Cheerock escrita por Leh


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoinhas! Estão a fim de ler um capítulo novo? Por que eu estou sedenta por escrevê-lo!! Aqui vai mais um!



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Victor

Adoraria dizer que passarinhos me acordaram com seu lindo canto de primavera, mas não foi assim. Acordei com Hugo pulando nas minhas cobertas.

– Acorda, acorda! Tenho médico daqui a uma hora e depois eu e mamãe vamos comer fora.

– Comer fora? – perguntei me levantando.

– Sem você! – disse ele rindo e saindo correndo.

Levantei-me com pressa para tomar satisfações com minha mãe.

– Mãe! – cheguei ao quarto e vi minha mãe trocando a sonda de meu pai.

– Estou ocupada agora Victor.

– Hugo disse que vocês vão almoçar fora sem mim.

– Você jantou fora ontem sem nós, achei um castigo adequado.

– Mas mãe foi por uma boa causa! Você nem quer escutar o que eu tenho a dizer!

– Victor chega. Hoje você vai ficar cuidando de seu pai até eu e Hugo voltarmos. Fui clara?

– Sim – falei mais baixo.

– Ótimo. Quero que você coloque um novo tubo de soro a cada hora e troque a sonda na hora do almoço. Estaremos aqui a tempo do jantar então eu coloco essa.

– Certo.

– Você tem de verificar se a frauda está suja a cada meia hora ou quando sentir cheiro desagradável e...

– Eu sei, trocar. Já fiz isso milhões de vezes.

– Isso. E lembre-se que ainda está de castigo, então você não pode escutar música, assistir TV, comer doces nem jogar videogame.

– E estou condenado a passar o resto da vida cheio de tédio.

– Não tire os olhos do seu pai, certo?

– Não é como se eu fosse tomar banho e ele resolvesse dançar enquanto estou fora.

Ela me olhou séria.

– Estou falando sério Victor. Vou levar seu irmão para o médico ou ele chega atrasado. Vejo você provavelmente as três.

– Ok.

Ela me deu um beijo na bochecha.

– Até mais tarde.

E foi embora.

Corri para olhar a janela e vi o carro se afastando.

– Hoje é o dia dos homens pai! Espero que esteja pronto!

Minha resposta foi um zumbido de uma mosca que passava no ambiente.

– Vou tomar um banho e já volto. Vê se não faz muita festa enquanto estou fora.

Vou até meu quarto e tiro meu pijama, arrumo minha cama e pego uma muda de roupas. Entro no chuveiro e tomo o merecido banho.

Depois desço e tomo um copo de leite com biscoitos e lavo a louça. Eu sei, sou um filho maravilhoso.

Ainda ligo o aguador de plantas antes de subir de novo.

– E aí, se divertindo?

– Certo, eu tenho que te contar o que fiz ontem. Você lembra aquela líder de torcida que tomou nosso troféu do primeiro show de talentos do ano? Então...

Contei todo o meu dia ontem com cada minucioso detalhe, parando apenas para trocar fraudas sujas e mudar frascos de soro.

Ela difícil cuidar do meu pai, por isso eu nunca reclamava quando minha mãe pedia um dia de folga para se divertir. Eu também tentava dar o mínimo de trabalho possível, mas em dias como ontem era impossível.

Antes do acidente meu pai era atlético e bronzeado de praia que ele amava ir, agora ele era pálido e caquético. Minha mãe era bonita e adorava se arrumar para ficar “a altura” de ser esposa do homem mais lindo do bairro – embora também fosse naturalmente a mulher mais linda do bairro – porém depois que meu pai ficara desse jeito ela engordou e não se importa tanto com a aparência.

Luto para que ela consiga ver a beleza interior e possa voltar ao que era antes, mas é muito mais fácil falar do que fazer.

Na hora do almoço troco a sonda dele e esquento algo para mim mesmo. Subitamente lembro o aguador ligado e corro para desligar. A rua está toda molhada, mas ninguém reclama conosco desde o acidente. Nunca.

Termino de comer e corro para cima.

– Quase peguei você no flagra! – falei quando chego ao quarto.

Ele está exatamente do jeito que o deixei, se ele sai para dançar quando me afasto, deve esconder muito bem.

Sento-me ao seu lado e acabo adormecendo. Acordo somente quando ouço o carro de minha mãe chegando. Olho o relógio e percebo que ela está bem mais atrasada do que disse que ia chegar.

Sinto o cheiro desagradável e percebo que meu pai fez cocô enquanto dormia. Não posso deixar minha mãe subir e ter que trocar.

– Victor, chegamos! – grita minha mãe.

– Desço já! – grito de volta.

Corro para terminar a limpeza da frauda e quando finalmente acabo, a tarde dos homens está acabada.

Carly

Sábado de manhã e lá estava eu furtando uma calça jeans e uma camiseta de Patrisha. Ela e Josh saíram cedo para resolver alguns assuntos e me deixaram sozinha. Há! Grande erro!

Então lembrei o jeito que ela gritou com meu querido Josh e resolvi ter minha pequena vingança, roubando mais roupas e uma bolsa – por sinal lindíssima – da Victor Hugo – por sinal caríssima também.

Então peguei algum dinheiro que ele me deixou para emergências, uns cem dólares – emergências caras – e saí sem rumo.

Eu sei, eu estou provavelmente ainda sendo perseguida por Terrence e fujo do único lugar que tenho uma cama garantida, mas Josh é um cara incrível e eu não quero ser um fardo pra ele.

Antes de ir deixo um bilhete avisando que estou indo me encontrar com meu namorado e ficar uns dias na casa dele. Eu é que não vou falar para ele que sua noiva é um saco.

Fui caminhando sem rumo até os meus pés cansarem, então entrei em um shopping.

O ar-condicionado me atingiu e me aliviou.

Sentei-me em um banco e apoiei o rosto em uma mão e o cotovelo no braço do banco. Fiquei apenas olhando as pessoas passarem.

Como minha vida pode ser tão fudida assim? Eu já tinha o estupro pra me preocupar, mas agora que tirei esse peso das minhas costas simplesmente não tenho onde morar e apenas cem dólares pra me alimentar. Posso arranjar algum lugar pra trabalhar, mas isso não me arranja onde morar.

Certo. Calma Carly vai ficar tudo bem. Você deu conta de tantos outros problemas! Não é o fim do mundo.

No fundo toca “Shatter Me” da Lindsey Stirling com a Lzzy Hale. É uma música estranha pra se tocar em um shopping, mas eu amo essa violinista. Na verdade amo todo tipo de música clássica, meu sonho sempre foi ser uma bailarina e líder de torcida foi o mais próximo que consegui.

Então tenho a ideia de ir à loja de instrumentos musicais para tentar me animar. Ver violinos, violoncelos e pianos me deixam feliz.

Entro na loja e começo a andar pela seção de violinos. Uma mulher e um garoto estão examinando alguns.

Olho um marrom com cordas perfeitamente esticadas. Lembro a vez que Josh me trouxe nessa mesma loja e me mostrou como escolher um bom violino.

Sem que eu realmente queira as lágrimas começam a escorrer e com elas vêm também soluços incontroláveis. Maldita hora em que quis vir ver violinos numa loja de música.

– Você está bem? – pergunta a moça que está com o garotinho.

– Mãe, ela tá chorando, é claro que não tá bem! – disse o menino revirando os olhos.

Rio. Que garoto engraçado. Ele tem cabelos loiros como os da mãe e olhos azuis, é branco feito mármore e magrelo. A mulher é baixa, ligeiramente gorda, com cabelos lisos e loiros e olhos castanhos.

Coloco o violino de volta na prateleira.

– Me desculpe, eu... desculpe.

Dou meia volta, mas não tenho chance de sair, pois a mulher segura meu pulso e me faz virar.

– Por favor, estamos só de bobeira no shopping, venha vamos comer alguma coisa enquanto você fala o motivo do choro. Você não se importa, né Huguinho?

– Não, adoro saber o motivo pelo qual garotas bonitas choram.

Esse garoto é mais inteligente do que aparenta.

A mulher me guia para a praça de alimentação e compra três hambúrgueres para nós. Com o tanto de gordura que ando comendo é bem possível que engorde. Odeio fazer dietas.

– Antes de tudo, eu sou Janice e esse é meu filho Hugo.

– Sou Carly – me apresentei envergonhada.

Hugo começa a comer seu sanduíche devagar e de olhos fechados. Janice faz o mesmo.

– Não vai comer, querida? Comprei esse pra você.

– Obrigada.

Peguei a embalagem e mordi o conteúdo. Estava ainda melhor que o do dia anterior.

– E aí, vai falar por que tava chorando? – perguntou o garoto.

Olhei para baixo.

– Hugo, não seja indelicado!

– Tudo bem – defendi.

Decidi que falar tudo para completos estranhos talvez não fosse algo tão ruim assim, considerando que nunca mais vou vê-los na minha vida. Então eu disse tudo e a medida que as palavras saíam eu comecei a chorar cada vez mais.

Janice pegou inúmeros guardanapos para que eu enxugasse as lágrimas e limpasse o catarro.

Quando acabei de falar inclusive do motivo do choro na loja de música e da música que me motivou a ir à loja de música, Hugo estava alheio olhando a embalagem do copo de refrigerante e Janice me olhava séria.

Então ela deu um sorriso suave.

– Você gosta da Lindsey Stirling?

Fiz que sim.

– Então você deve conhecer aquela música “We are giants”.

De fato eu conhecia. Comecei a chorar mais ainda. Só aquilo já fora o possível para me dar esperanças.

– Sabe, Carly, ás vezes Deus nos coloca em determinados lugares para realizar pequenas ações. Eu acredito que Deus lhe colocou em meu caminho, para que eu possa te ajudar. Esse seu amigo também foi posto em seu caminho e a missão dele acabou, mas a minha está começando – ela colocou as mãos em cima das minhas – Sei que sou apenas uma estranha do shopping, mas sinto uma incrível vontade de acolhê-la em minha casa e isso não é menos que minha obrigação.

Oh, meu Deus. Essa estranha me pagou comida e agora quer me abrigar na casa dela? Isso é um sonho?

As lágrimas não paravam de cair.

– Mas eu não tenho como retribuir...

– Colocando um sorriso no seu rosto já é mais do que suficiente.

E foi o que eu fiz: sorri. Eu já estava desacreditada da bondade das pessoas e agora essa senhora chega e faz isso? Posso começar até a ir a uma igreja com ela agora.

– Eu não quero atrapalhar e eu deixei tudo na casa do meu padrasto, estou sem telefone, roupas, livros...

– Não se preocupe, vamos resolver esse problema agora mesmo!

Então Janice se levantou e arrastou Hugo e eu para me dar um banho de lojas. Foi a coisa mais incrível que alguém já fizera por mim. Tudo naquele momento estava parecendo um sonho, eu tinha a impressão de que ia acordar e estar em casa com Terrence a minha espera. Mas no fundo eu sabia que era tudo real.

– Tudo acabado aqui? Então vamos pra casa – disse Janice. Eram quase cinco da tarde.

– Mãe, eu vou ter que dormir com meu irmão?

– Sim.

– Ok.

Ele aceitou aquilo numa boa, dando de ombros. Pensei que fosse ter briga, mas aquele garotinho parecia ser mais maduro até mesmo do que eu.

Ela me levou a uma rua bonita e bem arborizada que ficava ligeiramente perto da escola que estudo.

– Carly, aqui perto tem uma escola... – começou Janice.

– Eu sei, é lá que eu estudo.

– Meu irmão burro também – disse Hugo.

Ri. Que amor.

Ela parou na garagem de uma casa azul claro com várias janelas brancas e muitas flores no jardim.

Parecia a casa de uma boneca. Era lindo.

Ajudei Janice a tirar as compras do porta-malas e entramos. Dentro era ainda mais bonequinha ainda, tirando algumas imagens de santos e vários crucifixos espalhados pelas paredes.

– Victor, chegamos! – gritou Janice.

Peraí... Victor?

– Desço já! – respondeu uma voz de cima.

Puta merda. Essa é a casa de Victor Simons.


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Notas finais do capítulo

Sabem como eu me sinto quando vocês não me mandam reviews? Triste, desmotivada e chorosa... eu sinto como se estivesse aqui falando sozinha.
Falem comigo queridos! Mesmo que só um "oi tô aqui!" Não toma nem 1 minutinho ;)
kisses!
ps.: podem pesquisar a Lindsey ela é uma violinista que mistura tecno com o som do violino (perfeito demais *--*), vale a pena!



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