Touched By Angels - Interativa escrita por Aurora


Capítulo 2
Hugo, Lucy & Jonathan


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, pessoal! (interessados em mandar uma ficha, o padrão encontra-se no capítulo 1)



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Os pés altivos balançavam sobre a árvore de salgueiro enquanto as mãos alvas trabalhavam calmamente, talhando a ponta de uma lança de flecha amadeirada. Sentia as próprias bochechas ardendo com o frio que beijava sua pele com suavidade.

Vez ou outra via alguém passando lá embaixo, na trilha rala. Talvez um religioso a caminho na igreja, talvez alguém voltando para casa após um logo dia de trabalho.

Faltava apenas um dia. Poucas horas faltavam para o aniversário milenar, e ela não sabia o que fazer. Voltar para sua “trupe” de soldados e generais celestes e passar as vinte e quatro horas em silêncio, ou aproveitar o silêncio para um retiro.

Nenhuma dessas parecia atrativa.

Descendo da árvore com cuidado, guardou as flechas recém-polidas em sua aljava e seguiu seu caminho para a pequena vila sueca onde se hospedava. O chão de folhas logo abria espaço para pedras e terra, onde muros frágeis de madeira surgiam, mostrando cabanas, tavernas, ferrarias, uma pequena capela com um sino e uma hospedaria.

Colocou o capuz de pele sobre os cabelos ruivos, e passou pela porta de madeira da casa de um andar. Bateu os pés sobre o assoalho de madeira para livrar o pelo das roupas da neve, respirando fundo o ar quente e abafado do albergue.

Viu, de costas para ela, um homem conversando com a dona da hospedaria. Não parecia muito preocupado com nada, e era claramente um caçador. Uma espingarda de um único tiro dependurava-se de suas costas e ele escondia entre as vestes algumas adagas e facões. O que ele caçava, já não era de sua conta.

Passou por ele com calma, subindo as escadas devagar. Sentiu os olhos pesando sobre suas costas, quando se virou levianamente para espiar também. Os olhos oceano a atingiram como um tapa, e uma onda de nostalgia a atingiu e ela perdeu o fôlego por um instante.

Sumiu apressada pelo corredor, entrando em seu quarto estreito e tentando esquecer o azul por alguns instantes.

– De tirar o fôlego, não é? – uma voz talvez infantil, mas com mais experiência que sua própria quebrou em cacos o silêncio do recinto.

– O que está fazendo aqui, Jhow? – ela tentou soar áspera, mas não era de seu feitio.

– Sabe o que estou fazendo aqui. Querem todos juntos amanhã.

– Não pretendo passar o Dia do Silêncio com os artistas. Mas agradeço o convite. – ela tirou o gorro e o jogou sobre a pequena cama de molas, sorrindo radiante.

– Não era um convite. É a tradição. Me mandaram porque sabem que gosto de você. Metaforicamente falando. – os olhos celestes do menino brilharam ao fim da frase. – Lucy, você está conosco, não está? É importante que esteja entre nós amanhã.

Ela sentou sobre a cama, desamarrando as botinas e suspirando.

– Farei o possível para estar lá.

– Lucy.

– Jonathan, eu já disse o que queria ouvir. Quero ficar sozinha pelo pouco tempo que me resta, ou vai tentar tirar isso também?

Ele levantou o rosto para encará-la de outro ângulo. Mesmo para uma aparência tão jovem, ele tinha bastante personalidade.

– Sem atrasos. – não disse mais nada antes de sair pela porta, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Atravessou o curto salão, mas não antes de vetar o mesmo homem que Lucy havia visto.

Este sabia o que estava acontecendo. Já tinha seus anos em prática, e não era tolo para achar que aquele menino que esbanjava prepotência não tinha nada a ver com a ruiva discreta.

Terminou a conversa com a hospedeira de imediato, sendo discreto ao pousar a mão sobre a adaga de ébano.

– Quantas pessoas estão aqui? – Hugo perguntou, olhando mais uma vez para a porta para se certificar de que o menino já havia ido embora.

– Não muitas. – a velha tirou debaixo do balcão um livro grosso encouraçado de registros. Correu o dedo sobre um das páginas que guardava alguns nomes. – Apenas quatro. Gostaria de um quarto também.

– Na verdade, se não se incomodar, eu vim apenas visitar uma velha amiga. – os anos em campo haviam o ensinado a mentir muito bem. – A de cabelos laranja. Ela deve estar me esperando agora.

– Oh, sim. É claro. O quarto dela é o último a esquerda. – a senhora deu um sorriso difícil de não ser retribuído. Hugo apenas deu as costas e começou a subir as escadas.

Virou a esquerda sem hesitar, dando passos largos até o último quarto.

Não abriu a porta de imediato. Encostou cuidadosamente o ouvido na porta, esperando ouvir alguma coisa.

Só ouvia o vento batendo contra uma janela e mais nada. Puxou a adaga para perto do corpo e abriu a porta com um estrondo.

O quarto estava mergulhado em sombras e completamente vazio. Vasculhou embaixo da cama e dentro do armário, mas ela já havia ido embora.

Bufou frustrado, quando encontrou um pedaço de papel com uma bela caligrafia o riscando numa cor forte.

“Boa tentativa.

– Lucy.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Mandem mais fichas!