Cheerock escrita por Leh


Capítulo 23
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Quero anunciar uma coisinha aqui: minhas postagens vão ser aos sábados a partir de agora. E também que estamos quase chegando ao fim de Cheerock! :) ou :( mandem seus comentários!!



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Carly

– Bom dia – falei quando os olhos de Victor se abriram. Ele esfregou-os com as mãos e bocejou enquanto sentava na cama.

– Bom dia – ele respondeu.

– Vamos ao colégio hoje?

Era uma quinta-feira, ficamos três dias matando aula, é claro que o diretor do colégio ligou para Janice dizendo q entendia, mas isso era para Victor, não eu.

– Tudo bem – ele levantou devagar e foi em direção ao banheiro.

Saí do quarto e desci para arrumar o café da manhã. Fiz dois sanduíches com suco de laranja e deixei o remédio de Victor perto de um dos pratos para que ele não esquecesse.

Ele desceu e comeu devagar e em silêncio. Parecia um zumbi, com os olhos baixos de sono e as olheiras levemente roxas. Victor claramente não vinha dormindo muito bem. Todas as noites, depois do jantar, ele sumia e só aparecia novamente de manhã. Da primeira vez eu fique preocupada e procurei em cada cômodo da casa até sair dela e vê-lo no telhado. Então eu entendi o recado e resolvi deixa-lo em paz.

– Dormiu bem? – arrisquei.

– Hã...? – perguntou o zumbi.

– Perguntei se você dormiu bem – falei mais alto e devagar, para que ele entendesse bem.

– Ah... Acho que sim... não sei – e bocejou.

Nossa... eu nunca vi alguém com tanto sono assim.

– Que horas você foi dormir ontem?

– Eu não sei... seis e meia, talvez...

Olhei o relógio da cozinha que marcava sete e meia.

– Há quanto tempo você dorme nesse horário?

– Sei lá...

Ele estava lerdo demais. Aquilo não era bom, ele provavelmente iria dormir durante a aula e levar uma bronca. Ele precisava acordar de algum jeito. Um banho de água fria não iria funcionar, pois o cabelo dele já estava molhado e ali a água não era aquecida, beliscar o deixaria com raiva e talvez não tivesse nenhum efeito. Lembrei então de quando falei com ele de verdade, aquele dia que ele não conseguia parar de se mexer. Se o remédio o acalmava, talvez a falta dele o deixasse mais enérgico.

Peguei a pílula e joguei no lixo antes que ele a visse e ele nem notou.

Saímos de casa e nos encaminhamos para o colégio.

Chegamos lá já atrasados para a primeira aula e tivemos que ir à secretaria pegar autorizações. A Sra. Humperford nos recebeu com um olhar de pena e nem se preocupou em anotar o nome de Victor no atraso, mas anotou o meu.

Saímos juntos, teríamos aula de biologia no mesmo horário hoje. Acompanhei-o em seu armário enquanto ele pegava suas coisas e depois ele me acompanhou no meu.

Quando o sinal finalmente tocou, entramos na sala e pegamos lugares separados. Ele ficou bem ao fundo e eu no meio. Ted entrou na sala pouco tempo depois e foi em direção de Victor sem pensar duas vezes, mas parecia estar tendo um monólogo enquanto conversava com ele.

Laura, uma das líderes de torcida, entrou na sala e sentou ao meu lado.

– Caramba, por que você faltou tanto? – perguntou ela tirando o pó compacto da bolsa e passando nas bochechas – A Treinadora está muito furiosa.

Eu realmente estava pouco me lixando para a Treinadora, por mim ela podia ter explodido nesses últimos três dias que eu não iria nem me importar.

– Eu tive problemas em casa – falei da maneira mais natural que pude.

O professor entrou na sala e começou a aula, mas Laura continuava se maquiando sem dar a mínima para o professor. Percebi que ele olhava e nossa direção algumas vezes, visivelmente incomodado. E essa situação começou a me dar nos nervos. Eu comecei a me sentir mal pelo professor e irritada com ela.

– Laura o professor está dando aula – falei baixinho.

– Eu sei. E daí?

– Daí que é incomodo pra ele que você esteja se maquiando.

Ela deu uma risadinha.

– E desde quando a gente se importa com isso?

– Eu me importo.

Ela me olhou como se um OVNI tivesse passado ali de repente, me sequestrado e colocado um clone alienígena careta para atormentar a vida dela. Ou algo parecido.

– Tá, isso não faz a menor diferença pra mim – disse ela ligeiramente mais alto.

– Por favor para de passar esse pó, atrapalha a concentração do professor e está incomodando.

– Eu não ligo... – cantarolou.

O sangue subiu a minha cabeça e eu tive que gritar.

– Dá pra você parar de passar essa porra de pó e prestar atenção na porra da aula que a porra do professor está tentando dar?!

Em algum momento da minha fala eu até me levantei e estava ofegante e em pé no meio da sala com dezenas de pares de olhos me olhando.

– Hã... Senhorita Upsent... Obrigada por defender a integridade da minha aula, mas terei que pedir que saia de sala – eu quase caio para trás, com vergonha, mas para minha alegria ele não parou por aí – Você também Laura, não posso permitir que demonstre tamanho desrespeito pelo meu ensino.

Olhei para trás antes de sair e encontrei o olhar de Ted, mas Victor olhava pela janela distraído. O baterista da banda deles sorria, meio pasmo, e quando notou que eu o olhava acenou a cabeça em aprovação. Sorri de volta e segui meu caminho.

Laura me deu um olhar desaprovador e saiu de perto de mim como se eu fosse uma leprosa. Não pude deixar de notar que enquanto ela andava pelo corredor ela rebolava a bunda exageradamente e tinha a cabeça erguida como se debochasse de algo. Será que eu andava daquele jeito ridículo antes? Será que eu me comportava como ela?

Minha mente pareceu clarear e eu entendi imediatamente por que Victor e sua turma me odiavam tanto. Por mais que eu pudesse admitir agora que eu era daquele jeito, eu também não podia negar que do jeito que eu sou agora me deixa uma pessoa muito mais confiante e confortável. Essa sou eu de verdade, Victor me ajudou a acordar a garota que dormia enquanto uma vadia ocupava meu lugar. E eu amo essa nova garota.

O sinal tocou e esperei Victor sair da sala acompanhado de Ted. Eles nem pararam para me cumprimentar, talvez nem tenham me visto.

Fui para as outras aulas sozinha e percebi que as líderes de torcida sentavam ao meu lado e se comportavam da mesma maneira que Laura. Eu ficava cada vez mais irritada.

Na hora do almoço, sentei com elas mais por obrigação. Laura sentou no lado oposto ao meu ainda com raiva.

A conversa começou a oscilar entre marcas de bolsa, maquiagem e quem estava ficando com quem no colégio. Pela primeira vez na minha vida fiquei com um genuíno tédio na mesa dos populares. Olhei para a mesa de Victor, preocupada, mas agora ele estava acordado e conversando, mais que isso, ele ria e comia e olhava para mim. Ele sorriu para mim e um flash de vergonha passou pela minha mente, aquela mensagem que dizia “Você ainda não pode ser vista com ele”. Virei o rosto e voltei à conversa inicial, mas nada poderia estar me deixando mais irritada do que a própria conversa inicial.

– Vocês viram o novo filme que saiu? Um tal de Maze Runeer? – perguntei para tentar variar o assunto tediante.

Victor estava doido para ver esse filme e ficou me enchendo o saco para vermos no sábado passado, vimos no mesmo dia pela internet e ele era realmente incrível.

As garotas fizeram careta.

– Esse filme é de homem!

– É, ouvi dizer que tem uma menina que aparece toda suja e algumas mortes.

– Eca!

– Você viu o American Next Top Model ontem?

Eu não iria desistir.

– Vocês assistem The Voice?

Isso elas tinham que ver né? É interessante para todo mundo!

Mas em vez de mostrarem entusiasmo, elas me olhavam como se eu fosse uma intrusa ali.

– Sabe Carly, você mudou – falou uma delas com uma cara de nojo – Você falta os treinos, você não se maquia mais, suas roupas não estão mais no padrão... Me pergunto se você realmente quer continuar sendo uma líder de torcida.

– É – disse Laura – Hoje você gritou comigo por que eu estava e maquiando na aula de biologia.

A comoção foi geral. Algumas até colocaram a mão na boca com assombro.

De repente eu não queria mais carregar pompons e usar minissaia e gritar frases rimadas ridículas em coro. Eu não queria mais andar com garotas ridículas como elas e eu definitivamente não queria passar meu precioso tempo falando de coisas fúteis que não me agregavam nada. Eu não queria mais andar com as líderes de torcida. E daí que eu tinha mudado? Pelo menos eu sei que é pra melhor.

Eu me levantei decidida.

– Acho que vocês notaram mesmo – falei enquanto pegava minha mochila e começava a me virar para sair do refeitório – Eu vou largar as líderes de torcida. Vocês são um bando de vadias fúteis.

Claro que não fiquei ali para receber as patadas que elas iriam dar, apenas saí do refeitório e fui com pressa para o banheiro, onde me tranquei no box para chorar.

Sentei na privada e larguei a bolsa no chão. Eu não queria mais ser líder de torcida mesmo, eu não estava nem aí. Porém a realidade logo me alcançou e eu notei que os boatos mentirosos que elas iriam espalhar sobre mim pela escola logo começariam. Quantas vezes eu não fiz isso com outras meninas? Anderson, a ex do Ted que pegou meu ex. Eu fui a primeira a falar mal dela pela escola e logo depois todos falavam, afinal, a palavra de uma líder de torcida é a última a ser levada em consideração. Todo mundo acredita no que as líderes de torcida dizem, elas são as rainhas do colégio.

Eu era assim. E logo eu estava chorando de vergonha e nojo por mim mesma. Eu não consigo acreditar que eu era assim.

O primeiro sinal tocou. Saí do box e lavei o rosto. Decidi que vou continuar com minas mudanças boas, vou ser uma nova pessoa. Passei um pouco de base debaixo dos olhos para disfarçar o fato de ter chorado e fui em direção à porta, foi quando notei que a própria Anderson estava ali, me olhando com seus olhos castanhos atrás de óculos gigantescos e com os cabelos ruivos caindo sobre eles. Ela parecia estar chorando também.

Aproximei-me dela e ela institivamente se encolheu. Eu era assim. Era.

Peguei um pouco da base e passei debaixo de seus olhos também.

– Não podemos deixar ninguém ver que estávamos chorando – falei séria – Somos fortes.

Ela me olhava boquiaberta.

– Me desculpa, tá bom?

Falei, esperando ter passado todos os meus arrependimentos para aquelas palavras. Os olhos dela se encheram d´água e eu soube o quanto ela era sensível. Como eu nunca tinha notado aquilo?

Coloquei a base na bancada da pia e saí dando um ligeiro aperto no ombro dela, dando apoio.

Eu não sou mais aquela puta de torcida cruel e mesquinha. Hoje eu finalmente percebi quem eu sou: Carly Upsent.

Victor

Pode parecer estranho, mas quando eu acordei eu estava no colégio. Olhei ao redor algumas vezes e percebi que era a hora do almoço. Alguns flashes cruzaram minha mente: um bom dia, um sanduíche com suco de laranja, uma janela, os corredores... nada muito relevante.

– Ted? – perguntei confuso.

Ele olhou pra mim e sorriu.

– E aí Victor?

– Como eu vim parar aqui?

– Eu não faço a menor ideia! Você agiu como um sonambulo o dia todo, nem sei como veio pra escola sem ter sido atropelado no meio da rua!

Rimos.

– Cara, como tá o soundtrack do campeonato? – perguntou Logan, que ignorou minha completa confusão.

Recuperei-me e pus uma garfada de macarrão na boca. Foi quando notei que Carly estava me olhando diretamente da mesa cheia de líderes de torcida. Provavelmente tinha sido ela quem me trouxe em segurança para o colégio. Sorri para ela, mas Carly simplesmente virou o rosto e começou a conversar com as outras garotas.

– Cara você perdeu a cena da aula de biologia! – disse Ted – Quer dizer, você estava lá, mas não parecia muito ligado então acho que não se lembra.

– O que aconteceu? – perguntei.

– Laura, a puta de torcida que tem aquele cabelo amarelo ovo, ela estava naturalmente se maquiando no meio da aula, como as putas de torcida sempre fazem, só que Carly estava ao lado dela. Aí elas começaram a conversar e eu pensei “Essas duas... sempre interrompendo a aula e o professor não tem coragem de tirá-las” só que eu percebi que elas meio que pareciam estar brigando aí eu acho que Carly perdeu a cabeça e literalmente se levantou e gritou “Dá pra você parar de passar essa porra de pó e prestar atenção na porra da aula que a porra do professor está tentando dar?!” eu não estou aumentando, eu decorei o que ela disse por eu foi simplesmente demais!

Até eu fiquei boquiaberto. Aquilo não parecia algo que a Carly diria em público. Olhei-a e eu queria muito que ela me olhasse também, mas ela simplesmente se levantou, disse alguma coisa, pegou a bolsa e foi embora.

Acalmei-me, ela teria que voltar comigo de qualquer jeito, eu conversaria sobre isso em casa depois da aula.

– Ei Victor – chamou Logan.

Olhei-o.

– Oi.

– Eu e Ted sentimos sua falta essa semana, ficou doente e não avisou?

Eu sabia que aquele momento chegaria. Eu não podia mais ficar escondendo meu pai doente para sempre, além do mais esse mesmo pai doente tinha morrido. Eles eram meus amigos, precisavam saber.

Olhei para baixo e expliquei tudo para eles, desde o acidente até a morte do meu pai, deixando de fora somente as partes em que a Carly entrava na história – eu não sabia se ela iria ficar com raiva se eu falasse aquilo, mesmo que fosse para eles.

Quando acabei o sinal tocou e tivemos que sair do refeitório. Parece que foi uma carga grande demais para eles, pois ficamos calados pelo resto do dia.

Na hora do ensaio, entrei no auditório e só Ted estava lá, Logan sempre chegava atrasado.

– Sabe – disse ele me surpreendendo – Eu sempre soube que você meio que escondia algo da gente, eu só não sabia que era algo assim...

– Desculpe, eu nunca me senti confortável para falar com ninguém, eu sempre me culpei pelo que aconteceu com ele, mas uma pessoa me ajudou a perceber que não sou responsável pelo acidente.

– Me lembre de agradecer essa pessoa – disse ele rindo, mas logo ficou sério novamente – Victor, eu sou seu amigo, certo?

– Sim, meu melhor amigo. Talvez melhor até que Logan.

Ele sorriu de leve.

– Eu também te acho meu melhor amigo Victor, quero que saiba que pode me falar sobre qualquer coisa.

Ele pareceu estar esperando alguma coisa, então minha mente clareou.

– Você sabe, não é?

– Sobre o que?

– Sobre eu e Carly.

Ted sorriu.

– Eu não sou idiota, sabe. Estava esperando você me contar, mas meio que tava demorando.

– Eu teria dito, mas ela quis manter segredo.

– Reputação?

– É.

Ficamos um tempo calados até ele se pronunciar novamente.

– Você gosta dela?

– Sim – respondi prontamente.

– Eu também. Claro que não como você, mas acho que ela é uma pessoa legal. Pelo menos sempre achei que por baixo daquela máscara de puta de torcida tinha alguém de verdade, sabe.

– E tem. Ela é incrível.

– Se você está feliz eu também estou.

Olhei-o, ele olhava o vazio, pensativo. Um Flashback me atingiu. Quando Ted começou a namorar Anderson eu lhe disse aquilo, com todas as palavras.

– Você está pensando em Andy, né?

Ele riu.

– Ela acabou com o Taylor sabia?

– Não.

– Foi ontem...

– Ted...

– Eu sei o que você vai dizer certo? Nada de falsas esperanças, ela não vai voltar comigo. Eu já sei de tudo isso.

– Você continua com esse olhar.

– Que olhar?

– De quem vai tentar.

– Tentar o que? – falou Logan entrando no auditório apressado e ofegante.

Sorri e olhei Ted. Fizemos um acordo silencioso de não falar nada com Logan. Ele não era tão silencioso quanto nós dois.

– Vou tentar fazer um Stick Trick – disse ele se referindo àquelas manobras difíceis de baquetas que ele sempre tentou e nunca conseguiu.

E então fomos tocar.


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Notas finais do capítulo

queridos ghosts, me deem a honra de ler seus amáveis comentários!!!
kisses!!



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