Meu Professor de Matemática escrita por Boobaloo


Capítulo 2
Capítulo 2




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Nas três semanas seguintes mamãe me obrigou a freqüentar a casa de Charles todos os dias. Levava Alice como desculpa para não ficar sozinha com Harry, John e Nicholas. Mal via meu professor de matemática, já que ele levava minha irmã para caminhar no bosque ou passear de canoa no lago ao fundo da mansão. Todo dia Alice voltada contando as novas histórias que aprendera e eu... Bem, eu não tinha nada a contar, além do fato de que Harry parecia cada dia mais bonito, mais charmoso e mais carinhoso do que no anterior. Estava se tornando rotina e eu me pegava pensando em Harry como meu futuro marido.

De alguma forma aquele dia fora diferente. Tinha chovido durante a tarde toda e quando meu pai voltara à mansão dos Dogson para nos buscar a estrada estava bloqueada por um desabamento. Charles nos ofereceu um quarto luxuoso da mansão para que eu e Alice pudéssemos passar a noite e no dia seguinte, quando a estrada já estivesse livre, poderíamos voltar pra casa.

No jantar Alice estava mais tagarela do que nunca. Charles e os primos trocavam comentários e davam risada enquanto eu não conseguia tirar os olhos de Harry.

- Creio que não, mas não custa perguntar à ela – percebi que tinha pego a conversa pela metade e Charles se referia a mim. – Miss Liddel, o que acha?

- Ahm? – Eu meio que acordei de meus devaneios.

Alice soltou uma gargalhada.

- Charles quer nos levar para andar a cavalo. – Ela disse enquanto me encarava com seus olhos cor de mel. – Vamos, Lena?

- Ora, Alice, você sabe que eu não gosto muito de cavalgar.

- Ah! Vamos, Helena. Vai ser legal. – Harry insistiu do outro lado da mesa.

Um minuto inteiro se passou com todos tentando me convencer de que um dia no campo seria incrível. Poderíamos fazer um piquenique e nadar no lago. Flea, a labrador, iria com a gente para nos fazer companhia.

- Helena, será uma oportunidade e tanto. – Charles começou. – Aliás, você me deve uma fotografia desde seu último aniversário.

Senti minhas bochechas ficando vermelhas e Alice abafou uma risada.

- Tudo bem, - eu disse enquanto me ajeitava na cadeira. – Podemos ir.

Vi Harry sorrir pra mim, como quem agradece. Sorri de volta, tímida demais para a minha personalidade original.

Depois de colocar Alice na cama e dar-lhe um beijo de boa noite, deite-me na minha cama de dossel e esperei o sono chegar, em vão. Arrisquei ir até a sala de música onde um piano velho descansava. Tinha quase certeza de que ninguém o tocava a mais de 10 anos.

Passei meus dedos gelados levemente por cada tecla antes de me sentar em frente do piano. Pensei na música mais calma que conhecia e então deixei meus dedos se moverem formando uma música.

Smile. Though your heart is aching”

Cantei o primeiro verso. Eu costumava cantar aquela música para Alice quando ela tinha pesadelos.

Smile. Even though it’s breaking”

Piano era uma das minhas poucas verdadeiras paixões.

When there are clouds in the sky - You'll get by”

Ouvi alguém abrindo a porta atrás de mim e parei imediatamente de tocar. Virei-me esperando encontrar Alice ou até mesmo Harry encostado na porta, me ouvindo tocar. Mas ao invés disso lá estava Charles com um sorriso no rosto e os braços cruzados.

- Não pare – ele pediu e eu voltei a tocar.

Smile through your pain and sorrow

Smile and maybe tomorrow

You’ll find that life is still worthwhile,

If you just…

Smile”

Então parei abruptamente quando percebi um flash vindo do meu lado. Charles tinha me fotografado e tinha me pegado de surpresa. Abaixei os olhos e com um muxoxo resmunguei:

- Charles, não... – Pedi.

- Helena! Não reclame... A foto ficou perfeita.

- Como pode ter certeza? Você ainda nem a viu. – Eu argumentei.

- Bom, a modelo fala por si só – ele respondeu.

Eu corei imediatamente.

- Sabe... – ele ergueu meu rosto pelo meu queixo – hoje contei uma história para sua irmã de uma garotinha chamada Alice que caiu num buraco quando procurava com um coelho de colete e relógio.

Eu franzi o cenho. Sabia que Charles tinha uma imaginação fértil e que ás vezes parecia uma criança, mas um coelho de colete e relógio?! Nem mesmo Alice teria pensado nisso.

- Suponho que minha irmã tenha adorado.

- Mais do que você pode imaginar.

Ele saiu de meu lado e se despediu com um sorriso.

Na manhã seguinte seguimos todos para um campo que eu nem sabia onde ficava. Ao longe podia se ver um lago com água tão limpa que era fácil enxergar os cascalhos do fundo. Alice mal se continha enquanto Charles chegava com os cavalos de não sei onde.

- Cuidado, Alice! – Pedi enquanto a via subindo no cavalo com a ajuda de John.

- Não se preocupe, Helena. – O loiro disse enquanto sentava-se logo atrás de minha irmã. – Eu vou cuidar dela.

E então imediatamente ele atiçou o cavalo e este disparou para longe de mim. Ao todo eram três cavalos. Dois deles tão negros quando ébano e o outro, no qual partiram Alice e John, era castanho como meus cabelos.

- Vamos, Lena? – Harry chamou de cima de um cavalo com a mão estendida.

- A-agora não, quem sabe mais tarde. – Eu disse enquanto enrolava uma mecha de meus cabelos nos dedos.

- Tudo bem então. – E ele partiu logo atrás de Nicholas que corria feito um doido.

Charles, por outro lado, ficou para me fazer companhia. Procuramos um lugar onde houvesse uma boa sombra pra estendermos a toalha de piquenique. Por sorte era perto do lago, o que amenizava o calor.

Eu digo e repito, as mulheres sofrem no verão. Quer dizer, esses saiotes são compridos demais, grossos demais... Já que estávamos todos entre amigos não vi problemas em erguer um pouco o vestido, apenas para que não cozinhasse dentro dele. Deliciava-me com um bom suco de laranja quando percebi Charles olhando para mim pelo canto do olho.

Oh Deus, o que pensariam minhas colegas de classe quando me vissem com o professor de matemática?

- Então... – Ele perguntou. – Creio que dos três seu preferido é o Harry.

- Não tenho preferências, Mr. Dogson. – Disse tentando ser imparcial.

- Hum, sei... – Ele disse enquanto deitava-se na toalha xadrez vermelha e branca. – Tanto que gasta o mesmo tempo com o três. – Ele completou irônico.

- Mr. Dogson – eu o repreendi.

- Não se sinta acanhada, Helena. – Ele disse. – É isso que eles querem. Que você escolha.

- Não sei exatamente se escolheria um deles. – Eu disse um pouco envergonhada. – Quer dizer, toda garota sonha com o príncipe encantado, com o amor verdadeiro. Um casamento arranjado não é um exemplo ideal disso.

Charles ficou sem palavras. Claro, não seria fácil responder alguém tão petulante quanto eu, sem contar que ele era o homem mais tímido que eu conhecia. Percebi que mudar de assunto seria uma ótima coisa a fazer.

- E a história que contou para minha irmã? – Perguntei. – Como ela é... digo, originalmente?

- Resumidamente, - ele me encarou – Alice é uma pequena garota curiosa que depois de cair num buraco enquanto procurava por um coelho de colete e relógio, se encontra num país maravilhoso, onde as coisas não são como realmente são. Os animais falam, as pessoas são malucas. Até existe uma rainha de copas.

- Rainha de Copas? – Perguntei. – De onde tirou isso?

- Sabe, ela é bem parecida com você. – Ele deu um gole num suco de uva. – Petulante, nervosa, orgulhosa e teimosa. Assim como você, ela não admite erros e tudo tem que ser do jeito dela.

- Eu não sou assim tão orgulhosa. – Reclamei.

- Miss Liddel, - ele chamou. – Lembre-se que sou seu professor de matemática. Quantas e quantas vezes vocês já não teimou comigo dizendo que seus cálculos estavam certos mesmo sabendo que eles estavam errados?

- Não muitas – disse de queixo empinado.

- O suficiente. – Ele concordou.

Não pude evitar o sorriso que se formou em meus lábios e acompanhando-o, Charles sorriu também. Lá estava eu, pronta para passar um ótimo dia no campo com meu professor favorito.


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