Cheerock escrita por Leh


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oi meus ghosts!! Primeiro eu gostaria de me desculpar por ter atrasado, mas eu tive uma semana muito corrida e não tive tempo de escrever o capítulo. Não vai se repetir!!
Segundo eu gostaria de perguntar quem está pronto pra dar uma remexida na vida tranquila do Victor!! muahahahahaha!!
enjoy!



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Carly

A sirene tocou abruptamente e eu dei um pulinho na cadeira, fazendo Victor cair na gargalhada.

– Isso significa que você pode entrar.

– Você não vem? – perguntei assustada.

– Não sou parente e é só um por vez.

Fiquei paralisada. Eu nunca tinha ido a um presídio e todos ao meu redor pareciam prestes a pular em cima de mim.

– Carly, você vai ficar só meia hora lá dentro, está perdendo tempo!

– Certo – olhei para onde várias pessoas andavam – Entra por ali?

Victor riu.

– Sim, agora vai logo! – falou ele me empurrando.

– Calma!

Fui em direção da porta e entrei. Era um salão sem janelas e cheio de mesas onde homens com roupas laranja ficavam sentados, esperando seus familiares.

Não foi difícil achar meu pai, seu cabelo ruivo sempre se destaca na multidão.

Aproximei-me timidamente. Fazia muito tempo que não nos víamos e eu não sabia o que fazer ou o que falar.

Quando estava bem atrás dele me pronunciei.

– An.... Pai?

Ele se virou, seus olhos verdes estavam arregalados e sua boca aberta de espanto, mas ele era exatamente como eu me lembrava.

– Carly?

– Pai – falei com mais emoção.

Ele me agarrou e me deu um abraço de urso bem apertado, daqueles que quebram os ossos de alguém frágil.

Quando nos soltamos ele parecia emocionado, mesmo que não estivesse chorando dava para ver que estava segurando as lágrimas.

– Senta, senta.

Obedeci e ficamos nos olhando, sem palavras, por um bom tempo. Depois de pelo menos três minutos só assim, começamos a rir.

– Como vai você? E sua mãe? E a escola? Quero saber de tudo!

– Eu estou bem, a escola é maravilhosa, sou líder de torcida lá e minhas notas são ótimas. Vou tentar entrar na faculdade de psicologia esse ano.

Ele estava sério agora.

– E a sua mãe?

Suspirei. Ele parecia o tipo de pessoa que ia me perguntar isso várias vezes se eu não respondesse.

– Nós brigamos e eu estou morando na casa de um amigo.

Ele encostou-se à cadeira e cruzou os braços.

– Morando na casa de um amigo? Isso não me parece particularmente animador.

Olhei para baixo.

– Ela não me quer de volta e eu não quero voltar.

– Por que vocês brigaram?

– É uma longa história. O importante é que o namorado dela morreu e ela bota a culpa em mim.

– Eu adoro longas histórias – falou ele sorrindo.

– Eu também. Por que não me conta sobre o motivo de estar aqui?

Ele riu.

– Garota esperta.

– Vamos, eu também quero saber.

Ele fechou os olhos e começou.

– Quando conheci sua mãe, éramos muito pobres, mas nos acostumamos assim. Eu não ligava muito, mas ela sim. Isso de certa forma me incomodava um pouco, além é claro do fato de ser uma mulher de vários homens. Um dia, quando estava pronto para deixa-la, ela anunciou que estava grávida. Eu fiquei animado, sempre quis um filho, mas o médico disse que era uma gravidez de risco. A princípio não parecia, mas à medida que você ia crescendo na barriga de sua mãe ela ficava cada vez mais doente. Até que, com seis meses de gravidez, ela teve de ser internada. Os custos eram muito altos e eu não tinha dinheiro para pagar a conta do hospital. Foi quando meu amigo me ofereceu muito dinheiro rápido e fácil.

– Roubando – concluí.

– Sim. A princípio relutei, mas eu ouvia as enfermeiras cochichando entre si que se a conta não fosse paga ela seria expulsa do hospital e deixada para morrer. Foi quando eu me rendi. Assaltamos uma lojinha de conveniência e dois postos de gasolina. Meu parceiro era muito bom naquilo e não éramos pegos. Eu sentia culpa por aquilo, mas sempre tentava me convencer de que era por uma boa causa. Quando você nasceu, vieram mais despesas e gastos e ninguém queria me contratar, então eu assaltava mais e mais. Até que um dia a polícia nos cercou e, em vez de fugir, meu parceiro fez reféns. Era ele quem ficava com as armas na hora do roubo, já que eu não conseguia segurar uma nem de brinquedo. Ele começou a atirar e matar os reféns, foi quando eu reagi e, em uma luta, consegui tomar a arma dele e mata-lo. Porém era tarde demais, todos os reféns estavam mortos e eu era o único em pé.

Comecei a sentir lágrimas nos olhos. Eu sabia que ele não tinha outra escolha além de roubar a muito tempo, mesmo que não concordasse, mas não sabia que ele tinha feito aquilo tudo por mim.

– Eu resolvi me entregar em vez de fugir e falar toda a verdade para eles, mas eu não sabia que meu parceiro tinha registrado a arma em meu nome. A lojinha não tinha câmeras de segurança e eu era um assaltante procurado e o único sobrevivente. Ninguém acreditou em minha versão e agora estou esperando julgamento.

Ele finalmente abriu os olhos e me viu chorando.

– Carly?

– Papai!

Saí da minha cadeira e corri para abraça-lo. Ficamos assim por um tempo.

– Agora é a sua vez, minha querida.

Eu não queria conta-lo, mas algo em mim dizia que eu deveria. As palavras saíram rápidas e fáceis da minha boca e meu pai parecia só ficar com mais raiva durante minha narração.

Quando acabei foi sua vez de ficar em silêncio.

– Carly, isso é muito sério.

– Eu sei – falei olhando para baixo – Mas eles têm sido verdadeiros anjos para mim. Janice é como uma verdadeira mãe e Hugo é um irmão mais novo irritante.

Ele riu.

– E o outro?

Olhei-o.

– Victor?

– Ah, então é mesmo aquele que veio aqui semana passada.

– Victor veio aqui semana passada?

Ele tinha me dito que conseguiu toda aquela informação na internet...

– Sim, disse que tinha um trabalho escolar e resolveu me escolher para representar uma testemunha do que acontece no presídio.

Eu estava boquiaberta. Victor tinha vindo aqui semana passada? Mas ele sempre vai ao asilo aos domingos. Será que ele tinha sacrificado uma visita ao avô por causa de mim? Não só uma, mas duas!

– Ele é a luz das trevas.

Meu pai sorriu.

– Então vocês estão namorando?

Eu sinto que fiquei vermelha.

– Não é nada sério...

– Como assim?

– Estamos namorando escondido. Ele não é exatamente o tipo que uma líder de torcida namoraria.

– Cuidado, Carly. Eu entendo que ele goste muito de você para fazer tudo o que tem feito e entendo que namorar escondido é divertido, mas uma hora cansa. Em algum momento você terá que escolher entre namorá-lo ou continuar com as líderes de torcida.

Ele disse isso sério, muito sério. Como se fosse uma... experiência de vida.

– Está na hora de ir – disse o policial na porta – O horário de visitas acabou.

Do nada meu peito se apertou, eu não queria ir embora.

– Carly, eu vou sair daqui, e quando eu o fizer, vamos morar juntos. Eu nunca mais vou roubar de novo e vamos ser uma família de verdade.

Meus olhos se encheram de lágrimas.

– Sim – falei abraçando-o – Vamos ser uma família de verdade.

– Ei vocês dois – disse o policial nos afastando.

O guarda me guiou para fora e fechou a porta quando o último visitante saiu.

Fui ao encontro de Victor. Ele tinha as sobrancelhas franzidas e olhava para baixo encurvado com os cotovelos apoiados nos joelhos.

– Oi – falei.

Ele olhou para cima e deu um sorriso, mas não pareceu um sorriso de verdade.

– Como foi?

– Bem.

Eu tinha muito mais o que falar, mas a expressão de Victor não me deixava tranquila para falar nada.

– Ótimo, vamos.

Isso foi frio demais. Agora tenho certeza absoluta que tem algo acontecendo.

Ele segurou minha mão e me carregou para fora. Tinham muitas pessoas, taxis, carros e ônibus.

Surpreendi-me quando ele abriu a porta de um taxi para que eu entrasse. Viemos andando e Victor disse que estava sem dinheiro para pagar taxi ou ônibus.

Ele entrou depois de mim e fechou a porta com pressa.

– Para onde? – perguntou o motorista.

– Para o Hospital Geral e pago o dobro se pisar no acelerador.

Victor

Chegamos um pouco cedo demais e tivemos que esperar quinze minutos até os portões abrirem. Carly estava tão nervosa que andava de um lado para o outro. Era impressionante a energia que ela ainda tinha depois de andar pelo menos cinco quilômetros de casa para o presídio. Só de pensar na volta já me dava vontade de sentar.

Quando a campainha finalmente soou, Carly deu um pulo. A cara de assombro dela estava tão engraçada que eu tive que rir.

– Isso significa que você pode entrar – falei depois que ela não se mexeu.

– Você não vem?

– Não sou parente e é só um por vez.

Ela olhou para trás, assustada.

– Carly, você vai ficar só meia hora lá dentro, está perdendo tempo! – falei. Ela estava tão ansiosa para chegar antes e agora estava paralisada?!

– Certo. Entra por ali?

A confusão dela estava muito engraçada, eu ri novamente.

– Sim, agora vai logo! – falei empurrando-a em direção da porta.

– Calma!

Ela caminhou cautelosa e entrou pela porta guardada por quatro policiais.

Eu e outros acompanhantes ficamos de fora, esperando.

Não tinha como ver o que havia do outro lado da porta, mas eu tinha certeza que na altura do campeonato, Carly já tinha superado o nervosismo.

Na última vez que vim, o pai dela parecia ser um cara bem legal. Eu me sentia muito bem por estar fazendo isso pelos dois, mas mesmo assim tinha algo me incomodando. Eu não sabia o que era, mas parecia que, mesmo que eu estivesse bem e feliz, eu não conseguia relaxar. Eu tinha tomado meu remédio hoje, mas meus pés não paravam quietos e minhas mãos insistiam em brincar de mexer os dedões entre si.

Resolvi jogar um jogo no celular para parar meus dedões inquietos. Acabei me distraindo e só parei de jogar quando meu celular começou a tocar. Era a mamãe.

– Alô – atendi.

– Onde você está?

E parecia zangada.

– Eu estou levando a Carly pra visitar uma pessoa, eu te avisei que ia sair esse domingo com ela.

– Mas era a sua vez de cuidar do seu pai, menino irresponsável!

Ela estava começando a gritar, minha mãe nunca fica tão zangada assim comigo.

– Eu troquei com o Hugo, cuidei do papai ontem, que era a vez dele.

– O Hugo é uma criança Victor, você não pode esperar nada de uma criança!

Ouvi o Hugo dizer no fundo que não era uma criança.

– Cala a boca! – gritou minha mãe.

Pensei no pior. Minha mãe pode até gritar comigo às vezes, mas nunca, nunca, nunquinha, grita com o Hugo.

– Mãe, calma, me diz o que aconteceu.

Ela então desatou a chorar.

– O seu pai... – soluço – O seu pai piorou...

Puta que pariu. Quase derrubei o celular no chão.

– O que foi que aconteceu, mãe?

– Ele não conseguia respirar e depois as máquinas ficaram doidas. Chamamos uma ambulância e agora estamos no hospital...

Merda. Que dia terrível para isso acontecer.

– Qual o hospital?

– Hospital Geral. Você está vindo?

– Eu tenho que esperar a Carly, ela ainda está lá dentro.

Ela gemeu e soluçou.

– Onde vocês estão?

– Viemos visitar o pai dela, ele é um presidiário e hoje era dia de visitas... eu não sabia que...

– Eu queria tanto que você estivesse aqui...

Algo prendeu em minha garganta. Eu também queria muito estar lá, mas a Carly ainda estava lá dentro e não tinha como me comunicar com ela.

Olhei o relógio na parede.

– Mãe, em vinte minutos no máximo estou aí.

– É muito tempo... – choramingou ela.

– Eu prometo que não mais do que isso.

– Por favor, Victor...

Escutei alguém a chamando.

– Eu tenho que ir.

E desligou.

Fiquei imóvel. Eu não sabia o que fazer.

Minha mãe precisava de mim lá, mas era perigoso demais para Carly voltar sozinha.

Um nó se formou em minha garganta e eu fiquei com dificuldade de respirar. Meus pés começaram a se mexer freneticamente agora. Abaixei-me e encostei os cotovelos nos joelhos, com a cabeça baixa. Aquilo me ajudou a respirar melhor, mas logo senti as lágrimas e comecei a ficar tonto.

Calma, respire, expire, respire, expire...

– Você está bem? – perguntou um guarda na minha frente.

– Não – fui sincero.

– Quer um copo de água?

Balancei a cabeça por que senti a garganta fechando de novo.

Cerrei os olhos bem forte para segurar as lágrimas e de fato foi efetivo.

O guarda chegou logo depois com água e bebi tudo.

– Me desculpe a intromissão, mas eu devo saber o que houve, isso é um presídio e querendo ou não você está com atitudes suspeitas – olhei-o incrédulo. Eu, suspeito?! – Você não deveria nem usar o celular aqui, eu só permiti por que parecia sério.

– Desculpa, eu não sabia que não podia suar telefone aqui.

– Pode me explicar o que houve agora?

Falei para o guarda tudo e ele ficou balançando a cabeça.

– Você quer que eu chame sua companheira?

– Não, ela precisa falar com o pai dela e eu preciso me acalmar antes que acabe no hospital junto com o meu.

O guarda segurou um riso.

– Se precisar de alguma coisa me chame, sou Louis.

– Obrigado, Louis.

Ele acenou com a cabeça e voltou ao seu posto.

Olhei o relógio. Faltavam cinco minutos.

Abaixei a cabeça novamente e voltei ao meu exercício de respiração para me acalmar. Não adianta de nada me desesperar.

A sirene finalmente tocou, marcando o fim do horário de visitas.

Grudei os olhos na porta. Várias pessoas começaram a sair, mas nem um sinal da Carly.

Comecei a me sentir tonto novamente e abaixei a cabeça para me recuperar.

– Oi.

Levantei a cabeça e lá estava ela. Finalmente. Dei um sorriso e levantei.

– Como foi?

– Bem.

Eu não tinha tempo para detalhes. Já tinham se passado quinze dos vinte minutos que eu tinha prometido.

– Ótimo, vamos.

Agarrei a mão dela e a carreguei comigo pela multidão. Na porta de saída reconheci Louis e acenei com a cabeça, agradecendo. Ele me devolveu o aceno e voltou a encarar as pessoas que saíam maliciosamente.

O pátio estava cheio de gente e tive que costurar o mais rápido possível para chegar ao taxi.

Abri a porta para Carly e ela pareceu surpresa, mas entrou rápido, talvez entendendo minha pressa, mesmo sem entender o motivo.

– Para onde? – perguntou o motorista.

– Para o Hospital Geral e pago o dobro se pisar no acelerador.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Foi dramático?? ahhahaha!!! Mandem reviews!!!



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