O Cemitério dos Sonhos

Por: Bad Wolf/ Pequena Loba/ Hybrid

E se existisse um lugar para onde todos os sonhos perdidos vão. Um lugar oculto, escondido dos olhos dos humanos, reservado para aqueles sonhos abandonados, tidos como ilusão? Pois eu vos afirmo meus caros, existe um lugar assim. O cemitério dos sonhos.

Como eu sei? Bem, eu já estive lá uma vez. Uma bela albina de olhos cor de rubi me recebeu. Mas calma que essa história não é minha. O que contarei a vocês agora foi me passado pela bela mulher, que carinhosamente apelidei de morte. Contarei cada detalhe do mesmo modo que ouvi, então me perdoem se algo soar desconexo, estou apenas repassando.

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Há algum tempo havia uma mulher com seus trinta e poucos anos. Bela e ainda jovem, Bella não via mais sentido – ou tempo – em sonhar. Seu maior objetivo na vida era ver suas três filhas formadas e realizadas, por vezes caia na tentação de chamar a morte, não que gostasse, mas por alguma razão temos tendência a fazer isso em momentos de dificuldade, inconscientemente.

Num belo dia de inverno, que por acaso não gostava muito, viu-se sozinha e em paz e, por alguma razão, começou a refletir sobre sua vida até que, aos poucos, adormeceu. Ao abrir os olhos, surpreendeu-se ao notar que estava um local deferente.

Espreguiçou-se e lentamente levantou, analisando melhor sua situação. Estava num local com grama verde, um céu acinzentado como se fosse chover, num contraste notável. Ao andar mais um pouco, descobriu-se entre um longo caminho preenchido por túmulo, assim como ao seu redor.

Havia ali um vulto, analisando um dos túmulos. Ela aproximou-se com cuidado. Então constatou algo ao se aproximar: Imagens dela mais nova sendo exibidas na pedra de mármore. Aquilo a assustou e a fez dar alguns passos para trás, olhando das imagens para a pessoa que a assistia. Esta se virou, retirando um capuz negro que cobria seu rosto, revelando uma bela mulher de olhos cor de rubi e cabelos prateados.

- Quem é você? Onde estou? – foram as perguntas que conseguiu expressar, sentindo seu peito apertar com um medo incomum surgindo.

- Não se preocupe você não morreu ainda. – respondeu a moça gentilmente. Sua voz era suave e acalentadora. – E eu não sou a morte. – acrescentou com um leve sorriso.

- Mas que lugar é esse? – perguntou sem muita fé no que a outra tinha dito.

- O cemitério dos sonhos. – a morte respondeu calmamente. – Aqueles são os seus sonhos. – ela suspirou – E sua vida ligada a eles – sorriu e deu espaço para que Bella se aproximasse. – Apesar do que alguns pensam, sou apenas uma espécie de coveiro, apenas cuido dos meus mortos com carinho.[

Bella fitou a outra a achando completamente estranha, mas toda aquela situação era.

- Às vezes algumas pessoas param aqui. – ela prosseguiu, fitando-a com cuidado. – Eu não sei bem o porquê, mas creio que deva ter um bom motivo. – suspirou e fitou o túmulo – O que vê ai?

- Meus antigos sonhos... – respondeu baixinho, voltando a olhar as imagens – Toda a minha vida...

- Diga-me, se estivesse prestes a morrer, se eu fosse a morte e lhe desse mais uma chance, uma chance de fazer algo antes de te levar. O que faria? – ela perguntou, brincando com sua foice, que só agora Bella notara, grande e com a lâmina brilhando. “Coveiro é?”

- Eu... não sei. – respondeu um pouco nervosa, desejando acordar do que pensava ser um sonho.

- Nada? – perguntou, recebendo uma negativa. – Que tal viajar à Itália e visitar Veneza?

- Isso custaria muito, é inalcançável. Além do mais, deixaria uma divida para minhas filhas.

- Por favor, elas perderiam a mãe, acha mesmo que iriam se importar com dividas? – perguntou com uma leve ironia e sorriu gentilmente. – Você é daquelas pessoas que por alguma decepção, ou escolha ruim, acha que não vale mais a pena sonhar, não é?

- Eu tenho certeza disso, além do mais, não tenho mais idade. – suspirou – Meu maior sonho agora e criar minhas filhas bem.

- Entendo. – ponderou a outra, olhando para o horizonte. Túmulos e mais túmulos tomavam toda a vista, onde o verde escuro e o cinza se mesclavam. – Acho que para vocês, humanos, o tempo apenas parece ser o que não é. A verdade é que ele lhes dá diversas e diversas chances, mas vocês muitas vezes não enxergam. – Ela suspirou, encarando Bella – Acham que idade ou escolhas mal feitas determinam toda a vida. – ela sorriu – De fato são coisas que tem peso, mas sempre há uma chance para fazer escolhas, tomar atitudes e os sonhos, cara Bella não são mais, e nem menos, do que isso. – ela fitou o túmulo mais uma vez e então voltou a encara-la – É por isso que aqui posso ver toda a sua vida e não apenas seus sonhos. Estes, cara Bella, são apenas complementos, fontes de motivação. – ela suspirou, uma névoa densa tomou as duas e apenas a voz dela podia ser ouvida, mesmo que estivessem frente a frente. – Lembre-se, minha cara, não há idade ou tempo que lhe impeça de tomar uma atitude se necessária. Não há tempo ou idade que lhe impeça de sonhar...

E então, Bella acordou novamente em seu quarto, questionando se aquilo havia somente um sonho. Lembrava nitidamente de cada palavra e aquilo a fez refletir sobre sua vida.

Afinal, talvez fosse essa finalidade do tal Cemitério. Não apenas enterrar sonhos antigos, ilusões e desilusões passadas, mas talvez abrir os olhos para sonhos novos. Talvez um dia vocês se deparem com a bela morte.

Pequena Loba se despede, até a próxima história e lembrem-se: Não somos feitos de sonhos, eles que são feitos da gente.