A Maldição da Wicca escrita por FireboltVioleta


Capítulo 35
Betting and Emotions




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HERMIONE

Acordei gritando, sentindo meu peito doer.

As meninas do dormitório nem questionaram a entrada de Rony. Apenas observaram, assustadas, eu chorando, angustiada, no ombro de meu namorado.

– Foi só um pesadelo, Hermione... – ele sussurrou, afagando minha cabeça.

– Rony...

As semanas seguintes foram as mais sombrias de minha vida.

Depois de tudo que eu vira na Penseira, achei que morrer talvez nem fosse tão ruim assim.

A depressão tentava me engolir à cada dia que passava, somada à ansiedade e à angústia de ser ameaçada por um mal invisível.

Ao mesmo tempo, ficava excessivamente fissurada com o Torneio Tribruxo, que já chegava ás portas da terceira tarefa, e muito preocupada com Nyree e Tamahine.

Demorou quase duas semanas para que Nyree se curasse, o que me deixou intrigada, já que eu mesma havia me recuperado em apenas uma semana.

Darel, como o anjo maori que eu conhecia, havia tratado pessoalmente de alimentar a esposa - seguindo as orientação de Rony -, mesmo à contragosto de Nyree, que, de início, tal como eu, ficara horrorizada com a proposta. Só ameaçando-a com a preocupação da saúde de Tamahine que ela colaborou, avessa.

Para nosso alívio, não houve nenhuma ocorrência nesse período, e Nyree voltou ao normal em pouco tempo. Tamahine, para meu contentamento, também passou da arriscada fase de prematuridade, ficando cada vez mais forte e saudável.

Darel dizia toda hora para mim, como esperado, que nunca conseguiria agradecer o suficiente por tudo.

Embora isso tivesse me ajudado á escapar da fossa em que eu estava, eu nunca teria conseguido aguentar por mais tempo, se não fosse meu próprio anjo particular.

Fossem nos treinamentos dos quatro elementos da Redoma, fossem nos passeios diários, fossem nos debates sobre o Torneio, Rony me seguia por toda a parte, como uma irritante -mas maravilhosa - sombra ruiva. Simplesmente não ficava mais longe de mim.

Por exemplo, um dia, estava até mesmo servindo de encosto para mim em uma das conversas que tive com nossos colegas sobre minhas evoluções na Redoma.

– Então... – Nyree, finalmente moreninha outra vez, indagou, embalando Tamahine no colo – me conta as novidades...

– Ah... – ri baixinho, com a cabeça deitada no colo de Rony, que mexia em meus cabelos – que saco, Rony, isso dá sono, para – continuei, enquanto Rony ria – já consigo lançar pequenas chamas...

– Sério? – Dino arregalou os olhos; por insistência de Gina, que fez Cho insistir também, o casalzinho nipo-africano agora também sabia tudo sobre os Wiccas – você solta radouken também?

– Larga de ser burro, seu energúmeno – Harry deu um tapa na cabeça de Dino – não viaja...

– Quando parar com as referências á joguinhos de PlayStation, eu continuo – resmunguei, fazendo os dois rirem – energúmeno, Harry? Sério?

– Você tem que ser a única culta e letrada por aqui, é? – Harry olhou com azedume. Foi minha vez de rir.

– Ah, me deixa continuar, quatro-olhos – funguei – então, como eu dizia antes de ser interrompida pelo neguinho do pastoreio – ignorei o gemido de “pálida racista!” de Dino, enquanto Rony gargalhava – consigo conjurar pequenas fontes de água também...

– Com ênfase no “pequenas”...

– Tá querendo uma vasectomia, Rony? – olhei para cima, irritada.

– Olha o pau quebrando! – brincou Gina.

– Calem a boca... – acrescentei rápido – faço montes de terra e ventanias. Pronto, falei.

– Uau – Nyree sorriu.

– VOLTA AQUI, SIMAS, SEU TRASGO MAL AMADOO!

Pulei de susto no sofá com o berro sem noção de Madelaine. Olhei para Rony, enquanto ríamos. Parecia que o namoro dos dois ia começar com uma explosão.

– Posso? – perguntei, erguendo os braços para Tamahine, no colo de Nyree.

– Claro – Nyree estendeu a bebê, enquanto eu a aninhei em meus braços. Tamahine ergueu um pouquinho a cabeça, me encarando. A sua mãozinha minúscula balançou até se agarrar em uma mecha de meus cabelos.

– Ei, sua tampinha – sorri, segurando seus dedinhos em minha mão – caramba, Darel, essa menina é a sua cara. É assustador.

– É a genética.. fazer o quê – Darel disse brincando, levando uma acotovelada de Nyree.

– A gente carrega essas criaturinhas por meses na barriga, e, quando saem, vem com a cara do pai – fungou ela, de braços cruzados.

Um som seco e desagradável nos distraiu da conversa animada. Franzi a testa, quase sentindo a dor da menina que acabara de se espatifar no tapete do Salão Comunal.

– Você ainda vai morrer de traumatismo – Rony brincou, enquanto quase todos riam – sabe disso, não é, Gabrielle?

Gabrielle se ergueu do chão, com o rosto vermelho de vergonha.

– Foi mal, Wesley...

– Me deixa adivinhar... terceira tarefa á caminho? Esqueci que a quenga da Madelaine não me contou...

– Eita.

– Cala a boca, Rony.

– É... é isso – Gabriele arfou – a tarefa vai ser daqui á duas horas... do outro lado da montanha, na Arena de Pedra...

Droga. A montanha era lá na rapariga que pariu. Era melhor eu já me arrumar.

– Valeu, guria. Agora vaza – Rony enxotou Madelaine, que saiu correndo para fora da Torre de Noble como quem nem ligava – acho melhor a gente se preparar...

– Saco... carinho estava tão gostoso – zoou Harry, levantado a cabeça do colo de Gina e recebendo um olhar homicida de Rony – nossa, cara, estou brincando...

Mordi o lábio, segurando o pulso de Rony.

– Vamos, Rony... – resmunguei, devolvendo Tamahine para Nyree - deixe o povo em paz...

Rony suspirou, mas me seguiu.

Não, claro, sem antes apontar dois dedos para seus próprios olhos e juntá-los ao apontar Harry em seguida.

As risadas que se seguiram explicavam qualquer coisa.

Ainda fui forçada á gargalhar quando ouvi Nyree dizer, com toda a inocência do mundo, antes da porta bater, deixando Darel vermelho como um pimentão:

– Amor, o que é vasectomia?

_______________O_____________

– Ciumento.

– Não sou não!

– Ciumento – repeti – deixa a Gina agarrar o Harry... deixa o vagabundo ser feliz, Rony!

Rony não conseguiu segurar uma risada com minha última expressão.

– Coitado, Hermione.

– Ah, agora ele é coitado?

– Não me provoca, Hermione...

– Se não o quê?

Nem vi o momento assustador e emocionante em que Rony me prensou na parede, segurando meus pulsos no alto da parede e me encarando.

Ele tinha ideia do quanto era constrangedor e fantástico acompanhar seus olhares pelo meu corpo?

– Acho que alguém está com saudades da Sala Precisa – a voz dele era absolutamente letal, arrepiando cada uma de minhas terminações nervosas.

De onde eu desencavei coragem para responder em seguida, eu não sei até hoje.

– E se eu estiver com saudade?

– Posso tentar resolver isso depois da tarefa... – ele sorriu torto.

Como era possível ele me olhar daquele jeito diabólico e ainda assim ser fofo?

– Me solta ou eu grito.

– Duvido.

Arfei e abri a boca, insinuando que iria gritar, mas só pude rir quando Rony “impediu” meu “berro” sufocando meus lábios em sua boca.

Revirei os olhos mentalmente, abraçando seu pescoço. Percebi, distraída, um toque de menta em sua língua.

– Ah, Rony! – ri, empurrando-o – cospe essa bala! Que nojento!

– Sério? Vai discutir as propriedades de troca de saliva agora? – Rony gargalhou – vou repetir, Hermione... você é delicada que nem coice de mula.

– E você é uma mula – arfei, chocada. Nossa, que constrangedor.

– Não parecia muito avessa á degustação corporal á umas semanas atrás.

– Tá legal, nem me lembre do... – gemi a palavra “chantilly” – e de sua perversão sem fundo. A gente discute as políticas de agarramento depois, “tigelinha”. Agora me deixa ir para a terceira tarefa...

Continuei andando, fingindo ignorar Rony enquanto ele me seguia.

– Você vai ganhar o Torneio, Hermione – ele comentou, como quem não queria nada – não sei por que está tão preocupada...

– Duvido muito, Rony – respondi, ainda andando, até que, do nada, um pensamento me ocorreu.

– Tive uma ideia – sorri, quando já estávamos fora do castelo.

– O quê?

– Aposta.

Rony arregalou os olhos, espantado, antes de desmanchar a expressão com um sorriso indecente.

– Se eu perder o Torneio hoje, em qualquer colocação que seja – continuei, encarando-o – você vai ser meu “elfo” pelo resto da semana. Sabe como é... servir bebidas, trazer coisas para mim, obedecer ordens – acrescentei – qualquer ordem.

– Hum... – Rony piscou – tá legal, isso se eu perder a aposta, obviamente – ele se aproximou, e, ridiculamente, meus joelhos já estremeceram apenas com sua expressão calculista – mas se você vencer... – ele me lançou um olhar abrasador – e você vai vencer, Hermione...

– O quê? – ih, pela cara séria dele, o negócio ia ser pesado.

– Você vai ser a minha elfazinha... – ele sussurrou – por uma noite toda. Para fazer tudo que eu mandar. Sem exceções.

Hein? Corei, ficando levemente boquiaberta.

Minha Nossa Senhora do Chuveiro Elétrico... que ela me desse resistência.

– Tudinho? – grasnei, estremecendo ao me lembrar da Sala Precisa.

– Tudinho – ele confirmou, sorrindo com uma maldade que devia ser crime – e também vai concordar com tudo que eu te propor pelo resto da semana.

– Não acha que agora fiquei em desvantagem? – funguei, piscando inocentemente.

– Não... se perder, você também vai poder fazer o que quiser de mim – ele riu – mas vou ficar bem chateado se você perder, então... – Rony afagou minha bochecha – se preza esse corpinho lindo tanto quanto eu, acho que vai pensar duas vezes antes de perder ou vencer de propósito.

– Ei! – como um salva-vidas indigesto, ouvi Madelaine interromper nossa conversa pra lá de íntima, aparecendo no pátio – temos que ir parra a terceira tarrefa! Querrem os campeans uma horra antes na Arena!

– Estou indo... – me virei para Rony, enquanto Madelaine acenava para mim – ahn... acho que tenho que ir...

– OK... – Rony finalmente pareceu sair do modo “caça-mulher” e piscou, sorrindo – nos vemos lá, então... vou chamar os outros... me mande qualquer aviso pela Becky.

Assenti, gesticulando para que Madelaine me esperasse. Despedi-me de Rony com um beijinho na bochecha, aproveitando minha boca ao seu ouvido para sussurrar:

– Vou fazer de tudo... para perder.

Ele riu, me soltando e acompanhando-me com os olhos enquanto eu atravessava o pátio em direção á Madelaine.

Virei-me uma última vez para meu namorado, vendo sua expressão misturar preocupação, humor, e um orgulho que me deixava completamente derretida.

Meu coração ainda saltava, bobo e apaixonado, quando via e sentia sua presença. Aquilo nunca ia passar?

Não me preocupava nada não ter uma resposta.

__________________O_______________

A Arena de Pedra ficava do outro lado do lago, á uns dois quilômetros do castelo de Beauxbatons. Os alunos menores de idade iriam de barco para a arena; os que já sabiam aparatar iriam direto do castelo para a montanha.

Eu e Madelaine aparatamos juntas, ressurgindo numa paisagem cercada por pedras e muito musgo.

– É enorme, não? – Madelaine apontou a enorme coluna á minha frente.

A Arena de Pedra era realmente grande. Tinha o formato quase exato do Coliseu, só que muito mais imponente e, l obviamente, completo. Tinha uma arquitetura meio rústica, parecida com a da época clássica grega, mas, ao contrário de outras arenas, era vedada do lado de fora, impossibilitando qualquer visão do lado de dentro.

– Por que chamaram os campeões mais cedo? – perguntei.

– Nan sei – ela deu de ombros – disserram que devíamos aguardar os demas alunos aqui.

Andrey surgiu, próximo do sopé da montanha, com um estalo, acomodando-se num banco de concreto próximo. Parecia muito carrancudo, o que sugeria que Victor devia ter lhe passado um carão daqueles.

– Ei – Madelaine indicou Andrey com a cabeça – acho que Andrey está deprimido...

Ergui a cabeça para o búlgaro amuado no canto, e me peguei ficando envergonhada. O intuito do Torneio era fazer amizades com bruxos de outros países, e, desde que fora sorteada, eu nunca havia nem dito um simples “oi” para o rapaz. Que bela pessoa eu era.

Aproximei-me, com os braços cruzados.

– Olá – disse, tímida.

Borislav ergueu a cabeça, surpreso.

– Posso sentar aqui? – indaguei.

– Claro – ele respondeu, com as mãos entrelaçadas, enquanto olhava para a arena.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto Madelaine andava de um lado para o outro, impaciente.

– Então – tentei puxar conversa – o que está achando do Torneio?

Ele deu de ombros, desanimado.

– Acho que non teno mais chance .

– Que isso... – comentei – por que você acha isso? Você se deu muito bem nas últimas duas tarefas...

Ele bufou, desdenhoso.

– Non... – Andrey me encarou – perdi para a francesa... isso eu non esperava. Mas esperava perder para focê.

– Esperava? – indaguei, surpresa – por que?

– O diretor – ele respondeu, fazendo meu estômago dar um nó – disse que tínhamos chance até o Cálice sortear focê. Depos, non tivemos chance alguma.

– Isso por que o seu diretor andou me dando notas absurdamente altas à tóa! – bufei, irritada – se estava tão aborrecido com isso, por que não me deu notas mais baixas?

– Non foe á toa – Andrey rebateu – vi o que fez nas ultimas tarefas... foi digna de receber a nota que recebeu de nosso diretor. Merece até vencer o Torneio.

– Você que diz isso – estreitei os olhos – ou é Vitor Krum?

Andrey pareceu sem graça.

– Nós dos achamos isso... mas o Professor Krum já devia saber isso antes de nós... mas eu... eu vi com meus próprios olhos. A senhorrita salvou aquelas selkies no lago, sem precisar fazer isso... se livrou de um errumpente... eu nunca conseguerria ter feito isso...

Abarquei meu queixo com as mãos, tentando engolir aquilo.

O pobre rapaz era só mais um que me admirava... mas o que diabos eu tinha de tão especial que todos me olhavam boquiabertos, caramba? Eu era só mais uma simples garota naquele mundo... uma garota tentando se encaixar em tudo que andavam jogando em cima dela. Só isso. Não era ninguém importante...

– Granger... – me assustei quando ele usou meu sobrenome. Virei-me para Andrey, que parecia envergonhado – nosso diretor conta que a senhorrita foi o primeiro e único amor da vida dele.

Ah, não, Só faltava essa. Não, não, não...

– Mas nós só éramos amigos – havia cansado de dizer isso nos últimos anos.

– Ele sabe disso – Borislav deu um surpreendente e inusitado sorriso – e a admirra demais por focê gostar tanto de seu namorrado, além de admirrar sua perfomance no Torneio... ele só quer que focê seja muito feliz.

Pobre Krum. Senti-me quase culpada... por que diabos fui atravessar a vida do coitado?

– Você pode mandar um recado para ele no fim do Torneio?

Andrey assentiu.

– Clarro.

– Diga á ele que... se ele quiser... ainda podemos voltar á ser amigos – murmurei – e que eu desejo de todo o coração eu ele encontre alguém na vida dele, que o ame tanto quanto ele, infelizmente, gostou de mim.

– Vou falar – Andrey se ergueu, sorrindo.

Madelaine se aproximou correndo, assim que Andrey deixou o banco.

– Estan chegando, Hermione! Estan chegando!

Olhei para o declive da colina que havia antes de se chegar á Arena.

Realmente, havia pelo menos quarenta pessoas subindo a montanha, conversando animadas.

– É... acho que vai começar – suspirei.

Junto de Madelaine e Andrey, finalmente entrei na Arena de Pedra, par o que seria a última tarefa daquele agitado Torneio Tribruxo.


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Notas finais do capítulo

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