhos começaram a se tornar escuros.

—Me livre deste fardo que me irrita, porra! - gritou ela. Uma voz aguda, que dava dor nos ouvidos.

O garoto que tinha feito o ritual pulou de susto e se encostou na pia, enquanto os outros tentavam sair dali pela porta (sem sucesso). O espelho começou a se quebrar, e outra mulher saiu dele.

Os outros garotos começaram a cair duros no chão, um por um, até sobrar aquele que tinha feito o ritual. Elas se aproximaram, e ele começou a chorar. Sarah sentiu a aura de medo emanando dele. Não era pura. Seu medo daquela situação era mesclado com o medo de... estar na frente de mulheres.

 

Sarah interrompeu a situação. Queria ver quem era o rapaz. Que menino estranho era esse?

—Levante sua cabeça. - ordenou Sarah.

 

—Pra que? Pra eu ver minha assassina? Não, dispenso...

 

Sarah levantou a cabeça do pobre rapaz à força. Teve de fechar os olhos com força e depois abri-los. Por um segundo, achou que ele era um anjo, e que tudo aquilo não passava de uma brincadeira. Era Ângelo.

 

Ângelo agora olhava para Sarah. Parecia impressionado.

"Your hair is cute." (Seu cabelo é fofo) - riu Ângelo.

"No. He is normal." (Não, ele é normal) - o rosto de Sarah ficou vermelho. "Por que ele não está com medo de mim? gr" pensou.

"Modesty." (Modéstia.) - debochou.

— Ele está me irritando, acabe logo com ele! - disse Sarah se virando para a Loira do Banheiro.

A própria Loira do Banheiro estava se segurando para não rir. Tinha voltado a sua forma humana. Ela se encostava na parede para não literalmente cair no riso.

—Tá rindo de que? - perguntou Sarah, irritada.

—É que vocês são tão fofinhos. - respondeu a mulher, rindo ainda mais.

—E qual é a graça nisso?

—Você está corando. É engraçado você tentando ser fria desse jeito.

Sarah levantou a mão esquerda por instinto, e logo começou a sair a áurea escura que tanto conhecia. Estava prestes a atacar a Loira quando a porta se abriu. Arthur tinha ouvido toda a conversa atrás da porta, e graças ao seu peso, acabou abrindo-a sem querer, revelando-se.

—Er... então... - começou ele - Eu... só tava passeando por aqui e tal... Podem voltar ao que estavam fazendo. - Arthur saiu do banheiro, fechando a porta atrás de si.

Uma pausa entre todos, apenas interrompida pelas risadinhas da Loira.

—Quem era ele? - perguntou a Loira, por fim.

—Arthur. Filho do Slender.

"I don't understand" (Eu não entendo.) - disse Ângelo.

A Loira começou a traduzir o que Sarah falava para Ângelo.

— O que diabos ele estava fazendo aqui? - disse Sarah.

—Sei lá. - disse a Loira.

Ângelo parecia uma criança, olhando para o teto, por motivo nenhum. Ele parecia uma retardado.

"Hey, son of "angels" (Ei, filho de "anjos") - disse a Loira - "Wake up" (Acorde)

—"Leave me with my dreams." (Me deixe com meus sonhos) - disse Ângelo.

—Ele é filho de anjos? - perguntou Sarah.

—Não. Anjos não tem filhos. - a Loira riu - Filho de puritanos.

Sarah se afastou. Ela sabia o poder que puritanos tinham, ainda mais sobre criaturas como ela. Apenas uma palavra era necessária para que um exército de monstros caísse.

"What's the matter?" (Qual é o problema?) - Ângelo riu. - "Afraid of me?" (Medo de mim?)

"Of course not." (Claro que não.) - Sarah rosnou.

"Do not forget that you were shaking with fear a few minutes ago." (Não se esqueça que você estava tremendo de medo a alguns minutos atrás.) - disse a Loira

—Meh. - Ângelo desviou o olhar, rindo.

Sem mais o que fazer ali, Ângelo se dirigiu até a porta. Ele sorriu uma última vez para Sarah e saiu andando, numa naturalidade tão grande que Sarah suspeitou.

—Ah... mais trabalho pra mim. - a Loira começou a vasculhar os corpos, e arrastar eles pra fora.

Sarah ajudou um pouco, limpando o sangue do banheiro. Quando a Loira saiu para deixar um dos corpos, Sarah ouviu uma voz do espelho.

—Selina, não é? - disse Sarah

—...

—Eu sei que é você. Sua voz é muito parecida.

—...

—Vamos lá. Não fique com medo.

—... Ok.

Selina continuava do mesmo jeito, mas sua voz era mais rouca. Ela se aproximou e era possível ver uma sala bem turva atrás dela no espelho.

—Você tem uma casa legal.

—... Obrigada.

—Aquele Ângelo tinha medo de mulheres? Mas como você disse que ele...

Eu menti.

—Oh...

— Mas acho que não era verdade. Se for, bebi o medo dele, então não há com o que se preocupar.

—Caramba, beber o medo é tenso.

Hehe. Sim...

—Boa sorte, Selina.

—... Obrigada, Sarah.


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