Regis Um Menino do Planeta Terra escrita por Celso Innocente


Capítulo 6
Apresentando ao mundo




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E assim, empurrando as bicicletas, chegamos a nossa casa, onde mamãe, cuidadosa e paciente, nos preparou o almoço, que aí sim, comemos com muito prazer, devido à fome causada pelo horário e atividades físicas.

Arthur, vivendo sempre no planeta Suster, não era habituado a comer nada animal, se alimentando apenas com frutos, legumes e produtos industrializados. Mesmo assim, como em nossa mesa, havia um delicioso cozido de galinha com polenta, ele, acabou experimentando e aparentemente, com certeza, iria se habituar a isso, para infelicidade geral dos animais terráqueos, que acabavam de ganhar mais um terrível predador.

Após o almoço, para retribuir o carinho de mamãe, nós dois juntos, fazendo a maior bagunça, lavamos toda a louça acumulada e a seguir, fomos para nosso quarto, onde deitamos para descansar um pouco.

— Você não vai trabalhar hoje? — Perguntou-me.

— A Terra, além de ser dividida em anos, dias e horas, também é dividida em meses e semanas. A semana é composta por sete dias. Hoje é considerado o primeiro dia da semana. É domingo! No domingo, poucas pessoas trabalham. Eu sou uma das pessoas privilegiadas, que não trabalham neste dia.

Acho que o cansaço do esforço na piscina nos deu sono e com isto, em poucos minutos, nós dois estávamos dormindo.

Acordei praticamente às seis horas da tarde e percebi que Arthur já teria se levantado.

Levantei-me e o encontrei na sala conversando com meus pais. Fui até o banheiro lavar o rosto, para tirar a preguiça e retornei à sala, convidando-o:

— Vamos à casa de um amigo, comigo?

— Fazer o quê? — Admirou-se ele.

— Vou lhe apresentar uma pessoa especial. Você gostará dele e ele de você.

— Vai na casa da Beth? — Perguntou-me mamãe.

— Não! Vou na casa do senhor Luciano.

— Estou cansado — alegou Arthur. — Prefiro ficar aqui.

— Precisamos providenciar seus documentos de cidadão da Terra — aleguei — Este meu amigo, é uma ótima fonte de ajuda.

Juntos, descemos a rua de minha casa até a primeira esquina, dobramos à esquerda e caminhamos meia quadra, forcei o portão de uma bela casa, do lado esquerdo da rua e entramos no quintal.

Antes de bater em sua porta de entrada, que estava fechada, pedi a Arthur:

— O casal Luciano e Sara, são meus melhores amigos aqui na Terra. Eu vou me esconder e você vai fingir ser eu. Quero ver quanto tempo eles vão demorar pra desconfiar de algo.

Arthur estava indiferente.

— Tudo bem? — Insisti.

Ele balançou os ombros, como a dizer: “tanto faz”!

Bati na porta e me escondi junto à parede.

Acho que Arthur, apesar de sapeca, me imaginara seu espelho, talvez pensando: “Santo capetinha”.

Em poucos segundos a porta se abriu e o senhor Luciano, o qual conheci, antes de ter sido raptado ao mundo do senhor Frene, quando ele era recém-casado e tinha em torno de vinte e cinco anos de idade, agora ele estava já com seu aspecto de cinquentão, partindo para a casa dos sessenta, esboçou grande sorriso e insinuou:

— Veja só se quem está vivo não acaba aparecendo!

Retornou, sentando-se em belíssimo sofá branco de dois lugares.

— Entre menino! — Convidou-o ele — Vamos ter que reconquistá-lo de novo, pra que entre em minha casa?

— Me dá licença — pediu Arthur, entrando timidamente à sala e permanecendo de pé próximo ao sofá de três lugares.

— Oi Regis — cumprimentou-o dona Sara, entrando na sala. Ela também já estava em início dos seus cinquenta anos — Parece que você continua morando em outro planeta!

— Por quê? — Questionou o menino indiferente.

— Quanto tempo faz que não o vejo? — Pensou um pouco — Acho que a última vez foi no casamento de Gabriel.

Gabriel é seu único filho, o qual nasceu na madrugada seguinte ao dia em que fui sequestrado; tanto que por isso, em minha homenagem, recebeu o nome de Regis Gabriel e se casou no dia primeiro de Setembro do ano dois mil e sete.

— Será? — Fez careta o menino — Faz tempo?

— Quase dois anos.

— Isso não é amizade especial! — Negou Arthur.

— Também acho — riu com sarcasmo, Luciano. — Não daria pra nos visitar, às vezes?

Arthur pensou um pouco e disse:

— É que eu trabalho.

— Finais de semana você não trabalha. Será que não dá pra dar uma escapadinha até aqui, pelo menos por uns dez minutos? — Insistiu Luciano.

— Finais de... semana... — se atrapalhou o menino.

Em Suster, o ano é dividido em noventa e nove dias, enumerados na ordem crescente como sendo: dia um, dia dois, dia três... dia quarenta e um... Não existem meses ou semanas, por isso Arthur se perde ao dizermos domingo ou finais de semana.

— O que há com você? — Estranhou Luciano — Parece perdido!

— Estou bem — riu ele, um tanto que sem jeito.

— Sente-se — insistiu Luciano. — O que o traz aqui?

— Luciano — chamou a atenção do marido, Sara. — Que pergunta sem educação!

— Não foi sem educação — deu de ombros o menino. — Vim apenas fazer-lhes uma visita.

— Pensei que teria que dar seu nome a meu neto!

— Como ele se chama?

— Como assim? — Se espantou o homem — Não tenho neto! Você, apesar de sumido sabe disso!

— Sente-se menino — insistiu dona Sara. — Esta casa continua querendo seu carinho.

Arthur, ainda tímido, sentou-se ao lado da mulher. Esta o abraçou com carinho, deixando-o mais acanhado.

— O que há meu bebê? Você parece tão diferente! Será que finalmente resolveu crescer?

— Acho que já sou um adolescente — riu forçosamente Arthur.

— Que nada! Você sempre será meu menininho pequeno.

— Parece divertido — brincou o menino.

Arthur era habituado a ser o que era e sabia que em seu mundo quase imortal, levaria séculos para poder pensar na tal puberdade; se é que ela chegaria algum dia.

— Sei que já não somos tão jovens como quando o conhecemos — reclamou Sara, continuando abraçada ao menino. — Você continua do mesmo jeitinho. Nosso coração também continua do mesmo jeito. Continuamos gostando de você.

— Obrigado! — Agradeceu sério.

— Achamos lindo seu jeitinho que não muda nunca — confirmou a mulher. — Aliás: parabéns por seu novo aniversário de nove anos.

Arthur continuava indiferente.

— O que há com você? — Se preocupou Luciano — Não esquecemos que hoje é seu aniversário. Não gosta mais da gente?

— Eu... Gostar... Claro que gosto! Sempre vou gostar!

— A gente continua te amando como a um filho — riu dona Sara.

— Um filho! — Forçou os lábios o menino — Quantos pais eu tenho?

— Regis! — Se preocupou a mulher — Tem algo errado com você?

— Não! Estou bem!

Luciano se levantou de sua poltrona, sentou-se ao lado do menino e da esposa, abraçando-o e insistindo:

— Conte o que há com você.

O menino um tanto sem jeito se livrou daquele abraço de homem, se levantou e seguindo até a saída da sala me chamou:

— Venha cá Regis. Não sei mais o que fazer.

Então me aproximei da porta, passei por Arthur e de certa forma, rindo sapeca, insinuei:

— Surpresa!

— O que é isso? — Se espantou dona Sara.

— Eu sou Regis! — Afirmei rindo, abraçando-a — Ele é só um impostor!

— Impostor uma ova! — Reclamou Arthur.

— O que está havendo? — Insistiu dona Sara.

Abracei a Luciano, depois apresentei:

— Este é meu irmão Arthur!

— Que irmão? — Não entendeu Luciano — Desde quando?

— Ora senhor Luciano! Já lhe falei de meu clone de Suster!

— Sim! Mas... O que significa ele aqui?

— Veio morar com a gente — confirmei.

— Desde quando?

— Chegou ontem à noite e veio pra ficar.

— Bem que eu estava desconfiada — alegou dona Sara. — Fiquei magoada com a frieza de meu Regis.

Olhou para Arthur e continuou:

— Não leve a mal. Você não tem culpa. Não nos conhece e não iria ter um grande amor por nós.

— Tudo bem! — Deu de ombros o menino — Não sou bom artista!

— Mas ele pertence a outro mundo — insistiu Luciano. — Como vai se habituar a viver distante?

— Assim como eu, ele também não gosta de lá!

— Você é realmente o menino do outro planeta? — Perguntou Sara a Arthur.

Ele apenas confirmou com a cabeça.

— E vai ficar morando com a gente?

Tornou a afirmar com a cabeça.

— Vai gostar daqui?

— Não quero viver em um mundo, onde sou tratado como brinquedo — insinuou Arthur, triste.

— O que faziam com você em sue mundo? — Questionou-o o senhor Luciano, de certa forma preocupado.

— Como um boneco! — Forçou os lábios, Arthur.

— Me diga uma coisa: Eu abracei você. Minha esposa também fez isso. Mas este é o carinho que sempre dedicamos ao Regis, como ele sendo nosso filho. Em seu mundo, pessoas agiam de forma preocupante com você?

— Não! — Negou Arthur, embora ainda triste — Não com intuito de maldade ou abuso. Apenas me tratam como se eu fosse feito de louça... Como um brinquedinho frágil.

— Percebi que quando tentei abraçá-lo, você se apavorou. O que há de errado?

— Nada de errado! — Negou o menino — Em meu mundo sou habituado a viver solto.

— Diga-me uma coisa: — Insistiu o senhor Luciano. — A gente sabe que Regis, por exemplo, parece apenas um menininho frágil, mas na verdade ele é formado em pediatria e inclusive trabalha com isso. E você em seu mundo, também estudou? Faz alguma coisa?

— Sou formado em Ciências Mecatrônica e embora apresente projetos aeroespaciais, praticamente não passo de ser considerado apenas uma criança e por isto, meu passatempo obrigatório, é longas horas em uma mansão, onde, alem da piscina, não se há mais nada o que se fazer.

— E agora, pretende ficar pra sempre conosco — riu o senhor Luciano.

Arthur confirmou com a cabeça.

— Então seja muito bem vindo! — Riu dona Sara, se levantando e tornando o abraçar com carinho — Embora a gente não considere Regis, como apenas um brinquedinho, a gente o ama como se ele fosse assim nosso primeiro filho e gostaríamos de amar você também. Podemos?

— Obrigado! — Agradeceu ele, embora sério — Gosto de carinho!

— Senhor Luciano — insisti. — só temos um pequeno problema: Arthur precisará ser considerado um cidadão terráqueo.

— Como assim?

— Precisamos de sua ajuda, pra que ele possa ter assim, um registro civil.

— Vamos anunciá-lo ao mundo — riu o senhor Luciano.

— Não! — Recusei sério — Quero que seja tudo legalizado sim. Não precisamos fazer nada errado. Afinal ele é humano e fará parte de nosso mundo agora. Mas não queremos que seja exposto a nada.

— Como assim? — Insistiu o senhor Luciano.

— Se o apresentarmos ao mundo, através da mídia por exemplo, ele não terá mais sossego e daí, logo acabará estando na NASA, como sendo um alienígena invasor, ou coisa assim.

— E o que faremos?

— Contamos com sua força, pra conseguir pra ele, de forma legítima, apenas seu registro civil.

— Quem são os pais? — Questionou-me o senhor Luciano — Qual a data de nascimento?

— Meus pais, são os pais dele! — Confirmei — Ele é meu sangue. Quanto a data de nascimento, poderia ser oito de Março do ano dois mil e dois.

— Ele teria apenas sete anos de idade — lembrou dona Sara.

— Sete? — Riu Arthur — Em meu mundo tenho Cinquenta e nove!

— Mas você tem carinha de nove! — Afirmei — Daqui a dois anos, você continuará com carinha de nove. Daqui a vinte anos, você continuará com carinha de nove.

— Verei o que fazer — se comprometeu o senhor Luciano.

Sara beijou o rosto de Arthur dizendo:

— Será que posso me considerar assim, com um novo filhinho lindo?

— O máximo que poderá acontecer, será meu ciúme doentio — Aleguei fingindo.

— Ah você! — Ficou brava ela — Você é meu filho ingrato!

— Desculpe-me! — Abracei-a. — Prometo que vou mudar.

©©©

De volta à minha casa, nos despimos de todos, vesti um pijama composto por calção e camiseta de mangas curta, feito de malha, na cor azul claro, enquanto Arthur, alegando sentir frio, vestiu meu pijama, composto pelo mesmo material, porém, sendo uma calça comprida e camisa de mangas longas, na cor verde clara.

Como já combinado, fomos dormir no mesmo quarto, em duas camas de solteiro. Eu me cobri apenas com um lençol fino, enquanto meu novo irmão fez uso de uma manta de meia estação.

Mamãe apareceu na porta e chamou:

— Arthur, se você preferir dormir no outro quarto, eu já preparei a cama pra você.

— Acha! — retrucou ele. — Vou dormir com Regis.

Devido às atividades do dia todo, o sono chegou rápido, pelo menos para ele, que dormiu em menos de dois minutos.


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