A parede fria congelava minhas costas de vagar. Em um misto de ansiedade e apreensão, cada segundo era uma tortura. Tentei batucar os dedos em minha coxa ou contar até mil de vagar, mas nada funcionou.

Quanto tempo demoraria para eu poder entrar? Para que eu pudesse, finalmente, ver FZ vivo? Quantos formulários aquele maldito hospital tinha que preencher? Suspirei. Meu coração não desacelerara por nem um segundo desde que eu acordei.

– Anna – ouvi meu pai me chamando em voz baixa. Virei a cabeça rápido, ele estava esperando comigo naquele corredor praticamente vazio, aliás, ele não desgrudara de mim desde que ele e Zeke nos resgataram – Fica calma. Não quero que nada aconteça com você.

Assenti rapidamente com a cabeça, tentando parecer bem. Havia uma certa tensão entre eu e meu pai, talvez porque ele ainda estava furioso comigo por ter fugido e, antes que tivéssemos aquela conversa, era melhor eu parecer bem. Fuzilei a porta de FZ com o olhar enquanto torci para que ela se abrisse logo.

– Anna Prior? – quase pulei quando uma enfermeira, vestida de azul da cabeça aos pés, abriu a porta e espiou no corredor, me chamando. – Você já pode ver seu amigo agora. – ela completou ao ver que eu me desencostara da parede rápida e ansiosamente.

– Obrigada – respondi e comecei a andar, logo atrás do meu pai, que murmurou algo como “eu entro junto”. Eu já podia sentir um pequeno sorriso se pintando em meu rosto enquanto aquele cubo de angustia se desfazia pouco a pouco.

Ela colocou um sorriso gentil nos lábios e abriu a porta branca para que entrássemos. A enfermeira nos deu licença e, assim que o meu pai passou pela porta, eu entrei também, com o coração em disparada.

O quarto tinha as paredes, o chão, o teto e cada móvel dentro dele totalmente branco. Era um quarto de hospital normal, monótono, com vários aparelhos, agulhas, uma cama e algumas cadeiras. Corri os olhos por tudo de forma rápida. Zeke estava encostado em uma parede enquanto Julia e Shauna estavam do lado da cama.

Assim que eu botei os olhos naquela cama de hospital, ou melhor, em quem estava deitado naquela cama de hospital, meu coração parou. Aqueles cabelos pretos mais bagunçados que o normal prenderam minha atenção e, enquanto eu me assustava um pouco com os soros e curativos, seus olhos de chocolate me envolveram. Mas, apesar de tudo, foi aquele inconfundível sorriso brincando em seus lábios que me convenceu: FZ estava bem.

Senti meus olhos marejados enquanto um sorriso desabrochava em meus lábios. Dei alguns passos rápidos até a cama, parando do lado onde Julia e Shauna não estavam. Eu mal tive tempo de cumprimenta-las antes que os olhos de FZ me hipnotizassem.

– FZ... – eu disse, por fim, quase engasgada de emoção. Minha vontade era de me jogar em cima dele e beija-lo até que sua boca se fundisse com a minha, mas eu me contive. Afinal, até onde poderíamos ir com os nossos pais olhando?

– Anna. – ele respondeu, com aquele sorriso perfeito brincando em seus lábios. Eu sorri, sorri mesmo, totalmente invadida pela felicidade e gratidão. Por logos segundos, parecia que todos daquela sala haviam desaparecido, e apenas nós, olhando um para o outro, estávamos ali.

Então eu mandei que as “distâncias seguras” se ferrassem. Tudo o que eu queria era estar nos braços de FZ, abraça-lo pelo pescoço e puxa-lo para mais perto do meu coração. E foi o que eu fiz. Me inclinei sobre ele e passei os braços aos redor de seu pescoço, repousando minhas mãos em suas costas e tentando não encostar em seu ombro.

– Não faça isso nunca mais, FZ, nunca mais! Você me matou de susto! – as palavras engasgavam em minha garganta enquanto eu puxava FZ para perto de mim. Ele estava me abraçando com o seu braço bom e sorrindo junto comigo. – Acho bom que você esteja bem! Meu Deus, muito obrigada eu teria, eu teria...

A frase se perdeu em meu choro silencioso. As lágrimas de alívio, medo e felicidade corriam pelos minhas bochechas rubras. Fechei os olhos e deixei que aquele abraço quente me consumisse enquanto FZ murmurava palavras de consolo em meu ouvido.

– Anna, Anna, olha pra mim... – suas palavras doces chegaram até mim e eu me afastei um pouco daquele encaixe perfeito para ouvir o que ele tinha a dizer. Sua mão gelada se esgueirou até a minha bochecha e secou uma lágrima com a maior delicadeza do mundo – Eu faria tudo de novo só pra te ver viva.

Eu queria que aquele momento mágico tivesse durado para sempre. Que, logo depois que suas palavras aqueceram meu coração, nossos sorrisos bobos tivessem se fundido em um beijo delicioso. E que tivéssemos ficado ali para sempre.

Mas não foi isso que aconteceu.

Algo nos trouxe de volta a realidade e os olhares curiosos de nossos pais nos constrangeram no mesmo segundo. Eu levantei de vagar, secando as lágrimas com a minha manga.

Eu sorri para FZ, cumprimentei Shauna, Julia e Zeke e abri espaço para que meu pai falasse com FZ. Tudo estava meio emotivo, mas bem. E, apesar da tensão entre todos ali, estávamos tendo uma conversa calma e normal. Até Julia abrir a boca.

– Sabe mãe...Eu tenho quase certeza que a Anna e o FZ estão namorando – ela falou, pegando Sauna pelo braço, em um tom casual e fofoqueiro. Todos ficaram em silêncio e olharam diretamente para ela, em estado de choque. Eu já podia sentir meu rosto esquentado quando ela completou, com um sorriso travesso.– Eu até vi eles se beijando uma vez...

A risada incrédula de Zeke ecoou por todo o quarto. Shauna o repreendeu com um olhar chocado enquanto eu podia sentir minhas bochechas virando uma chaleira quente. Julia exibia um sorriso maroto enquanto FZ estava tão constrangido quanto eu.

A primeira coisa que meu pai fez foi fuzilar FZ com o olhar. Depois seus olhos pousaram em mim, ele me analisou de cima a baixo com uma clara pergunta no olhar. Eu pude ouvir Zeke dizendo algo como “Eu sabia!” e Shuna perguntando a FZ enquanto Julia ria.

– Isso é sério Anna? – ele, por fim, perguntou. Minhas bochechas estavam muito vermelhas e eu não sabia como responder. Eu e FZ nos entreolhamos e ele deu de ombros, como se dissesse “é você que sabe”. Eu tomei fôlego, e, com o coração martelando, respondi.

– Mais ou menos – soltei, enquanto admirava meus sapatos. Mordi o lábio inferior, nervosa. Meu pai olhou para mim mais uma vez, e depois para FZ. Então, depois de suspirar, ele deu um passo para trás e disse, apontando para mim.

– Vamos conversar sobre preservativos depois – se eu ainda não estava vermelha, então eu fiquei. Olhei para meu pai com espanto enquanto ele apontava para FZ, completando – Conversamos melhor depois.

Sua postura ameaçadora, com os braços cruzados e o maxilar cerrado se desfez de forma vagarosa. Ainda olhando no fundo dos meus olhos, como se dissesse silenciosamente que estava tudo bem, ele se encostou na parede e descruzou os braços. Então, virou a cabeça para a direita, como se me desse permissão para beijar FZ.

Apesar de eu estar mais constrangida do que nunca, meus passos silenciosos até a cama foram andados de forma automática. Cravei meus olhos em FZ, tentando me concentrar em seu sorriso nervoso e esquecer que estavam nos encarando. Meu estômago dava voltas quando eu sentei na beirinha da cama.

FZ parou seus olhos em mim, olhando dentro de minha alma pelo que pareceu uma eternidade. Então eu estava lá: nervosa para beijar FZ, como se aquele fosse o nosso primeiro beijo. Ele tentou dar de ombros com um obro só enquanto sua mão boa pousava em minha cintura.

Eu fui me inclinando de vagar enquanto passava as mãos pela sua nuca quente. Meu rosto virou um pouco para direita e eu fechei os olhos, abrindo um pouco a boca. Então, em menos de três segundos, nós estávamos nos beijando de novo.

Sua boca parecia ter sido feita para encaixar na minha, e, nem por um segundo, perdemos nossa sintonia. Sua língua estava na minha boca da maneira certa, assim como nossos corações apaixonados batiam ao mesmo tempo.

Então, naquele segundo, eu entendi.

Eu não conseguia ficar sem FZ.

Eu precisava dele. Assim como um peixe precisa da água. Assim como a terra precisa do sol. Do mesmo jeito que uma facção precisava da outra para sobreviver. Eu precisava beija-lo para acalmar meu coração acelerado. Eu precisava que ele fizesse com que eu me sentisse viva a cada segundo do meu dia.

Eu o amava.

Naquele exato instante, com a sua língua explorando a minha boca e vice e versa, eu percebi que eu estava apaixonada. Totalmente apaixonada. E que o meu coração não bateria daquele jeito por mais ninguém.

Então, diminui a velocidade daquele beijo perfeito pouco a pouco, até afastar minha boca da dele. Então, com nossas testas grudadas, eu tomei seu rosto quente nas mãos e disse, olhando dentro daqueles olhos de chocolate:

– Eu te amo FZ – e, com o coração a mil, percebi que eu nunca tinha sido tão verdadeira.