VII.


But you gave me the best mixtape I have
And even all the sad songs ain’t so sad
I just wish so much than that about me and you.


Butch Walker, Mixtape.


O primeiro raio de sol demorou bastante para aparecer. Eu senti medo de afastar o Ryan para sempre, de perdê-lo, mas sabia que o caminho que eu tinha escolhido não tinha volta e sabia também que eu tinha escolhido o caminho mais doloroso de todos eles – se é que existia outro.

Com o passar da madrugada, a fogueira foi se apagando, nos obrigando a dividir o mesmo cobertor enquanto nos mantínhamos iluminados por uma lanterna. Quando Ross e eu nos afastamos, foi com um pouco de relutância – principalmente da minha parte – e mais uma vez pude notar o guitarrista da minha banda adorável triste, por minha culpa. Me mantive firme enquanto ajeitava minha coberta na mala.

Saí dali sem trocar uma palavra sequer com Ryan. Quando chegamos à cabana, ensaiamos, posamos para algumas fotos com Valdés, mas ninguém parecia estar muito a fim de brincadeiras, mesmo assim, eu simplesmente decidi ser irritante e comecei a brincar com todo mundo até quebrar aquele maldito ‘climão’ que estávamos.

Na hora do almoço, fui arrumar meus pertences no quarto que era de Ryan, mas acabei pegando uma situação meio constrangedora. Ryan e Shane estavam sentados na cama, com as expressões carregadas e tons de vozes fora do comum, mais puxado para sarcasmo. Eu fiquei ali perto, sem ligar muito se me veriam porque a porta estava aberta.

- Que espécie de pessoa você pensa que é, Ryan Ross? - Shane dizia, tentando conter o grito entre os dentes. – Puta merda, qual o seu problema?

- O que você tem a ver com isso? – Ryan arqueava a sobrancelha.

- Você não vê o quanto o Brendon tá se arrastando por você? – Rosnou Shane. – Esse não é o nosso Brendon, você sabe disso.

- O Brendon desistiu de mim, Shane. – Ross deu de ombros. – Esse pode não ser o meu Brendon, mas é o cara que você transformou aceitando uma posta carente dele. Tudo isso é sua culpa, Valdés.

- Você realmente acha que o Brendon Urie é capaz de desistir de você? – Valdés deu uma longa risada. – Você perde tempo demais comigo e com essa procura idiota por culpados. Ryan, você tem tudo pra ser feliz com o Urie, não está com ele porque não o quer.

- Você realmente acha que o Brendon Urie é capaz de desistir de você? – Valdés deu uma longa risada. – Você perde tempo demais comigo e com essa procura idiota por culpados. Ryan, você tem tudo pra ser feliz com o Urie, não está com ele porque não o quer.

- Não se mete no que não é chamado. – Ryan disse e Valdés deu os ombros. – Brendon sempre se arrastou por mim, isso não vai mudar. Por outro lado ele parecia bem decidido em me deixar viver minha vida em paz, sem grandes problemas.

- Por Deus, Ryan! Qual é o Brendon Urie que você conhece? – Shane enfiou as mãos pelos cabelos longos, repreendendo meu ex-namorado de uma forma que eu nunca vi antes. – Mas que merda, Ryan... O Brendon está tão apaixonado por você que nõ se importa com mais nada. Adiante o tempo, por favor, e veja a merda que você está fazendo com seu melhor amigo!

- E você acha que eu estou sendo feliz? Acha que minha vida não acabou no maldito dia que ele se deitou comigo? Shane, por favor, eu não sou mais o mesmo cara de dois...

- Quer parar de ser egoísta e olhar só pra sua merda de umbigo? O Brendon é a questão aqui. – Valdés segurou Ryan pelos ombros e por um momento, pensei que aquele ato poderia quebrar meu Ryan ao meio. – O Brendon escolheu você para amar, não para sofrer. Você prendeu um coração livre, arrebatou a alma viajante do Brendon, agora arque as conseqüências desastrosas.

- Eu não posso. – Murmurou, fraco. – Foi você que acabou com o pouco de relacionamento que nos tinha sobrado depois que Keltie e eu realmente firmamos algo sério.

- Eu vou embora amanhã, quando as meninas chegarem, e gostaria que você desse uma nova chance para provar que só o Brendon pode fazer você feliz. – Shane sorriu doce. – Se você me odeia tanto, e eu estou cansado de ver o Brendon sofrendo por você, eu prefiro sumir da vida dele para que ele seja feliz.

Juro que contive um “você não vai embora coisa nenhuma” na minha garganta, mas infelizmente não pude conseguir segurar a lágrima que caiu de meus olhos. Foi apenas uma, mas o suficiente para acabar comigo. Mais uma vez, eu me lembrava das palavras de Josh. Talvez eu devesse levar mais uma surra por machucar dois amigos daquela forma; por tirar o emprego de um deles, o projeto que todos nós do Panic estávamos doidos para imaginar a reação dos nossos fãs ao olharem nossas fotos e vídeos. Tudo estava indo por água abaixo, porque eu tinha os feito se apaixonar por mim. Porque eu tinha ferido os dois e era sem remédio.

Shane saiu do quarto e só então os dois notaram minha presença. Eu estava estático ao ouvir toda aquela conversa. Segurei Valdés pela camisa e dei um abraço forte, mas esse se desvencilhou de mim com relutância. Arrastando minhas coisas, adentrei no quarto e George não tinha se movido.

- O que pretende agora, Brend? – perguntou, levantando o olhar para mim – Já machucou a mim e agora machucou o Shane também. O que pretende agora?

- Esquecer quem é Ryan Ross na minha vida. – Respondi, sorrindo de levinho, fraco, triste.- Esquecer toda a merda que você me transformou. Agora se me der licença, eu vou me arrumar.

- Onde você vai? – Franziu o cenho – Eu juro que você tinha entendido o propósito da viagem.

- Eu entendi, só não posso te esperar no quarto todos os dias para simplesmente dormirmos juntos, ou vermos um filme, não é? Isso dói, Ryan... – Assenti sorrindo falso – Eu só vou me divertir, Ross. Façao favor de me deixar sozinho.

- Vai pro banho. – Resmungou. – Eu saio daqui a pouco, prometo. – Sinceramente, não sei porque ele quis ficar lá, mas assenti e sai do quarto que agora era meu. Tomei um banho longo como sempre e quando voltei para o quarto, Ryan ainda estava lá e não me notou parado na porta. Estava com os olhos fechados, abraçando uma de minhas camisas. Sua expressão não estava das mais felizes, mas o cheiro da minha camisa lhe agradava bastante e eu não pude conter o sorriso bobo e doce que se formou em minha face. Ele ainda me queria, agora eu tive certeza.

Quando ele saiu, notei minha roupa escolhida em cima da cama. Sorri pra mim mesmo com isso e entendi que aquilo era, por hora, a maior prova de amor que Ryan poderia me dar. Sabendo muito bem que eu ia encarar algumas horas de estrada para me deitar com a primeira pessoa que eu encontrasse em minha frente, Ryan ainda escolheu me deixar bonito. Tê-lo pra mim, agora, era uma questão de tempo.