Garota Positivo escrita por Bia Brasileiro


Capítulo 5
Capítulo 5 - Memórias borradas de uma festa inesquecível


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, demorei demais. Não me odeiem.



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Eu tinha certeza de que estava sonhando.

Ou melhor, tendo um pesadelo. Um pesadelo horrível do qual eu queria sair o mais rápido possível.

Quando eu era pequena, costumava sonhar que estava no banheiro fazendo xixi, e quando acordava, estava com a cama toda molhada. Minha mãe me ensinou a, quando eu não tivesse certeza se estava sonhando ou acordada, me beliscasse de leve. Se fosse um sonho, não doeria, e eu acordaria por sacar que aquilo era um sonho e na verdade, eu realmente precisava ir ao banheiro. Nunca mais molhei a cama.

Mas naquele momento, eu estava tão entorpecida que realmente não sentia os móveis em que esbarrava, as pessoas que derrubava; eu só andava o mais rápido que podia, sem muito rumo.

Desci as escadas apressadamente, me segurando no corrimão. Tropecei ao chegar aos últimos degraus, e acabei esbarrando nas costas de um cara muito loiro. Ele se virou assustado, derramando a cerveja que tinha na mão, e me segurou pelo tronco. Por um momento, tudo no que eu conseguia focar era nos seus olhos muito azuis.

Ele falou algo e sorriu, mas eu realmente não prestei atenção. O mundo ao meu redor não estava girando direito. Fechei meus olhos e quando os abri novamente, meu rosto estava colado no dele. Meu corpo não respondia ao meu cérebro, ou nem o meu cérebro sabia direito o que estava fazendo.

A galera ria e falava alto ao redor, senti seus braços me segurando e me impedindo de cair. Ele me puxou pra cima, e assim percebi que estava quase ajoelhada. Que piada.

Por um momento desliguei, e no outro eu tinha seu rosto em minhas mãos. Eu o conhecia sim, de algum lugar. Fechei os olhos, e quando os abri, nossos rostos estavam muito colados. Quando os fechei novamente, só pude senti-lo me segurando perto, seu rosto enterrado no meu, e uma sensação de calma me invadiu. Deixei o corpo amolecer.

Ele tinha a boca mais gostosa que eu já havia provado.

**

Acordei em uma sala branca de hospital. Por um momento, simplesmente não lembrei do que poderia ter me levado até ali, mas o deus dos comas alcóolicos não é nada misericordioso. Minha cabeça latejava e com um lapso, lembrei de tudo o que havia acontecido na noite anterior.

Abri os olhos cheios de lágrimas, e não me preocupei em segurá-las. Solucei. Ouvi um barulho ao meu lado, alguém acordara com o meu barulho e se assustara, na cadeira do hospital. Os olhos azulados por trás das lentes dos óculos encontraram os meus, e por um segundo eu realmente não estava entendendo mais nada.

– O que você está fazendo aqui? – consegui murmurar. Minha garganta estava seca e parecia que havia sido rasgada em várias tiras.

O cara que conheci na estação parecia tão preocupado que me assustava.

– Eu... – ele corou – Hã... Você não lembra mesmo?

Balancei a cabeça em negativa. Meu corpo gemeu pelo tempo que passara parado.

Ele levantou as mangas da camisa até os cotovelos, os braços esfolados por unhas.

– Você é uma pessoa muito complicada.

Fiquei calada enquanto ele dizia que conseguiu me fazer vomitar uns vinte litros de álcool (haha, engraçadinho), e logo depois, desmaiei. Ele imaginou que alguém poderia me fazer mal se me deixasse ali, então me carregou no colo até a esquina e chamou uma ambulância. Quando perguntaram o grau de parentesco, ele disse que era meu irmão.

Por algum motivo, eu sabia que ele estava escondendo algo, mas minha cabeça doía demais até pra formular uma hipótese.

Como ele mal lembrava meu nome, disse à enfermeira que eu me chamava Rebeca e que nossos pais estavam fora do estado, então não adiantaria ligar pra eles. Devido meu estado catastrófico, permitiram que eu passasse a noite lá, mas se não arranjássemos documentos até aquela tarde, seriam obrigados a chamar a polícia.

– Ou seja, espero que você se chame Rebeca ou eu vou preso de qualquer jeito. – riu.

– Não mesmo. – estendi a mão – Erica, prazer.

– Lucas. – ele apertou minha mão, firme porém delicado – Acha que já está pronta pra ir pra casa? Deixei meu carro no estacionamento, pro caso de você querer uma carona.

– Ah... claro. Me sinto bem... – uma onda de choro me invadiu, e chorei sem parar por quase dez minutos. Lucas sentou na beira da cama e colocou minha cabeça no ombro dele, me consolando.

– Calma, calma... Vai passar...

– Não vai não... – eu murmurava, entre soluços – Meu namorado e minha melhor amiga? Como assim....? Ai meu Deus...

A enfermeira entrou no quarto e disse que precisava dos meus documentos ou teriam que chamar a polícia. Eu disse que meu irmão havia deixado no carro e provavelmente não se lembrou, por causa do momento. Ele olhou pra minha cara como quem diz “o que você ‘tá aprontando, garota doida?”.

– Posso vestir minhas roupas... E ir lá buscar? Eu realmente preciso de um pouco de ar.

– Moça, você não está em condições de...

– Enfermeira – interrompi – Eu fiquei nesse estado porque peguei meu namorado e minha melhor amiga na cama, transando como se o amanhã não existisse. Eu não estou em condições nem de pensar no momento, e eu realmente preciso de um pouco de ar. Por favor.

A mulher de branco me encarou por alguns instantes, e olhou de mim para Lucas incessantes vezes. Eu entendi o que ela estava pensando. Uma garota de cabelos ruivos e olhos verdes, o rosto cheio de sardas. Um cara de cabelos loiros quase platinados e olhos azulados. Irmãos. Claro.

Ela permitiu que saíssemos do hospital, algum dia ainda agradeceria aquela mulher pela boa vontade de salvar a minha vida sem que meus pais soubessem.

Meus pais. Pelos deuses, eles deviam estar desesperados.

Entrei no carro com Lucas e por um breve segundo, ri.

– O que foi?

– Estou entrando no carro de um completo desconhecido, que me tirou de uma festa e me trouxe pro hospital apenas pela boa vontade de ser um cara legal.

Ele corou de leve, mas suas mãos apertaram o volante.

De repente, uma pontada na minha cabeça fez com que meu corpo tivesse um espasmo involuntário. Lá no fundo, bem no fundo do meu cérebro, acendeu-se uma luz.

– Ai meu Deus.

Lucas continuava olhando para frente, atentando à rodovia. Pedi que ele encostasse no acostamento por um momento, e mesmo contra a sua vontade e entre reclamações, ele encostou.

– Nós ficamos, não é?

Ele suspirou e baixou a cabeça.

– É, eu beijei uma garota podre de bêbada que tinha acabado de pegar o namorado e a melhor amiga transando no quarto de cima. – ele inclinou a cabeça pro lado e me olhou com o canto dos olhos, sob as lentes dos óculos – Então... Vamos fingir que nunca aconteceu, ok?

Ele não me deixou responder. Ligou o rádio e girou a chave na ignição, e por incontáveis minutos, tudo o que se ouvia era o som dos outros carros, abafado pela batida de Waking The Demon dentro do veículo de janelas fechadas.


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou excessivamente curto porque eu estou trabalhando em outro projeto paralelo e resolvi fechar esse capítulo logo, antes que a ansiedade por postar me consumisse de vez. Anyway, gostaria de saber se vocês estão gostando e etc, a opinião de vocês em relação ao "enrolar" da história. Agradeço se comentarem. Kissus

e pra quem realmente não lembra dessa música, link ~> https://www.youtube.com/watch?v=q2I0ulTZWXA (ps. só eu acho o vocalista do Bullet MUITO gato? D: )



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