As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 1
Crônica 1— Homem de Areia (Sandman) e a Fengofobia




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 Slender andava lentamente pela floresta, enquanto Sarah ficava em seu ombro, abraçando de lado sua cabeça.

 A cada passo de Slender, parecia que um aventureiro se assustava ao longe, e corria para direções opostas. Sarah nunca pensou que haveria mais pessoas naquela floresta além de ela e sua própria família.

  Ela encostou a mão na cabeça de Slender, e então fechou os olhos, conseguindo ter a visão de Slender.

  Slender via o mundo escurecido pela noite de uma maneira mais clara. Era possível ver algumas cores mais vibrantes, demonstrando que ele via o calor das pessoas em meio à fria floresta. Ela viu as armas que boa parte dos aventureiros guardava na mochila. Via as câmeras com vários montes de fitas.

  Sarah agora entendia o porquê de ele muitas vezes ir atrás das pessoas e atacar elas. Humanos eram idiotas demais para viver, na visão dela.

 Slender andou por um longo tempo até chegar a uma casa abandonada. As paredes estavam cheias de musgo e rachadas. Ele se abaixou e continuou andando por um curto trajeto, até finalmente encontrar o fim da linha.

 Lá, um jovem rapaz desenhava com carvão. Ele era muito parecido com Slender: não se via rosto, tinha a pele pálida e usava uma roupa parecida com um terno. A diferença era que ele tinha cabelo. Um cabelo preto como a noite, que estava bagunçado.

— Quem é você? — perguntou ele, se afastando um pouco enquanto Sarah descia do ombro de Slender.

— Sarah. — respondeu ela, seca. — E você? Quem é?

— Arthur. — respondeu ele, ainda se afastando.

— Ela não machuca. — sussurrou a voz do Slender, em uma leve brisa que surgiu de uma fresta na parede.

— Ela é um fantasma, não é? — Arthur agora estava no canto da parede.

— Não sou. — disse Sarah. — Você é uma oferenda para ele também?

— Como assim oferenda?

Arthur parecia querer atravessar a parede de costas, de tanto medo.

— Não assuste ele desse jeito, Sarah. — disse Slender. — Ele é o meu filho. Não precisa saber do que eu faço lá fora.

— Você tem um filho? — Sarah se virou para o esguio — Como é que diabos você tem um filho?

— E-eu vou embora. — disse Arthur, correndo dali como um raio.

Slender soltou um tentáculo das costas e segurou o filho, que ficou se debatendo.

— Como seu filho é tão medroso? — disse Sarah, sem uma gota de respeito — Deveria ensinar a ele a ser como você!

As narinas de Slender abriram e logo sumiram no rosto branco. Um suspiro, para acalmar a alma.

— Não quero ensinar a ele a ser como eu. Se você tivesse um filho, você não iria querer ensinar a ele como amaldiçoar pessoas e colocar criaturas malignas ao seu favor apenas com o toque de sua mão, não é?

Sarah ficou quieta. Slender sabia do poder que ela tinha, e sabia que tinha ficado amigável com ela apenas por causa desse poder.

Arthur continuava se debatendo, e fazia de tudo para se livrar do tentáculo do pai.

— Deixe de ser antrópofo. — disse Slender, segurando o filho com os longos braços.

— O que é isso? — perguntou Arthur

— Medo de pessoas.

Arthur se acalmou lenta e demoradamente. Logo dormiu, ao simples som do silêncio. Slender se sentou em um canto e começou a olhar os desenhos do filho. Sarah se sentou ao lado dele, e também ficou observando.

— O que significam?

Slender não disse nada. Ele apenas continuou olhando cada uma das páginas. Era possível sentir que ele tinha um certo remorso.

— Arthur tem pesadelos com minhas vítimas, mas ele nunca me vê neles. — Slender disse. — Ele tem o costume de escrever o que mais impactou ele no pesadelo.

— E você coloca isso nas árvores.

— Eu acho bonitinho.

Sarah pegou a primeira folha. Parecia ter sido rabiscada com pressa, ou com muito medo. A folha era um pouco suja. Estava em inglês, mas Slender traduziu:

"Não olhe ou ele te leva"

E Sarah começou a pegar as outras sete, e Slender traduzia todas.

"Sempre vê. Sem olhos”

 

"Me deixe em paz"

 

"Me ajude"

 

"Não é possível correr"

 

"Não, não, não..."

 

"Ele me persegue"

Era possível sentir uma simples parcela do medo das crianças que tinham escrito aquilo.

Ao longe, eles começaram a ouvir passos.

 Um ancião andava calmamente, carregando um enorme saco de areia. Ele passava pelas paredes, e um quase imperceptível rastro de areia o seguia.

Era Sandman. O tal homem que colocava areia nos olhos das pessoas para elas dormirem. Sarah não sabia muito sobre ele.

 O Homem de Areia se aproximou de Slender e deu um forte aperto de mão. Com Sarah, ele apenas balançou a cabeça. Devia saber o poder que um aperto de mão dela tinha sobre ele. Se aproximou de Arthur e carinhosamente tirou a máscara branca dele, despejando a areia no canto dos olhos. Logo, recolocou a máscara e saiu, atravessando a parede.

— Se ele tem rosto... — começou Sarah

— Ele é extremamente tímido. — interrompeu Slender. — E sem a máscara ele não consegue sair de dia. Tem fengofobia.

— Que desgraça é essa?

— Medo da luz do sol.

— Precisa realmente dizer 'alguma coisa' fobia?

— Prefiro desse jeito.

 Sarah resolveu dormir. Não sabia como seria a vida ao lado de uma criatura tão temida... e seu filho, claro. Sarah dormiu como uma pedra durante toda a noite. Slender dormiu encostado na parede, rodeado dos desenhos do filho.

...

Quando o dia amanheceu, Arthur acordou ao mesmo tempo em que Sarah. Ela olhou ao redor e viu Slender dormindo no canto.

— Ele está dormindo. — disse Arthur.

— Não me diga. — respondeu Sarah, irônica.

— Ok, desculpa. — Arthur parecia ofendido.

Sarah olhou ao redor e sorriu maliciosamente.

— Vamos lá fora?

— N-não quero.

— Por favorzinho. — Sarah falou isso sarcástica.

— E-eu já disse q-que não!

— Se você não quer, eu vou sozinha.

 Sarah se levantou e começou a sair daquele lugar. Quando colocou os pés na grama, tirou os tênis imediatamente e começou a dançar de felicidade na grama. Estava livre de toda a opressão da noite, e o dia tocava uma adorável canção. As suas roupas cinzentas não lhe causavam mais ódio. A luz do sol simplesmente trazia brilho aos seus olhos e ao seu cabelo. Eram raros aqueles momentos, então Sarah os aproveitava da melhor maneira.

 Ela se sentia como se pudesse voar, e suas asas eram como as de um lindo anjo. Por alguns momentos, esqueceu-se de toda a dor e ódio que tinha. Por alguns simples momentos, esqueceu de que seu toque amaldiçoava qualquer coisa. Por algum tempo, sentiu-se como se estivesse no céu. Mas sabia que iria acabar no inferno de alguma maneira.

Arthur, mesmo com sua fobia de luz do sol, saiu da casa abandonada. Por trás da máscara, seus olhos cinzentos pareciam mentir para ele. Pela primeira vez, se alegrou ao ver a luz do sol. Porque, em meio a luz do sol, estava um lindo anjo dançando e olhando para os céus, como se procurasse ver a reação que seu mestre tinha. E que reação! Fazia ela sorrir tanto...


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